1990–1999
A pureza precede o poder
October 1990


A pureza precede o poder

Minhas palavras são dirigidas principalmente a vocês, rapazes do Sacerdócio Aarônico. O assunto é a pureza moral de nossa juventude. Os líderes da Igreja se importam tanto com cada um de vocês que sinto a necessidade urgente de alertá-los mais uma vez sobre as consequências da má conduta moral. Ao mesmo tempo, quero lembrá-los das grandes promessas feitas àqueles que permanecem moralmente limpos.

Estamos cientes de que os jovens da Igreja estão crescendo em um mundo atormentado pela má conduta moral dos adolescentes. Também sabemos que o pecado sexual aumentou tremendamente durante os últimos vinte anos. Muitos jovens, principalmente nos Estados Unidos, violaram a lei da castidade antes de completarem 19 anos de idade. Infelizmente, os jovens da Igreja não estão imunes. Por isso, quero assegurar a vocês que seus líderes conhecem os desafios que enfrentam na sociedade atual. No entanto, temos confiança de que vocês podem desenvolver força e integridade para vencer esses desafios e aguardar ansiosamente as bênçãos que são prometidas àqueles que permanecem moralmente limpos.

Enfatizo que vocês não precisam cair na armadilha de ser imorais — nenhum de vocês, nunca. Cada um de vocês deve visualizar o futuro para entender as consequências de suas ações, sejam boas ou ruins. O personagem de histórias em quadrinhos Ziggy expressou isso assim: “Nosso futuro é moldado por nosso passado, (…) portanto, tenha muito cuidado com o que você faz no seu passado!”

Vou contar uma experiência pessoal para mostrar a importância de ter o futuro sempre em mente. Quando estava no Sacerdócio Aarônico, eu e um de meus amigos assistimos à reunião geral do sacerdócio no tabernáculo, e acabamos indo parar perto das escadas, onde não deveríamos estar. O presidente George Albert Smith, com seu jeito bondoso, percebeu nossa situação e permitiu que ficássemos ali. Sentados nos degraus daquela escada, assistimos à reunião e pensei comigo que jamais teria de novo a chance de estar tão perto daquele púlpito. Lembro que disse a meu amigo ao sairmos do Tabernáculo: “Deve ser muito bom ser uma autoridade geral, porque aí você pode sentar lá em cima, no púlpito, em uma daquelas cadeiras”.

Agora sei, por experiência própria, que de certa forma, os bancos em que vocês estão sentados são muito mais confortáveis do que esses no púlpito. A questão é que, como portador do Sacerdócio Aarônico, eu não fazia ideia de que um dia eu serviria como bispo, como presidente de missão, como setenta e agora, como apóstolo. Não conseguimos prever o que o Senhor tem em mente para nós. Nosso único curso de ação é estar preparados e ser dignos para qualquer coisa que Ele exija de nós. Devemos conduzir nossas ações todos os dias com nosso futuro em mente.

Uma das táticas astutas de Satanás é nos tentar a nos concentrar no presente e ignorar o futuro. Joseph Smith foi prevenido pelo Senhor, de que “Satanás procura desviar da verdade o coração deles, para que se tornem cegos e não compreendam as coisas que para eles foram preparadas”. (D&C 78:10.) As “coisas que para eles foram preparadas” são as promessas de vida eterna, resultantes da obediência. O diabo tenta nos privar da visão dessas recompensas. O presidente Heber J. Grant declarou que “se formos fiéis em observar os mandamentos de Deus, Suas promessas serão cumpridas literalmente. (…) O problema é que o adversário das almas dos homens lhes cega a mente. Ele joga poeira, por assim dizer, em seus olhos, e eles ficam cegos com as coisas deste mundo”. (Gospel Standards [Padrões do Evangelho], Salt Lake City: Improvement Era, 1942, pp. 44–45.) Ele nos tenta com os prazeres transitórios do mundo para que não focalizemos a atenção e os esforços nas coisas que trazem alegria eterna. O diabo é trapaceiro, e devemos estar cientes de suas táticas.

Recentemente conversei com vários grupos de rapazes e moças em Utah e Idaho. Eles me disseram que alguns de nossos jovens sentem que podem ser imorais durante a adolescência e depois se arrepender quando decidirem ir para a missão ou se casar no templo. Alguns rapazes falam da missão como uma ocasião em que serão perdoados de seus pecados passados. Eles acreditam que algumas transgressões agora não são um grande problema, porque eles podem se arrepender quando quiserem, ir para a missão e depois viver felizes para sempre.

Rapazes, acreditem em mim quando digo que esse cenário é uma ilusão grosseira de Satanás; é um conto de fadas. O pecado sempre, sempre, resulta em sofrimento. Pode ser mais cedo ou mais tarde, mas o sofrimento virá. As escrituras declaram que seremos levados “com vergonha e terrível culpa, ao tribunal de Deus” (Jacó 6:9) e que experimentaremos “um vivo sentimento de (…) culpa e dor e angústia”. (Mosias 2:38.)

É um equívoco acreditar que o arrependimento é fácil. O presidente Kimball disse que “uma pessoa ainda não começou a se arrepender até que tenha sofrido intensamente por seus pecados. (…) Se a pessoa não sofreu, ela não se arrependeu”. (The Teachings of Spencer W. Kimball, Salt Lake City: Bookcraft, 1982, pp. 88, 99.) Basta conversar com uma pessoa que realmente se arrependeu de um pecado grave para entender que o prazer momentâneo de um ato imoral simplesmente não compensa a dor que sempre se segue.

Os jovens me disseram que alguns são tentados a ser imorais porque querem ser aceitos por seus colegas. Para os rapazes, pode significar aceitação baseada em algum tipo de imagem machista. Para as moças, pode ser a necessidade de sentir que são aceitas por terem um namorado. A aceitação de seus amigos não deve vir à custa de sua virtude e autoestima. O rei Benjamim indica que os culpados de pecado “[recuarão] da presença do Senhor”. (Mosias 2:38.) De um modo muito real, aqueles que foram imorais se afastam da presença de outras pessoas: dos amigos, dos pais, de outros membros da família e dos líderes da Igreja.

Agora, vamos considerar as grandiosas bênçãos que o Senhor prometeu aos que são obedientes ao mandamento de serem moralmente limpos. Ninguém precisa se arrepender de um pecado que não cometeu. Parece óbvio, mas gostaria de enfatizar isso. O arrependimento é uma grande bênção, mas nunca devemos ficar doentes apenas para experimentar o remédio. É infinitamente melhor manter sua saúde espiritual mantendo-se moralmente limpo. Se você se sentir confiante na presença de seus pais, colegas e líderes do sacerdócio, perceberá como se sentirá quando tiver a confiança e a aceitação do Salvador.

Conseguem pensar em alguma promessa melhor para o futuro do que a proferida pelo rei Benjamim: “Quisera que considerásseis o estado abençoado e feliz daqueles que guardam os mandamentos de Deus. Pois eis que são abençoados em todas as coisas, tanto materiais como espirituais; e se eles se conservarem fiéis até o fim, serão recebidos no céu, para que assim possam habitar com Deus em um estado de felicidade sem fim”? (Mosias 2:41.)

Os jovens me disseram que uma consciência limpa melhora a autoestima deles. Seus relacionamentos com as outras pessoas são melhores, e eles desfrutam de uma aceitação muito positiva. Na verdade, alguns deles disseram que se divertem muito mais por causa de seus altos padrões. Eles não precisam se preocupar com as temidas doenças que muitas vezes acompanham aqueles que transgridem a lei da castidade.

Tenho algumas sugestões que os ajudarão a se manter moralmente limpos.

Primeiro, entendam os padrões de pureza moral. Com relação aos Seus mandamentos, o Senhor disse: “Dou-vos instruções sobre como agirdes perante mim, a fim de que isso se transforme em vossa salvação”. (D&C 82:9.) Em outras palavras, os mandamentos são orientações para uma vida feliz.

Nossos jovens parecem confusos sobre a definição de pureza moral. Alguns rapazes e moças adotam uma determinada definição e depois a levam ao limite para ver até onde podem ir sem serem imorais por essa definição. Sugiro uma abordagem oposta.

Há vários anos, o élder Hartman Rector, que passou 26 anos como piloto da marinha, fez uma analogia interessante. A Marinha tinha uma regra que dizia simplesmente: “Não pilotarás teu avião próximo às árvores”. Faz sentido. Mas, para garantir que obedecia a essa regra, ele estabeleceu seu próprio padrão: “Não pilotarás teu avião a menos de 1.500 metros das árvores”. Ele disse: “Assim, se torna fácil viver o mandamento da Marinha de não voar próximo às árvores”. (A Liahona, agosto de 1973, p. 33.)

Alguns padrões não devem ser comprometidos. Se você não tiver certeza sobre o padrão de moralidade da Igreja, converse com seus pais ou com seus líderes do sacerdócio. Além disso, podemos conhecer os padrões corretos de conduta moral seguindo os sussurros do Espírito. Essa inspiração jamais irá levá-los a fazer qualquer coisa que os faça sentir-se incomodados, impuros ou envergonhados. Vocês precisam estar atentos a essa inspiração porque suas paixões físicas podem obscurecê-la, se não forem cuidadosos.

Segundo, uma vez que entendemos os padrões, devemos determinar que vamos viver de acordo com eles. Esse tipo de compromisso é um princípio fundamental do evangelho. As escrituras ensinam que “nada há que o Senhor teu Deus se proponha a fazer que não faça”. (Abraão 3:17.) Temos que fazer o mesmo. Devemos ser como José, que fugiu da presença da mulher de Potifar para não pecar contra Deus. (Ver Gênesis 39:7–12.) Devemos nos abster de má conduta moral tomando uma decisão firme para evitar situações comprometedoras e permanecer imutáveis pelo que é certo. Isso requer autocontrole e metas elevadas. Exorto cada um de vocês nesta noite a estabelecer uma meta de ser moralmente limpo, se ainda não o fizeram.

Terceiro, embora devamos exercer nosso arbítrio e assumir a responsabilidade por nossas decisões, não precisamos enfrentar a tentação sozinhos. Há apenas duas semanas, em uma conferência de estaca, o élder Charles “Tiny” Grant, um de nossos excelentes representantes regionais, compartilhou uma experiência. Ele disse que, há alguns anos, quando era treinador de futebol americano no Ricks College, conheceu um homem chamado Hal Barton, que era famoso por sua paixão pela pesca. No entanto, ele foi avisado de que “embora Hal saiba onde encontrar os peixes grandes, ele frequentemente entra em águas turbulentas para encontrá-los”.

A primeira oportunidade de pescar juntos foi em fevereiro, quando o gelo estava se rompendo. Enquanto caminhavam juntos pelo rio, Hal apontou para uma ilha a cerca de 50 metros de distância e disse: “Treinador, é aqui que vamos encontrar os grandes”. O dia estava frio, e agora eles tinham que atravessar uma parte perigosa do rio. O treinador logo descobriu que as pedras eram redondas e lisas, e a água estava a poucos centímetros do topo de sua roupa impermeável. Como ele tem 1,80m de altura, isso significa que era profundo. Ele estava prestes a dizer a Hal que talvez não conseguisse atravessar a água, mas percebeu que o treinador de futebol não podia admitir que estava com medo.

Nesse momento, Hal disse: “Treinador, é assim que vamos atravessar a água. Você dá um passo e fica com o pé firme enquanto eu seguro sua mão e seu braço bem firme. Depois, darei um passo enquanto você se mantém firme e fornece apoio. Vamos fazer nosso caminho através dessas águas turbulentas sobre essas rochas escorregadias”. Com esse apoio mútuo, eles atravessaram o rio em segurança e pegaram os peixes grandes.

Essa é uma excelente analogia para a maneira como podemos viver o padrão de moralidade do Senhor. Alguns que os antecederam têm uma base firme, tendo vivido o padrão moral e experimentado as bênçãos de fazê-lo. Ao caminhar pelas águas profundas da vida, eles vão apoiá-los. Então, quando estiverem firmes na retidão, vocês poderão ajudar outras pessoas que vierem depois de vocês.

Geralmente, sua fonte de apoio mais importante são seus pais. Seus ensinamentos devem ser uma influência poderosa em sua decisão de ser puro. Reconheço, no entanto, que a moralidade pode ser um assunto delicado. Peço a vocês, rapazes, que conversem com seus pais sobre os valores morais deles. Peçam a eles que os ajudem a definir os padrões que o manterão moralmente limpos.

Também peçam conselhos a seus líderes do sacerdócio, especialmente o bispo. Ele conhece os padrões e sabe o que lhes ensinar. Procurem oportunidades de estar com ele. Vocês podem esperar que ele faça perguntas específicas e informativas. Confiem nele. Confiem-se a ele. Peçam-lhe que os ajudem a entender o que o Senhor espera de vocês. Assumam o compromisso de viver de acordo com os padrões de moralidade da Igreja. Uma relação significativa com um líder adulto é vital para ajudá-los a manter-se moralmente puros e dignos. Seus consultores do Sacerdócio Aarônico vão ensiná-los e dar o apoio e a orientação de que precisam. Peçam conselhos a eles. Eles saberão como ajudá-los.

Quarto, escolham amigos que compartilhem seus padrões, sejam membros ou não membros. Esses amigos tornarão a pressão dos colegas edificante e positiva. Os rapazes e as moças com quem conversei disseram que a aceitação do grupo de colegas é uma influência poderosa, seja para o bem ou para o mal. Quando seus amigos vivem padrões morais elevados, é mais provável que você faça o mesmo. Quando tiver estabelecido um forte vínculo com esses amigos, você poderá ajudar aqueles que não tomaram decisões firmes sobre a moralidade. Ajude-os a saber que imoralidade não é “legal”.

Quinto, vocês, rapazes, devem cultivar uma atitude atenciosa para com as mulheres de todas as idades. As moças me pediram que lhes dissesse que querem que vocês as respeitem e demonstrem cortesia comum e sincera. Não hesitem em demonstrar boas maneiras abrindo a porta para elas, tomando a iniciativa de convidá-las para sair e deixando-as passarem primeiro quando entrarem em algum lugar. Acreditem ou não, nesta época de igualdade de direitos, as moças querem que vocês façam essas simples cortesias.

Por fim, busquem a ajuda do Senhor, a fonte do poder espiritual. Se “[invocarem] seu santo nome, e [vigiarem e orarem] continuamente”, “não [serão] tentados além do que [podem] suportar”. (Alma 13:28.) Suas orações diárias devem incluir um sincero pedido de ajuda para manter seu compromisso de permanecer moralmente limpos. Ao fazerem isso, o Senhor os abençoará com força para permanecerem moralmente limpos.

Lembrem-se, rapazes, de que a pureza precede o poder. O Senhor disse: “Mas purificai o coração diante de mim; e depois ide por todo o mundo e pregai meu evangelho a toda criatura que não o tiver recebido”. (D&C 112:28.) Os missionários descobrem isso bem cedo na missão e fazem todo o esforço possível para serem dignos, a fim de poderem servir com poder.

Agora, apenas uma palavra para aqueles que violaram a lei moral. Ofereço a vocês a esperança do arrependimento. A Expiação do Salvador proporciona perdão quando nos arrependemos completamente. Vocês sofrerão por causa do pecado, mas podem conhecer a alegria de ser perdoados completamente. Seu bispo pode guiá-los pelo processo do arrependimento, então conversem com ele o mais rápido possível. Vocês também devem buscar o perdão divino por meio de suas orações pessoais. Alma disse: “Não obtive a remissão de meus pecados até rogar por misericórdia ao Senhor Jesus Cristo. Mas eis que clamei a ele e achei paz para minha alma”. (Alma 38:8.) Depois de terem abandonado seus pecados, nunca mais voltem a eles, porque “à alma que pecar retornarão os pecados passados”. (D&C 82:7.)

Esta noite, relembro a oração proferida pelo presidente Hugh B. Brown em uma ocasião como esta, há mais de 20 anos, quando a má conduta moral dos jovens não era tão comum como é hoje. Ele orou: “Ó Pai, ajuda estes jovens que estão ouvindo esta noite, quando voltarem para casa, a se ajoelharem e se comprometerem contigo; e então saberão, e prometo a eles em Teu nome que saberão que, com a Tua ajuda, não precisam temer o futuro”. (Improvement Era, dezembro de 1967, p. 94).

Irmãos, não precisamos temer o futuro se guardarmos os mandamentos do Senhor e vivermos de modo a sermos Seus servos dignos. Vocês podem permanecer moralmente limpos e se prepararem agora para um futuro feliz. Que o Senhor abençoe todos vocês para que vivam assim, é minha humilde oração. Em nome de Jesus Cristo, amém.