O Dever Chama
Esta obra não é só sua e minha. É a obra do Senhor, e quando estamos a serviço do Senhor, temos direito a Seu auxílio.
Que grande audiência participa hoje da reunião geral do sacerdócio! O Apóstolo Paulo descreveu-os bem: “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”.1
Em nossa juventude, cantávamos sempre o hino “Somos os Soldados” na Escola Dominical:
Somos os soldados que combatem o mal:
Vamos marchar! Vamos marchar!
A coroa nos espera do vencedor
Vamos conquistá-la com valor.
Já na batalha vamos entrar
E a verdade lá conquistar.
Nosso pendão bem alto plantar
E nosso lar celestial vamos preparar!2
Quando contemplamos o mundo maravilhoso em que vivemos e percebemos os tempos difíceis que enfrentamos, ficamos felizes em saber que Jesus, nosso líder, está sempre perto. Vivemos num mundo de desperdícios. Com freqüência nossos recursos naturais são dilapidados. Vivemos num mundo de privações. Enquanto alguns desfrutam abundante prosperidade, outros enfrentam a fome. Nem todos têm comida, moradia, roupas e amor. O sofrimento constante, as doenças desnecessárias e a morte prematura abatem-se sobre muitos. Vivemos num mundo de guerras. Algumas são de natureza política, enquanto outras têm base econômica. A maior batalha de todas, no entanto, visa à conquista de almas humanas.
Nosso Capitão, o Senhor Jesus Cristo, declarou:
“Lembrai-vos que o valor das almas é grande na vista de Deus ( … )
E, se acontecer que, se trabalhardes todos os vossos dias, proclamando arrependimento a este povo, e trouxerdes a Mim, mesmo que seja uma só alma, quão grande será a vossa alegria com ela no reino de Meu Pai!
E agora, se a vossa alegria for grande com uma só alma que trouxestes a Mim no reino de Meu Pai, quão grande será a vossa alegria se Me trouxerdes muitas almas!”3
Ele conclamou os pescadores da Galiléia a abandonarem suas redes e segui-Lo, declarando: “Eu vos farei pescadores de homens”.4 E assim foi. Enviou Seus amados Apóstolos a todo o mundo para proclamarem Seu glorioso evangelho. Ele estende a nós o mesmo chamado: “Vamos marchar!”5 Dá-nos o plano de batalha, com a seguinte advertência: “Portanto, que todo homem aprenda o seu dever, e aprenda a agir com toda diligência no ofício para o qual for escolhido”.6 Gosto muito da admirável palavra dever.
O Presidente John Taylor alertou-nos: “Se não magnificarem seus chamados, Deus os responsabilizará por aqueles que poderiam ter salvado, caso houvessem cumprido seu dever”.7
George Albert Smith, outro Presidente da Igreja, disse: “É seu dever primeiro aprender tudo o que o Senhor quer e depois, pelo poder e força de Seu santo Sacerdócio, magnificar a tal ponto seu chamado na presença de seus semelhantes, que o povo terá prazer em segui-los”.8
Como se magnifica um chamado? Simplesmente desempenhando as tarefas relacionadas a ele.
Aceitamos o chamado; fomos ordenados; somos portadores do sacerdócio.
O Presidente Stephen L. Richards falava constantemente aos portadores do sacerdócio e salientava sua filosofia a respeito dele: “O Sacerdócio é normalmente definido somente como ‘o poder de Deus delegado ao homem’”. Continua ele: “Essa definição, acho eu, é precisa. Por razões práticas, porém, gosto de definir o Sacerdócio em termos de serviço e freqüentemente o chamo de ‘plano perfeito de serviço’”.9
Vocês poderiam perguntar: “Onde fica o caminho do dever?” Irmãos, creio, de todo o coração, que dois indicadores definem o caminho: O DEVER DE PREPARAR e o DEVER DE SERVIR.
Falemos mais detalhadamente a respeito desses dois indicadores.
O primeiro deles é o DEVER DE PREPARAR. O Senhor aconselhou-nos: “( … ) buscai diligentemente e ensinai-vos uns aos outros palavras de sabedoria; sim, nos melhores livros procurai palavras de sabedoria; procurai conhecimento, mesmo pelo estudo e também pela fé”.10
A preparação para as oportunidades e responsabilidades da vida nunca foi mais vital. Vivemos numa sociedade de mudanças. A competição intensa faz parte da vida. O papel de marido, pai, avô, provedor e protetor é muito diferente do que o era uma geração atrás. Preparar-se não é uma questão de talvez ou quem sabe. É uma obrigação. A antiga idéia de que “a ignorância é uma bem-aventurança” não vale mais. A preparação antecede o desempenho.
Todos nós, portadores do sacerdócio, somos, ou com certeza seremos, mestres da verdade. O Senhor aconselhou-nos:
“Ensinai diligentemente e a Minha graça vos atenderá, para que sejais instruídos mais perfeitamente em teoria, em princípio, em doutrina, na lei do evangelho, e em todas as coisas que pertencem ao reino de Deus, e que vos é conveniente compreender. ( … )
Para que, quando Eu vos enviar outra vez, estejais preparados em todas as coisas, para magnificar o chamado com o qual vos chamei, e a missão com a qual vos comissionei”.11
O segundo é o DEVER DE SERVIR.
A Primeira Presidência, composta por Joseph F. Smith, Anthon H. Lund e Charles W. Penrose, declarou em fevereiro de 1914: “O sacerdócio não é dado para honra ou engrandecimento do homem, mas para o ministério de serviço em favor daqueles para quem os portadores dessa sagrada missão são chamados a trabalhar”.12
Alguns dentre vocês podem, por natureza, ser tímidos ou considerar-se inadequados para aceitar um chamado. Lembrem-se de que esta obra não é só sua e minha. É a obra do Senhor, e quando estamos a serviço do Senhor, temos direito a Seu auxílio. Lembrem-se de que o Senhor qualifica aqueles que chama.
Às vezes, o Senhor precisa de um pouco de ajuda para que algumas pessoas entendam esta verdade. Lembro-me de uma ocasião, quando servia como encarregado do Comitê Missionário da Igreja, em que recebi um telefonema de um membro da presidência do Centro de Treinamento Missionário em Provo, Utah. Ele avisou-me que um rapaz chamado para uma missão de língua espanhola estava tendo dificuldades com o aprendizado do idioma e afirmara: “Jamais conseguirei aprender espanhol”. O líder perguntou: “O que o senhor recomenda que façamos?”
Pensei por um momento e sugeri: “Faça-o amanhã observar uma aula de missionários lutando para aprender japonês e conte-me sua reação”.
Ele ligou-me vinte e quatro horas depois com o seguinte relato: “Depois de meio dia na aula de japonês, o missionário chamou-me e disse animadamente: ‘Coloque-me de volta na aula de espanhol! Tenho certeza de que consigo aprender essa língua’”. E aprendeu-a.
Enquanto a sala de aula formal às vezes possa intimidar, o ensino e a aprendizagem mais eficazes podem ocorrer em outros lugares além da capela e da sala de aula.
Muitos dentre vocês são portadores do Sacerdócio Aarônico e estão preparando-se para ser missionários. Comecem a aprender agora, na juventude, a alegria de servir na causa do Mestre. Dar-lhes-ei um exemplo disso.
Após as festividades do Dia de Ação de Graças, alguns anos atrás, recebi uma carta de uma viúva que conhecera na estaca de cuja presidência eu fizera parte. Ela acabara de voltar de um jantar patrocinado pelo bispado. Suas palavras refletiam a paz e a gratidão que lhe enchiam a alma:
Caro Presidente Monson,
Moro atualmente em Bountiful. Sinto saudades das pessoas de nossa antiga estaca, mas gostaria de contar-lhe a maravilhosa experiência que tive. No princípio de novembro, todas as viúvas e os idosos receberam convite para um adorável jantar. Disseram-nos que não nos preocupássemos com transporte, pois o mesmo seria providenciado pelos jovens adultos da ala. Na hora marcada, um rapaz muito gentil tocou a campainha e levou-me, com outra irmã, para a capela da estaca. Ele parou o carro e dois outros rapazes acompanharam-nos até o prédio. Lá chegando, conduziram-nos às mesas, onde nos sentamos entre rapazes e moças. Serviram-nos um delicioso jantar típico do dia de Ação de Graças e, posteriormente, apresentaram um belo programa.
No final, o rapaz levou-nos de volta para casa. Foi uma noite muito agradável. A maioria de nós derramou algumas lágrimas de gratidão pelo amor e respeito a nós demonstrados.
Presidente Monson, quando vemos jovens tratando os outros como esses o fizeram, sinto que a Igreja está em boas mãos.
As palavras da epístola de Tiago vêm-nos à mente: “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo”.13
Acrescento meu elogio ao dela: Que Deus abençoe os líderes, os rapazes e as moças que tão altruisticamente deram essa alegria aos solitários e tanta paz a sua alma. Por meio de experiência, aprenderam o significado de servir e sentiram a proximidade do Senhor.
Em 1962, tendo voltado para casa após presidir a Missão Canadense da Igreja, recebi um telefonema do Élder Marion G. Romney. Avisou-me que a Primeira Presidência me nomeara membro do Comitê de Correlação de Adultos da Igreja, comitê esse que tinha a tarefa específica de trabalhar na preparação de um novo conceito — o ensino familiar. Assim teve início uma experiência muito interessante e gratificante para mim. Cada fase de nosso trabalho, quando terminada, era examinada pela Primeira Presidência e pelo Conselho dos Doze. Na primavera de 1963, nosso trabalho ficou pronto e alguns de nós foram chamados para servir em um novo comitê — o Comitê de Ensino Familiar do Sacerdócio — e designados para ensinar e incentivar sua implantação nas estacas da Igreja.
O Presidente David O. McKay reuniu-se com todas as Autoridades Gerais da Igreja e com os representantes do comitê. Ele aconselhou-nos: “O ensino familiar é uma de nossas mais urgentes e compensadoras oportunidades de nutrir e inspirar, de aconselhar e orientar os filhos de nosso Pai. ( … ) É um serviço divino, um chamado divino. Como mestres familiares, temos o dever de levar o Espírito divino a cada lar e coração”.
Em 1987, o Presidente Ezra Taft Benson aconselhou os que compareceram à reunião geral do sacerdócio: “O ensino familiar não deve ser encarado levianamente. O chamado de mestre familiar deve ser aceito como se fosse o próprio Senhor Jesus Cristo quem o faz”.14 Ele citou a conhecida passagem de Doutrina e Convênios, seção 20, onde o Senhor declarou ao sacerdócio que deveriam “zelar sempre pela Igreja, estar com os membros e fortalecê-los;
E ver que não haja iniqüidade na Igreja ( … );
E ver que a Igreja se reúna amiúde, e ver também que todos os membros cumpram suas obrigações.15
E visitar a casa de cada membro, exortando-o a orar em voz alta e em segredo e a cumprir todas as obrigações da família.”16
Recentemente, nossos netos receberam seus boletins. Mostraram-nos com satisfação aos pais e a nós. Hoje gostaria que todos os portadores do sacerdócio escrevessem sua própria nota no boletim do ensino familiar. Vocês estão prontos? Responder sim ou não será o suficiente.
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Você é um mestre familiar?
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Os mestres familiares visitam sua casa pelo menos uma vez por mês?
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Os mestres familiares preparam e apresentam uma mensagem do evangelho?
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Os mestres familiares perguntam de cada pessoa da família — até mesmo dos que estão estudando fora ou servindo como missionários?
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Que lições os mestres familiares transmitiram a sua família no mês passado?
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Os mestres familiares oraram com sua família durante a visita?
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Você fez suas visitas de mestre familiar no mês passado?
O teste deveria continuar, mas sinto que as perguntas os levaram a uma auto-análise e os motivaram a melhorar seu desempenho.
Estou ciente de que nós, aqui na sede da Igreja, autorizamos algumas modificações no trabalho dos mestres familiares, em lugares em que existem poucos membros — chegando a permitir que a mulher acompanhe o marido quando um outro portador do sacerdócio não estiver disponível. Mas tais exceções devem ser apenas isto: exceções — não a regra. Insistimos que seja designado um mestre, um sacerdote ou um élder em perspectiva para os portadores ativos do Sacerdócio de Melquisedeque, de acordo com a escritura: “E se qualquer homem dentre vós for forte em espírito, que tome consigo aquele que for fraco, para que seja edificado em toda mansidão, a fim de que ele também se torne forte”.17 Esse é o ensino familiar do sacerdócio da maneira que, de um modo geral, deve funcionar.
Caso sintam que a designação é muito árdua ou toma muito tempo, gostaria de contar-lhes a experiência de um mestre familiar fiel e seu companheiro no que era, então, a Alemanha Oriental.
O irmão Johann Denndorfer fora convertido à Igreja na Alemanha e, após a Segunda Guerra Mundial, viu-se virtualmente prisioneiro em sua própria terra — a Hungria, na cidade de Debrecen. Como ele desejava ir ao templo! Como desejava receber suas bênçãos espirituais! As solicitações que fez para viajar até o Templo da Suíça foram repetidamente rejeitadas e ele quase se desesperou. Foi então que recebeu a visita de seu mestre familiar. O irmão Walter Krause viajou do nordeste da Alemanha até a Hungria. Dissera ele a outro mestre familiar, seu companheiro: “Gostaria de fazer visita de mestre familiar comigo esta semana?”
O companheiro respondeu: “Quando partimos?”
“Amanhã”, respondeu irmão Krause.
“Quando voltaremos?” perguntou o companheiro.
“Mais ou menos dentro de uma semana — se voltarmos!”
E lá foram eles visitar o irmão Denndorfer. Ele não tivera mestres familiares desde antes da guerra. E quando viu os servos do Senhor, ficou muito feliz. Não lhes apertou as mãos, mas foi até o quarto e tirou de um esconderijo o dízimo que tinha guardado desde o dia em que se tornara membro da Igreja e voltara para a Hungria. Entregou o dízimo a seus mestres familiares e disse: “Agora estou em dia com o Senhor. Agora me sinto digno de apertar as mãos dos servos do Senhor!”
O irmão Krause perguntou-lhe se desejava ir ao templo da Suíça. O irmão Denndorfer respondeu: “Não adianta. Tentei várias vezes. O governo até confiscou meus livros da Igreja, meu maior tesouro”.
O irmão Krause, que era patriarca, deu uma bênção patriarcal ao irmão Denndorfer: “Consulte novamente o governo a respeito de ir à Suíça”. E o irmão Denndorfer fez a solicitação mais uma vez às autoridades. Dessa vez recebeu aprovação e, com alegria, foi ao Templo da Suíça e demorou-se um mês. Recebeu a investidura própria, teve sua esposa, falecida, selada a si, e realizou o trabalho para centenas de seus antepassados. Retornou ao lar renovado no corpo e no espírito.
E o que aconteceu com os mestres familiares que fizeram essa visita histórica e inspirada a seu irmão, Johann Denndorfer?
Conhecendo pessoalmente todas as pessoas envolvidas nesse caso, não ficaria nem um pouco surpreso se soubesse que, no caminho entre Drenecen, Hungria, e sua casa, na Alemanha Oriental, eles cantaram em voz alta “Entre perigos não há temor, pois nos protege o Salvador; Ele nos guia com seu amor e nosso lar celestial vamos preparar”.18
Irmãos do sacerdócio — Que todos nos lembremos do dever de preparar e do dever de servir, para que mereçamos a aprovação do Senhor: “Bem está, servo bom e fiel”.19 Em nome de Jesus Cristo. Amém.