Com coragem, nobreza e independência
Devocional mundial para jovens adultos • 11 de setembro de 2022 • Tabernáculo de Salt Lake
Élder Dale G. Renlund: Obrigado. Estamos reunidos no histórico Tabernáculo de Salt Lake, mas o nosso público é mundial. Ao longo das escrituras, o Senhor nos pede que lembremos. Lembrar de nosso legado compartilhado de fé, devoção e perseverança nos proporciona perspectiva e força ao enfrentarmos os desafios de nossos dias.
Foi com esse desejo de nos lembrar “de quão misericordioso tem sido o Senhor para com os filhos dos homens”1 que a série de quatro volumes intitulada Santos: A História da Igreja de Jesus Cristo nos Últimos Dias foi concebida. Os três volumes já foram publicados. Essa narrativa histórica inclui histórias de santos dos últimos dias fiéis do passado. Ela nos dá exemplos da vida real de pessoas que amaram o evangelho de Jesus Cristo, fizeram convênios e trilharam o caminho do convênio para conhecer nosso Salvador, Jesus Cristo.
Irmã Ruth L. Renlund: Temos o prazer de nos concentrar nas experiências da vida real que agora vocês podem ler em Santos: Com Coragem, Nobreza e Independência, o terceiro volume da série. Esse volume narra a história da Igreja entre a dedicação do Templo de Salt Lake, em 1893, e a dedicação do Templo de Berna Suíça, em 1955. Durante esse período, a revelação contínua se manifestou na Igreja por meio dos profetas do Senhor e aos membros. O volume 3 de Santos nos ajuda a compreender nossa própria história, as pessoas que a viveram e o nosso Salvador.
Élder Renlund: Durante essa época, meus avós, maternos e paternos, filiaram-se à Igreja. Meus pais imigraram para Salt Lake City porque tinham feito a promessa de se casarem no templo. Em 1950 não havia nenhum templo na Europa. Cada um deles recebeu sua investidura no Templo de Salt Lake, ouvindo as instruções em inglês, com um pouco de compreensão. Eles se casaram e foram selados, e se consideravam eternamente abençoados. A escolha deles de fazer o que fosse preciso para serem selados no templo também teve um impacto eterno na minha vida.
O volume 3 de Santos é a nossa herança, quer sejamos descendentes dos primeiros pioneiros, como a irmã Renlund, ou de pioneiros que vieram depois, como eu, ou caso alguns de vocês sejam pioneiros na fé. Vocês são uma parte importante da história contínua desta Igreja. Agradecemos por tudo o que fazem para edificar o alicerce de fé estabelecido por vocês e seus antepassados. “Oramos para que este volume [de Santos] amplie seu entendimento do passado, fortaleça sua fé e o ajude a fazer e a guardar os convênios que conduzem à exaltação e à vida eterna.”2
Irmã Renlund: Estou muito animada para compartilhar as histórias do volume 3 de Santos. Vamos começar!
Elder Renlund: Vamos começar com um exemplo da Restauração contínua da Igreja. O presidente Russell M. Nelson ensina com frequência que a Restauração “é um processo, não um evento, e vai continuar até que o Senhor volte novamente”.3 Um exemplo do fim da vida do presidente Joseph F. Smith é uma excelente ilustração.
Em 1918, o presidente Smith estava com problemas de saúde, e provavelmente sabia que não tinha muito tempo de vida. Ele parecia cercado pela morte. Primeiro, seu filho mais velho, Hyrum, ficou doente e morreu de um apêndice rompido. O presidente Smith derramou a sua dor em seu diário: “Minha alma está quebrantada. (…) Ó Deus, ajuda-me!”4 Segundo, a tristeza do presidente Smith foi agravada quando Ida, a viúva de Hyrum, morreu de insuficiência cardíaca pouco depois.
Terceiro, ele leu relatórios horríveis sobre a guerra mundial que foi travada. Durante a guerra, 20 milhões de soldados e civis morreram. Quarto, uma cepa mortal de gripe estava matando as pessoas em todo o mundo. O número de mortes no mundo foi de pelo menos 50 milhões. Essas mortes trouxeram dor e sofrimento indescritíveis às famílias. O presidente Smith lamentou a perda da dessas vidas. Além disso, ele estava acamado há cinco meses. Pode-se dizer que a morte era algo sobre o qual ele pensava.
Aqui está uma Bíblia que pertencia ao presidente Smith. Ele pode ter usado esta ou outra parecida para inspirá-lo sobre uma revelação importante.
Irmã Renlund: “Em 3 de outubro de 1918, ele se sentou em em seu quarto, refletindo sobre a Expiação de Jesus Cristo e a redenção do mundo. Ele abriu (…) 1 Pedro e leu sobre o Salvador pregando o evangelho no mundo espiritual. (…) O Espírito desceu sobre [o presidente Smith], abrindo seus olhos para o entendimento.” Ele viu o mundo espiritual onde multidões de “mulheres e homens justos que morreram antes do ministério mortal do Salvador estavam ali esperando alegremente Seu advento para declarar sua libertação das ligaduras da morte.
O Salvador apareceu (…), e os espíritos fiéis se regozijaram (…). Ajoelharam-se diante Dele, reconhecendo-O como seu Salvador e Libertador da morte e das cadeias do inferno. (…)
[O presidente Smith] entendeu que o Salvador não foi pessoalmente aos espíritos desobedientes. Na verdade, Ele organizou o trabalho entre os espíritos justos (…) para levar a mensagem do evangelho aos espíritos que estavam nas trevas. Dessa forma, todas as pessoas que morreram em transgressão ou sem conhecimento da verdade poderiam aprender sobre a fé em Deus, o arrependimento, o batismo vicário para remissão de pecados, o dom do Espírito Santo e todos os outros princípios essenciais do evangelho. (…)
Élder Renlund: O profeta então percebeu que os [santos] fiéis desta dispensação continuariam seu trabalho na vida vindoura pregando o evangelho aos espíritos que estavam nas trevas e sob o jugo do pecado. [Ele observou:] ‘Os mortos que se arrependerem serão redimidos por meio da obediência às ordenanças da casa de Deus, (…) e depois de terem cumprido a pena por suas transgressões e de serem purificados, receberão uma recompensa de acordo com suas obras, porque são herdeiros da salvação’.
Irmã Renlund: Na manhã seguinte, [alguns se surpreenderam ao ver que ele havia assistido] à conferência geral de outubro apesar de sua saúde debilitada. Determinado a falar para a congregação, ele ficou diante do púlpito [neste edifício], seu corpo tremia por causa do esforço. (…) Faltando-lhe forças para falar sobre sua visão sem ser dominado pela emoção, ele apenas a mencionou. ‘Não vivi sozinho nestes últimos cinco meses’, disse ele à congregação. ‘Tenho vivido em espírito de oração, de súplica, de fé e de determinação, e tenho mantido minha comunicação com o Espírito do Senhor continuamente. A reunião desta manhã me traz grande alegria’, afirmou. ‘Que o Deus Todo Poderoso os abençoe’”.5
O presidente Smith ditou a revelação a seu filho Joseph Fielding Smith após a conferência geral. Este é um dos dois exemplares que ele assinou e enviou à Primeira Presidência e ao Quórum dos Doze Apóstolos. Eles leram a visão e a endossaram na íntegra, 6 e ela está canonizada como a seção 138 de Doutrina e Convênios. Agora compreendemos que Deus se importa com aqueles que estão do outro lado do véu da mortalidade. Ele Se importa com a redenção deles. Os “mortos” não estão na verdade mortos. A Restauração contínua nos trouxe este entendimento e traz consolo e esclarecimento sobre o mundo vindouro.
Élder Renlund: De muitas maneiras, a revelação pessoal requer o mesmo processo. Para mim, tenho que me concentrar num problema. Tenho que estudá-lo, pensar sobre ele e formular várias soluções. Parece que só depois a revelação pessoal pode vir de forma confiável. Muitas vezes a revelação vem a mim em breves e sucintas diretrizes imperativas, como “Vá”, “Faça” ou “Diga!”
Irmã Renlund: O mesmo acontece comigo. Depois de ponderar, estudar e orar, muitas vezes tenho pensamentos ou ideias que vêm à minha mente que sei que não são minhas. Sempre me sinto motivada pelo fato de que Deus me conhece e me inspira a fazer o bem por meio do Espírito Santo.
Élder Renlund: Muitas vezes a revelação vem porque há uma necessidade específica. Um excelente exemplo ocorreu na Conferência Geral de Abril de 1894. O presidente Wilford Woodruff informou aos seus conselheiros e ao Quórum dos Doze Apóstolos que ele tinha recebido uma revelação sobre os selamentos do templo. Ele disse: “O Senhor me disse ser correto que os filhos sejam selados aos pais e estes aos pais deles assim que pudermos obter os registros”.7 Essa revelação veio mais de 50 anos depois que Elias restaurou a autoridade seladora no Templo de Kirtland.
Irmã Renlund: No domingo da conferência geral de 1894, o presidente Woodruff declarou: “‘A revelação não terminou. (…) A obra de Deus não terminou’. Ele falou sobre como Brigham Young realizara o trabalho de Joseph Smith de construir templos e organizar as ordenanças do templo. ‘Mas ele não recebeu todas as revelações relativas a esse trabalho’, lembrou o presidente Woodruff à congregação. ‘Nem o presidente Taylor, nem Wilford Woodruff. Esse trabalho não terá fim até que seja aperfeiçoado’”.8
Desde os anos de Nauvoo, os membros faziam batismos pelos mortos para seus familiares falecidos. Mas a importância de ser selado aos próprios antepassados ainda não havia sido revelada. O presidente Woodruff explicou: “Queremos que os santos dos últimos dias, a partir de agora, tracem sua genealogia até onde conseguirem e sejam selados a seus pais e mães. (…) Selem os filhos aos pais e perpetuem essa corrente o mais que puderem”.9
O presidente Woodruff “lembrou aos santos a visão que Joseph Smith teve de seu irmão Alvin no Templo de Kirtland. ‘Todos os que morreram sem conhecimento deste evangelho, que o teriam recebido caso tivessem tido permissão de aqui permanecer, serão herdeiros do reino celestial de Deus.’
‘Assim será com seus pais’, disse o presidente Woodruff sobre os que estão no mundo espiritual. ‘Haverá bem poucos, se houver, que não aceitarão o evangelho.’
Antes de encerrar seu sermão, ele exortou os santos a (…) procurarem seus parentes mortos. ‘Irmãos e irmãs’, disse ele, ‘vamos prosseguir com nossos registros, preenchê-los em retidão perante o Senhor e cumprir esse princípio, e as bênçãos de Deus nos acompanharão, e aqueles que forem redimidos nos abençoarão nos dias que virão.’”10 Essa revelação forneceu o motivo para os membros retornarem com frequência ao templo para realizarem ordenanças vicárias por antepassados falecidos. As famílias começaram a manter registros minuciosos dessas ordenanças e o trabalho que eles tinham feito para registrá-las em livros como este aqui que mostra o trabalho feito pelos membros da família Jens Peter e Marie Dame.
Élder Renlund: Hoje, a doutrina do selamento por gerações parece tão normal e natural para nós, mas foi preciso uma revelação do Senhor para organizar corretamente o selamento das famílias. Esta revelação teve um impacto direto na minha família na distante ilha de Larsmo, na costa oeste da Finlândia. Esta história não se encontra no volume 3 de Santos, mas está entesourada na minha família. Em 1912, meus avós paternos, Lena Sofia e Matts Leander Renlund, ouviram missionários suecos pregarem o evangelho restaurado. Lena Sofia e Leander foram batizados no dia seguinte. Eles encontraram alegria em sua nova fé e em fazer parte de um pequeno ramo, o primeiro na Finlândia. Infelizmente, a vida deles mudou financeiramente e foram atingidos por um desastre.
Em 1917, Leander morreu de tuberculose, deixando Lena Sofia viúva e grávida de seu décimo filho. Essa criança, meu pai, nasceu dois meses após o falecimento de Leander. Mais familiares morreram de tuberculose. Além de Leander, Lena Sofia sepultou sete de seus dez filhos. Foi um enorme desafio para ela, uma pobre camponesa, manter intacto o que restara de sua família.
Por quase vinte anos, ela não conseguiu ter uma boa noite de sono. Ela fazia qualquer tipo de serviço honesto durante o dia para trazer alimento para casa. À noite, cuidava de familiares que estavam à beira da morte. É difícil imaginar como Lena Sofia se sentia.
Certa vez, conheci Lena Sofia em dezembro de 1963. Eu tinha 11 anos de idade e ela, 87 anos. Ela estava arqueada devido à vida de trabalho árduo. A pele de seu rosto e suas mãos estava maltratada pelo tempo, sua textura assemelhava-se a couro desgastado. Quando nos encontramos, ela se levantou, apontou para uma foto de Leander e me disse, em sueco: “Det här är min gubbe”. “Este é o meu marido.”
Pensei que ela tinha usado incorretamente o modo presente do verbo. Como Leander havia morrido há 46 anos, falei de seu aparente erro para minha mãe. Minha mãe falou simplesmente: “Você não entende”. Não entendi nada. Lena Sofia sabia que o marido, falecido há tantos anos, era e continuaria a ser seu marido pela eternidade. Devido à doutrina da família eterna, Leander continuou presente em sua vida e fazia parte de sua grande esperança no futuro.
Antes da dedicação do Templo de Helsinki Finlândia, em 2006, minha irmã verificou quais ordenanças eram necessárias para a linhagem de nosso pai. O que ela descobriu é uma afirmação fulgurante da fé Lena Sofia tinha na autoridade do selamento. Lena Sofia enviara os registros familiares de seus filhos falecidos, que tinham mais de oito anos de idade quando morreram, para que o trabalho do templo pudesse ser realizado em 1938. Os registros estavam entre as primeiras ordenanças enviadas ao templo da Finlândia.
Lena perseverou tendo em mente as doutrinas de salvação. Ela as considerava uma das grandes misericórdias de Deus que aprendeu antes de tantas tristezas se abaterem sobre ela: que as famílias eram eternas. Uma marca de sua profunda conversão ao evangelho restaurado de Jesus Cristo era seu trabalho na história da família, um trabalho revelado por meio de Joseph Smith, Wilford Woodruff, e Joseph F. Smith. Ela era como aqueles que “morreram na fé, sem terem recebido as promessas; mas vendo-as de longe, e crendo-as e abraçando-as”.11
Irmã Renlund: Sendo a Restauração um processo contínuo, temos mais o que esperar, não é? Há menos de um ano, o presidente Nelson disse: “Os ajustes atuais nos procedimentos do templo e outros ajustes que ainda virão, são evidências contínuas de que o Senhor está dirigindo ativamente Sua Igreja. Ele está proporcionando oportunidades para que cada um de nós fortaleça nosso alicerce espiritual de maneira eficaz, centralizando nossa vida Nele e nas ordenanças e nos convênios de Seu templo”.12 O presidente Nelson explicou que esses ajustes são feitos “sob a direção do Senhor e em resposta às nossas orações” porque o Senhor deseja que “vocês entendam, de modo muito claro, exatamente o motivo pelo qual vocês estão fazendo convênios. (…) Que vocês compreendam seus privilégios, suas promessas e suas responsabilidades (…) [e] recebam impressões e conhecimento espirituais que jamais receberam”. 13
Às vezes, a revelação vem no momento exato. Isso aconteceu com mais um exemplo da Restauração contínua quando Lorenzo Snow era o presidente da Igreja. Em 1898, a Igreja se encontrava numa situação financeira difícil. No auge de sua campanha antipoligamia, o Congresso dos Estados Unidos autorizou o confisco da propriedade da Igreja. Preocupados que o governo pudesse tomar suas doações, muitos santos deixaram de pagar o dízimo, reduzindo muito a principal fonte de fundos da Igreja. A Igreja pediu dinheiro emprestado para fornecer fundos suficientes para manter obra do Senhor adiante. A Igreja até fez empréstimos para cobrir o custo de terminar o Templo de Salt Lake. A situação financeira da Igreja trouxe muita preocupação ao profeta de 85 anos de idade.14
“Certa manhã, no início de maio, o presidente Snow estava sentado na cama quando seu filho LeRoi entrou no quarto. (…) O profeta o cumprimentou e anunciou: ‘Estou indo para St. George’.
LeRoi ficou surpreso. St. George ficava (…) a 500 quilômetros de distância.” Para chegar lá, tiveram de pegar o trem por mais de 320 km para o sul, até Milford, e depois viajar mais 169 km de carruagem. Seria uma viagem árdua para um homem idoso. No entanto, eles empreenderam a viagem longa e desgastante. “Quando chegaram (…) empoeirados e cansados da viagem, (…) [um] presidente de estaca perguntou por que eles tinham ido para lá. ‘Bem’, disse o presidente Snow, ‘não sei por que viemos a St. George, sei apenas que o Espírito nos disse para virmos.’
No dia seguinte, 17 de maio, o profeta se reuniu com os santos no Tabernáculo de St. George, um prédio de arenito vermelho que ficava a vários quarteirões a noroeste do templo.” Quando o presidente Snow se levantou para falar aos santos, ele disse: “Mal podemos expressar o motivo pelo qual viemos, mas presumo que o Senhor terá algo a nos dizer”.
Élder Renlund: “Durante o sermão, o presidente Snow fez uma pausa inesperada e o salão ficou totalmente em silêncio. Seus olhos reluziram e seu semblante brilhou. Quando ele abriu a boca, sua voz estava mais forte. A inspiração de Deus parecia encher o salão. Ele, então, falou sobre o dízimo. (…) Mas lamentou que muitos (…) santos relutassem em pagar o dízimo integral. (…) ‘Essa é uma preparação essencial para Sião’, disse ele
Na tarde seguinte, o presidente Snow [ensinou]: ‘Chegou o momento de todo santo dos últimos dias que tenciona estar preparado para o futuro, com os pés solidamente assentados no chão firme, cumprir a vontade do Senhor e pagar integralmente o dízimo. Essa é a palavra do Senhor para vocês e será a palavra do Senhor para todos os assentamentos espalhados pela terra de Sião’”.
Depois, o presidente Snow ensinou: “‘Estamos em uma condição terrível e, por causa disso, a Igreja está em cativeiro. O único alívio para os santos é a observância dessa lei.’ Ele (…) desafiou [os membros] a obedecer plenamente à lei e prometeu que o Senhor os abençoaria por seus esforços. Também declarou que o pagamento do dízimo seria então um requisito rigoroso para a frequência ao templo”.15
Irmã Renlund: Desde então, muitos podem testemunhar que o Senhor derrama Suas mais ricas bênçãos sobre aqueles que estão dispostos a obedecer a esta lei simples. O irmão Alois Cziep serviu como presidente do Ramo Viena Áustria. Ele guardou o dízimo e outros registros do ramo nesta caixa forte porém simples. Durante os ataques aéreos da Segunda Guerra Mundial, este era o primeiro item a ser protegido pelo presidente Cziep e sua família antes de seus próprios bens pessoais.
Alguns também testemunharam o desafio de aceitar a lei e de receber bênçãos extraordinárias como resultado.
A experiência da família Yanagida, no Japão, é um desses exemplos. Em 1948, a Primeira Presidência enviou missionários ao Japão novamente. Quando Toshiko Yanagida perguntou ao pai sobre religião, ele a incentivou a assistir a uma reunião de membros da Igreja. Ele havia se filiado à Igreja em 1915.
A irmã Yanagida conheceu os missionários, foi convertida e batizada em agosto de 1949, e o seu pai estava presente. Mais tarde, seu marido procurou os missionários e foi batizado pelo mesmo missionário que havia ensinado a irmã Yanagida.16
Élder Renlund: O irmão e a irmã Yanagida enfrentaram dificuldades com o pagamento do dízimo. Eles “não ganhavam muito dinheiro e, às vezes, eles se perguntavam se teriam o suficiente para pagar o almoço de seu filho na escola. Eles também esperavam comprar uma casa. Após uma reunião da Igreja, [a irmã Yanagida] perguntou a um missionário sobre o dízimo. ‘O povo japonês é muito pobre agora após a guerra’, alegou ela. ‘Pagar o dízimo é muito difícil para nós. Temos mesmo que pagar?’
O élder respondeu que Deus ordenara que todos pagassem o dízimo, e falou das bênçãos pela obediência àquele princípio. [A irmã Yanagida] estava cética — e ficou um tanto com raiva. ‘Isso é coisa de americanos’, dizia ela a si mesma. (…)
Uma missionária prometeu [à irmã Yanagida] que o pagamento do dízimo poderia ajudar sua família a alcançar o objetivo de adquirir a casa própria. Querendo obedecer, [o irmão e a irmã Yanagida] decidiram pagar o dízimo e confiar que as bênçãos viriam. (…)
[Eles] começaram a ver [aquelas] bênçãos (…). Eles compraram um terreno acessível na cidade e elaboraram o projeto para construir uma casa. Em seguida, eles solicitaram um empréstimo habitacional por meio de um novo programa do governo e, assim que receberam a aprovação para construir, começaram a trabalhar no alicerce.
O processo transcorreu sem problemas até que um inspetor de obras notou que o terreno era inacessível aos bombeiros. ‘Esse terreno não é apropriado para a construção de uma casa’, disse-lhes ele. ‘Vocês não podem prosseguir com a construção’.
Sem saber o que fazer, [o irmão e a irmã Yanagida] conversaram com os missionários. ‘Nós seis vamos jejuar e orar por vocês’, respondeu um élder. ‘Vocês também devem jejuar.’ Durante os dois dias seguintes, a família Yanagida jejuou e orou com os missionários. Então, outro inspetor foi reavaliar o terreno. (…) Ele tinha a reputação de ser rigoroso, e a princípio deu pouca esperança à família Yanagida de passar na inspeção. Mas, ao olhar o terreno, ele percebeu uma solução. Em uma emergência, para que os bombeiros chegassem até a propriedade, bastava remover uma cerca. Por fim, a família Yanagida pôde construir sua casa.
‘Acho que vocês dois devem ter feito algo excepcionalmente bom no passado’, disse-lhes o inspetor. ‘Em toda a minha carreira, nunca fui tão flexível.’ [O irmão e irmã Yanagida] ficaram muito contentes. Eles haviam jejuado, orado e pagado o dízimo. E, assim como [essa notável] síster havia prometido, eles teriam uma casa própria.17
Os membros em todo o mundo tiveram experiências semelhantes quando pagaram o dízimo. O Senhor abençoa o Seu povo que é fiel e obediente. E é o pagamento fiel do dízimo que permite a construção de templos em todo o mundo.
Irmã Renlund: Sei que a nossa vida foi abençoada de forma sutil e significativa, por vivermos a lei do dízimo. Às vezes, as bênçãos não são o que esperamos e podem ser facilmente ignoradas. Mas elas são reais. Já passamos por essa experiência.18
Uma de minhas histórias favoritas contada em Santos é como as primeiras irmãs foram chamadas para servir como missionárias de tempo integral. Na Inglaterra, no final da década de 1890, circulavam rumores de que as mulheres da Igreja eram tolas e ingênuas, e que não conseguiam pensar de forma independente. Em seguida, Elizabeth McCune, que era membro da Igreja em Salt Lake City, e sua filha vieram a Londres para uma visita prolongada.
Quando assistiram a uma conferência da Igreja em Londres, Elizabeth ficou surpresa quando, “durante a sessão da manhã, Joseph McMurrin, conselheiro na presidência da missão, denunciou (…) declarações desagradáveis sobre as mulheres santos dos últimos dias [e anunciou:] ‘Acabamos de trazer conosco uma senhora de Utah (…). Vamos pedir à irmã McCune que fale esta noite e conte a vocês sua experiência em Utah’. Ele então incentivou a todos os que estavam na conferência a trazer seus amigos para ouvi-la falar.”
“À medida que a hora da reunião se aproximava, as pessoas encheram a sala até sua capacidade máxima. Elizabeth fez uma oração silenciosa e subiu ao púlpito.” Ela falou à multidão sobre sua fé e sua família, testificando corajosamente da veracidade do evangelho. Ela também disse: “‘Nossa religião nos ensina que a esposa caminha lado a lado com o marido.’ Quando a reunião terminou, pessoas desconhecidas vieram apertar a mão de Elizabeth. Alguém disse: ‘Se mais de suas mulheres viessem aqui, muitas coisas boas seriam feitas’”.
“Depois de ver a repercussão da pregação de Elizabeth no público, [o presidente McMurrin escreveu ao presidente da Igreja:] ‘Se várias mulheres brilhantes e inteligentes fossem chamadas para servir missão na Inglaterra, (…) os resultados seriam excelentes.’” “A decisão de chamar mulheres como missionárias foi em parte resultado da pregação de Elizabeth McCune.”19
Em 22 de abril de 1898, Inez Knight e Jennie Brimhall aportaram no porto de Liverpool, Inglaterra. Elas foram as primeiras a serem designadas como “missionárias” da Igreja.
Elas acompanharam o presidente McMurrin e outros missionários até uma cidade a leste de Liverpool. À noite, uma grande multidão esteve presente a uma reunião de rua com os missionários. “O presidente McMurrin anunciou que uma reunião especial seria realizada no dia seguinte e convidou todos a vir e ouvir a pregação de ‘mulheres mórmons de verdade.’”20 Este é o diário missionário de Inez Knight. Ela escreveu: “À noite, falei em meio a medos e tremores, mas me surpreendi”.21 Ela reconheceu a ajuda celestial que recebeu quando escreveu: “Falei à noite com uma grande multidão, mas fui abençoada com as orações de outros missionários”.22 Essas “mulheres mórmons de verdade” se saíram muito bem, indo de porta em porta e testemunhando muitas vezes nas reuniões de rua. Elas logo se juntaram a outras missionárias que trabalhavam por toda a Inglaterra.
Élder Renlund: A irmã Knight e a irmã Brimhall representaram o início. Nesta dispensação serviram centenas de milhares de missionárias.23 Uma das coisas que me impressiona nas missionárias é que elas podem ser eficazes ao serem autênticas. Elas são mulheres da Igreja de verdade. Como a irmã Knight e a irmã Brimhall, elas falam com as pessoas sobre quem são e por que acreditam da forma como acreditam.
A influência das missionárias na coligação de Israel tem sido extraordinária. Um jovem élder me perguntou recentemente em uma sessão de perguntas e respostas por que as alas em sua missão preferem missionárias. A minha resposta foi simplesmente: “Porque elas colocam o coração e a alma no trabalho. Os membros amam todos os missionários que agem dessa forma, sem nada que os impeçam.”
A resposta das missionárias aos chamados missionários foi e continua a ser uma parte importante da divulgação do evangelho. O presidente Nelson disse na conferência geral de abril, “Amamos as missionárias e as acolhemos de todo o coração. Sua contribuição para este trabalho é maravilhosa!”24
Irmã Renlund: Também estou impressionada com o bem que a irmã McCune prestou, sem ser chamada e designada como missionária. Mas esta querida irmã fez as coisas acontecerem por causa da sua fé.25
Isso nos leva a outra história incrível de Santos, volume 3. Encontramos exemplos de santos que demonstraram seu discipulado nas circunstâncias mais difíceis. Antigos inimigos superaram a animosidade e se tornaram unidos à medida que confiaram em Jesus Cristo.
Depois da Segunda Guerra Mundial, “os Países Baixos estavam em um estado deplorável após cinco anos de ocupação [pelo regime alemão nazista]. Mais de 200 mil holandeses haviam morrido durante a guerra, e centenas de milhares de casas haviam sido danificadas ou destruídas. Muitos santos (…) dos Países Baixos estavam amargurados com os alemães” e uns com os outros porque alguns resistiram e outros colaboraram com os ocupantes. A divisão era palpável.
Élder Renlund: “O presidente da missão, Cornelius Zappey, incentivou os ramos a complementar seus suprimentos alimentares, iniciando projetos de cultivo de batatas-semente do governo holandês.” Com esse incentivo, “ramos nos Países Baixos (…) começaram a cultivar batatas onde quer que pudessem encontrar um lugar, no quintal, em jardins de flores, terrenos baldios e canteiros de estradas.
Perto da época da colheita, [o presidente Zappey] realizou uma conferência de missão na cidade de Roterdã.” Ele sabia, ao conversar com o presidente da Missão Alemanha Oriental, “que muitos santos da Alemanha sofriam com a grave escassez de alimentos. [O presidente Zappey] queria fazer algo para ajudar, por isso perguntou aos líderes locais se estariam dispostos a dar parte de sua colheita de batatas aos santos da Alemanha.
‘Alguns dos piores inimigos que vocês encontraram como resultado dessa guerra são o povo alemão’, reconheceu ele. ‘Mas essas pessoas agora estão muito piores do que vocês.’
A princípio, alguns santos holandeses resistiram ao plano. Por que eles deveriam compartilhar suas batatas com os alemães? [Alguns tinham perdido a casa] devido a bombas alemãs ou [visto] seus entes queridos morrerem de fome porque os ocupantes alemães haviam tomado a comida deles.”
O presidente Zappey pediu a Pieter Vlam, um ex-prisioneiro de guerra e líder do ramo da Igreja em Amsterdã, “que visitasse os ramos nos Países Baixos e os incentivasse a apoiar o plano”, fazendo uma distinção entre o regime nazista e o povo alemão. “Pieter era um líder experiente da Igreja cuja prisão injusta em um acampamento alemão era bem conhecida. Se havia alguém que os santos holandeses amavam e em quem confiavam na missão, essa pessoa era Pieter Vlam.”
Quando Pieter se reuniu com os ramos, “ele se referiu a suas dificuldades na prisão. ‘Já passei por isso’, disse ele. ‘Vocês sabem disso.’ Ele os exortou a perdoar o povo alemão. ‘Sei como é difícil amá-los’, disse ele. ‘Se eles são nossos irmãos e nossas irmãs, devemos tratá-los como nossos irmãos e nossas irmãs.’
Irmã Renlund: Suas palavras e as palavras de outros presidentes de ramo tocaram os santos, e a raiva de muitos se dissipou ao colherem batatas para os [irmãos e irmãs] alemães.” Não só isso, mas as divergências e desconfianças que existiam entre os membros dentro dos ramos começaram a se dissipar também. Os membros “sabiam que poderiam trabalhar juntos no futuro.
Enquanto isso, [o presidente Zappey], se esforçava para conseguir permissão a fim de transportar as batatas para a Alemanha. (…) Quando alguns oficiais tentaram impedir os planos de envio, [o presidente Zappey] lhes disse: ‘Essas batatas pertencem ao Senhor e, se for a vontade Dele, o Senhor providenciará um meio para que cheguem na Alemanha’.
Por fim, em novembro de 1947, santos e missionários holandeses se reuniram em The Hague para carregar (…) mais de 70 toneladas de batatas. Pouco tempo depois, as batatas chegaram à Alemanha para serem distribuídas aos santos. (…)
A notícia do projeto das batatas logo chegou à Primeira Presidência. Surpreso, o segundo conselheiro David O. McKay disse: ‘Esse é um dos maiores atos de verdadeira conduta cristã que já vi’”.26
Élder Renlund: No ano seguinte, os membros holandeses enviaram novamente uma grande colheita de batata aos alemães. E eles acrescentaram arenque, fazendo com que o presente fosse ainda mais substancial. Alguns anos depois, em 1953, o Mar do Norte transbordou e inundou partes significativas dos Países Baixos, deixando os membros holandeses em necessidade. Desta vez, os santos alemães enviaram auxílio aos Países Baixos para ajudá-los em seus momentos de necessidade. Os atos de caridade dos santos holandeses repercutiram durante anos e fornecem um testamento duradouro do amor e da caridade que é possível, mesmo entre os inimigos, quando pessoas comuns amam primeiramente a Deus e ao próximo como a si mesmas.
A vontade de perdoar trouxe cura aos membros holandeses. Descobri que o mesmo se aplica a mim. Se guardo rancor, o Espírito fica aflito. Se estou zangado, sou menos gentil e menos semelhante a Cristo em meu comportamento em relação aos outros. Esta verdade foi magnificamente declarada por um personagem do romance de 1953 de Alan Paton, Too Late the Phalarope, criado no Apartheid da África do Sul: “Existe uma dura lei… que quando somos ofendidos, nunca nos recuperamos até que perdoemos”.27
Irmã Renlund: Há muito mais histórias inspiradoras da história da Igreja durante esse período de tempo contadas em Santos, volume 3. Histórias de todas as partes do mundo. Talvez vocês queiram saber algo sobre William Daniels, que serviu fielmente por anos na época da segregação na Cidade do Cabo, África do Sul. Embora ele não tenha sido ordenado a um ofício do sacerdócio, ele tinha um testemunho fervoroso.28
Élder Renlund: Ou Rafael Monroy e Vicente Morales no México, que foram assassinados por causa de sua fé. E a mãe de Rafael, Jesuita, e a esposa, Guadalupe, que lideraram sua família e comunidade com coragem, apesar das ameaças contínuas.29
Irmã Renlund: Ou Alma Richards, o primeiro membro da Igreja a ganhar uma medalha olímpica, em parte porque ele escolheu viver a Palavra de Sabedoria.30
Élder Renlund: Ou Hirini Whaanga, que, com o apoio de sua fiel esposa, Mere, retornou à sua terra natal na Nova Zelândia como missionário para pregar e reunir nomes para o trabalho no templo.31
Irmã Renlund: Ou Helga Meiszus, que manteve a fé como jovem da Igreja na Alemanha nazista, apesar do bullying de ex-amigos, professores e líderes escolares.32
Élder Renlund: Ou Evelyn Hodges, que trabalhou como assistente social empregada pela Sociedade de Socorro para ajudar famílias a se reerguerem durante a Grande Depressão.33
Irmã Renlund: Bem, não temos tempo para mencionar mais pessoas, mas sei que todos vocês vão querer ler este terceiro volume de Santos.
Élder Renlund: Para mim, o hino perfeito para este período na história da Igreja é “Povos da Terra, vinde, escutai!”34 que o coro cantará ao término de nossa reunião. “Povos da Terra, vinde, escutai!” foi escrito por Louis F. Mönch, nascido na Alemanha e se filiou à Igreja enquanto viajava por Salt Lake City. Mais tarde, ele serviu como missionário da Igreja na Suíça e na Alemanha. Durante a missão, publicou muitos materiais em alemão, inclusive “Povos da Terra, vinde, escutai!” Ele se tornou um dos hinos mais amados dos membros da Igreja que falam alemão. Foi publicado pela primeira vez na Alemanha neste hinário, em 1890. Foi traduzido para outros idiomas e publicado como parte do hinário atual que usamos. Essa versão não incluiu a terceira estrofe, que será cantada pelo coro.
Essa terceira estrofe descreve o que os santos sobre os quais falamos fizeram nessa era. Eles “[honraram] o único Deus vivo e verdadeiro. [Vieram] e [foram] batizados; [apegaram-se] à barra de ferro. [Deram] a Ele [seu] coração, com fé em Seu Filho — Jesus, o Santo.”
Convido vocês a lerem Santos para aprender e compreender a história da Igreja e aprender com o exemplo dos seus membros. O livro Santos é minucioso e confiável. É um testamento da Restauração contínua da Igreja de Jesus Cristo. Nossa história é inspiradora. Essa história é a nossa herança compartilhada, quer sejamos descendentes dos primeiros pioneiros, dos pioneiros que vieram depois, ou caso sejamos pioneiros na fé.
Por que isso é importante? Por que gastaríamos tanto tempo contando essas histórias? Porque essas histórias nos dão exemplos da vida real quanto ao poder de passarmos a conhecer o nosso Salvador. Sei que Jesus Cristo vive, guia esta Igreja e Se preocupa com o Seu povo do convênio, que está armado com o poder de Deus, em grande glória. Rogo uma bênção sobre vocês de que sentirão o amor do Salvador em sua vida e se aproximarão Dele e de Sua Igreja. Em nome de Jesus Cristo. Amém.