2000–2009
Um Coração Quebrantado e Mãos que Ajudam
Abril 2006


Um Coração Quebrantado e Mãos que Ajudam

A todos os que têm um coração quebrantado e mãos que ajudam e que aliviam o fardo de muitos, minha profunda gratidão.

Ontem à noite a irmã Burton e eu saboreávamos uma comida chinesa. Dentro do meu biscoitinho da sorte li a mensagem: “O estresse que você sente muito em breve desaparecerá”. De fato.

Certo dia, um grupo de homens conversava com o Profeta Joseph Smith, quando chegou anotícia de que a casa de um pobre irmão que vivia a certa distância da cidade fora incendiada. Cada um expressou tristeza pelo que acontecera. O Profeta ouviu por um momento e, em seguida, enfiou a mão no bolso, pegou cinco dólares e disse: “Estou sentido pelo que houve com esse irmão pelo valor de cinco dólares. O quanto cada um de vocês (…) está sentido [por ele]?”1 A resposta imediata do Profeta é significativa. No ano passado, milhões de vocês demonstraram sua compaixão pelos outros, com seus recursos, corações quebrantados e mãos que ajudam. Muito obrigado pela maravilhosa medida de sua generosidade.

A compaixão pelos outros sempre foi uma característica fundamental dos membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. O profeta Alma disse:

“Desejais entrar no rebanho de Deus e ser chamados seu povo; e sendo que estais dispostos a carregar os fardos uns dos outros, para que fiquem leves; sim, e estais dispostos a chorar com os que choram; sim, e consolar os que necessitam de consolo”.2

O Salvador nos pede que “[socorramos] os fracos, [ergamos] as mãos que pendem e [fortaleçamos] os joelhos enfraquecidos.”3

Tenho testemunhado em primeira mão o comprometimento dos santos dos últimos dias e de pessoas de outras denominações, que têm corações quebrantados e mãos que ajudam, que “levam as cargas uns dos outros.”4 Minha tristeza tem sido profunda ao ver grandes devastações e visitar vítimas desesperadas.

Nos últimos anos, a Mãe Natureza exibiu toda sua violência e supremacia de modo incomum e poderoso. Em dezembro de 2004, um terrível terremoto atingiu a costa da Indonésia e criou um tsunami gigantesco que matou milhares de pessoas e destruiu a vida dos que ficaram para trás. Sob a direção dos líderes locais do sacerdócio e de casais missionários, a ajuda mobilizou-se imediatamente, oferecendo assistência urgente a hospitais, socorristas e a comunidades na Indonésia, no Sri Lanka, na Índia e na Tailândia.

Em um curto espaço de tempo, vários membros da Igreja foram para uma das áreas mais atingidas — a região de Aseh, no norte da Sumatra. A irmã Bertha Suranto, presidente das Moças no Distrito de Jacarta, Indonésia, e algumas amigas dirigiram caminhões cheios de itens essenciais que salvaram vidas e proveram consolo àqueles que tanto perderam.

“Sempre que entrávamos em uma aldeia”, disse Bertha, “as pessoas nos rodeavam e ofereciam alimentos para distribuirmos — mesmo que eles próprios não tivessem mais que uma porção de arroz e alguns peixes que apanhavam no mar. Das mesquitas, os líderes comunitários anunciavam que outra doação da Igreja de Jesus havia chegado.”

Assim que as necessidades imediatas eram satisfeitas, iniciavam-se os projetos de prazos mais longos. Foram implementados os planos de assistência para a construção de mais de mil casas e a restauração de hospitais e escolas. Os moradores receberam ajuda para substituir barcos e redes de pesca. Teares e máquinas de costura foram distribuídos para as famílias recuperarem sua auto-suficiência.

A área do norte do Paquistão e da Índia sofreu o maior terremoto dos últimos cem anos, que ceifou milhares de vidas e deixou multidões desabrigadas. Devido à severidade do inverno naquela região, a preocupação não se limitava apenas aos feridos, mas estendia-se também aos desabrigados.

Quatro dias após o terremoto, a Agência Islâmica de Bem-Estar enviou-nos um Boeing 747 de carga que logo carregamos com cobertores, barracas, kits de higiene, suprimentos médicos, sacos de dormir, agasalhos e lonas, doados pelos armazéns dos bispos. Enviamos vários contêineres por ar, terra e mar com outros suprimentos e barracas de inverno suficientes para abrigar mais de 75 mil pessoas.

Quando enchentes se abateram sobre a América Central, as capelas foram abertas para servirem de abrigo provisório aos flagelados. Em áreas aonde os veículos não conseguiam chegar, os membros da Igreja amarravam suprimentos às costas e atravessavam terrenos alagados e perigosos para levar alívio aos que sofriam.

Depois de um período de agitação civil no Sudão, mais de um milhão de pessoas haviam abandonado seu lar e aldeia, em busca de segurança. Muitos refugiados caminharam centenas de milhas por terreno hostil para chegar aos campos de desabrigados, tentando reencontrar os parentes e recuperar a saúde.

O Atmit, composto alimentar vitamínico que já mostrou sua eficácia salvando a vida de crianças e idosos subnutridos, foi-lhes fornecido. Suprimentos médicos e milhares de kits de higiene e kits para recém-nascidos também foram enviados.

A Igreja uniu-se a outras importantes organizações de solidariedade não governamentais para ajudar a vacinar milhões de crianças na África, em uma campanha de erradicação do sarampo. Dois mil membros fiéis africanos da Igreja doaram muitas horas de trabalho voluntário para divulgar a campanha, reunir as crianças e ajudar durante a vacinação.

A temporada de furacões de 2005 no sul dos Estados Unidos e no Caribe ocidental foi a mais devastadora e a que causou mais prejuízo em toda a história. Tempestades se sucediam, destruindo lares e empresas de Honduras até a Flórida. Sempre que um furacão surgia, milhares de voluntários sob a direção do sacerdócio estavam presentes provendo o essencial para a preservação da vida. Kits de higiene e de limpeza, alimentos, água, panelas, roupas de cama e outros artigos ajudaram a limpar as moradias e organizar os abrigos temporários.

O irmão Michael Kagle levou um comboio de caminhões carregados de equipamentos de sua própria empresa para o Mississipi. Muitos funcionários, de outras denominações religiosas, ofereceram-se para ir com ele todos os fins de semana para levar ajuda às áreas atingidas pelas tempestades. No trajeto, comunicavam-se por rádio. O líder do grupo dos sumos sacerdotes de Mike, que dirigia uma pick-up no meio do comboio, conta que os nós dos dedos já estavam inchados pelo esforço de dirigir tão velozmente. Tentando diminuir a marcha do comboio, pegou o rádio e disse: “Senhores, percebem que estamos indo a 130 km por hora?” Um dos motoristas entrou no ar e replicou: “Bem, você deve entender que isso é o máximo que esses ‘donos de estrada’ podem dar. Não há como ir mais rápido!”

Recebemos centenas de cartas de agradecimento. Uma enfermeira no Mississipi escreveu: “Eu não tinha palavras. Teria Deus respondido a minhas orações tão rapidamente? Lágrimas rolaram por minha face quando vi homens de capacete e botas, munidos de serras elétricas de todos os tamanhos e formas, aparecerem por entre os escombros. Foi, sem dúvida, um dos maiores sacrifícios que já presenciei em toda minha vida”.

Quero agradecer pelos dedos ágeis que produziram milhares de belos cobertores, e um agradecimento especial pelos dedos não tão ágeis de nossas irmãs mais idosas que teceram aquelas belas colchas tão bem-vindas. Certa bisavó de 92 anos confeccionou várias centenas de cobertores. No caso dela, tanto a doadora quanto os beneficiários foram abençoados. Quando seu filho admirava seu trabalho, ela perguntou: “Será que alguém vai usar um dos meus cobertores?” A carta de uma jovem mãe da Louisiana responde a essa pergunta:

“Moro na Louisiana e levo meus filhos sempre ao centro de saúde local. Enquanto estava lá, deram-me algumas roupas, fraldas, lenços umedecidos e dois belos cobertores para bebê. Um deles tem o verso amarelo, com pés e mãos estampados na frente. O outro cobertor é dourado e tem zebras estampadas. São lindos. Meu filho de 4 anos adora o que tem zebras e, é claro, o de 7 meses não consegue dizer nada. Só queria agradecer a vocês e aos membros da sua Igreja por sua generosidade. Que Deus abençoe vocês e sua família.”

Em resposta aos recentes deslizamentos de terra nas Filipinas, os santos na área montaram kits de higiene e caixas de alimentos, distribuindo-os com cobertores aos necessitados.

Princípios de bem-estar como trabalho e auto-suficiência são mantidos e ensinados enquanto a ajuda é levada ao mundo inteiro. Durante 2005, muitas aldeias receberam água potável graças a poços novos. Os habitantes aprenderam a cavar poços, instalar as bombas e fazer reparos, se necessário.

O treinamento e os equipamentos levados pelos voluntários locais e os sempre devotados casais missionários permitem que as famílias suplementem sua dieta com alimentos nutritivos cultivados em casa.

Muitas cadeiras de rodas distribuídas devolveram a autonomia aos deficientes. Milhares de profissionais médicos foram treinados para salvar a vida de recém-nascidos. Oftalmologistas realizaram gratuitamente cirurgias de catarata, devolvendo a visão a muitos. No mundo inteiro, os Serviços às Famílias SUD aconselham quanto a assuntos delicados.

Pontes de compreensão e de respeito são edificadas em muitas nações, ao colaborarmos com órgãos já bem conhecidos e confiáveis.

O Dr. Simbi Mubako, ex-embaixador africano na ONU, declarou: “O trabalho da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é ainda mais significativo porque não se limita a atender aos membros da Igreja, mas estende-se a todos os seres humanos de diferentes culturas e religiões, porque [eles] vêem em cada pessoa a imagem de Jesus Cristo”.

Nosso amado Presidente Gordon B. Hinckley tem trabalhado ativamente no desenvolvimento dessa grande obra humanitária. “Precisamos estender a mão para toda a humanidade”, disse ele. “Todos são filhos e filhas de Deus, nosso Pai Eterno, e Ele nos considerará responsáveis pelo que fizermos em relação a eles. (…) Que abençoemos a humanidade estendendo a mão para todos, erguendo os que estão abatidos e oprimidos, vestindo e alimentando o necessitado e o faminto, expressando amor e companheirismo para aqueles à nossa volta que porventura não façam parte desta Igreja.”5

Esse esforço humanitário moderno é uma manifestação maravilhosa da caridade que arde na alma de pessoas cujo coração é quebrantado e cujas mãos estão prontas para ajudar. Esse serviço altruísta demonstra realmente o puro amor de Cristo.

O Salvador promete grandes bênçãos aos que dão de si mesmos. “Dai, e ser-vos-á dado (…) porque, com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo.”6

O que falei hoje não é nem a centésima parte do que está acontecendo nas aldeias e nações do mundo todo. Aonde quer que eu vá, recebo expressões da mais profunda gratidão. Em nome da Primeira Presidência, do Quórum dos Doze e do Comitê Executivo de Bem-Estar da Igreja, cuja designação é dirigir esta obra, desejo expressar nosso sincero apreço e admiração.

É impossível encontrar palavras adequadas para exprimir os sagrados e cálidos sentimentos de minha alma. Um simples “obrigado” nunca será suficiente. A todos os que têm um coração quebrantado e mãos que ajudam e que aliviam o fardo de muitos, minha profunda gratidão. Invoco sobre vocês e sua família as mais seletas bênçãos do Senhor, ao continuarem se lembrando daqueles cujo coração está aflito e cujas mãos pendem. Em nome de Jesus Cristo. Amém.

  1. Andrew Workman, em “Recollections of the Prophet Joseph Smith”, Juvenile Instructor, 15 de outubro de 1892, p. 641.

  2. Mosias 18:8–9.

  3. D&C 81:5.

  4. Gálatas 6:2.

  5. “Viver na Plenitude dos Tempos”, A Liahona, janeiro de 2002, p. 6.

  6. Lucas 6:38.