2010–2019
Guiado em Segurança para Casa
Outubro 2014


14:1

Guiado em Segurança para Casa

Buscamos orientação divina para encontrar aquele infalível senso de direção a fim de traçarmos e seguirmos um curso sábio e adequado.

Irmãos, estamos reunidos em um grande grupo do sacerdócio, tanto aqui no Centro de Conferências como em diversos lugares em todo o mundo. Sinto-me honrado e humilde com a responsabilidade que tenho de lhes dirigir algumas palavras. Oro para que o Espírito do Senhor me guie ao fazê-lo.

Há 75 anos, em 14 de fevereiro de 1939, em Hamburgo, Alemanha, foi celebrado um feriado. Em meio a inflamados discursos, multidões entusiasmadas e a execução de hinos patrióticos, o novo navio de guerra Bismarck era lançado ao mar por meio do Rio Elba. Aquele navio, o mais poderoso dos mares, era um espetáculo impressionante de blindagens e maquinário. Sua construção exigiu mais de 57 mil desenhos de projetos só para a torre de canhões duplos de 380 milímetros controlados por radar. Os circuitos elétricos do navio continham 45 mil quilômetros de fios. Ele pesava cerca de 35 mil toneladas e o casco blindado lhe conferia extrema segurança. Majestoso na aparência, gigantesco no tamanho, impressionante no poder de fogo, o poderoso colosso era considerado impossível de ser afundado.

O encontro do Bismarck com seu destino veio cerca de dois anos mais tarde, quando, em 24 de maio de 1941, os dois navios de guerra mais poderosos da Marinha britânica, o Prince of Wales e o Hood, entraram em combate com o Bismarck e o cruzador Prinz Eugen. Em cinco minutos, o Bismarck tinha mandado para as profundezas do Atlântico o Hood e toda sua tripulação de 1.400 marinheiros, à exceção de três homens. O outro navio britânico, o Prince of Wales, tinha sofrido sérios danos e fugiu do combate.

Três dias mais tarde, o Bismarck envolveu-se em novas batalhas com a marinha e a força aérea Britânica. Ao todo, os britânicos concentraram uma força de 8 navios de guerra, 2 porta-aviões, 11 cruzadores e 21 destroyers na tentativa de encontrar e afundar o poderoso Bismarck.

Durante essas batalhas, disparos contínuos causaram apenas danos superficiais ao Bismarck. Afinal era mesmo impossível afundá-lo? Em seguida, por sorte, um torpedo atingiu o Bismarck e travou seu leme. As tentativas de consertá-lo foram inúteis. Com as armas preparadas e a tripulação de prontidão, o Bismarck conseguia apenas se deslocar em um círculo amplo e lento. O grande navio estava fora do alcance da poderosa força aérea alemã. O Bismarck não poderia retornar em segurança a seu porto de destino. Nem o porto próximo nem a força aérea poderiam fornecer o refúgio necessário, pois o Bismarck havia perdido a capacidade de seguir o curso traçado. Sem leme, sem ajuda, sem porto. O fim se aproximava. Os canhões britânicos disparavam enquanto a tripulação alemã fugia às pressas daquele navio que outrora parecera indestrutível. As ondas famintas do Atlântico primeiro lamberam-lhe as laterais e depois engoliram o orgulho da marinha alemã. O Bismarck já não existia.1

Assim como o Bismarck, cada um de nós é uma construção milagrosa. Nossa criação, no entanto, não se limita à capacidade humana. O homem pode conceber as máquinas mais complexas, mas não pode dar-lhes a vida ou conceder-lhes os poderes da razão e do discernimento. Esses são dons divinos, concedidos apenas por Deus.

Como o leme vital de um navio, irmãos, foi-nos dado um meio que determina a direção para viajarmos. O farol do Senhor sinaliza para todos nós ao navegarmos pelos mares da vida. Nosso propósito é sermos guiados por um curso constante para atingir nossa meta desejada — sim, o Reino celestial de Deus. Um homem sem um propósito é como um navio sem leme — provavelmente nunca alcançará o porto de destino. A nós é dado o sinal: tracem o curso, icem as velas, posicionem o leme e prossigam.

Tal como aconteceu ao poderoso Bismarck, assim é com o homem. A potência das turbinas e a força das hélices são inúteis sem esse senso de direção, sem o controle da energia, sem o poder de determinar o rumo que tem o leme que, oculto de nossas vistas e relativamente pequeno, é absolutamente essencial em sua função.

Nosso Pai providenciou o sol, a lua e as estrelas — celestiais galáxias para guiar os marinheiros que navegam pelos mares. Para nós, ao caminharmos pela vida, Ele ofereceu um mapa claro que indica o caminho até o destino desejado. Ele nos alerta: cuidado com os desvios, os buracos, as armadilhas. Não podemos nos deixar enganar por quem poderia nos desviar, por aqueles marqueteiros do pecado que o alardeiam aqui e acolá. Em vez disso, podemos fazer uma pausa para orar; para ouvir essa voz mansa e delicada que leva às profundezas de nossa alma o gentil convite do Mestre: “Vem, e segue-me”.2

Entretanto, há aqueles que não ouvem, que não obedecem, que preferem trilhar um caminho de sua própria determinação. Muitas vezes eles sucumbem às tentações que cercam todos nós e podem parecer tão atraentes.

Como portadores do sacerdócio, fomos colocados na Terra em uma época conturbada. Vivemos em um mundo complexo, com muitos conflitos em toda parte. Esquemas políticos arruínam a estabilidade das nações, déspotas lutam pelo poder e segmentos da sociedade parecem sempre oprimidos, sendo-lhes negadas oportunidades, deixando neles um sentimento de fracasso. Os sofismas dos homens ecoam em nossos ouvidos e o pecado nos cerca.

Temos a responsabilidade de ser dignos de todas as bênçãos gloriosas que o Pai Celestial reservou para nós. Onde quer que estejamos, nosso sacerdócio estará conosco. Será que permanecemos em lugares santos? Por favor, antes de colocarem vocês mesmos e seu sacerdócio em risco, aventurando-se a ir a certos lugares ou a participar de certas atividades que não são dignas de vocês ou desse sacerdócio, ponderem cuidadosamente as consequências.

Nós que fomos ordenados ao sacerdócio de Deus podemos fazer a diferença. Quando mantemos nossa pureza pessoal e honramos nosso sacerdócio, tornamo-nos um exemplo justo para os outros seguirem. O Apóstolo Paulo admoestou: “Sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza”.3 Ele também escreveu que os seguidores de Cristo devem ser “como a luz do mundo”.4 Ser um exemplo de retidão pode ajudar a iluminar um mundo cada vez mais escuro.

Muitos de vocês se lembram do Presidente N. Eldon Tanner, que serviu como conselheiro de quatro Presidentes da Igreja. Ele foi um exemplo inabalável de retidão durante toda a sua carreira na indústria, em seu serviço no governo do Canadá e como apóstolo de Jesus Cristo. Ele deixou-nos este inspirado conselho: “Nada trará maior alegria e sucesso do que viver de acordo com os ensinamentos do evangelho. Sejam um exemplo; sejam uma influência para o bem”.

E acrescentou: “Todos fomos preordenados para algum trabalho, como servos escolhidos [por Deus] a quem Ele achou por bem conferir o sacerdócio e o poder de agir em Seu nome. Lembrem-se sempre de que as pessoas estão olhando para vocês, para que as liderem, e vocês estão influenciando a vida delas, seja para o bem ou para o mal, e essa influência será sentida nas gerações vindouras”.5

Somos fortalecidos pela verdade de que a maior força no mundo hoje é o poder de Deus quando exercido pelo homem. Para navegar em segurança pelos mares da mortalidade, precisamos da orientação daquele Marinheiro Eterno — sim, do próprio Senhor, o grande Jeová. Procuramos e nos voltamos para o alto para obter ajuda celestial.

Um exemplo bem conhecido de quem não se voltou para o alto é o de Caim, filho de Adão e Eva. Poderoso em potencial, mas fraco de vontade, Caim permitiu que a ganância, a inveja, a desobediência e até mesmo o assassinato emperrassem aquele leme pessoal que o teria orientado à segurança e à exaltação. O olhar para baixo substituiu o olhar para cima. E ele caiu.

E em outra ocasião, um servo de Deus foi testado por um rei iníquo. Auxiliado pela inspiração do céu, Daniel interpretou para o rei a escrita na parede. Sobre as recompensas oferecidas — sim, um manto real, um colar de ouro e o poder político — Daniel disse: “Que tuas dádivas fiquem contigo e dá os teus presentes a outro”.6 Poder e grande riqueza haviam sido oferecidos a Daniel, recompensas que representam as coisas do mundo e não as de Deus. Daniel resistiu e permaneceu fiel.

Mais tarde, quando Daniel adorava a Deus, apesar de um decreto que proibia a adoração, ele foi lançado em uma cova de leões. O relato bíblico nos diz que na manhã seguinte, “ […] foi tirado Daniel da cova, e nenhum dano se achou nele, porque crera no seu Deus”.7 Naquele momento de necessidade crítica, a determinação de Daniel de trilhar um curso constante trouxe-lhe proteção divina e forneceu-lhe um santuário de segurança. Podemos ter essa proteção e essa segurança se também trilharmos esse curso constante em direção ao nosso lar eterno.

O relógio da história, como a areia da ampulheta, marca a passagem do tempo. Um novo elenco ocupa o palco da vida. Os problemas de nossos dias pendem ameaçadoramente sobre nós. Ao longo da história do mundo, Satanás tem trabalhado incansavelmente para a destruição dos seguidores do Salvador. Se sucumbirmos às suas tentações, nós — como o poderoso Bismarck — perderemos aquele leme que pode guiar-nos em segurança. Em vez de sucumbir, cercados pela sofisticação da vida moderna, buscamos orientação divina para encontrar aquele infalível senso de direção a fim de traçarmos e seguirmos um curso sábio e adequado. Nosso Pai Celestial não deixará nossa sincera solicitação sem resposta. Se buscarmos ajuda celestial, nosso leme, ao contrário daquele do Bismarck, não falhará.

Ao nos aventurarmos em nossas viagens individuais, que possamos navegar em segurança pelos mares da vida. Que tenhamos a coragem de um Daniel, que possamos permanecer fiéis e verdadeiros, apesar do pecado e da tentação que nos cercam. Possa o nosso testemunho ser tão profundo e tão forte quanto o de Jacó, o irmão de Néfi, que, ao ser confrontado por alguém que procurou de todas as formas possíveis destruir sua fé, declarou: “Eu não podia ser abalado”.8

Com o leme da fé a guiar nossa jornada, irmãos, também encontraremos nosso caminho em segurança para casa — para estarmos em casa com Deus, para habitar com ele eternamente. Que assim seja para cada um de nós, oro no nome sagrado de Jesus Cristo, nosso Salvador e Redentor. Amém.