A Bengala de Natal
Em casa, num cantinho escondido, guardo uma pequena bengala preta de cabo prateado que pertenceu a um parente distante. Querem saber por que guardo esse objeto há mais de 70 anos? Há um motivo especial.
Quando menino, participei de uma peça de Natal em nossa ala. Tive o privilégio de ser um dos três Reis Magos. Com um turbante, a capa do piano de minha mãe enrolada nos ombros e aquela bengala preta na mão, recitei minhas falas:
“Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no oriente, e viemos a adorá-lo” (Mateus 2:2).
Não me recordo de todas as palavras daquela peça, mas lembro-me claramente do que senti no coração quando nós, os três “Reis Magos”, olhamos para cima e vimos uma estrela, viajamos até o outro lado do palco, encontramos Maria com o menino Jesus, e então caímos por terra e O adoramos, abrindo nossos tesouros e apresentando nossos presentes: ouro, incenso e mirra.
Gostei particularmente do fato de não termos voltado ao malvado Herodes para trair o menino Jesus, mas sim, obedecido a Deus e partido por outro caminho.
Os anos se passaram rapidamente, os eventos de uma vida atarefada tomam seu devido lugar nos salões da memória, mas a bengala de natal continua a ocupar seu lugar especial em meu lar; e em meu coração é um compromisso a Cristo (Extraído de “Dádivas Preciosas”, A Liahona, dezembro de 2006, pp. 3-4 e reimpresso como “Uma Lembrança Natalina”, A Liahona, dezembro de 2010).
O Trem de Natal
Sempre lembramos de um dia de Natal em que o desejo de dar foi maior do que o de receber. Em minha vida, isso aconteceu quando estava com dez anos de idade. Ao se aproximar o natal, eu queria muito ganhar um trem elétrico. Não apenas um modelo barato de corda que podia ser encontrado em qualquer lugar, mas, sim, um que funcionasse pelo milagre da eletricidade. Era época de depressão econômica, mas meu pai e minha mãe, sem dúvida com algum sacrifício, presentearam-me na manhã de Natal com uma belo trem elétrico.
Por várias horas, fiz o transformador funcionar, observando a locomotiva puxar os vagões para frente, depois para trás, nos trilhos. Minha mãe entrou na sala e disse que havia comprado um trem de corda para o filho da viúva Hansen, Mark, que morava na mesma rua. Perguntei se podia ver o trem. A locomotiva era pequena e desajeitada não grande e aerodinâmica como o modelo caro que eu ganhara. No entanto, observei um vagão do tipo tanque de óleo fazia parte do conjunto mais barato. Meu trem não tinha aquele vagão, e comecei a sentir as dores da inveja. Fiz tanto rebuliço que minha mãe cedeu a minhas súplicas e me deu o vagão tanque. Ela disse: “Se você precisa disso mais do que o Mark, fique com ele”. Engatei-o no meu trem e fiquei satisfeito com o resultado.
Minha mãe e eu levamos os outros vagões e a locomotiva até a casa de Mark Hansen. O menino era um ou dois anos mais velho que eu. Ele não esperava receber um presente e estava extremamente entusiasmado. Deu corda na sua locomotiva, que não era elétrica como a minha, e ficou extremamente feliz quando a locomotiva e os dois vagões, mais um carro-freio, rodaram pelos trilhos.
Minha mãe perguntou, com sabedoria: “O que você acha do trem do Mark, Tommy”?
Tive uma forte sensação de culpa e fiquei muito ciente do meu egoísmo. Eu disse para minha mãe: “Espere um pouco. Já volto”.
Corri o mais rápido que pude até nossa casa, peguei o carro tanque de óleo e mais um outro vagão do meu trem, corri de volta pela rua até a casa da família Hansen e disse alegremente para o Mark: “Esquecemos de trazer dois vagões que fazem parte do seu trem”. Mark engatou os dois vagões ao seu trem. Fiquei olhando a locomotiva seguir com esforço pelos trilhos e senti uma alegria suprema, difícil de descrever e impossível de esquecer. O espírito do Natal encheu minha alma.
Coelhos de Natal
Essa experiência tornou um pouco mais fácil uma decisão difícil que tomei apenas um ano mais tarde. Novamente o Natal chegara. Estávamos nos preparando para o gigantesco peru assado e aguardando ansiosamente pelo saboroso banquete. Um amigo do bairro fez uma pergunta surpreendente: “Qual o gosto do peru”?
Respondi: “Ah, parece carne de frango”.
Veio então outra pergunta: “Que gosto tem carne de frango”?
Foi então que me dei conta de que meu amigo nunca havia comido peru nem frango. Perguntei o que a família dele iria comer no jantar de Natal. A resposta não veio de imediato. Ele apenas baixou os olhos e disse: “Não sei. Não temos nada em casa”.
Procurei uma solução. Não encontrei nenhuma. Eu não tinha nenhum peru, nem frango e nem dinheiro. Então lembrei que tinha dois coelhos de estimação. Imediatamente os levei para meu amigo e entreguei a caixa a ele, dizendo: “Tome, fique com estes dois coelhos. São bons para comer — o gosto é igualzinho ao de frango”.
Ele pegou a caixa, subiu na cerca e foi para casa, com o jantar de Natal garantido. Lágrimas me vieram aos olhos quando fechei a porta da gaiola dos coelhos vazia. Mas eu não estava triste. Um sentimento cálido de alegria indescritível encheu-me o coração. Foi um Natal memorável (“Presentes de Natal, Bençãos de Natal”, A Liahona, dezembro de 1995).