Tenho um par de óculos que fica em minha mesa para me lembrar de ser grata. Eu os chamo de “meus óculos de gratidão”. Não preciso colocá-los. O simples fato de vê-los lá me lembra de olhar para a vida com uma perspectiva de gratidão, sejam quais forem as circunstâncias.
Recentemente, minha família passou por uma época muito difícil e, ao olhar através das lentes de meus óculos de gratidão, pude ver as bênçãos incríveis e as ternas misericórdias que o Senhor nos concedeu.
Tudo começou quando a Covid-19 atingiu todos em nosso lar. Isso incluiu a mim, meu marido, minha sogra, meu sogro e meu cunhado que tem necessidades especiais. Não compartilhamos essa notícia com muitas pessoas. Não queríamos que elas se preocupassem e não achávamos que precisávamos de ajuda. Achávamos que éramos fortes o bastante para carregar esse fardo sozinhos.
Não tínhamos ideia de que o fardo se tornaria maior do que imaginávamos, e que o Senhor enviaria pessoas para nossa vida para nos ajudar a carregá-lo. Precisaríamos abandonar nosso orgulho e estar dispostos a receber o amor e a bondade cristãos que estavam prestes a inundar nosso caminho.
Tudo começou com uma melancia. Quando minha amiga Joy descobriu que eu tinha contraído o vírus, ela me procurou e perguntou o que poderia fazer para ajudar. Ela se ofereceu para nos trazer comida para o jantar, comprar mantimentos para nós ou ajudar de qualquer maneira que pudesse. Meu coração ficou tocado, mas meu orgulho falou mais alto. Respondi à mensagem dela e agradeci, mas disse que estávamos bem e que não precisávamos de nada. Ela realmente queria ajudar e perguntou se poderia pelo menos deixar um pouco de melancia em nossa varanda.
Amo melancia e, por isso, concordei com o pedido dela. O interessante é que eu tinha perdido o paladar por causa do vírus. Mesmo que eu não conseguisse provar o quão doce era a melancia, a textura era macia. Era como se eu estivesse comendo um doce, especialmente porque minha amiga querida deu ela para mim.
Algumas semanas depois, Joy apareceu novamente na varanda com outra melancia. Dessa vez, ela não trouxe a melancia como oferta a uma mulher que estava doente com o vírus. Ela a trouxe a uma mulher cujo ente querido estava no hospital em estado crítico. Nessa época, todos em minha família tinham se recuperado do vírus, exceto meu sogro, Papito.
A saúde de Papito já era ruim antes de ele contrair o vírus e, quando meu marido o levou para o pronto-socorro, ele foi diagnosticado com pneumonia dupla. Ficou no hospital por uma semana e meia e, depois, foi transferido para um hospital de reabilitação, onde ficou por mais uma semana e meia, antes de falecer serenamente.
Enquanto Papito estava no hospital e depois de seu falecimento, nossa família recebeu muito amor e ministração de pessoas de todas as idades.
Não posso expressar adequadamente com palavras a profundidade da gratidão que sinto. Uma de minhas escrituras favoritas se encontra em Alma 26:16. Ela diz: “Quem poderá gloriar-se demasiadamente no Senhor? Sim, quem poderá falar em demasia de seu grande poder e de sua misericórdia e de sua longanimidade para com os filhos dos homens? Eis que vos digo que não posso expressar nem a mínima parte do que sinto”.
Deixe-me tentar dar a você um pequeno vislumbre do profundo amor e da profunda gratidão que minha família e eu sentimos em nosso coração durante as últimas semanas.
Somos gratos pelas pessoas gentis de nossa ala que trouxeram refeições deliciosas para nossa casa. Esses membros bondosos dominam a arte de cozinhar muito melhor do que eu, e eu apreciei cada mordida de cada refeição que não precisei fazer. O serviço deles me proporcionou tempo para lamentar a perda de meu sogro e coordenar os preparativos para o sepultamento dele, em vez de me preocupar com o que faria para o jantar todas as noites.
Uma irmã trouxe uma deliciosa torta de pêssego com o jantar que fez para nós. Nossa família comeu a maior parte da torta, mas deixamos um pouco para o dia seguinte. Tive dificuldade para dormir naquela noite. Acordei preocupada às 2 horas da manhã e dei algumas mordidas na torta que estava no balcão da cozinha. Foi um deleite para mim, e agradeci à irmã pelo que chamei de minha “torta consoladora”.
Nós nos sentimos gratos pelos belos arranjos de flores e pelas mensagens comoventes que recebemos em nosso lar. Recebemos um bilhete especialmente precioso de Elsie, de 6 anos de idade, filha de nossa amiga. Ela escreveu a seguinte mensagem:
“Queridos Miguel e Gina, eu amo muito vocês e sinto muito por seu pai ter morrido. Isso provavelmente foi difícil para vocês. Foi difícil para mim quando meu bisavô morreu também. Fico feliz por vocês poderem vê-lo no céu e sei que ele sempre estará em seu coração”.
Meu coração se derreteu ao ler essas ternas palavras de nossa amiguinha. Ela também escreveu que, se precisássemos dela, poderíamos ligar para ela e que ela estaria ao nosso lado. Acreditei nela. Eu acreditava que a doce e pequena Elsie estaria ao nosso lado.
Tantas pessoas estiveram ao nosso lado, inclusive as enfermeiras gentis e amorosas e o terapeuta respiratório que estavam com meu marido e eu no hospital no dia em que Papito faleceu. Somos profundamente gratos por seu amor, sua bondade e compaixão em um dia muito difícil em nossa vida.
Há uma citação do élder Holland que descreve perfeitamente como nós nos sentimos a respeito de cada pessoa que nos amou, apoiou-nos e estendeu a mão para nós durante esse período:
“De fato, o céu não pode parecer mais próximo do que quando vemos o amor de Deus manifestado na bondade e na devoção de pessoas tão boas e tão puras que anjo é a única palavra que nos vem à mente” (“O ministério de anjos”, Conferência Geral de Novembro de 2008).
Agora, quando olho para meus óculos de gratidão, lembro-me das muitas pessoas gentis que serviram a nós quando mais precisávamos delas. Seu doce serviço me inspira a procurar maneiras pequenas e simples de servir ao próximo todos os dias.