Fazer as Perguntas Certas da Maneira Correta
O autor mora na Califórnia, EUA.
Aprender a preparar-se para elaborar, fazer e responder perguntas pode fazer toda a diferença em sua maneira de aprender e ensinar o evangelho.
Há muitas coisas que podem contribuir para a elaboração de uma ótima aula ou uma excelente conversa em família. Atividades, estudo silencioso e trabalho em grupo são algumas das ferramentas que os professores do evangelho — sejam eles pessoas que têm chamados formais, professores voluntários do Seminário ou Instituto, ou pais — podem usar para melhorar seu ensino.
Mas entre as duas ou três principais habilidades que todos os professores devem ter está a capacidade de trabalhar bem com perguntas: ao elaborá-las, ao fazê-las e ao incentivar respostas significativas. O Presidente Henry B. Eyring, Primeiro Conselheiro na Primeira Presidência, disse: “Fazer e responder perguntas é um ponto central de todo o aprendizado e de todo o ensino”.1 Para ser um professor eficaz, é essencial adquirir essa habilidade. Aqui estão cinco sugestões para fazer isso.
Buscar as Respostas Mais Eficazes
Ao participarmos de uma aula como aluno e ouvirmos uma excelente pergunta, lembramo-nos do poder do ensino excelente. Mas saber elaborar e fazer perguntas eficazes é complicado e pode atemorizar muitos professores. Felizmente, trata-se de uma habilidade que todo professor pode aprender.
Ao elaborar perguntas, tente determinar que tipo de resposta a pergunta vai suscitar. Algumas perguntas pedem um tipo específico de resposta — uma resposta que corresponda exatamente à pergunta feita. Essas perguntas funcionam bem numa aula de matemática (“Qual é a área deste quadrado?”) ou numa aula de ciências (“A que temperatura a água ferve?”) porque há uma única resposta que pode ser descoberta e verificada. Também são úteis no estudo do evangelho como meio de estabelecer os fatos para iniciar um debate, mas pouco contribuem para animar o debate. De modo geral, porém, esse tipo de perguntas é o mais usado porque elas são fáceis de preparar.
Perguntamos coisas como “O que estudamos na última aula?” ou “Digam-me o nome de…” Essas perguntas muitas vezes fazem com que os alunos travem. Eles acham que sabem a resposta, mas não têm certeza, assim ficam com medo de arriscar um palpite. O professor com frequência interpreta esse silêncio como sinal de que a pergunta era difícil demais, quando na verdade ela era demasiadamente básica para conseguir extrair dos alunos qualquer coisa mais significativa do que uma resposta rápida.
Para gerar um debate em sala de aula, uma pergunta bem mais útil seria aquela que propiciasse uma variedade de respostas bem ponderadas. Ao fazer esse tipo de pergunta, você pode descobrir o que os alunos pensam em relação ao assunto ou quais as dúvidas que têm durante o debate. O capítulo 1 de Morôni, por exemplo, tem quatro versículos, todos repletos de profundos sentimentos. O que aconteceria se você lesse todos os quatro versículos com os alunos e depois perguntasse: “Qual desses versículos suscita sentimentos mais profundos em seu íntimo?” Dê-lhes um minuto para começarem a falar. Como você não está pedindo uma resposta específica, quase tudo o que eles disserem poderá ser utilizado. Usei esse mesmo capítulo com essa mesma pergunta e recebi algumas respostas incríveis que geraram um debate bastante significativo.
Esse é o tipo de pergunta que propicia reflexão e sentimentos, ao contrário de perguntas que exigem memória ou uma simples declaração de fatos. Há um momento e um lugar para relembrar as coisas, mas o professor pode dizer grande parte do que precisa ser relembrado, como em “Lembram que da última vez falamos sobre Morôni 1 e como cada versículo contém algumas lições muito vigorosas…” Simplesmente dizendo isso, incito pensamentos, o que aumenta a probabilidade de os alunos participarem e darem continuidade ao debate. Contudo, se eu disser: “O que abordamos na última aula?” Em geral vou ver os alunos ficarem em silêncio ou encolherem os ombros.
Faça a Segunda Pergunta
Uma pergunta que os professores do evangelho costumam usar é uma variação do seguinte: “Qual é a importância da fé em sua vida?” À primeira vista pode parecer uma pergunta significativa, mas, se pensarmos bem, há uma única resposta: “Muito importante”. Evidentemente, a fé (e qualquer outro princípio do evangelho) é muito importante, mas esse tipo de pergunta não costuma levar a lugar algum por si mesma porque você ainda tem que fazer a pergunta de acompanhamento, que seria algo como: “Por que ela é tão importante?” ou “Pode dar-nos um exemplo de uma ocasião em que ela foi importante em sua vida?” Essas perguntas podem fazer com que as coisas aconteçam em sua aula, portanto vá direto a elas e pule a primeira pergunta. Ao fazer a segunda pergunta em primeiro lugar, você vai economizar tempo e manter o debate em andamento.
Escreva as Perguntas com Antecedência
É muito útil fazer duas coisas ao preparar sua lição. Em primeiro lugar, anote a pergunta. Não apenas pense nela, anote-a. Escolha as palavras cuidadosamente e leia-as algumas vezes para certificar-se de que a pergunta aborda de modo bem claro o que você quer perguntar.
Em segundo lugar, pergunte a si mesmo: O que os alunos farão quando eu fizer a pergunta? Houve ocasiões em que achei que tinha uma pergunta muito boa anotada, então quando a proferi em voz alta e, ao imaginar minha classe, soube que seria um fiasco total. A pergunta poderia funcionar em outra classe, mas, especificamente na minha, ela não daria certo, por isso comecei de novo. Sei que, se eu tiver duas ou três perguntas bem ponderadas e anotadas em meu plano de aula, posso começar um bom debate. Outras perguntas seguirão naturalmente, mas preciso de pontos de partida bem elaborados.
Essa técnica funciona também no lar. Tivemos muitas conversas espontâneas sobre o evangelho em casa em que as perguntas e as respostas fluíram, mas houve ocasiões em que algo mais sério e direto precisava ser dito para um filho específico. Nesses casos, aprendi que, se eu preparar perguntas específicas, praticar o modo de formulá-las e analisar os possíveis resultados, as coisas saem bem melhor. Essas perguntas não estavam escritas numa folha de papel, estavam escritas em meu coração, e eu podia usá-las quando necessário.
Não Tenha Medo do Silêncio
Se você elaborou uma ótima pergunta, uma que faça os alunos pensarem e permita alguma flexibilidade nas respostas, então não fique surpreso se as pessoas demorarem alguns segundos para emitir suas respostas. Pode haver silêncio, mas não fique alarmado. Perguntas superficiais — as que somente exigem certas respostas (ou seja, “Quantas Regras de Fé existem?”) — são respondidas rapidamente. Perguntas profundas — as que exigem respostas — geralmente precisam de um tempo para fervilhar na mente do aluno. Nesse caso, o silêncio é seu amigo. Deixe acontecer e, quando os alunos começarem a responder, você ficará agradavelmente surpreso com o que virá.
Faça Perguntas sobre as Escrituras
Se quiser mesmo melhorar sua capacidade de elaborar e fazer perguntas eficazes, é preciso aprender a fazer excelentes perguntas sobre as escrituras em seu tempo de estudo e em sua preparação.
Uma maneira de abordar a leitura das escrituras é fazer isso para obter inspiração pessoal. Lemos capítulos e versículos para desfrutar a beleza neles encontrados e para ser edificados com doutrina e verdade. Uma abordagem diferente, que funciona melhor para os pais ou professores prepararem lições, é ler as escrituras e sondá-las por meio de perguntas. Faço isso para estimular a reflexão quando estou tentando decidir a melhor maneira de ajudar os alunos a entender as escrituras. Aqui está um exemplo: Doutrina e Convênios 18:10 contém uma frase bem conhecida que eleva nosso espírito: “Lembrai-vos de que o valor das almas é grande à vista de Deus”. Adoro esse pensamento, mas, se ele me for apenas inspirador, não será útil numa aula.
E se eu ponderar esta pergunta enquanto estudo e me preparo: “Então qual é o valor de uma alma? Sei que é grande, mas será que podemos colocar um preço nela?” Certa noite, no jantar, uma de minhas filhas fez exatamente essa pergunta, e isso estimulou muito debate. Aqui está a conclusão a que chegamos: O valor de uma alma é o que alguém pagará por ela, e o que o Pai pagou por nossa alma? Ele pagou com o sangue de Seu Filho perfeito. Isso faz com que cada alma tenha um valor indescritível. Não teríamos chegado a essa conclusão sem a pergunta feita diretamente ao texto.
Aquela conversa que tivemos em torno da mesa de jantar poderia facilmente ser reproduzida em outra situação de ensino. Se quiser fazer perguntas melhores a seus alunos, faça perguntas reais sobre as escrituras enquanto as lê, estuda e se prepara. Mantenha a mente inquiridora e não tenha medo de examinar a fundo um assunto. As escrituras continuarão a ser verdadeiras, mesmo quando analisadas profundamente. Quanto melhor você se tornar em sua capacidade de fazer perguntas sobre as escrituras ao estudar, melhor será ao fazer essas mesmas excelentes perguntas a seus alunos.
Continue a Desenvolver Sua Capacidade Didática
Temos a tendência de olhar para os bons professores e achar que eles nasceram assim. Eles parecem ter um dom que seria difícil uma pessoa comum adquirir. Evidentemente, a capacidade de ensinar é um dos dons do Espírito (ver Morôni 10:9–10), portanto parte da habilidade que vemos pode ser um dom do céu — mas é um dom que está ao alcance de todos os que o buscarem. Grande parte do que os bons professores fazem está a seu alcance também, por meio do estudo e da prática. Aprender a fazer perguntas eficazes é uma dessas habilidades. Ao buscar fervorosamente a capacidade de fazê-lo, você verá que vale muito a pena elaborar perguntas que incitem seus alunos a pensar, e sua capacidade de fazer exatamente isso vai aumentar.