2000–2009
“Como Curar as Devastadoras Conseqüências dos Maus-Tratos e do Abuso”
Abril 2008


2:3

“Como Curar as Devastadoras Conseqüências dos Maus-Tratos e do Abuso”

O poder de cura é inerente à Expiação de Jesus Cristo.

Presto solene testemunho de que amo profundamente o nosso novo profeta, vidente e revelador, o Presidente Thomas S. Monson. Confio nele plenamente e estou disposto a fazer tudo o que ele determinar.

Alguns assuntos são por demais delicados e intensamente pessoais, podendo suscitar sentimentos tão perturbadores, que raramente são mencionados em público. Contudo, se forem abordados com tato e compaixão à luz da verdade, a discussão desses assuntos pode resultar em maior compreensão, amenizando a dor, abençoando com a cura e até evitando outras tragédias.

É com o profundo desejo de mostrar como amenizar sua dor que me dirijo a você que está sofrendo as devastadoras conseqüências dos maus-tratos e do abuso mental, verbal, físico e especialmente sexual. Falo também para você que causou tudo isso. Enfocarei o abuso sexual, embora o conselho possa ajudar as vítimas de outros tipos de maus-tratos. Minha intenção é servir de espelho para que a luz da cura divina possa iluminar as densas nuvens de aflição causadas pelos atos iníquos de outra pessoa. Oro para ser auxiliado a comunicar-me de forma compreensível, para prover auxílio e não complicar ainda mais uma vida já prejudicada. Também é provável que uma maior compreensão, discernimento e sensibilidade nos permitam socorrer ou impedir que outras vítimas venham a sofrer a tragédia do abuso.

A ocorrência cada vez maior desse pecado maligno e abominável talvez não tenha afetado pessoalmente a sua vida. Ainda assim é bastante comum no mundo e talvez tenha afetado a vida de alguém que você ama. Com freqüência, ele causa um sofrimento muito profundo, mas que pode ser vencido. Quero, portanto, falar sobre como a cura pode ser alcançada. Isso será feito de modo reverente, pois meu objetivo é ajudar a curar, e não a agravar lembranças dolorosas.

O Arbítrio

O arbítrio moral é um elemento fundamental do plano de felicidade do Pai Celestial. Ele sabia que alguns de Seus filhos espirituais usariam esse arbítrio de modo indevido, causando graves problemas para outros. Alguns chegariam até a violar a confiança sagrada que lhes fora depositada, como pai ou membro da família, abusando de uma criança inocente. Como nosso Pai Celestial é totalmente justo, deve haver uma forma de vencer as trágicas conseqüências desse uso tão ofensivo do arbítrio, tanto para a vítima como para o perpetrador. Essa cura segura vem por meio do poder da Expiação de Seu Filho Amado, Jesus Cristo, para corrigir o que é injusto. A fé em Jesus Cristo e em Seu poder de curar dá a quem sofreu abuso ou maus-tratos os meios de sobrepujar as terríveis conseqüências dos atos iníquos de outras pessoas. Quando associada ao completo arrependimento, a Expiação também permite que o perpetrador tenha meios de evitar o severo castigo decretado pelo Senhor para tais atos.

À Vítima

Testifico que conheço vítimas de graves abusos que conseguiram completar a difícil jornada até a cura completa, por meio do poder da Expiação. Depois de resolver seus próprios problemas por meio de sua fé no poder de cura da Expiação, uma jovem que tinha sido gravemente abusada pelo pai solicitou-me outra entrevista. Ela voltou com um casal idoso. Pude ver que ela os amava profundamente. Seu rosto irradiava felicidade. Ela disse: “Élder Scott, este é o meu pai. Eu o amo. Ele está preocupado com algumas coisas que aconteceram quando eu era pequena. Essas coisas não são mais problemas para mim. O senhor poderia ajudá-lo?” Que vigorosa confirmação do poder de cura do Salvador! Ela já não sofria as conseqüências do abuso porque possuía a devida compreensão de Sua Expiação, tinha suficiente fé e era obediente a Sua lei. Se você estudar diligentemente a Expiação e tiver fé que Jesus Cristo tem poder para curar, você poderá receber esse mesmo abençoado alívio. Ao longo da jornada de recuperação, aceite Sua oferta de ajudar a você a levar sua carga até que tenha tempo e forças suficientes para receber a cura.

Para encontrar alívio das conseqüências do abuso e dos maus-tratos, é bom compreender o que causa esses males. Satanás é o autor de todas as conseqüências destrutivas do abuso. Ele tem a capacidade extraordinária de conduzir uma pessoa até um beco sem saída, no qual não se pode encontrar a solução para problemas extremamente difíceis. Sua estratégia é afastar a alma que sofre, da cura que ela pode receber de um Pai Celestial compassivo e de um Redentor amoroso.

Se você sofreu abuso, Satanás tentará fazer com que você se convença de que não há solução. Mas ele sabe perfeitamente bem que a cura existe. Satanás reconhece que a cura vem por meio do amor inabalável que o Pai Celestial tem por todos os Seus filhos. Ele também sabe que o poder de cura é inerente à Expiação de Jesus Cristo. Portanto, sua estratégia é fazer todo o possível para separar você de seu Pai e do Filho Dele. Não se deixe convencer por Satanás de que não há como você receber ajuda.

Satanás usa o abuso que você sofreu para minar seu auto-respeito, destruir sua confiança nas autoridades, gerar medo e suscitar sentimentos de desespero. O abuso pode prejudicar sua capacidade de desenvolver relacionamentos humanos saudáveis. Você precisa crer com fé que todas essas conseqüências negativas podem ser resolvidas, caso contrário elas impedirão que você se recupere completamente. Embora essas conseqüências tenham poderosa influência em sua vida, elas não definem quem você é.

Satanás tentará fazer com que você se afaste de seu Pai Celestial, dizendo que se Ele amasse você teria impedido a tragédia. Não se afaste da fonte da verdadeira cura por causa das artimanhas do príncipe do mal e de suas tirânicas mentiras. Reconheça que se tiver o sentimento de que o Pai Celestial não ama você, isso se deve à manipulação de Satanás. Mesmo que pareça difícil orar, ajoelhe-se e peça ao Pai Celestial que lhe dê a capacidade de confiar Nele e de sentir o amor que Ele sente por você. Peça para saber que o Filho Dele pode curar você por meio de Sua misericordiosa Expiação.

A proposta feita por Satanás preconizava que os filhos do Pai Celestial fossem forçados a obedecer e que não houvesse arbítrio moral e, portanto, nenhum progresso pessoal. Para preservar o arbítrio moral, o Senhor não impede que as pessoas usem indevidamente esse arbítrio. No entanto, Ele vai puni-los por esses atos, a menos que haja total arrependimento. Por meio do Espírito Santo, Ele envia sinais de alerta ao agressor, mas, em geral, o seu degradante apetite é tão forte que bloqueia a orientação espiritual. É por essa razão que Nosso Pai proveu um meio de curar as conseqüências de atos que tirem temporariamente o arbítrio da vítima do abuso, por meio da força, domínio injusto ou intimidação.

O início da cura exige que você tenha fé semelhante à de uma criança no fato incontestável de que o Pai Celestial ama você e de que Ele proveu um meio de cura. Seu Filho Amado, Jesus Cristo, deu a vida para prover essa cura. Mas não há solução mágica ou um bálsamo simples para prover a cura, tampouco existe um caminho fácil para a recuperação completa. A cura exige profunda fé em Jesus Cristo e em Sua infinita capacidade de curar. Baseia-se na compreensão da doutrina e na firme determinação de segui-la.

A cura pode começar por meio de um bispo ou presidente de estaca atencioso, ou um profissional sábio. Se você quebrasse a perna, sem dúvida não tentaria cuidar dela por conta própria. O auxílio profissional pode ajudar nos casos de severos maus-tratos ou abuso. Há muitas maneiras de iniciar a cura, mas lembre-se de que o tratamento completo vem por meio do Salvador, o Senhor Jesus Cristo, nosso Mestre e Redentor. Creia com fé que, com empenho, Sua Expiação perfeita, eterna e infinita pode curar o sofrimento infligido pelas conseqüências do abuso.

Por mais impossível que isso pareça agora, com o tempo, a cura que você pode receber do Salvador permitirá que você perdoe o ofensor e até sinta pena dessa pessoa. Quando você perdoar a ofensa, sentirá alívio da dor e aflição que Satanás quer infligir a sua vida incentivando você a odiar o ofensor. O resultado será uma paz muito maior. Embora seja uma parte importante da cura, se a idéia de perdoar faz com que você sinta ainda mais aflição, deixe esse passo de lado até sentir mais intensamente o poder de cura do Salvador em sua própria vida.1

Se estiver sendo vítima de abuso ou tiver sido no passado, tenha a coragem de procurar ajuda. Talvez alguém tenha ameaçado ou intimidado você para que não revele o abuso. Tenha coragem de agir agora mesmo. Procure o apoio de alguém em quem possa confiar. Seu bispo ou presidente de estaca podem dar-lhe conselhos valiosos e ajudar a procurar as autoridades civis. Explique como você sofreu o abuso e identifique quem fez isso. Peça proteção. Sua ação pode ajudar a impedir que outras pessoas se tornem vítimas inocentes e sofram as conseqüências disso. Procure ajuda agora mesmo. Não tenha medo, porque o medo é uma ferramenta que Satanás usará para fazer com que você continue sofrendo. O Senhor vai prover-lhe ajuda, mas você precisa procurar essa ajuda.

Não sinta desânimo se a princípio o bispo hesitar quando você apontar o perpetrador. Lembre-se que os predadores são muito habilidosos em criar uma aparência pública de retidão para mascarar seus atos desprezíveis. Ore para que o Senhor guie você em seu empenho de conseguir ajuda. Esse apoio virá. Tenha a certeza de que o Juiz Perfeito, Jesus, o Cristo, com um perfeito conhecimento dos detalhes, fará com que todos os ofensores prestem contas de cada ato iníquo cometido. No devido tempo, Ele vai aplicar plenamente as exigências da justiça, a menos que haja arrependimento total. A sua preocupação com que a justiça seja feita apenas atrasa a cura e permite ao perpetrador continuar a exercer seu controle abusivo. Portanto, você deve deixar para as autoridades civis e da Igreja a punição pelos atos diabólicos de abuso do agressor.

Ao Perpetrador

Dirijo-me agora ao ofensor que arruinou a vida de alguém com seu abuso: reconheça que você precisa de ajuda em relação ao seu vício ou ele vai destruí-lo. Você não conseguirá vencê-lo por conta própria. É provável que precise de auxílio profissional especializado. Rogo para que procure ajuda agora mesmo. É provável que esteja enganando-se na falsa e temporária segurança de ter conseguido ocultar sua transgressão das autoridades civis ou da Igreja. Saiba, porém, que o Senhor Jesus Cristo está plenamente ciente de seus pecados. Ele alertou que “qualquer que escandalizar um destes pequeninos (…) melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar”.2 Saiba que mesmo que a vítima não tome providências, seus atos abusivos serão revelados a todos, pois Satanás cuidará para que isso aconteça.

Simplifique sua vida dando agora mesmo os passos necessários para purificar sua alma desse pecado e livrar-se do castigo correspondente. Mostre seu desejo de curar a aflição que causou a outras pessoas. Converse com seu bispo ou presidente de estaca. A gravidade de seus atos pode exigir que seja submetido a ações disciplinares civis e na Igreja. Mas o pleno arrependimento proporcionará o sublime alívio do perdão, a paz de consciência e uma vida renovada. Também proporcionará alívio para a vítima e seus familiares. Você ficará livre do peso do remorso e da lembrança acusadora do sofrimento e angústia que causou na vida de outra pessoa. Reconheça que é muito mais fácil se arrepender nesta vida do que depois dela, portanto arrependa-se agora. Você receberá ajuda quando decidir libertar-se de seu vício por meio do arrependimento e do apoio de outras pessoas. Agradeça por não ter vivido em épocas passadas, quando os perpetradores desses males eram apedrejados até a morte sem terem a oportunidade de se arrepender.3

Aos Pais

Pais, ensinem os filhos de modo adequado e cuidadoso sobre o perigo em potencial do abuso e como evitá-lo. Estejam atentos a sinais de alerta, como uma súbita mudança de comportamento de uma criança, que pode indicar a existência de um problema. Estejam alerta a ansiedades manifestadas por uma criança e identifiquem sua origem.

Aos Juízes de Israel

Para você, que possui as chaves de juiz em Israel, rogo que cuide diligentemente para que toda pessoa que esteja sofrendo abuso receba a devida ajuda. O Manual de Instruções da Igreja e a ajuda por telefone lá mencionada são um recurso muito valioso para guiar suas ações eclesiásticas e coordenar o trabalho com as autoridades civis.4 Supervisione cuidadosamente a participação de toda pessoa que tiver cometido ofensas no passado. Reconheça que é muito improvável que o ofensor confesse seus atos depravados. Procure a orientação do Espírito quando sentir que pode haver um problema. Convoque a ajuda dos líderes da ala e da estaca para evitar riscos em potencial.

Oro para que você, vítima ou ofensor, aja agora mesmo para receber o benefício do poder de cura da Expiação de Jesus Cristo. Testifico que sua fé e obediência garantirão o recebimento da ajuda Dele. Em nome de Jesus Cristo. Amém.

  1. As seguintes publicações podem ajudar na recuperação de pessoas que sofreram a tragédia do abuso ou dos maus-tratos: Gordon B. Hinckley, “Salvai as Crianças”, A Liahona, janeiro de 1995, pp. 56–63; James E. Faust, “A Expiação: Nossa Maior Esperança”, A Liahona, janeiro de 2002, pp. 19–22; Dallin H. Oaks, “Ele Cura os Oprimidos”, A Liahona, novembro de 2006, pp. 6–9; Richard G. Scott, “Confie no Senhor”, A Liahona, janeiro de 1996, pp. 17–19; Richard G. Scott, “Curar as Cicatrizes Trágicas do Abuso”, A Liahona, julho de 1992, pp. 33–35; “Richard G. Scott, “Paz de Consciência, Paz Mental”, A Liahona, novembro de 2004, pp. 15–18; Richard G. Scott, “A Expiação Pode Garantir Sua Paz e Felicidade”, A Liahona, novembro de 2006, pp. 40–42; Jeffrey R. Holland, “Consertar o que Está Quebrado”, A Liahona, maio de 2006, pp. 69–71; “A Conversation on Spouse Abuse”, Ensign, outubro de 1999, pp. 22–27; “A Maléfica Estrada dos Abusos e Maus-Tratos”, Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph F. Smith, (curso de estudo do Sacerdócio de Melquisedeque e da Sociedade de Socorro, 1998), pp. 249–255; D&C 121:34–46.

  2. Mateus 18:6.

  3. Ver Deuteronômio 22:25–27.

  4. Ver Manual de Instruções da Igreja, Volume 1: Presidências de Estaca e Bispados (2006), pp. 111–112; 113–114; 116–118; 158–159; 201–202.