1990–1999
A Palavra de Sabedoria: O Princípio e as Promessas

Abril 1996


A Palavra de Sabedoria: O Princípio e as Promessas

Apesar de a Palavra de Sabedoria exigir obediência absoluta, em troca ela nos promete, saúde, grandes tesouros de conhecimento e a redenção obtida para nós pelo Cordeiro de Deus.

Esses maravilhosos jovens no coro são típicos representantes dos jovens que encontramos em toda a Igreja. Como os amamos! Como somos gratos por vocês, nossos jovens! Nada existe de mais precioso que nossos filhos, nossos jovens. É a vocês, nossa juventude, que falo. Há muitos anos, na África, aprendi como os crocodilos invisíveis podem ser perigosos. Já preveni nossos jovens a respeito de crocodilos espirituais que não se vêem, mas que os espreitam a fim de destruí-los.

Os perigos invisíveis aumentaram muito, e atualmente há inúmeros deles.

Alguns são como minas escondidas em um campo que vocês terão de atravessar a caminho da maturidade. Bairros e escolas, que já foram lugares seguros, já não o são. Felizmente, possuem dentro de si um poder espiritual muito semelhante a um detector de minas. Se aprenderem como funciona, ele os avisará da presença de crocodilos e minas invisíveis e vocês poderão evitar problemas.

Três anos após a organização da Igreja, foi recebida a revelação que descrevia nossos dias nas seguintes palavras proféticas:

“Eis que, na verdade, assim vos diz o Senhor: Devido a maldades e desígnios que existem e existirão nos corações dos homens conspiradores nos últimos dias, Eu vos avisei, e de antemão vos aviso, por meio desta palavra de sabedoria, dada por revelação.” (D&C 89:4)

Essa Palavra de Sabedoria estabelece restrições para os membros da Igreja. Até o dia de hoje, esses regulamentos aplicam-se a todos os membros da Igreja e a todos os que pretendam fazer parte dela. São de tal importância que ninguém pode ser batizado na Igreja sem antes concordar em segui-los. Ninguém será chamado para ensinar ou liderar, a menos que os tenha aceitado. Quan­do desejarem ir ao templo, ser-lhes-á perguntado se guardam a Palavra de Sabedoria. Caso não o façam, não poderão ir à casa do Senhor até que se tornem dignos.

Sabemos que os jovens não gostam de restrições. Acreditem ou não, já fomos jovens e nos lembramos.

Uma certa resistência a qualquer coisa que limite nossa liberdade de ação quase dominou a sociedade. Toda a nossa ordem social poderia tornar-se autodestrutiva com a obsessão da liberdade sem responsabilidade, imaginando-se que se pode desvincular as escolhas das conseqüências.

Meus jovens, vocês devem compreender que existe algo imensamente importante que justifica as restrições impostas pela Palavra de Sabedoria!

A revelação foi dada, a princípio, como “saudação; não por mandamento ou constrangimento” (D&C 89:2), mas após os membros da Igreja terem tido tempo de aprender sua importância, sucessivos presidentes da Igreja declararam-na um mandamento, sendo ela aceita pela Igreja como tal.

A Palavra de Sabedoria foi dada por princípio, com promessa. (Ver D&C 89:3.) A palavra princípio, na revelação, é muito importante. Um princípio é uma verdade permanente, uma lei, uma regra que se pode adotar ao tomar decisões. De modo geral, os princípios não são explicados em detalhes. Esse fato deixa-nos livres para descobrir por nós mesmos o que é adequado ou não fazermos, tomando o princípio como base.

Os membros escrevem-nos perguntando se isso ou aquilo é contra a Palavra de Sabedoria. Sabe-se muito bem que chá, café, bebibas alcoólicas e fumo estão em desacordo com a Palavra de Sabedoria. Ela não foi explicada com mais detalhes. Assim, ensinamos o princípio juntamente com as bênçãos prometidas. Há muitas substâncias prejudiciais que viciam uma pessoa e que são ingeridas, mascadas, cheiradas ou injetadas. Essas susbtâncias prejudicam tanto o corpo como o espírito e não são mencionadas na revelação.

Nem tudo que é prejudicial está relacionado especificamente; como, por exemplo, o arsênico, que certamente é prejudicial, mas obviamente não vicia! O que deve ser compelido em todas as coisas, diz o Senhor, “é servo indolente e não sábio”. (D&C 58:26)

Em algumas culturas, existem bebibas típicas que, segundo se afirma, são inofensivas, uma vez que não são mencionadas especificamente na revelação. Ainda assim, elas afastam os membros de suas famílias, em especial os homens, levando-os a festas que, certamente, ofendem o princípio. As promessas feitas na revelação serão negadas aos descuidados e indiferentes.

A obediência aos conselhos dados garantirá sua segurança na vida.

Conta-se a história de um rei que teve de escolher entre dois cocheiros. Ele ordenou que cada um deles conduzisse a carruagem por uma estrada tortuosa, em declive, que cortava um grande desfiladeiro.

O primeiro deles desceu bem devagar, ficando próximo às montanhas que ladeavam a estrada. O segundo mostrou grande talento e habilidade: desceu a montanha em grande velocidade, a carruagem tão na beirada que, às vezes, a roda saía da estrada.

O rei pensou muito e sabiamente escolheu o primeiro homem para conduzir sua carruagem. É sempre melhor termos segurança.

A Palavra de Sabedoria é “adaptada à capacidade dos fracos e à do mais fraco de todos os santos”. (D&C 89:3) Ela é reforçada por outras escrituras. Elas ensinam que as boas coisas da Terra “são feitas para o benefício e uso do homem, ( … )

Sim, para alimento e para vestuário, para gosto e para cheiro, para fortalecer o corpo e avivar a alma.

( … ) para serem usadas com discernimento, sem excesso ou extorsão”. (D&C 59:18–20)

Aprendam, jovens, aprendam a ser cuidadosos e a terem bom senso em assuntos de saúde, nutrição e, em especial, no tocante a medicamentos. Evitem ser extremistas, fanáticos ou adeptos de modismos.

Por exemplo, a Palavra de Sabedoria aconselha-nos a comer carne parcamente. Para evitar o extremismo, outra revelação nos diz que “aquele que proibe o uso da carne ( … ) não é ordenado de Deus”. (D&C 49:18)1

Outra escritura aconselha-nos: “Cessai de ser ociosos; cessai de ser impuros; ( … ) cessar de dormir mais do que o necessário; recolhei-vos cedo aos vossos aposentos, para que vos não canseis; levantai-vos cedo, para que vossos corpos e vossas mentes sejam vigorados”. (D&C 88:124)

Honrem o princípio da Palavra de Sabedoria e receberão as bênçãos prometidas. “E todos os santos” promete a revelação, “que se lembrarem e guardarem e fizerem estas coisas, obedecendo aos mandamentos”, têm a promessa de que “receberão saúde para o seu umbigo e medula para os seus ossos” e “correrão e não se cansarão, caminharão e não desfalecerão”. (D&C 89: 18, 20)

A Palavra de Sabedoria não nos promete saúde perfeita, mas ensina a manter o corpo com o qual nascemos nas melhores condições possíveis, e nossa mente alerta para os delicados sussurros do espírito.

Lembro-me de uma bênção que recebi quando estava no serviço militar. Ela incluía um bom conselho para todos os jovens:

“Você recebeu um corpo de proporções físicas e aptidão suficientes para permitir ao espírito funcionar por meio dele. ( … ) Isso deve ser visto como uma grande dádiva. Guarde-o e proteja-o. Não ingira nada que prejudique seus órgãos, porque o corpo é sagrado. É o instrumento da mente e a base de seu caráter.” O conselho teve grande influência sobre mim.

A promessa de saúde, se vivermos o padrão estabelecido na revelação, não se limita aos membros da Igreja. Falem a seus amigos não-membros a respeito da Palavra de Sabedoria; recomendem a eles que sigam seus princípios.

Há uma bênção ainda maior prometida na Palavra de Sabedoria. Àqueles que obedecem é prometido que “acharão sabedoria e grandes tesouros de conhecimento, até mesmo tesouros ocultos”. (D&C 89:19) Essa é a revelação pessoal por meio da qual podemos detectar crocodilos invisíveis, minas escondidas e outros perigos.

Quando foram confirmados como membros da Igreja, receberam o dom do Espírito Santo. “Ou não sabeis”, escreveu Paulo, “que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós ( … )”. (I Coríntios 6:19)

E o Senhor disse: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito”. (João 14:26)

Há uma promessa final na revelação. Falando mais uma vez a respeito dos que obedecem, guardam e cumprem esses mandamentos, o Senhor disse: “E Eu, o Senhor, lhes faço a promessa de que o anjo destruidor os passará como aos filhos de Israel, e não os matará”. (D&C 89:21) Essa é uma promessa extraordinária.

Para compreendê-la, devemos voltar-nos para a época de Moisés. Os israelitas eram escravos havia 400 anos. Moisés veio como seu libertador. Ele lançou pragas no Egito. O Faraó concordava todas as vezes em libertar os israelitas, mas sempre voltava atrás em sua promessa. Finalmente, “o Senhor disse a Moisés: Ainda uma praga trarei sobre o Faraó, e sobre o Egito; depois vos deixará ir daqui; ( … ) E todo o primogênito na terra do Egito morrerá ( … )”. (Êxodo 11:1,5)

Moisés disse aos israelitas: “tome ( … ) um cordeiro ( … ) sem mácula, um macho de um ano ( … )”. “Nem dela (daquela carne) quebrareis osso.” (Êxodo 12:3,5, 46; ver também João 19:33)

Eles deveriam preparar o cordeiro como que para um banquete e “[tomar] do sangue, e pô-lo ( … ) na verga da porta. ( … )

E eu passarei pela terra do Egito esta noite, e ferirei todo o primogênito na terra ( … ) vendo eu sangue, passarei por cima de vós, e não haverá entre vós praga de mortandade ( … )

E este dia vos será por ( … ) estatuto perpétuo”. (Êxodo 12:7, 12–14)

“E acontecerá que, quando vossos filhos vos disserem: Que culto é este?

Então direis: Este é o sacrifício da páscoa do Senhor.” (Ver Êxodo 12:3–27.) Estou certo, meus jovens, de que conseguem perceber o simbolismo profético da Páscoa. Cristo foi “o Cordeiro de Deus” (João 1:29, 36), o primogênito, do sexo masculino, sem máculas. Ele foi morto sem que lhe quebrassem os ossos, apesar de os soldados receberem ordem de fazê-lo.

Não é da morte física que seremos poupados nesta páscoa se obedecermos a esses mandamentos, pois todos morremos no devido tempo. É, porém, a morte espiritual que não precisaremos sofrer. Se formos obedientes, não passaremos por esse tipo de morte espiritual. “Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós.” (I Coríntios 5:7)

Apesar de a Palavra de Sabedoria exigir obediência absoluta, em troca ela nos promete saúde, grandes tesouros de conhecimento e a redenção obtida para nós pelo Cordeiro de Deus, que foi morto para que fôssemos redimidos.

A lei do sacrifício foi cumprida com a crucificação. O Senhor instituiu o sacramento para substituí-la. Esse é o nosso estatuto perpétuo, a ordenança que teremos para sempre! Jovens, freqüentem as reuniões e partilhem do sacramento.

A Palavra de Sabedoria foi-nos dada, certamente, para que mantivéssemos alerta essa parte delicada, sensível e espiritual de nossa natureza. Aprendamos a “dar ouvidos” a nossos sentimentos. Poderemos, assim, ser guiados, prevenidos, ensinados e abençoados.

Ainda que a vida, na juventude seja sempre cheia de incertezas, jovens, não temam o futuro!

Os sonhos da juventude podem realizar-se. Todos os seus desejos dignos, quer físicos ou emocionais, podem ser satisfeitos. Vocês podem encontrar um companheiro ou companheira a quem oferecer um corpo livre de vícios, sejam de estimulantes ou depressivos, e uma mente sensível aos sussurros e orientação do espírito.

Vocês podem ser selados para esta vida e para a eternidade, no convênio do casamento, e expressar esse amor livremente, amor esse que tem como propósito final a geração de vida, filhos, família e felicidade.

Se vocês estão fora de curso, agora é o momento de voltarem. Vocês podem fazê-lo e sabem disso. Meus jovens, tenham fé e serão guiados pelo Espírito como o foi Néfi, “não sabendo de antemão o que deveria fazer”. (1 Néfi 4:6)

Guardem a Palavra de Sabedoria. Procurem companheiros dignos. Freqüentem a Igreja com regularidade. Nunca deixem de buscar ajuda por meio da oração diária. Prometo-lhes que o caminho será mais suave e terão serenidade e confiança em relação à vida e ao futuro. Serão prevenidos contra os perigos e guiados pelos sussurros do Santo Espírito.

Presto testemunho de que essa revelação é uma vigorosa proteção para todos os membros da Igreja, em particular para vocês, jovens da Igreja, ao enfrentarem uma vida cheia de tantos problemas, perigos e incertezas. Tenham fé, jovens da Igreja. O Senhor estará com vocês e os orientará. Presto testemunho Dele e de Seu sacrifício expiatório e de Seu amor por vocês, em nome de Jesus Cristo. Amém.

  1. O contexto do versículo 18 é o versículo 19: “Pois eis que as feras do campo, as aves do ar ( … ) são destinadas ao uso do homem para comida. ( … )” A seção 49 foi dirigida especificamente aos membros da Sociedade Unida dos Crentes na Segunda Aparição (os Shakers) para corrigir algumas de suas doutrinas errôneas. Uma de suas crenças era de que não deveriam comer carne ou peixe.