Há alguns anos, enquanto trabalhava em uma empresa de consultoria de software, tive uma experiência que me ensinou uma valiosa lição. Estava trabalhando em vários projetos ao mesmo tempo, por longas horas, e comecei a me sentir pouco valorizado. Eu precisava encontrar um novo emprego e comecei a me candidatar a outras organizações.
Em um projeto, eu estava tendo dificuldade para acompanhar a programação, porque meu cronograma simplesmente não condizia com o prazo deles. Expliquei ao cliente qual era meu cronograma e o que sentia que poderia ser feito; infelizmente, meu gerente não ficou feliz.
Meu gerente sentiu que eu tinha sido honesto demais e havia aborrecido o cliente. Fiquei muito frustrado e decidi dizer a ele como me sentia sobre seu estilo de gerência e sua abordagem com os clientes. Escrevi um longo e-mail me explicando e disse a ele que sairia da empresa em algumas semanas. Na verdade, o que eu queria dizer era “tenha uma boa vida, estou cansado de você, até logo.”
Eu me senti mal assim que cliquei no botão Enviar e saí para uma longa caminhada. No passado, eu geralmente conseguia controlar minhas palavras, mas dessa vez disse exatamente o que sentia, exatamente quando senti. E foi terrível. Mesmo que eu estivesse certo, o modo como expressei minha frustração não era como eu gostaria de ser lembrado.
Minha vida tem sido muito abençoada, muito mais pelo que não disse do que pelo que disse. No livro de Tiago, aprendemos que, governando nossa língua, podemos alcançar a perfeição. Tiago 3:2 diz: “Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal homem é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo.”
Observar o que digo e como digo pode ser extremamente desafiador. Fico frustrado em momentos em que sinto que não sou valorizado ou compreendido ou sou magoado pelo que outra pessoa disse ou fez.
Também não sou perfeito ao servir em chamados de liderança da Igreja. Mas aprendi que, quando sou paciente e procuro entender as outras pessoas, muitas vezes descubro que tinha uma percepção errada delas ou de sua situação.
Muitas vezes descobri que, talvez ao contrário de minha impressão, muitas pessoas na ala têm ministrado a outras pessoas, cuidando umas das outras e servindo ao Senhor com o melhor de suas habilidades. Sou muito grato por todos os pensamentos e sentimentos que não compartilhei, por segurar a língua e procurar primeiro entender em vez de criticar ou condenar.
Um bom exemplo nas escrituras pode ser encontrado em Paorã, o juiz supremo nefita que serviu durante os dias do capitão Morôni. Paorã estava se esforçando para cumprir seu dever e defender suas leis, mas em poucos anos os problemas continuaram a surgir com aqueles que se opunham a ele. O capitão Morôni, que estava travando guerras para proteger os direitos e a liberdade de seu povo, ficou muito aborrecido com a negligência e indiferença demonstradas com relação à liberdade deles.
Morôni, um líder justo, acusou Paorã de negligenciar seus exércitos e transgredir os mandamentos de Deus e ameaçou ir contra ele com seus exércitos. Nossa! Como você reagiria a algo assim? Isso provavelmente teria sido o fim de um relacionamento típico — talvez não seria uma boa ideia designá-los como companheiros de ministração.
Paorã respondeu de uma maneira incrível; ele respondeu com gratidão. Paorã respondeu a Morôni que ele “[regozijou-se] pela grandeza de [seu] coração” (Alma 61:9) e se refere a ele como “meu amado irmão” (Alma 61:14).
Você já viu alguém em um cargo de liderança da Igreja desabafar sobre suas frustrações? Isso invalida seus muitos esforços passados em seu chamado, sua bondade e sua capacidade de continuar a nos servir? Somente se permitirmos. Nenhum de nós é perfeito. Pense no capitão Morôni — um líder maravilhoso, que estava tendo um dia muito ruim e simplesmente não tinha informações suficientes sobre uma situação.
Agora, tento me lembrar de encontrar maneiras de servir ao próximo de modo mais semelhante a Cristo, olhando verdadeiramente para todos sob a perspectiva eterna do plano de salvação. E se pudéssemos realmente considerar aqueles com quem servimos como nossos irmãos e nossas irmãs literais? Será que às vezes reagiríamos de modo diferente ao nos comunicarmos? O Salvador também ensinou no Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9). Somos todos filhos de Deus, irmãos e irmãs, esforçando-nos para ser um em Cristo.
Uma escritura extraordinária que me ajuda quando estou vivenciando a humanidade de meus colegas membros da Igreja é Abraão 3:25, que diz: “E assim os provaremos, para ver se farão todas as coisas que o Senhor seu Deus lhes ordenar”.
Pensem, e se uma dessas “todas as coisas” que o Senhor nos pede enquanto estamos aqui nesta Terra é permanecermos fiéis e obedientes, mesmo que pessoas menos do que perfeitas, como nós mesmos, estejam em posições de ensino e liderança sobre nós? O Pai Celestial deve se sentir incrivelmente bem vendo que, mesmo quando pessoas imperfeitas foram colocadas em posições de autoridade sobre nós, não apenas fomos fiéis, mas também estendemos a mão para elas e dissemos: “Regozijo-me pela grandeza de teu coração, meu amado irmão”.
Meu gerente e eu pudemos conversar francamente sobre o que aconteceu e a situação mais ampla enfrentada por nossa equipe e aquele relacionamento específico com o cliente. Continuamos a trabalhar juntos depois dessa experiência por muitos anos, e me beneficiei muito de seus pontos de vista e de sua experiência.
Oro para que, ao servirmos e trabalharmos com outras pessoas — que com frequência têm diferentes origens e histórias de vida —, encontremos maneiras de nos regozijarmos em seus esforços. Espero que encontremos mais pontos em comum e maneiras de nos elevarmos juntos. Precisamos de diálogo e cooperação mais pacientes para sermos instrumentos para ajudar o Pai Celestial a ter sucesso em sua missão de “levar a efeito a imortalidade e vida eterna do homem” (Moisés 1:39). O Pai Celestial nos dá muitas oportunidades, então, tento mostrar um pouco mais de bondade e apreço a todos e, ao fazer isso, sei que posso realmente me tornar um pacificador e um instrumento mais ativo nas mãos do Senhor.