De Pequenas Coisas
Não devemos nos cansar de fazer o bem, e não devemos ser impacientes; as mudanças que buscamos vão se realizar “a seu tempo”
As palavras do grande hino da restauração cantado na abertura de nossa reunião têm estado em minha mente e em meu coração desde o momento em que o escolhemos. “Que Sião em beleza se eleve e brilhe em seu fulgor; (…) Um povo que se prepara para encontrar-se com o Senhor.” (“Let Zion in Her Beauty Rise”, Hymns, nº 41.) É glorioso pensar nesse tempo prometido em que o Senhor irá voltar, mas também é sensato avaliar as mudanças que serão necessárias para que cada um se prepare. Não obstante, queridas irmãs, ao reunir-me com vocês e ver seu comprometimento, não acho que, como grupo, estejamos tão despreparadas quanto às vezes nos sentimos. Temos razões para confiar e ter esperança enquanto nos preparamos.
Setembro de 1832 foi uma época atarefada de preparação para os primeiros santos. O Profeta estava se preparando para mudar-se para a casa de John Johnson, ao sul de Kirtland, Ohio; outros irmãos se preparavam para seguir em direção ao Missouri. Em meio a essas preparações, Joseph Smith recebeu a revelação que conhecemos como seção 64 de Doutrina e Convênios. Depois de instruir os homens que iam para o Missouri, o Senhor os lembrou: “Todas as coisas, porém, deverão realizar-se a seu tempo. Portanto, não vos canseis de fazer o bem, porque estais lançando o alicerce de uma grande obra. E de pequenas coisas provém aquilo que é grande”. (D&C 64:32–33; grifo da autora)
Esses versículos são um guia para nós, ao nos prepararmos e a nossa família para viver em “tempos trabalhosos”. (Ver II Timóteo 3:1.) Não devemos nos cansar de fazer o bem, e não devemos ser impacientes; as mudanças que buscamos vão se realizar “a seu tempo”. O mais importante: as grandes obras que queremos realizar advirão de “pequenas coisas”.
Uma dessas pequenas coisas, segundo aprendi, é que preciso dedicar o tempo que for necessário para encher meu reservatório espiritual diariamente. É tentador fazer uma lista enorme de minhas fraquezas e debruçar-me sobre elas—como uma amiga me disse—como se estivesse tentando “matar serpentes”. O auto-aperfeiçoamento pode parecer um tipo de projeto de trabalho, mas na verdade é—no coração—uma mudança no coração. Quando nós, mulheres, lutamos para levar bem nossa vida—criando os filhos, suprindo necessidades, indo à faculdade, lidando com os problemas da idade ou de saúde—nossa espiritualidade é com freqüência a qualidade que deixamos para colocar bem no final de uma longa lista de obrigações.
O estudo das escrituras e a oração trarão mudanças, mas isso não ocorre automaticamente. Se lermos com um só olho ou orarmos só com a metade do coração, estaremos entrando numa rotina e, embora esse tempo não seja totalmente desperdiçado, também não será totalmente produtivo. Precisamos, com o apoio de nossa família, reservar tempo suficiente para estudar—não apenas ler, para contemplar, sentir e esperar respostas. O Senhor prometeu que nos fortaleceria, nos fortificaria e nos revigoraria, se reservássemos um tempo para Ele todos os dias. (Ver D&C 88:63.)
Irmãs, precisamos nos preparar se quisermos servir, e precisamos servir se quisermos nos preparar. Quando eu tinha 16 anos, fui chamada como professora das crianças de três anos, no que na época era conhecido como Escola Dominical Júnior. (Existia isso antigamente, sabem?) As crianças tinham muita energia! Elas subiam nas cadeiras e na mesa, passavam por baixo delas, e parecia que nunca ficavam quietas. Eu era muito inexperiente e nas primeiras semanas, fiquei me perguntando se tinha feito a coisa certa ao aceitar o chamado.
Mas eu persisti, e o que aprendi—rapidamente—foi que eu não devia só orar pedindo ajuda. Precisava estar preparada. Isso significava atividades planejadas, histórias e lições, e significava ter sempre um “plano B” de reserva, e ainda outros planos, de C a Z! Muitos anos mais tarde, quando fui chamada para presidir uma Escola Dominical Júnior, sabia exatamente como ajudar os novos professores. Sabia como desfrutar da companhia das crianças, e sabia qual era a importância de ser fiel no cumprimento do meu chamado.
Assim como muitas de vocês, também já tive muitos chamados na Igreja. Alguns foram mais fáceis que outros, mas tentei magnificar cada um deles. Mas o quanto a frase “magnificar seu chamado” deixa vocês apreensivas? Ela me preocupou muito. Li recentemente um discurso em que o Presidente Thomas S. Monson disse o seguinte sobre o assunto: “Como alguém pode magnificar seu chamado? Simplesmente desempenhando as funções a ele pertinentes”. (“O Poder do Sacerdócio”, A Liahona, janeiro de 2000, p. 60.) Irmãs, nós podemos fazer isso! Ouço mulheres dizendo que seu chamado leva-as à exaustão ou que não têm tempo para servir. Mas magnificar nosso chamado não significa ficar acordadas à noite preparando materiais para serem distribuídos e enfeites para a mesa. Não significa que nas visitas de professora visitante, precisamos levar alguma coisa para nossas irmãs. Às vezes somos nossas piores inimigas. Vamos simplificar. A mensagem de uma boa aula nos vem por meio da preparação espiritual. Vamos centralizar o foco nos princípios do evangelho e nos materiais que constam de nossos guias de estudo. Vamos nos preparar para criar uma troca interessante de idéias, por meio de discussões, e não por meio de trabalho adicional, desnecessário, que nos ocupa tantas horas que passamos a nos ressentir do tempo que levamos para cumprir nosso chamado.
Quando somos chamadas para servir, não nos é dada uma data de desobrigação. Nossa vida é servir. Lois Bonner, uma mulher em minha estaca que tem 92 anos de idade, começou servindo como professora visitante quando se casou, há mais de 65 anos. Ela ainda serve fielmente. Os casais de missionários, Nelsons, do Canadá e Ellsworths, de Utah, ensinaram, foram mentores e deram amor àqueles entre nós que formávamos uma ala pequena e crescente no Missouri. Aprendemos por seu exemplo a alegria de servir e fomos beneficiados com a sabedoria de suas experiências. Não consigo pensar em um jeito melhor de agradecer a nosso Pai por tudo o que Ele nos dá, do que servir aos Seus filhos, não importa qual seja a nossa idade.
Finalmente, pouco a pouco, estou compreendendo o sentido e a importância de nossas ofertas, especificamente de nossos dízimos e ofertas de jejum. Ao longo de Doutrina e Convênios o Senhor nos exorta a que cuidemos uns dos outros e doemos nossos recursos materiais para edificar o reino de Deus. Na verdade, nossa disposição de fazer isso é um dos pré-requisitos para a Segunda Vinda do Senhor à Terra. (Daniel H. Ludlow, A Companion to Your Study of the Doctrine and Covenants, 2 vols. 1978. vol. 2, p. 46.) Embora nossas circunstâncias possam ser diferentes, é importante que doemos tudo o que pudermos doar. O Senhor raramente pede às pessoas que doem tudo o que têm, mas é importante que Ele saiba que nós poderíamos e nós faríamos isso, se nos pedisse. (Ver Bruce R. McConkie, “Obedience, Consecration, and Sacrifice” Ensign, maio de 1975, p. 50.) Em determinada estaca onde meu marido e eu morávamos, o presidente da estaca propôs aos membros que duplicassem suas ofertas de jejum e se preparassem para as bênçãos que disso adviriam. Presto-lhes meu testemunho pessoal, de que o Senhor nos abençoará de modo inimaginável, se permanecermos fiéis e fizermos doações generosas.
Espiritualidade por meio da oração e do estudo. Serviço aos outros. Dízimos e ofertas generosas. Esses princípios não são novidade. Essas são algumas coisas pequenas que são pré-requisitos para aquilo que é grande. Mas no versículo seguinte aprendemos o que o Senhor exige de nós. Ele exige “o coração e uma mente solícita”. (D&C 64:34; grifo da autora) O nosso coração e a nossa mente precisam ser renovados. Cada uma de nós tem falhas, fraquezas, atitudes longe de ser perfeitas.O Senhor nos pede que nos abramos para Ele, absolutamente sem reservas. Ele nos diz para não nos preocuparmos com “nossa própria vida, mas procurarmos conhecer a Sua vontade e cumprir Seus mandamentos”. (Ver Helamã 10:4.) Nosso coração é renovado quando fazemos e doamos tudo o que podemos e depois ainda oferecemos nosso coração e vontade ao Pai. Ao fazermos isso, nosso Pai nos promete que nossa vida será abundante hoje e na eternidade. Não precisamos temer.
Irmãs, não nos cansemos de fazer o bem. Se formos pacientes, experimentaremos a mudança no coração que tanto buscamos. Para a maioria de nós isso exigirá somente uma pequena alteração de curso para voltar ao verdadeiro norte. Os ajustes que precisamos fazer estão naquelas “pequenas coisas”, mas isso não significa que serão fáceis. Existem muitas forças confundindo nossa bússola. Mas somos capazes de reconhecer o caminho indicado pela estrela guia. É o caminho que nos leva para nosso lar.
Presto-lhes meu testemunho da realidade das promessas do Pai a nós, Suas filhas amadas. Testifico-lhes que ao sintonizar nossa vida para imitar a vida que nos foi mostrada pelo Salvador, saberemos que a luz de Sião está brilhando em seu fulgor, e que nós estamos-nos tornando um povo preparado para a Segunda Vinda. Em nome de Jesus Cristo. Amém.