Vida e Ministério de Wilford Woodruff
Deus é Consolador sem par, que com potente mão, a tempestade faz calmar e aplaca o tufão!”1 Assim começa o hino predileto do Presidente Wilford Woodruff, “Deus É Consolador Sem Par”.
“Ele adorava [esse hino]”, comentou o Presidente Heber J. Grant, que serviu como apóstolo durante o período em que Wilford Woodruff era o Presidente da Igreja. “Cantávamos esse hino, posso garantir, às vezes até duas vezes por mês em nossas reuniões semanais no templo e era raro passar-se um mês sem que esse hino não fosse pedido pelo Irmão Woodruff. Ele acreditava nesta obra de todo o coração e alma e trabalhava com todas as forças que lhe concedia o Senhor para seu avanço.”2
Matthias F. Cowley, que também serviu com o Presidente Woodruff, observou: “Talvez nenhum homem na Igreja jamais tenha sentido de modo mais profundo a veracidade das palavras deste hino do que Wilford Woodruff. Ele tinha uma espiritualidade tão intensa e era tão dedicado ao serviço de Deus que ao longo de toda a sua vida presenciou com abundância as manifestações miraculosas dos desígnios de Deus. Ele nunca baseara sua fé em milagres, eles meramente confirmavam as crenças que ele tinha no fundo do coração e apoiavam suas idéias relativas aos ensinamentos das escrituras sagradas”.3
Como o Presidente Grant e o Irmão Cowley observaram, o hino favorito do Presidente Woodruff ilustra bem sua vida. Descreve também o progresso que ele testemunhou em A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. O hino continua:
Profundas minas ocultou,
De ricos mananciais
E seu desejo proclamou
Dos altos pedestais!
Oh, santos vos encorajai,
As nuvens de aflição
Serão promessas do bom Pai,
Tesouros de perdão!
Oh, não deveis julgar a Deus,
Mas, sim, deveis confiar,
Pois abençoa os filhos seus,
Por muito os amar.4
Wilford Woodruff participou ativamente de muitos acontecimentos decisivos da história dos primeiros anos da Igreja. E conheceu de perto as torrentes de adversidade que por fim se reverteram em bênçãos para os fiéis. Ele sentiu na pele a amargura da perseguição e do sofrimento, mas em meio a tudo isso, provou a doçura de ser guiado pela mão de Deus. Ao presenciar o desenrolar da Restauração do evangelho, adquiriu uma compreensão melhor da obra de Deus.
Infância e Juventude de Wilford Woodruff: Um Alicerce Seguro Lançado no Lar
Wilford Woodruff nasceu em 1o de março de 1807, em Farmington, Connecticut, filho de Aphek Woodruff e Beulah Thompson Woodruff. Quando ele tinha 15 meses de idade, sua mãe morreu de febre infecciosa. Cerca de três anos depois, Aphek contraiu segundas núpcias. Wilford e seus dois irmãos mais velhos foram criados por seu pai e a madrasta, Azubah Hart Woodruff. Aphek e Azubah tiveram mais seis filhos juntos, mas quatro deles morreram ainda bebês ou crianças.
Os escritos de Wilford Woodruff mostram que sua infância foi muito semelhante à dos outros meninos de sua época. Ele freqüentava a escola e trabalhava na fazenda da família. Trabalhou também na serraria de seu pai quando era ainda bem pequeno, o que o ajudou a adquirir experiência que viria a ser-lhe útil quando, na idade adulta, esteve à frente de uma serraria. Um de seus passatempos preferidos era pescar, e ele e seu irmão sempre pescavam truta no rio que passava perto do negócio de seu pai.
Ele amava sua família e tinha profundo respeito por seus pais. Com admiração e gratidão, descrevia seu pai como um homem vigoroso que sempre “trabalhava muito” e alguém “de grande caridade, honestidade, integridade e verdade”.5 Lembra-se também de como os ensinamentos religiosos de sua madrasta ajudaram-no a buscar a Igreja verdadeira do Senhor.6
Mesmo ao envelhecer, muitas de suas maiores alegrias estavam ligadas a seus pais e irmãos. Ele filiou-se à Igreja no mesmo dia que seu irmão Azmon. Rejubilou-se quando conseguiu ensinar e batizar seu pai e sua madrasta e os demais familiares. Posteriormente, providenciou as ordenanças do templo para sua mãe, um privilégio que, segundo ele, bastou para compensar todas as dificuldades de sua vida.7
“A Proteção e Misericórdia de Deus”
Ao fazer um retrospecto de sua infância e juventude, Wilford Woodruff reconheceu a mão do Senhor ao preservar sua vida inúmeras vezes. Num artigo intitulado “Capítulo de Acidentes”, descreveu alguns dos acidentes que sofreu, surpreso por ter sobrevivido para contar a história. Ele relata, por exemplo, uma aventura que viveu na fazenda da família: “Aos seis anos de idade, quase fui morto por um touro bravo. Eu e meu pai estávamos dando abóboras ao gado, [e] um boi bravo afastou minha vaca da abóbora que ela estava comendo. Peguei a abóbora que ele deixara de lado, e então ele avançou na minha direção. Meu pai mandou-me largar a abóbora e correr. Em alta velocidade, desci um morro íngreme, carregando a abóbora, determinado a não privar minha vaca de seus direitos. O animal continuou em meu encalço. Quando ele estava prestes a atingir-me, pisei num buraco e fui ao chão; o boi saltou por cima de mim, para alcançar a abóbora, e partiu-a em pedaços com seus chifres. Eu teria tido a mesma sorte, caso não houvesse caído”.8
Ele relatou também um acidente que teve aos 17 anos de idade: “Eu estava montado num cavalo muito arisco que eu não conhecia bem; e ao descer um monte rochoso extremamente escarpado, o animal, tomando atalhos, saltou subitamente da estrada principal e correu ladeira abaixo, em meio às pedras, em alta velocidade e começou a empinar-se e a tentar lançar-me no chão por cima de sua cabeça. Contudo, segurei-me no alto de seu pescoço, agarrado tenazmente às suas duas orelhas, na expectativa de ser arremessado violentamente a qualquer momento contra as rochas. Enquanto ele estava nessa posição, comigo em seu pescoço, sem rédeas para guiá-lo a não ser suas orelhas, ele desceu o morro a toda velocidade, até deparar-se com uma rocha e cair por terra. Fui jogado acima de sua cabeça e das rochas, a quase cinco metros de distância, e cheguei ao chão em pé, o que me salvou a vida, pois se eu houvesse caído em qualquer outra posição, teria morrido na hora. Mesmo na posição em que parei, o impacto deu-me a impressão de que meus ossos eram de bambu. Quebrei a perna esquerda em dois lugares e desloquei ambos os tornozelos no choque. E o cavalo quase passou por cima de mim ao tentar levantar-se. Meu tio, Titus Woodruff, que presenciara a queda, foi procurar ajuda e levou-me para sua casa. Fiquei deitado das 14h às 22h, sem tratamento médico; finalmente, meu pai chegou, trazendo o Doutor Swift, de Farmington, que cuidou dos meus ossos, engessou minhas pernas e levou-me em sua carruagem até a casa do meu pai, a doze quilômetros dali. Sofri muito. Mas fui bem tratado e, oito semanas depois, eu já estava na rua, usando muletas”.9
A vida de Wilford Woodruff continuou a ser poupada, apesar dos acidentes freqüentes até mesmo na fase adulta. Aos 41 anos de idade, fez um resumo de seus infortúnios, expressando gratidão pela mão do Senhor que o preservou:
“Quebrei ambas as pernas — uma delas em dois lugares — ambos os braços, o esterno e três costelas, e já desloquei ambos os tornozelos. Afoguei-me, congelei-me, queimei-me e fui mordido por um cão raivoso, estive sob duas rodas hidráulicas em pleno funcionamento, tive várias doenças graves e provei veneno nas suas piores formas, fui lançado numa pilha de destroços ferroviários, por pouco não fui atingido por balas e escapei por um triz de dezenas de outros acidentes.
Acho miraculoso que, com todas as contusões e ossos quebrados ao longo dos anos, eu não seja coxo, mas tenha na verdade conseguido realizar os trabalhos mais difíceis, viver nas condições mais ingratas e fazer as viagens mais penosas. Muitas vezes, andei 60, 80 e, certa feita, 100 quilômetros num único dia. Fui envolvido pela proteção e misericórdia de Deus, e minha vida até agora foi preservada. Por essas bênçãos agradeço ao Pai Celestial de todo o coração, orando para que o restante de meus dias sejam passados a Seu serviço e na edificação de Seu reino.”10
Buscar e Encontrar a Igreja Verdadeira do Senhor
Wilford Woodruff era ainda jovem quando, pela primeira vez, teve o desejo de servir ao Senhor e aprender sobre Ele. Ele disse: “Desde pequeno, minha mente preocupava-se com assuntos ligados à religião”.11 Contudo, ele preferiu não entrar para nenhuma igreja. Na verdade, estava determinado a encontrar a verdadeira Igreja de Jesus Cristo. Inspirado pelos ensinamentos de seus pais e outros amigos e pelos sussurros do Espírito, convenceu-se de que “a Igreja de Cristo estava no deserto — de que houvera uma apostasia da religião pura e imaculada diante de Deus e de que uma grande mudança estava prestes a ocorrer”.12 Ele ficou particularmente motivado ao ler os ensinamentos de um homem chamado Robert Mason, que profetizara que Wilford viveria o bastante para saborear o fruto do evangelho restaurado. (Ver as páginas 1–3 deste livro.)
Anos depois, por achar que outros santos dos últimos dias poderiam beneficiar-se com suas experiências pessoais,13 o Presidente Wilford Woodruff contava com freqüência a história de sua busca da verdade. Ele relatou:
“Eu não conseguia achar nenhuma denominação cujas doutrinas, fé ou prática estivessem em harmonia com o evangelho de Jesus Cristo ou com as ordenanças e dons ensinados pelos apóstolos. Embora os ministros de sua época ensinassem que a fé, os dons, as graças, os milagres e as ordenanças existentes na época dos santos do passado tivessem cessado, e, não fossem mais necessários, eu não acreditava que isso fosse verdade. A meu ver, essas coisas tinham cessado em virtude da descrença dos filhos dos homens. Eu acreditava que os mesmos dons, graças, milagres e poder se manifestariam numa época da história como em outra, sempre que Deus tivesse uma Igreja na Terra, e que a Igreja de Deus seria restabelecida na Terra e que eu viveria para vê-lo. Esses princípios fixaram-se em minha mente ao ler o Velho e o Novo Testamentos, orando fervorosamente para que o Senhor me mostrasse o certo e o errado e me levasse ao caminho da salvação, sem dar atenção às opiniões dos homens. E os sussurros do Espírito do Senhor, no espaço de três anos, ensinaram-me que Ele estava prestes a estabelecer Sua Igreja e reino na Terra nos últimos dias.”14
“Minha alma sentia-se atraída por essas coisas”, disse ele. “No início de minha vida adulta, eu orava dia e noite para viver o bastante para ver um profeta. Eu estava disposto a viajar mil quilômetros se necessário para ver um profeta ou um homem capaz de ensinar-me as coisas que eu lia na Bíblia. Eu não podia filiar-me a nenhuma igreja, pois não conseguia achar nenhuma naquela época que defendesse esses princípios. Passei muitas noites na beira de rios, nas montanhas, em minha serraria (…), invocando a Deus para poder um dia ver um profeta ou algum homem que pudesse ensinar-me as coisas do reino de Deus de acordo com o que eu lia.”15
A busca de Wilford Woodruff chegou ao fim quando ele estava com 26 anos de idade. Em 29 de dezembro de 1833, ouviu um sermão proferido pelo élder Zera Pulsipher, um missionário santo dos últimos dias. Em seu diário, descreveu suas impressões do discurso do élder Pulsipher:
“Ele começou a reunião com alguns comentários introdutórios e em seguida orou. Senti o Espírito de Deus testificar que ele era um servo do Senhor. Então, começou a pregação e fê-lo com a mesma autoridade. Quando terminou seu discurso, senti verdadeiramente que se tratava do primeiro sermão do evangelho que eu já ouvira. Achei que era o que eu esperara havia muito tempo. Não pude sair daquela casa sem prestar testemunho da verdade às pessoas. Abri os olhos para ver, os ouvidos para ouvir e o coração para compreender, bem como minhas portas para acolher aquele que ministrara a nós.”16
Wilford Woodruff convidou o élder Pulsipher e seu companheiro, Elijah Cheney, para hospedarem-se em sua casa. Ao cabo de dois dias, depois de passar algum tempo lendo o Livro de Mórmon e ouvindo os missionários, o Irmão Woodruff foi batizado e confirmado membro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. A partir daquela data, sua vida mudou. Ao encontrar a verdade, dedicou-se ao trabalho de levá-la aos demais.
“O Desejo de Proclamar o Evangelho”
Determinado a guardar os convênios feitos no batismo, Wilford Woodruff foi um instrumento sempre disposto nas mãos do Senhor, pronto em todos os momentos para fazer Sua vontade. No fim de 1834, ele “sentiu o desejo de proclamar o evangelho”17 e recebeu o chamado para servir no sudeste dos Estados Unidos. Ele sabia que provações o aguardavam e que havia riscos de vida durante as viagens, mas achou forças em seu testemunho e sua fé. Posteriormente, contou: “Eu sabia que o evangelho revelado pelo Senhor a Joseph Smith era verdadeiro e de tão grande valor que eu desejava levá-lo às pessoas que não o conheciam. Era algo tão bom e simples que me parecia possível fazer as pessoas crerem nele”.18
Quando começou sua primeira missão, Wilford Woodruff era um sacerdote recém-ordenado ao Sacerdócio Aarônico. Seu companheiro, que fora ordenado élder, ficou com ele em meio às primeiras tribulações da missão, mas logo se desanimou e voltou para casa em Kirtland, Ohio. Sozinho numa terra desconhecida, Wilford orou pedindo ajuda e continuou a realizar o trabalho missionário, atravessando pântanos e brejos. Por fim, chegou à Cidade de Memphis, Tennessee, “cansado e faminto”.19 Em sua primeira experiência missionária lá, dirigiu-se a um grande grupo de pessoas. Ele relatou:
“Fui à melhor taverna [ou estalagem] das redondezas, administrada pelo Sr. Josiah Jackson. Disse-lhe que era forasteiro e não tinha dinheiro. Perguntei-lhe se poderia passar uma noite ali. Ele perguntou-me qual era minha atividade profissional. Respondi que era pregador do evangelho. Ele riu e disse que eu não parecia muito um pregador. Não lhe tirei a razão, pois todos os pregadores que ele já conhecera andavam em belos cavalos ou carruagens de luxo, bem vestidos e com salários elevados e por nada neste mundo percorreriam a pé quase trezentos quilômetros na lama para salvar o povo.
O proprietário quis brincar um pouco e disse que me hospedaria se eu pregasse. Ele desejava ver se eu era capaz. Devo confessar que, a essa altura, entrei no jogo e supliquei para não pregar. Quanto mais eu insistia para não pregar, mais determinado o Sr. Jackson parecia. (…)
Sentei-me numa grande sala para jantar. Antes de terminar, o recinto começou a encher-se de algumas das pessoas mais abastadas e elegantes de Memphis, vestidas com seda e outros tecidos finos, ao passo que minha aparência era a que se pode imaginar depois de uma longa viagem pela lama. Quando acabei de comer, a mesa foi levada para outra sala, passando acima da cabeça das pessoas que já estavam presentes. Fui conduzido a um canto da sala, num púlpito que tinha uma Bíblia, um hinário e uma vela, cercado por cerca de doze homens, com o proprietário no centro. Diante de mim, havia cerca de quinhentas pessoas reunidas não para ouvirem um sermão do evangelho, mas para divertirem-se. (…) Vocês gostariam de estar no meu lugar? Como se sentiriam se, na sua primeira missão, sem companheiro nem amigos, fossem chamados para pregar a uma congregação dessas? Contudo, foi um dos momentos mais agradáveis da minha vida, ainda que eu preferisse ter tido companhia.
Li um hino e pedi às pessoas que cantassem. Ninguém queria cantar uma única palavra. Eu disse-lhes que não tinha o dom da música, mas que com o auxílio do Senhor eu iria orar e pregar. Ajoelhei-me para orar, e os homens a minha volta ajoelharam-se também. Orei ao Senhor para que me conferisse Seu Espírito e me mostrasse o coração das pessoas. Prometi ao Senhor em meu coração que transmitiria à congregação tudo o que Ele me concedesse. Levantei-me e falei por uma hora e meia, e foi um dos melhores sermões da minha vida.
A vida das pessoas presentes foi aberta a minha mente, e falei-lhes de seus atos iníquos e da recompensa que receberiam. Os homens que estavam a minha volta ficaram profundamente envergonhados. Três minutos depois de eu terminar, eu era a única pessoa na sala.
Em seguida, mostraram-me uma cama que ficava num quarto ao lado de uma grande sala onde estavam alguns dos homens a quem eu acabara de pregar. Eu conseguia ouvir sua conversa. Um dos homens disse que gostaria de saber como aquele rapaz mórmon tinha conhecimento de acontecimentos do passado deles. Em pouco tempo, começaram a debater sobre um ponto doutrinário. Um deles sugeriu que me chamassem para decidir a questão. O proprietário disse: ‘Não, basta por hoje’.
Na manhã seguinte, tomei um bom desjejum. O proprietário disse que se eu voltasse a passar pela cidade, poderia hospedar-me em seu estabelecimento o tempo que eu desejasse.”20
Em novembro de 1836, Wilford Woodruff terminou sua missão no sudeste dos Estados Unidos. Registrou em seu diário que, em 1835 e 1836, viajara 15.688 quilômetros, realizara 323 reuniões, organizara 4 ramos da Igreja, batizara 70 pessoas e confirmara 62, realizara 11 ordenações ao sacerdócio, curara 4 pessoas pela imposição de mãos e fora salvo das mãos de 6 turbas diferentes.21 Foi ordenado élder em junho de 1835 e setenta em maio de 1836.
Quando o élder Woodruff voltou para Kirtland, viu que muitos membros da Igreja tinham caído em apostasia e estavam conspirando contra o Profeta Joseph Smith. “Na época da apostasia em Kirtland”, disse ele posteriormente, “Joseph Smith mal tinha como saber, ao conhecer alguém, exceto por revelação do Espírito de Deus, se era um amigo ou inimigo. A maioria dos líderes estavam opondo-se a ele.”22
Mesmo “em meio às trevas”,23 Wilford Woodruff permaneceu leal ao Profeta e fiel a sua determinação de pregar o evangelho. Foi chamado ao Primeiro Quórum dos Setenta e, nessa posição, continuou a testificar da verdade, viajando a conferências na área. Depois de uma estada de menos um ano em Kirtland, seguiu um sussurro do Espírito para servir como missionário de tempo integral nas Ilhas Fox, na costa do Estado do Maine. Ele relatou:
“O Espírito de Deus disse-me: ‘Escolha um companheiro e siga imediatamente para as Ilhas Fox’. Bem, eu sabia tanto sobre o que me esperava nas Ilhas Fox como sabia sobre Kolob. Mas o Espírito instou-me a ir, e assim o fiz. Escolhi Jonathan H. Hale, e ele partiu comigo. Expulsamos alguns demônios lá, pregamos o evangelho e realizamos alguns milagres. (…) Fiz um bom trabalho nas Ilhas Fox.”24 Quando os élderes Woodruff e Hale chegaram às Ilhas Fox, encontraram “lá um povo que ansiava pela antiga ordem das coisas”. Posteriormente, ele escreveu: “Sem querer vangloriar-me, digo que batizei mais de 100 pessoas lá”.25
Continuar o Trabalho Missionário como Apóstolo do Senhor Jesus Cristo
Enquanto servia como missionário nas Ilhas Fox em 1838, o élder Woodruff recebeu um chamado que prolongou seu serviço missionário pelo restante de sua vida. “Em 9 de agosto, recebi uma carta”, disse ele, “de Thomas B. Marsh, que era na época o Presidente dos Doze Apóstolos, comunicando-me que Joseph Smith, o Profeta, tivera uma revelação, nomeando para ocupar o lugar dos que tinham saído: John E. Page, John Taylor, Wilford Woodruff e Willard Richards.
O Presidente Marsh acrescentou, em sua carta: ‘Assim, saiba, Irmão Woodruff, por meio desta, que você foi chamado para integrar o Quórum dos Doze Apóstolos e que, em harmonia com a palavra do Senhor, recebida recentemente, deve dirigir-se sem demora para Far West e, no próximo dia 26 de abril, deixar os santos locais e partir para outras regiões, do outro lado do oceano’.”
O Presidente Woodruff comentou posteriormente: “O teor dessa carta fora-me revelado várias semanas antes, mas eu não o confiara a ninguém”.26
A instrução para “partir para outras regiões, do outro lado do oceano” referia-se ao mandamento do Senhor para que os Doze servissem como missionários na Grã-Bretanha. Logo depois de ser ordenado apóstolo em 26 de abril de 1839, o élder Wilford Woodruff partiu para a Grã-Bretanha como uma das “testemunhas especiais do nome de Cristo em todo o mundo”. (D&C 107:23)
O élder Woodruff serviu depois em outras missões nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha. Ficou conhecido como um dos maiores missionários da história da Igreja. Este livro contém muitos relatos de suas experiências missionárias.
Ajudar na Coligação dos Santos
Hoje em dia, os santos dos últimos dias são incentivados a edificar o reino de Deus na área em que residem, fortalecendo assim a Igreja no mundo inteiro. Nos primeiros anos da Igreja, os missionários santos dos últimos dias incentivavam os recém-conversos a emigrarem para a sede da Igreja, fosse em Kirtland, Ohio; Jackson County, Missouri; Nauvoo, Illinois ou Salt Lake City, Utah.
Cerca de dois anos depois do martírio de Joseph e Hyrum Smith, os santos foram forçados a deixar suas propriedades em Nauvoo e estabelecer um povoamento temporário em Winter Quarters, Nebraska. O élder Woodruff, que estava servindo como missionário na Inglaterra, voltou para o corpo principal da Igreja. Ao sair de Winter Quarters, ajudou a conduzir os santos em sua emigração mais conhecida: a jornada pelas planícies e montanhas dos Estados Unidos rumo à sua terra prometida no Vale do Lago Salgado. Como parte da primeira companhia de pioneiros, ele transportou o Presidente Brigham Young, que adoeceu no último trecho da viagem. O élder Woodruff estava presente quando o Presidente Young se levantou da cama no carroção, olhou a terra diante deles e proclamou: “Basta. Este é o lugar certo. Sigamos em frente”.27
O élder Woodruff continuou a ajudar os santos a partirem para a terra prometida. Numa de suas missões, ele e sua família passaram dois anos e meio no Canadá e no nordeste dos Estados Unidos, ajudando os membros da Igreja a emigrarem para o Vale do Lago Salgado. Ele estava com o último grupo de santos que teve a experiência abaixo, o que mostra sua sensibilidade aos sussurros do Espírito:
“Vi um barco a vapor prestes a zarpar. Fui até o capitão e perguntei quantos passageiros ele tinha a bordo. ‘Trezentos e cinqüenta’. ‘Poderia levar mais cem?’ ‘Sim.’ Eu estava prestes a dizer-lhe que desejávamos embarcar, mas o Espírito disse-me: ‘Não embarque nesse navio, nem você nem os demais santos’. Muito bem, pensei. Eu já aprendera lições sobre a voz mansa e delicada. Não seguimos viagem naquele navio, mas esperamos o da manhã seguinte. Trinta minutos depois de sua partida, o barco incendiou-se. Ele tinha cordas em vez de correntes metálicas para a direção, assim não foi possível voltar para o porto. Era uma noite escura, e ninguém se salvou. Se eu não tivesse obedecido à influência daquele monitor dentro de mim, estaria entre os mortos, com o restante da companhia de santos.”28
Serviço no Vale do Lago Salgado
Depois do estabelecimento dos santos no Vale do Lago Salgado, os deveres do élder Woodruff mudaram. Ele não foi mais enviado ao exterior para servir como missionário de tempo integral. Por outro lado, suas atividades incluíam ajudar mais santos a emigrarem para a sede da Igreja, reunir-se com as pessoas que visitassem a região, servir como legislador, trabalhar para irrigar e cultivar a terra e desenvolver métodos de plantio e colheita. Ele visitava com freqüência assentamentos de santos dos últimos dias em Utah, no Arizona e em Idaho, pregando o evangelho e incentivando-os em suas responsabilidades.
Wilford Woodruff serviu como historiador adjunto da Igreja de 1856 a 1883 e como historiador da Igreja de 1883 a 1889, ou seja, na maior parte do tempo em que serviu no Quórum dos Doze Apóstolos. Embora essa responsabilidade tomasse muito tempo, ele considerava-a um privilégio, pois acreditava que “a história desta Igreja perdurará ao longo do tempo e da eternidade”.29 Seu serviço como historiador foi a continuação de um trabalho que ele realizara desde 1835, quando começou a escrever um diário — um registro pessoal de sua vida e da história da Igreja. (Ver as páginas 127–130.)
Em seus esforços contínuos para fortalecer a Igreja, servir na comunidade e sustentar sua família, Wilford Woodruff seguiu princípios que aprendera com seu pai, um homem muito trabalhador. O élder Franklin D. Richards, do Quórum dos Doze Apóstolos, disse que o élder Woodruff era “conhecido por sua atividade, industriosidade e resistência física. Embora não fosse alto, era capaz de realizar tarefas que logo esgotariam homens de físico médio”.30
O diário do élder Woodruff é cheio de páginas que descrevem dias longos de trabalho árduo. Certa vez, ele relatou uma experiência na qual, aos 67 anos de idade, subiu numa escada de 3 metros de altura com seu filho Asahel para colher pêssegos numa árvore. O Asahel começou a perder o equilíbrio e, ao tentar salvá-lo, o élder Woodruff caiu. Ele escreveu: “Caí da escada a cerca de três metros do chão, ferindo meu ombro e quadril direitos, o que me causou fortes dores. O Asahel não se machucou muito. Senti muita dor e incômodo a noite toda”.31 No dia seguinte, registrou ele, “Continuei a sentir muita dor e incômodo, mas fui ao campo e voltei para casa à noite”.32 Ao comentar sobre esse acontecimento, Matthias Cowley escreveu: “Alguém poderia questionar o que um homem dessa idade estaria fazendo no alto de uma árvore. Para começar, para o élder Woodruff a idade nunca era um empecilho quando ele via algo que ele achava que precisava ser feito, caso estivesse a seu alcance. Ele estava em todos os lugares. (…) Mostrava-se sempre pronto para qualquer emergência em qualquer momento. Se visse um galho no alto de uma macieira que precisasse ser podado, mal o pensamento lhe vinha à mente e lá estava ele no alto da árvore. E era sempre difícil para ele pedir a alguém algo que ele mesmo poderia fazer”.33
A Construção de Templos e o Trabalho do Templo
Sempre que os santos permaneciam muito tempo num local centralizado, construíam um templo. Assim fizeram em Kirtland, em Nauvoo e finalmente em Salt Lake City. Ao procederem dessa forma, seguiam a revelação do Senhor ao Profeta Joseph Smith — uma revelação que o élder Woodruff registrou em seu diário:
“Qual era o objetivo da coligação dos judeus ou do povo de Deus em qualquer época do mundo? A principal finalidade era construir para o Senhor uma morada na qual Ele pudesse revelar a Seu povo as ordenanças de Sua casa e as glórias de Seu reino e ensinar ao povo os caminhos da salvação, pois há certos princípios e ordenanças que precisam ser ensinados e praticados numa casa ou local construído com esse intuito. Isso foi estabelecido na mente de Deus antes da criação do mundo, e foi com esse propósito que Deus achou por bem reunir os judeus tantas vezes, mas eles não o fizeram. É por esse mesmo motivo que Deus coliga o povo nos últimos dias: para edificar para o Senhor uma casa a fim de prepará-los para as ordenanças e investiduras, abluções e unções e assim por diante.”34
O élder Woodruff sempre exortava os santos a desfrutarem as bênçãos a seu alcance no templo. Ele ensinou: “Considero a construção de templos uma das coisas mais importantes pedidas pelo Senhor aos santos dos últimos dias na dispensação da plenitude dos tempos, para podermos ir a esses templos e não apenas redimirmos os vivos, mas também os mortos”.35 Com uma diligência que lhe era peculiar, ele deixou um grande exemplo no trabalho do templo, garantindo a realização das ordenanças para milhares de seus antepassados.
Como muitos outros profetas de sua época, o élder Woodruff profetizou que logo chegaria o tempo em que haveria templos em todo o mundo.36 Ele regozijou-se diante da oportunidade de presenciar o início do cumprimento dessa profecia, pois quatro templos foram construídos e dedicados no Território de Utah ao longo dos primeiros 46 anos que se seguiram à chegada dos santos ao Vale do Lago Salgado: nas cidades de St. George, Logan, Manti e Salt Lake City.
O Presidente Woodruff proferiu a oração dedicatória para os templos de Manti e Salt Lake City. Numa mensagem a todos os membros da Igreja, ele e seus conselheiros na Primeira Presidência testificaram das bênçãos recebidas por aqueles que assistem à dedicação de um templo em espírito de adoração sincera: “Eles receberão os doces sussurros do Espírito Santo e os tesouros do céu, e a comunhão dos anjos lhes será concedida periodicamente, pois a promessa [do Senhor] foi proclamada e não pode falhar!”37 Ele escreveu sobre uma dessas experiências, ocorrida na dedicação do Templo de Logan:
“Ao assistir à dedicação deste templo, pus-me a refletir sobre as muitas horas que passei em oração no início de minha fase adulta, suplicando a Deus que me permitisse viver na Terra para ver a Igreja de Cristo estabelecida e um povo que Ele ergueria e que receberia o antigo evangelho e lutaria pela fé concedida aos santos no passado. O Senhor prometeu-me que eu viveria o bastante para encontrar o povo de Deus e ter um nome e um lugar (…) em Sua casa, um nome melhor do que o de filhos e filhas, um nome que não se apagaria. E hoje regozijo-me por ter um nome com Seu povo e por auxiliar na dedicação de outro templo para Seu santíssimo nome. Que Deus e o Cordeiro sejam louvados para sempre.”38
O Serviço de Wilford Woodruff como Presidente da Igreja
Quando o Presidente John Taylor morreu em 25 de julho de 1887, o Quórum dos Doze Apóstolos tornou-se o corpo governante da Igreja, com o Presidente Woodruff como autoridade presidente. Sentindo o fardo de liderar a Igreja inteira, o Presidente Woodruff registrou os seguintes pensamentos em seu diário: “Isso me coloca numa situação bastante peculiar, uma situação que nunca almejei em toda a minha vida. Mas pela providência de Deus, ela foi-me confiada, e oro a Deus meu Pai Celestial que me auxilie a estar à altura. É uma posição elevada e de responsabilidade para qualquer homem e que requer grande sabedoria. Nunca achei que viveria mais que o Presidente Taylor. (…) Mas foi o que aconteceu. (…) Posso dizer apenas: Maravilhosos são Teus caminhos, ó Senhor Deus Todo-Poderoso, pois por certo escolheste as coisas fracas deste mundo para realizar Tua obra na Terra. Que Teu servo Wilford esteja preparado para tudo o que lhe aguardar na Terra e que tenha o poder de realizar tudo o que lhe ordenar o Deus do céu. Peço esta bênção ao Pai Celestial em nome de Jesus Cristo, o Filho do Deus Vivo”.39 O Presidente Woodruff foi apoiado como presidente de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias em 7 de abril de 1889. Foi o quarto presidente da Igreja nesta dispensação.
Testificar da Obra do Senhor nos Últimos Dias
Em suas mensagens para os membros da Igreja, o Presidente Woodruff testificava repetidas vezes sobre a Restauração do evangelho, tal qual o fizera ao longo de todo o seu ministério. Contudo, prestou testemunho com uma urgência cada vez maior durante esses seus últimos nove anos de vida. Ele era o último homem vivo a ter servido como apóstolo ao lado de Joseph Smith e sentia a necessidade premente de deixar um testemunho claro e duradouro do Profeta e da Restauração. Cerca de um ano antes de morrer, ele escreveu:
“Há muitas coisas que não compreendo, e uma delas é por que ainda estou aqui na minha idade atual. Não entendo por que fui preservado por tanto tempo quando muitos apóstolos e profetas já foram chamados de volta ao lar. (…) Sou o único homem ainda vivo que recebeu a investidura das mãos do Profeta Joseph Smith. Sou o único homem ainda vivo que estava com os Doze Apóstolos quando ele lhes confiou o reino de Deus e lhes deixou o mandamento de levá-lo adiante. De pé, fez um discurso de três horas para nós a portas fechadas. O recinto parecia arder em chamas. Seu rosto estava claro como âmbar; suas palavras nos atingiam como um relâmpago fulminante. Penetraram em cada parte de nosso corpo, do alto da cabeça à sola dos pés. Ele disse: ‘Irmãos, o Senhor Todo-Poderoso selou sobre minha cabeça todo sacerdócio, toda chave, todo poder, todo princípio que pertencem à última dispensação da plenitude dos tempos e à edificação do reino de Deus. Selei sobre sua cabeça todos esses princípios, sacerdócio, apostolado e as chaves do reino de Deus, e agora vocês precisam estar preparados para levar este reino avante ou serão condenados’. Nunca me esqueci dessas palavras e nunca me esquecerei enquanto viver. Esse foi o último discurso que ele fez na vida. Pouco depois, foi assassinado e voltou em glória a seu lar celeste.”40
Como Presidente da Igreja, o Presidente Woodruff orientou os santos a buscarem e seguirem a orientação do Espírito Santo, serem fiéis a seus convênios, pregarem o evangelho a sua volta e no exterior, serem honestos em suas responsabilidades materiais e diligentes no trabalho do templo e de história da família. Seus conselhos ecoam uma declaração que ele fez quando membro do Quórum dos Doze: “Ainda que sejamos bons, devemos empenhar-nos continuamente para aperfeiçoar-nos e melhorar. Obedecemos a uma lei e um evangelho diferentes do das demais pessoas, e temos um reino diferente em vista, e nosso objetivo deve, portanto, ser proporcionalmente mais elevado diante do Senhor nosso Deus e devemos governar e controlar-nos de modo condizente. E oro a Deus meu Pai Celestial que Seu Espírito repouse sobre nós e nos permita agir assim”.41
A Proclamação do Manifesto
Fortalecido pela mão orientadora do Senhor, o Presidente Woodruff dirigiu os santos dos últimos dias num dos períodos mais conturbados desta dispensação. No final do século XIX, a Igreja continuava a praticar o casamento plural em obediência ao mandamento do Senhor dado ao Profeta Joseph Smith. Contudo, o governo dos Estados Unidos aprovou nessa época leis que proibiam tal prática, com penas severas aos infratores, incluindo o confisco de propriedades da Igreja e a privação de direitos civis básicos aos membros da Igreja, como o voto. Esses acontecimentos também abriram a via legal para os processos contra os santos dos últimos dias que praticassem o casamento plural. A Igreja recorreu várias vezes, mas sem ganho de causa.
Essas circunstâncias preocuparam muito o Presidente Woodruff. Ele buscou a vontade do Senhor no assunto e por fim recebeu a revelação de que os santos dos últimos dias deveriam parar de iniciar casamentos plurais. Obedecendo ao mandamento do Senhor, emitiu o que veio a ser conhecido como o Manifesto, uma declaração inspirada que ainda hoje constitui a base da posição da Igreja no tocante ao casamento plural. Nessa declaração pública, datada de 24 de setembro de 1890, ele afirmou sua intenção de submeter-se às leis do país. Também testificou que a Igreja parara de ensinar a prática do casamento plural.42 Em 6 de outubro de 1890, numa sessão da conferência geral, os santos dos últimos dias aprovaram o anúncio de seu profeta, apoiando unanimemente a declaração de que ele estava “plenamente autorizado, em virtude de sua posição, a expedir o Manifesto”.43
Reafirmar a Natureza Eterna da Família
Cerca de três meses antes de seu martírio, o Profeta Joseph Smith proferiu um discurso a uma grande assembléia de santos. O élder Wilford Woodruff, que registrara uma síntese do discurso, disse que o Profeta abordara “um dos assuntos mais importantes e interessantes jamais apresentados aos santos”.44 Como parte desse sermão, o Profeta testificou da natureza eterna das famílias. Falou da necessidade de sermos selados a nossos pais e de continuarmos a ordenança de selamento ao longo de nossas gerações:
“Este é o espírito de Elias: que redimamos nossos mortos e nos voltemos para nossos pais que estão nos céus e selemos nossos mortos, a fim de que ressurjam na primeira ressurreição. E desejamos que o poder de Elias sele os que estão na Terra aos que estão no céu. (…) Sigam em frente e selem na Terra seus filhos a vocês e vocês mesmos a seus pais, em glória eterna.”45
Nas décadas que se seguiram, os santos dos últimos dias sabiam que havia um “elo (…) de um ou outro tipo entre os pais e os filhos”. (D&C 128:18) Contudo, seus procedimentos não estavam completamente em ordem; conforme o Presidente Woodruff observou, o Profeta Joseph não vivera o bastante para “entrar em maiores detalhes sobre essas coisas”.46 Agindo segundo “toda a luz e conhecimento que [eles] possuíam”,47 com freqüência se selavam (ou eram “adotados”) a Joseph Smith, Brigham Young ou outros líderes da Igreja da época em vez de serem selados a seus próprios pais. Como Presidente da Igreja, o Presidente Woodruff citou essa prática, dizendo: “Não cumprimos plenamente esses princípios no tocante às revelações de Deus a nós para selarmos o coração dos pais aos filhos e dos filhos aos pais. Não me sinto satisfeito, tampouco o Presidente [John] Taylor nem nenhum outro homem desde o Profeta Joseph que tenha assistido à ordenança de adoção nos templos de nosso Deus. Sentimos que havia mais a ser revelado sobre este assunto do que já havíamos recebido”.48
A revelação adicional foi recebida pelo Presidente Woodruff em 5 de abril de 1894.49 Três dias depois, num discurso na conferência geral, ele anunciou-a: “Quando me dirigi ao Senhor para saber por quem eu deveria ser adotado (…), o Espírito de Deus indagou-me: ‘Não tens um pai, que te gerou?’ ‘Sim, tenho.’ ‘Então por que não o honras? Por que não és adotado por ele?’ ‘Sim’, respondi, ‘está certo.’ Fui adotado por meu pai, e devo fazer com que meu pai seja selado a seu pai e assim por diante. E o dever que desejo que cumpra todo homem que presidir um templo a partir de hoje e para sempre, a menos que o Senhor Todo-Poderoso indique em contrário, é que todo homem seja adotado por seu pai. (…) Essa é a vontade de Deus para este povo. Quero que todos os homens que presidirem esses templos nestas montanhas de Israel tenham isso em mente. Que direito tenho eu de privar um homem de seus privilégios de linhagem? Que direito tem qualquer homem de fazê-lo? Não, digo que todo homem deve ser adotado por seu pai; e então vocês farão exatamente o que Deus disse quando declarou que enviaria Elias, o profeta, nos últimos dias. [Ver Malaquias 4:5–6.] (…)
Desejamos que os santos dos últimos dias, a partir de agora, façam sua genealogia o mais longe que conseguirem e sejam selados a seu pai e sua mãe. Que os filhos sejam selados a seus pais e perpetuem essa corrente no máximo de gerações possível. (…)
Irmãos e irmãs, aceitem de coração essas coisas. Continuemos nossas pesquisas nos registros, busquemo-los em retidão diante do Senhor e levemos adiante este princípio, e as bênçãos do Senhor nos aguardam, e aqueles que forem redimidos nos abençoarão no futuro. Oro a Deus para que, como povo, nossos olhos sejam abertos para que vejam, nossos ouvidos para que ouçam e nosso coração para que compreenda a grande e maravilhosa obra que nos foi confiada e que o Deus dos céus exige de nós”.50
“Oração pelo Profeta”
Em 1o de março de 1897, os santos dos últimos dias lotaram o Tabernáculo de Salt Lake para comemorar o 90o aniversário do Presidente Wilford Woodruff. Lá, ouviram um hino novo: “Oração pelo Profeta”. Evan Stephens adaptara a melodia de um hino existente e escreveu uma nova letra para homenagear o amado profeta da Igreja:
Profeta, sempre a Deus, em teu favor,
Rogamos paz te dê, conforto e amor
Que o tempo ao transcorrer sem te alquebrar
Conserve tua luz sempre a brilhar,
Conserve tua luz sempre a brilhar.
Rogamos pois ao Pai, de coração,
Que forças tenhas tu para a missão
De nos guiar aqui neste viver
Com luz do céu que hás de receber,
Com luz do céu que hás de receber.
Pedimos hoje a Deus, com muito amor,
E queira o Pai ouvir nosso clamor.
Bênçãos do céu a ti venha Ele dar
Enquanto entre nós te conservar,
Enquanto entre nós te conservar.51
Dezoito meses depois, em 2 de setembro de 1898, o Presidente Wilford Woodruff faleceu, unindo-se enfim aos companheiros de ministério que o tinham precedido na morte. Em seu funeral, que foi realizado no Tabernáculo de Salt Lake, “um espírito de paz (…) pairava sobre todos os procedimentos e reinava entre os participantes e permaneceu para consolar a todos”. O interior do Tabernáculo estava “artisticamente decorado de branco”, com arranjos florais “abundantes e magníficos” e feixes de trigo e aveia. “Em cada lado do órgão, havia o número 1847 e grandes feixes de artemísia, girassóis [e] ramos de pinheiro”, em memória da entrada dos pioneiros no Vale do Lago Salgado em julho de 1847. Acima de um grande retrato do Presidente Woodruff, havia a declaração: “Depois de morto, ainda fala” iluminada, em homenagem a um profeta de Deus cujos ensinamentos e exemplo continuariam a inspirar os santos dos últimos dias em seu empenho para ajudar a edificar o reino de Deus.52