1990–1999
Para que Sejamos Um
April 1998


Para que Sejamos Um

O Salvador do mundo falou da união e de como mudaremos nossa natureza para torná-la possível.

O Salvador do mundo, Jesus Cristo, disse a respeito dos que fariam parte de Sua Igreja: “Sede um; e se não sois um, não sois meus” (D&C 38:27); quando o homem e a mulher foram criados, a união no casamento não lhes foi dada como uma esperança; era um mandamento! “Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.” (Gênesis 2:24) Nosso Pai Celestial quer que sejamos unidos. No amor, essa união não é meramente ideal. É necessária.

A exigência de ser um, não se refere somente a esta vida. O primeiro casamento foi realizado por Deus no Jardim do Éden, quando Adão e Eva eram imortais. Ele colocou nos homens e mulheres desde o princípio o desejo de unirem-se como marido e mulher para viver em família para sempre, em uma união perfeita e íntegra. Colocou em Seus filhos o desejo de viverem em paz com todos à sua volta.

Com a queda, porém, ficou claro que não seria fácil viver em união. Logo começaram as tragédias. Caim matou Abel, seu irmão. Os filhos de Adão e Eva estavam sujeitos às tentações de Satanás. Com habilidade, ódio e astúcia ele busca sua meta, que é o oposto do propósito do Pai Celestial e do Salvador. Era Seu desejo conceder-nos a união perfeita e a felicidade eterna. Satanás, que é inimigo tanto Deles quanto nosso, conhecia o plano de salvação desde antes da Criação. Ele sabia que os relacionamentos familiares sagrados e felizes somente podem perdurar com a vida eterna. Seu desejo é afastar-nos de nossos entes queridos e tornar-nos infelizes. É ele quem semeia a discórdia no coração humano, na esperança de que nos separemos.

Todos experimentamos tanto a união quanto a separação. Às vezes, na família, e, quem sabe, em outros ambientes, percebemos como é a vida quando se coloca o bem de outrem acima do seu próprio, com amor e sacrifício. Todos experimentamos a tristeza e a solidão de estar distantes e sozinhos. Não precisamos que nos digam o que devemos escolher. Já sabemos. Entretanto, esperamos poder experimentar a união nesta vida e qualificarmo-nos para tê-la eternamente no mundo futuro. Precisamos saber como virá essa grande bênção para sabermos o que fazer.

O Salvador do mundo falou da união e de como mudaremos nossa natureza para torná-la possível. Ensinou isso claramente na oração que fez em Sua última reunião com os Apóstolos antes de morrer. Essa oração de suprema beleza está registrada no livro de João. Ele estava para enfrentar o terrível sacrifício em nosso favor, que tornaria possível a vida eterna. Estava para deixar os Apóstolos a quem ordenara, a quem amava e com quem deixaria as chaves para o governo de Sua Igreja. Então, orou a Seu Pai: o Filho perfeito ao Pai perfeito. Vemos em Suas palavras como as famílias serão unificadas, da mesma forma que todos os filhos do Pai Celestial que seguirem o Salvador e Seus servos:

“Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade. E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.” (João 17:18-21)

Nessas poucas palavras, Ele deixou claro que o evangelho de Jesus Cristo permite que os corações sejam unificados. As pessoas que acreditassem na verdade que ensinou aceitariam as ordenanças e convênios postos a seu alcance por Seus servos autorizados. Então, por intermédio da obediência a essas ordenanças e convênios do evangelho, sua natureza seria modificada. Nesse sentido, a Expiação do Salvador torna possível que sejamos santificados. Assim, podemos viver em união, como é necessário, para que tenhamos paz nesta vida e habitemos com o Pai e Seu Filho na eternidade.

O ministério dos apóstolos e profetas naquela época, bem como hoje, deve levar os filhos de Adão e Eva à unidade da fé em Jesus Cristo. O objetivo final de seus ensinamentos e dos nossos é unir a família: marido, mulher, filhos, netos, antepassados e, finalmente, todos da família de Adão e Eva que assim o desejarem.

Vocês lembram-se que o Salvador disse na oração: “Por eles”, referindo-se aos Apóstolos, “me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade”. (João 17:19) O Espírito Santo é quem santifica. Podemos recebê-Lo como companheiro porque o Senhor restaurou o Sacerdócio de Melquisedeque por intermédio do Profeta Joseph Smith. As chaves desse sacerdócio estão na Terra atualmente. Por meio desse poder fazemos os convênios que nos permitem desfrutar constantemente da companhia do Espírito Santo.

Quando as pessoas têm o Espírito Santo consigo, pode-se esperar que haja harmonia. O Espírito coloca o testemunho da verdade em nosso coração e unifica os que têm esse testemunho. O Espírito de Deus nunca gera contenda. (Ver 3 Néfi 11:29.) Nunca faz acepção de pessoas, acepções essas que levam a conflitos. (Ver Joseph Fielding Smith, Doutrina do Evangelho, 1975, pp. 116-117.) Ele leva à paz interior e à união com os outros. Unifica a alma. A união da família, da Igreja e a paz do mundo dependem da unidade da alma.

Até as crianças compreendem o que fazer para ter o Espírito Santo como companheiro. Está na oração do sacramento. Ouvimos essa oração todas as semanas na reunião sacramental. Nesse momento sagrado, renovamos os convênios que fizemos no batismo. O Senhor lembra-nos da promessa que nos foi feita quando fomos confirmados membros da Igreja para recebermos o Espírito Santo. Eis as palavras da oração sacramental: “Desejam tomar sobre si o nome de teu Filho e recordá-lo sempre e guardar os mandamentos que ele lhes deu, para que possam ter sempre consigo o seu Espírito (…)”. (D&C 20:77)

Podemos ter Seu Espírito quando guardamos esse convênio. Primeiro prometemos tomar sobre nós o Seu nome. Isso quer dizer que devemos considerar-nos Dele. Nós iremos colocá-Lo em primeiro lugar em nossa vida. Desejaremos o que Ele deseja, em vez de desejarmos o que o mundo nos ensina a desejar. Enquanto amarmos mais as coisas do mundo, não teremos paz. Ter o ideal de conforto na vida em família ou da nação por meio de bens materiais ocasionará sua divisão. (Ver Harold B. Lee, Stand Ye in Holy Places (Permanecei em Lugares Sagrados), 1974, p. 97.) O ideal de fazermos uns aos outros o que o Senhor deseja que façamos, o que, na seqüência natural, vem logo após tomarmos sobre nós o Seu nome, leva-nos a um nível espiritual que é um pedaço do céu na Terra.

Em segundo lugar, prometemos lembrar-nos sempre Dele. Fazemos isso sempre que oramos em Seu nome. Lembramos Dele especialmente quando pedimos o Seu perdão, o que deve ser freqüente. Nesse momento, lembramos de Seu sacrifício, que torna possíveis o arrependimento e o perdão. Quando suplicamos, lembramo-nos Dele como nosso advogado junto ao Pai. Quando sentimos o perdão e a paz, lembramos de Sua paciência e amor infinito. Essa lembrança enche-nos o coração de amor.

Também cumprimos nossa promessa de recordá-Lo quando oramos e lemos as escrituras em família. Numa oração familiar em volta da mesa do desjejum, um filho pode orar pedindo que outro seja abençoado para que tudo corra bem em uma prova ou em algo que vá fazer. Quando a bênção é recebida, o filho que a recebeu irá lembrar-se do amor que sentiu de manhã e da bondade do Advogado em cujo nome foi feita a oração. Os corações serão unidos pelo amor.

Guardamos o convênio de recordá-Lo toda vez que reunimos a família para ler as escrituras. Elas dão testemunho do Senhor Jesus Cristo, pois essa é e sempre será a mensagem dos profetas. Mesmo que as crianças não se lembrem das palavras, irão lembrar-se do Autor, que é Jesus Cristo.

Em terceiro lugar, quando tomamos o Sacramento, prometemos guardar Seus mandamentos, todos eles. O Presidente J. Reuben Clark Jr. num discurso em uma conferência geral, assim como em muitas outras ocasiões, fez um apelo à união, alertando-nos quanto a selecionarmos os mandamentos a que obedeceremos. Estas são suas palavras: “O Senhor não nos deu nada que seja inútil ou desnecessário. Ele encheu as Escrituras com o que devemos fazer para recebermos a salvação”.

O Presidente Clark continua: “Quando tomamos o sacramento, fazemos o convênio de obedecer aos Seus mandamentos. Não há exceções. Não há distinções nem diferenças”. (Conferência Geral, sábado, 2 de abril de 1955.) O Presidente Clark ensinou que à medida em que nos arrependemos de todo pecado, não de um pecado só, empenhamo-nos em guardar todos os mandamentos. Pode parecer difícil, mas não é complicado. Simplesmente submetemo-nos à autoridade do Salvador e prometemos ser obedientes a tudo o gue Ele ordenar. (Ver Mosias 3:19.) É nossa submissão à autoridade de Jesus Cristo que nos permitirá sermos unidos como família, Igreja e filhos do Pai Celestial. O Senhor comunica essa autoridade por intermédio de Seu profeta e servos humildes. A fé faz com que nosso chamado como mestre familiar ou professora visitante seja uma missão do Senhor. Agimos por Ele, a Seu comando. Um homem comum e um companheiro adolescente vão de casa em casa com a esperança de que os poderes do céu os ajudem e assegurem que as famílias permaneçam unidas e que não haja aspereza entre os familiares, nem mentiras, maledicências ou calúnias. A crença de que o Senhor chama Seus servos nos ajudará a não reparar em suas limitações quando eles nos repreenderem. Veremos sua boa intenção com mais nitidez do que suas limitações. Estaremos menos inclinados a ficar ofendidos e mais inclinados a ser gratos ao Mestre que os chamou.

Há alguns mandamentos que, quando quebrados, destroem a unidade. Alguns estão relacionados ao que dizemos e outros a como reagimos ao que os outros dizem. Não devemos falar mal de ninguém. Devemos ver o que há de bom uns nos outros e falar bem uns dos outros sempre que pudermos. [Ver David O. McKay, Conference Report (Conferência Geral), outubro de 1967, pp. 4-11.]

Ao mesmo tempo, devemos enfrentar os que falam contra o que é sagrado, porque o efeito inevitável dessa ofensa é ofender o Espírito e, assim, gerar contenda e confusão. O Presidente Spencer W. Kimball mostrou o caminho para lutar contra isso sem causar discussões, quando estava na maca de um hospital e disse ao atendente que, num momento de raiva, tomou o nome do Senhor em vão: “Por favor! É o nome do meu Senhor que você está ultrajando. Houve um silêncio mortal, depois, uma voz submissa sussurrou: ‘Desculpe-me’”. [The Teachings of Spencer W Kimball (Os Ensinamentos de Spencer W Kimball), 1982, p. 198.] Uma reprimenda inspirada e amorosa pode ser um convite à união. Deixar de repreender desse modo quando somos inspirados pelo Espírito Santo levará à discórdia.

Se quisermos ter união, há mandamentos relacionados a nossos sentimentos que devemos cumprir. Devemos perdoar e não ser maliciosos para com os que nos ofenderem. O Salvador deu o exemplo na cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. (Lucas 23:34) Não conhecemos a intenção das pessoas que nos ofendem, nem conhecemos todas as fontes de nossa raiva e mágoa. O Apóstolo Paulo falou de como amar em um mundo de gente imperfeita, como nós, quando disse: “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal”. (I Coríntios 13:4-5) Depois, fez um alerta solene contra reagirmos às faltas dos outros, esquecendo-nos das nossas próprias, quando escreveu: “Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido”. (I Coríntios 13:12)

A oração sacramental lembra-nos todas as semanas que a dádiva da união virá por meio da obediência às leis e ordenanças do evangelho de Jesus Cristo. Quando guardarmos nosso convênio de tomar sobre nós o Seu nome, recordá-Lo sempre e guardar todos os Seus mandamentos, receberemos a companhia de Seu Espírito que abrandará nosso coração e nos unificará. Há, porém, dois alertas que recebemos com a promessa.

O primeiro é que o Espírito Santo só ficará conosco se permanecermos puros e livres do amor às coisas do mundo. A escolha de ser imundo afastará o Espírito Santo. O Espírito só habita com os que escolhem o Senhor em vez do mundo. “Purificai-vos” (ver 3 Néfi 20:41; D&C 38:42) e amai “o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de todo o teu poder, mente e força” (D&C 59:5) não são sugestões, são mandamentos necessários para que tenhamos a companhia do Espírito, sem o que não podemos ser unos.

O outro alerta é que nos acautelemos do orgulho. A união de uma família ou povo abrandado pelo Espírito proporciona grande poder. Com esse poder vem o reconhecimento do mundo. Quer ele resulte de elogio ou inveja, pode levar-nos ao orgulho e isso ofenderia o Espírito. Como proteção contra o orgulho, que é fonte certa de desunião, podemos ver as bênçãos que Deus derrama sobre nós, não apenas como um sinal de Seus favores, mas como uma oportunidade de unir-nos às pessoas que estão à nossa volta para prestarmos mais serviços. O marido e a mulher aprendem a ser unos utilizando suas semelhanças para compreenderem um ao outro e as diferenças, para complementarem-se, servindo-se mutuamente e aos que os rodeiam. Da mesma forma, podemo-nos unir às pessoas que não aceitam nossa doutrina, mas que também desejam abençoar os filhos de nosso Pai Celestial.

Podemos ser pacificadores, dignos de ser chamados bem-aventurados e filhos de Deus. (Ver Mateus 5:9.)

Deus, nosso Pai, vive. Seu Filho Amado, Jesus Cristo, é o cabeça desta Igreja e concede a todos os que O aceitarem o estandarte da paz. Isso testifico, no sagrado nome de Jesus Cristo. Amém.