Lembrem-se de Agradecer
Será que agradecemos a Deus “pelo dom inefável” [II Coríntios 9:15] ⌦e as bênçãos que Ele tão abundantemente derramou sobre nós?
Numa terra muito distante, há muito tempo, Jesus estava viajando para Jerusalém. “Ele ( … ) passou pelo meio de Samaria e da Galiléia; e, entrando numa certa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez homens leprosos, os quais pararam de longe; e levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós. E ele, vendo-os, disse-lhes: Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, indo eles, ficaram limpos. E um deles, vendo que estava são, voltou glorificando a Deus em alta voz; e caiu aos seus pés, com o rosto em terra, dando-lhe graças; e este era samaritano. E, respondendo Jesus, disse: Não foram dez os limpos? E onde estão os nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro? E disse-lhe: Levanta-te, e vai; a tua fé te salvou.”1
No salmo 30, Davi promete: “Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre”.2
O Apóstolo Paulo, em sua epístola aos coríntios, proclamou: “Graças a Deus, pois, pelo seu dom inefável”.3 E aos tessalonicenses, ele disse: “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus ( … )”.4
Meus irmãos e irmãs, será que agradecemos a Deus “pelo dom inefável” e Suas preciosas bênçãos que Ele tão abundantemente derramou sobre nós?
Será que paramos para meditar nas palavras de Amon: “Agora, meus irmãos, vemos que Deus se lembra de todos os povos, estejam na terra em que estiverem; sim, ele conta o seu povo e suas entranhas de misericórdia cobrem toda a Terra. Ora, esta é minha alegria e minha grande gratidão; sim, darei graças a meu Deus para sempre”?5
Robert W. Woodruff, um preeminente empresário do passado, viajou pelos Estados Unidos apresentando uma palestra a que deu o título de “Curso Rápido de Relações Humanas”. Em sua mensagem, ele disse que a palavra mais importante em nossa língua era: “Obrigado”.
Gracias, danke, merci, em qualquer língua, o “obrigado” freqüente irá animar o espírito, ampliar o círculo de amizades e elevar-nos a um nível mais alto no caminho rumo à perfeição. Existe simplicidade e sinceridade na hora em que dizemos “obrigado”.
A beleza e a eloqüência de uma expressão de gratidão é ilustrada em um artigo publicado nos jornais há alguns anos:
A polícia da cidade de Washington realizou um leilão de 100 bicicletas cujos donos não apareceram para reclamá-las. “Um dólar”, disse um menino de onze anos na abertura dos lances para a primeira bicicleta. Os lances, porém, subiram bem acima desse valor. “Um dólar”, repetia o menino, esperançoso, a cada vez que outra bicicleta era apresentada.
O leiloeiro, que vinha leiloando bicicletas perdidas ou roubadas havia 43 anos, percebeu que as esperanças do menino pareciam aumentar sempre que uma bicicleta de corrida era apresentada.
Restara então somente uma bicicleta de corrida. Os lances chegaram a oito dólares. “Vendido para aquele menino por nove dólares!” disse o leiloeiro. Ele tirou oito dólares de seu próprio bolso e pediu que o menino entregasse o seu dólar. O jovem reuniu todas as suas moedinhas, entregou-as ao leiloeiro, apanhou a bicicleta e começou a sair. Mas não foi muito longe. Encostou cuidadosamente a bicicleta recém-adquirida, voltou até o leiloeiro, abraçou-o com gratidão e chorou.
Quando foi a última vez em que sentimos uma gratidão tão profunda quanto a desse menino? Pode ser que as coisas que as pessoas nos tenham feito não sejam assim tão emocionantes, mas certamente existem atos de bondade que merecem nossa gratidão.
Um hino que era freqüentemente cantado na Escola Dominical em nossa juventude fez com que o espírito de gratidão fosse plantado no fundo de nossa alma:
Se da vida as vagas procelosas são,
Se com desalento julgas tudo vão,
Conta as muitas bênçãos, dize-as de uma vez
E verás, surpreso, quanto Deus já fez.6
O astronauta Gordon Cooper, enquanto estava em órbita da Terra, há mais de 30 anos, proferiu esta ⌦bela e simples oração de agradecimento: “Pai, agradeço-Te, especialmente por ter-me permitido fazer este vôo. Obrigado pelo privilégio de estar aqui em cima, neste lugar maravilhoso, vendo todas as coisas surpreendentes e maravilhosas que Tu criaste”.7
Somos gratos pelas bênçãos imensuráveis, pelos dons inestimáveis “pelos livros, pela música, pela arte e pelas grandes invenções que nos proporcionaram essas bênçãos ( … ); pelo riso das criancinhas; ( … ) pelos ( … ) meios de aliviar o sofrimento humano ( … ) e aumentar ( … ) o prazer de viver; ( … ) por todas as coisas boas e edificantes”.8
O Profeta Alma admoestou: “Aconselha-te com o Senhor em tudo que fizeres e ele dirigir-te-á para o bem; sim, quando te deitares à noite, repousa no Senhor, para que ele possa velar por ti em teu sono; e quando te levantares pela manhã, tem o teu coração cheio de agradecimento a Deus; e se fizeres essas coisas, serás elevado no último dia”.9
Eu gostaria de mencionar três ocasiões nas quais, creio, que um sincero “obrigado” pode dar ânimo a uma pessoa deprimida, inspirar uma boa ação e fazer cair as bênçãos do céu para ajudar a resolver os problemas de nossos dias.
Em primeiro lugar, quero pedir que expressemos nossa gratidão a nossos pais pela vida, pelo cuidado, pelo sacrifício, pelo esforço de proporcionar-nos o conhecimento do plano de felicidade do Pai Celestial.
As seguintes palavras ecoam desde o Sinai em nossa consciência: “Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá”.10
Não conheço palavras mais ternas dirigidas a um pai ou mãe do que as que foram ditas por nosso Salvador na cruz: “Ora Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa”.11
A seguir, será que nos lembramos às vezes de certa professora da escola ou da Igreja que estimulou nosso desejo de aprender, que nos inspirou a viver com honra?
Conta-se que um grupo de homens conversava a respeito das pessoas que tinham influenciado sua vida e por quem sentiam gratidão. Um deles lembrou-se de uma professora do segundo grau que lhe fizera conhecer o poeta Tennyson. Ele decidiu escrever-lhe agradecendo. Algum tempo depois, em uma caligrafia trêmula, chegou-lhe a resposta da professora:
“Meu querido Willie,
Não posso dizer-lhe o quanto a sua carta significou para mim. Estou com mais de oitenta anos, vivendo sozinha em um quartinho, fazendo minha própria comida e tão solitária quanto a última folha de outono. Talvez lhe interesse saber que lecionei por cinqüenta anos, mas você foi a primeira pessoa que me escreveu agradecendo. Sua carta chegou em uma manhã fria e clara, deixando-me mais feliz do que me sentia há muitos anos.”
Temos uma eterna dívida de gratidão para com todas aquelas pessoas, tanto do passado quanto do presente, que se sacrificaram muito para que tivéssemos tanto hoje em dia.
Em terceiro lugar, quero lembrar-lhes de agradecer a seus companheiros. Os anos da adolescência podem ser tão difíceis para os próprios jovens quanto o são para os pais. É uma época bastante difícil na vida de um rapaz ou de uma moça. Todo rapaz quer fazer parte da equipe de futebol, toda moça quer ser “miss”. “Muitos são chamados, mas poucos são escolhidos”12 é uma frase que pode muito bem ser aplicada a essa ⌦situação.
Gostaria de contar-lhes um milagre moderno que aconteceu há aproximadamente um ano na escola Murray High School, localizada nas proximidades de Salt Lake City, em que todos foram vencedores e não houve nem um perdedor.
Um artigo de jornal destacou o evento. O artigo chamava-se “Concurso Estudantil Mostra o Verdadeiro Espírito: Os Alunos Elegem duas Moças Deficientes para Rainhas de Murray”. O artigo começa assim: “Ted e Ruth Eyre fizeram o que quaisquer pais teriam feito. Quando sua filha, Shellie, tornou-se uma das finalistas do concurso para rainha da Murray High School, eles a aconselharam a ter espírito esportivo caso não ganhasse. Explicaram que apenas uma das dez candidatas seria eleita rainha. ( … ) Quando, porém, os representantes do corpo discente coroaram a [rainha] da escola no ginásio da escola na quinta-feira à noite, o que Shellie Eyre sentiu foi aceitação. A formanda de 17 anos, que nasceu com síndrome de Down, foi escolhida por seus colegas como a rainha do ano. ( … ) Quando Ted Eyre acompanhou a filha até o ginásio para a apresentação das candidatas, todos os presentes manifestaram-se com gritos e aplausos ensurdecedores. Pai e filha foram aplaudidos de pé”.
As damas de honra de Shellie também foram muito aplaudidas, entre as quais estava April Perschon, que tinha deficiências físicas e mentais decorrentes de uma hemorragia cerebral que sofrera aos dez anos de idade.
Quando os aplausos cessaram, a vice-diretora da escola, Glo Merrill, disse: “‘Nesta noite ( … ) os alunos votaram na beleza interior’. ( … ) Visivelmente tocados, os pais, os administradores da escola e os alunos choraram abertamente. Uma das alunas disse: ‘Estou tão feliz. Chorei quando elas entraram. Acho que a Murray High é maravilhosa por fazer algo assim’”.13
Expresso meu sincero “obrigado” a todos os que fizeram dessa noite uma ocasião memorável. Parece-me oportuno citar as palavras do poeta escocês James Barrie: “Deus deu-nos as lembranças, para que tenhamos as rosas de verão no inverno de nossa vida”.
Em agosto deste ano, ocorreu uma tragédia no condado de Salt Lake. Ela foi noticiada na imprensa local e nacional. Cinco lindas meninas, muito jovens, vibrantes e carinhosas, brincando de esconder, como as crianças geralmente o fazem, entraram no porta-malas do carro da família. A tampa do porta-malas se fechou e elas não conseguiram mais sair. Todas morreram por exposição excessiva ao calor.
Toda a comunidade mostrou-se extremamente carinhosa, atenciosa e prestativa em relação ao falecimento de Alisha, Ashley, McKell, Audrey e Jaesha. Eles enviaram flores e alimentos, telefonaram, visitaram-nos e oraram.
No domingo seguinte ao trágico acontecimento, longas filas de carros, cheios de pessoas contristadas, passaram lentamente na frente da casa da família Smith, que foi o local do acidente. A irmã Monson e eu quisemos estar entre os que expressaram condolências dessa maneira. Ao passarmos pelo local, sentimos que pisávamos em solo sagrado. Passamos lentamente pela rua. Era como se houvesse um sinal de trânsito visível com os dizeres: “Devagar. crianças brincando”. Nossos olhos encheram-se de lágrimas e nosso coração, de compaixão.
No funeral, bem como na noite anterior, milhares passaram ao lado dos caixões e expressaram seu apoio aos pais e avós angustiados. Em duas das três famílias, as crianças mortas eram todas as que havia na família.
Freqüentemente a morte vem como intrusa. É como uma inimiga que aparece de repente no meio da festa da vida, apagando as luzes e acabando com a alegria. Ela visita os idosos que caminham com dificuldade. Seu chamado chega aos que mal chegaram à metade da jornada da vida e muitas vezes cala o riso das criancinhas.
No serviço fúnebre daqueles cinco anjinhos, aconselhei: “Existe uma frase que deve ser apagada de sua mente e não deve ser proferida. É a frase: ‘se ao menos’. Ela de nada ajuda e não contribui para o espírito de consolo e paz. Em vez disso, lembrem-se das palavras encontradas em Provérbios:
‘Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas’”.14
Antes de fechar os caixões, percebi que cada uma das crianças tinha nas mãos o seu brinquedo favorito, ao qual estava abraçada. Lembrei-me das palavras do poeta Eugene Field:
O cachorrinho de brinquedo está coberto de poeira,
Mas continua firme e inflexível;
E o soldadinho de brinquedo está todo enferrujado,
Segurando seu mosquete cheio de bolor.
Houve época em que o cachorrinho era novo,
E o soldadinho estava em sua melhor forma;
Foi quando o nosso pobre ⌦menininho
Beijou-os e os colocou ali.
“Não saiam daí enquanto eu não voltar”, disse ele,
“E não façam nenhum barulho!”
E, correndo para a sua caminha,
Sonhou com seus lindos brinquedos.
E enquanto estava sonhando, a canção de um anjo
Acordou nosso pobre menininho,
Oh, os anos são muitos, os anos ⌦são longos,
Mas os amiguinhos permanecem fiéis.
Permanecem fiéis ao pobre ⌦menininho
Cada um no seu lugar de sempre,
Esperando o toque daquela ⌦mãozinha,
O sorriso daquele rostinho.
E perguntam-se, durante todos esses anos de espera,
Naquela cadeirinha empoeirada,
“O que aconteceu com nosso pobre menininho
Desde que nos beijou e colocou aqui?”15
Talvez o cachorrinho de brinquedo e o soldadinho se perguntem, mas Deus, em Sua infinita misericórdia, não deixou os entes queridos dolorosamente sem resposta. Ele revelou-nos a verdade. Ele irá inspirar-nos a buscá-Lo e irá tomar-nos em Seus braços. Jesus prometeu a todos os que choram: “Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós”.16
Existe uma única fonte da paz verdadeira. Tenho certeza absoluta que o Senhor, que percebe quando um pardal cai ao solo, olha com compaixão para aqueles que tiveram que se separar de seus filhos preciosos, mesmo que tenha sido apenas temporariamente. O mundo necessita desesperadamente dos dons de consolo e paz, e Jesus, por meio de Sua expiação, concedeu-os a todos.
O Profeta Joseph Smith proferiu estas palavras inspiradas de revelação e consolo: “Todas as crianças que morrem antes de chegar à idade da responsabilidade são salvas no reino celestial”.17 “A mãe [e o pai] que enterrar seu[s] filhinho[s], sendo privada do privilégio, alegria e satisfação de criá-los até que se tornem homens e mulheres adultos neste mundo, terá a alegria, satisfação e prazer muito maiores do que seria possível na mortalidade de ver [seus] filho[s] crescerem até a plena estatura de seu espírito, após a ressurreição”.18 Esse é o bálsamo de Gileade para aqueles que choram, que perderam seus filhos amados e preciosos.
O salmista deu-nos o seguinte consolo: “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela ⌦manhã”.19
O Senhor disse: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize ( … ) Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar ( … ) para que onde eu estiver estejais vós também”.20
Expresso minha profunda gratidão ao bom Pai Celestial que deu a vocês, a mim e a todos os que sinceramente O buscam o conhecimento de que a morte não é o fim de tudo; que Seu Filho, nosso Salvador Jesus Cristo, morreu para que pudéssemos viver. Existem templos do Senhor em muitos países. Os convênios sagrados estão sendo realizados. A glória celestial aguarda os que forem obedientes. As famílias podem ser reunidas para sempre.
O Mestre convida a todos: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos; e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas”.21
Que todos assim o façamos, é minha humilde oração de agradecimento, em nome de Jesus Cristo. Amém. 9