Conferência Geral
Unidos na Realização da Obra de Deus
Conferência geral de abril de 2020


13:41

Unidos na Realização da Obra de Deus

A forma mais eficaz de cumprir o nosso potencial divino é trabalhar juntos, abençoados pelo poder e autoridade do sacerdócio.

Queridos e maravilhosos irmãs e irmãos, é uma alegria estar convosco. Estendo abraços às minhas irmãs e cumprimentos sinceros aos meus irmãos, onde quer que se encontrem a ouvir-nos. Estamos unidos na obra do Senhor.

Quando pensamos em Adão e Eva, geralmente o nosso primeiro pensamento transporta-nos à sua vida idílica no Jardim do Éden. Imagino que o clima era sempre perfeito ― nem muito quente nem muito frio ― e aquela abundância, deliciosas frutas e legumes “à mão de semear” para que pudessem comer sempre que o desejassem. Como este era um mundo novo para eles, havia muito para descobrir e todos os dias eram interessantes, pois interagiam com a vida animal e exploravam a maravilhosa natureza que os cercava. Também receberam mandamentos a que deviam obedecer e tinham maneiras diferentes de abordar essas instruções, o que inicialmente causou uma certa ansiedade e confusão.1 Mas, ao tomarem decisões que mudaram as suas vidas para sempre, aprenderam a trabalhar juntos e uniram-se no cumprimento dos propósitos que Deus tinha para eles ― e para todos os Seus filhos.

Agora imaginem este mesmo casal na mortalidade. Eles tiveram que trabalhar para obter alimento, escolheram alguns animais para a sua alimentação e tinham desafios difíceis que só podiam ser superados quando se aconselhavam e oravam juntos. Imagino que, pelo menos algumas vezes, tiveram opiniões diferentes sobre como abordar tais desafios. No entanto, durante a Queda, eles aprenderam que era essencial agir em união e amor. Nas aulas particulares que receberam de fontes divinas, eles aprenderam o plano de salvação e os princípios do evangelho de Jesus Cristo que tornam o plano operacional. Como compreendiam que o seu propósito terreno e meta eterna eram idênticos, encontraram satisfação e sucesso ao aprender a trabalhar juntos em amor e justiça.

Adão e Eva a ensinar os seus filhos

Quando as crianças nasceram, Adão e Eva ensinaram à família o que tinham aprendido com os mensageiros celestes. Eles concentraram-se em ajudar os filhos a compreender e a abraçar os princípios que os fariam felizes nesta vida, bem como em prepará-los para regressar aos pais celestiais, depois de terem ampliado as suas capacidades e provado a sua obediência a Deus. Neste processo, Adão e Eva aprenderam a apreciar os seus diferentes pontos fortes e apoiaram-se mutuamente no seu trabalho eternamente significativo.2

Com o passar dos séculos e dos milénios, a clareza das contribuições inspiradas e interdependentes de homens e mulheres, ficou obscurecida por informações erradas e mal-entendidos. Durante o período entre aquele maravilhoso começo no Jardim do Éden e o presente, o adversário tem tido muito sucesso no seu objetivo de dividir homens e mulheres, na tentativa de conquistar as nossas almas. Lúcifer sabe que se puder prejudicar a união e o sentimento entre homens e mulheres, se puder confundir-nos acerca do nosso valor divino e responsabilidades assumidas sob convénio, ele conseguirá destruir as famílias, que são a unidade essencial da eternidade.

Satanás incita a comparação como uma ferramenta para gerar sentimentos de superioridade ou inferioridade, ocultando a verdade eterna de que as diferenças inatas entre homens e mulheres são dadas por Deus e igualmente valorizadas. Ele tentou rebaixar as contribuições das mulheres, tanto na família como na sociedade civil, diminuindo assim a sua influência edificante para o bem. O seu objetivo tem sido promover uma luta pelo poder, em vez de uma celebração das contribuições únicas de homens e mulheres que se complementam e contribuem para a união.

Assim, ao longo dos anos e pelo mundo fora, um entendimento amplo das contribuições e responsabilidades divinamente interdependentes, apesar de diferentes, entre mulheres e homens, em grande medida, desapareceu. Em muitas sociedades, as mulheres tornaram-se subservientes aos homens, em vez de parceiras iguais, e as suas atividades foram limitadas a um âmbito restrito. O progresso espiritual desacelerou durante aquele período sombrio; de facto, pouca luz espiritual poderia penetrar nas mentes e corações mergulhados em tradições de domínio.

Foi então que a luz do evangelho restaurado brilhou “mais brilhante que o sol”3 quando Deus, o Pai e o Seu Filho, Jesus Cristo, apareceram ao menino Joseph Smith no início da primavera de 1820, naquela floresta sagrada, a norte de Nova York. Esse evento iniciou um derramamento de revelação moderna vinda do Céu. Um dos primeiros elementos da Igreja original de Cristo a ser restaurado foi a autoridade do sacerdócio de Deus. À medida que a Restauração se desenrolava, homens e mulheres começaram a perceber, novamente, a importância e o potencial de trabalharem como parceiros, autorizados e orientados por Ele, neste trabalho sagrado .

A Organização da Sociedade de Socorro

Em 1842, quando as mulheres da jovem Igreja quiseram formar um grupo oficial para ajudar no trabalho, o Presidente Joseph Smith sentiu-se inspirado a organizá-las “sob o sacerdócio segundo o padrão do sacerdócio”.4 Ele disse: “Agora entrego-vos a chave em nome de Deus … ― este é o inicio de dias melhores”.5 E desde que essa chave foi entregue, as oportunidades educativas, políticas e económicas das mulheres começaram a expandir-se, gradualmente, pelo mundo.6

Esta nova organização da Igreja para as mulheres, denominada Sociedade de Socorro, era diferente de outras sociedades femininas da época, porque foi estabelecida por um profeta que agiu com a autoridade do sacerdócio para dar às mulheres autoridade, responsabilidades sagradas e posições oficiais dentro da estrutura da Igreja, e não à parte desta.7

Desde os dias do Profeta Joseph Smith até aos nossos, a restauração em curso de todas as coisas trouxe esclarecimentos sobre a necessidade da autoridade e poder do sacerdócio para ajudar homens e mulheres a cumprirem as suas responsabilidades divinamente designadas. Recentemente, fomos ensinados que as mulheres, que são designadas sob a direção de quem possui as chaves do sacerdócio, agem com a autoridade do sacerdócio nos seus chamados.8

Em outubro de 2019, o Presidente Russell M. Nelson ensinou que as mulheres investidas no templo têm o poder do sacerdócio nas suas vidas e nos seus lares ao guardarem os convénios sagrados que fizeram com Deus.9 Ele explicou: “os Céus estão tão abertos às mulheres, que são investidas com o poder de Deus que flui dos seus convénios do sacerdócio, como aos homens que portam o sacerdócio”. E encorajou todas as irmãs a “recorrer liberalmente ao poder do Salvador para ajudar a [sua] família e outras pessoas que amam”.10

Então, o que é que isto significa para nós? Como é que o entendimento da autoridade e do poder do sacerdócio muda a nossa vida? Uma das chaves é perceber que, quando mulheres e homens trabalham juntos alcançam muito mais do que se o fizerem isoladamente.11 Os nossos papéis são complementares e não competitivos. Embora as mulheres não sejam ordenadas a um ofício do sacerdócio, como observado anteriormente, elas são abençoadas com o poder do sacerdócio ao cumprirem os seus convénios e agem com a autoridade do sacerdócio quando são designadas para um chamado.

Num lindo dia de agosto, tive o privilégio de me sentar com o Presidente Russell M. Nelson, na casa reconstruída de Joseph e Emma Smith, em Harmony, Pensilvânia, perto do local onde o Sacerdócio Aarónico foi restaurado nos últimos dias. Durante a nossa conversa, o Presidente Nelson falou sobre o importante papel que as mulheres tiveram na Restauração.

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Presidente Nelson: “Um dos aspetos mais importantes que vem à minha mente sempre que visito este lugar, onde se deu a restauração do Sacerdócio, é o importante papel que as mulheres desempenharam na Restauração.”

“Quando Joseph começou a traduzir o Livro de Mórmon, quem era o escrevente? Bem, ele escreveu durante algum tempo, mas muito pouco. E Emma interveio.

Depois penso em como Joseph foi ao bosque orar, perto da sua casa em Palmyra, Nova York. Onde é que ele foi? Foi ao Bosque Sagrado. E por que é que ele a esse bosque? Porque era lá que a sua Mãe ia quando queria orar.

Estas são apenas duas das mulheres que tiveram um papel fundamental na restauração do sacerdócio e na Restauração da Igreja. Sem dúvida, poderíamos dizer que as nossas esposas são tão importantes agora como eram naquela altura. Claro que são.”

Tal como Emma, Lucy e Joseph, somos mais eficientes quando estamos dispostos a aprender uns com os outros e nos unimos no objetivo de ser discípulos de Jesus Cristo e ajudarmos outros ao longo desse caminho.

Somos ensinados que “o sacerdócio abençoa a vida dos filhos de Deus de inúmeras maneiras (…) Nos chamados [da Igreja], nas ordenanças do templo, nos relacionamentos familiares e na serenidade do ministério individual, as mulheres e os homens Santos dos Últimos Dias, agem com a autoridade e o poder do sacerdócio. Esta interdependência entre homens e mulheres, para realizar a obra de Deus, [através do] Seu poder, é o ponto central do evangelho de Jesus Cristo restaurado por intermédio do profeta Joseph Smith”.12

A união é essencial para o trabalho divino, que temos o privilégio de ser chamados a realizar, mas não acontece sem mais nem menos. É preciso esforço e tempo para, verdadeiramente, nos aconselharmos juntos ― ouvirmos uns aos outros, entendermos os pontos de vista dos outros e partilharmos experiências ― mas, o resultado leva a decisões mais inspiradas. Seja em casa ou nas responsabilidades da Igreja, a forma mais eficaz de alcançarmos o nosso potencial divino é trabalharmos juntos, abençoados pelo poder e pela autoridade do sacerdócio nos nossos papéis distintos, porém complementares.

Atualmente, como é que é percetível essa parceria na vida das mulheres do convénio? Deixem-me partilhar um exemplo.

Um casal numa bicicleta tendem

A Alison e o John tinham uma parceria singular. Eles tinham uma bicicleta tandem de 2 lugares e participavam em corridas de curta e longa distância. Para competir com sucesso neste tipo de veículo, os dois ciclistas devem estar sincronizados. Têm que se inclinar na mesma direção, no momento certo. Um não pode dominar o outro, devem comunicar entre si com clareza e cada um fazer a sua parte. O capitão, que vai à frente, tem o controle dos momentos de aceleração e desaceleração. O elemento que vai atrás, deve prestar atenção ao que está a acontecer e estar pronto para pedalar com mais energia, se a dupla estiver a ficar para trás ou abrandar se estiverem muito perto dos outros ciclistas. Eles devem apoiar-se mutuamente para progredir e alcançar o seu objetivo.

A Alison explicou: “Nos primeiros tempos, a pessoa na posição de capitão diz ‘De Pé’ quando é preciso pedalar levantado e ‘Travar’ para parar de pedalar. Depois de algum tempo, o que vem atrás aprende a aperceber-se quando é que o capitão está prestes a acelerar ou a abrandar, e nem é preciso falar. Aprendemos a estar em sintonia com o desempenho um do outro e sabemos quando é que o outro está cansado e [aí] tentamos compensar. É mesmo uma questão de confiança e de trabalho em equipa”.13

O John e a Alison estavam unidos não só enquanto pedalavam na sua bicicleta, como no seu casamento. Cada um desejava a felicidade do outro, mais do que a sua; cada um procurava o bem do outro e trabalhavam para superar o menos bom de si mesmos. Eles revezavam-se na liderança e revezavam-se a suplantar-se quando o outro estava em dificuldades. Eles valorizavam as contribuições um do outro e encontravam melhores soluções para os seus desafios quando combinavam os seus talentos e recursos. Verdadeiramente, estão ligados um ao outro através do processo de amar como Cristo.

Tornarmo-nos mais sintonizados com o padrão divino de trabalhar em união é fundamental nos nossos dias, pois estamos cercados de mensagens do tipo “eu em primeiro lugar”. As mulheres possuem dons distintos e divinos14 e recebem responsabilidades únicas, mas essas não são nem mais — nem menos — importantes do que os dons e responsabilidades dos homens. Todos são designados e necessários para realizar o plano divino do Pai Celestial, de dar aos Seus filhos a melhor oportunidade de alcançar o potencial divino de cada um deles.

Hoje, “precisamos de mulheres que tenham a coragem e a visão da nossa mãe Eva”15 para se unirem aos seus irmãos na tarefa de trazer almas a Cristo.16 Os homens precisam tornar-se verdadeiros parceiros, em vez de assumir que são os únicos responsáveis ou “fingir” que são parceiros, enquanto as mulheres levam a cabo a maior parte do trabalho. As mulheres devem estar dispostas a “[dar] um passo [em frente]! [E ocupar] o [seu] lugar de direito tão necessário [nos seus lares], [na sua] comunidade e no reino de Deus”17 como parceiras, em vez de pensar que devem fazer tudo sozinhas ou esperar que lhes digam o que fazer.18

Ver as mulheres como participantes vitais não é criar paridade, mas sim entender a verdade doutrinária. Em vez de estabelecer um programa para tal, podemos trabalhar ativamente para valorizar as mulheres, assim como Deus faz: como parceiras essenciais no trabalho de salvação e exaltação.

Estamos prontos? Será que lutaremos para ultrapassar o preconceito cultural, e em vez disso, passaremos a adotar padrões e práticas divinas, baseados na doutrina fundamental? O Presidente Russell M. Nelson convida-nos a “andar de braços dados nesta obra sagrada… [para] ajudar a preparar o mundo para a Segunda Vinda do Senhor”.19 Ao fazê-lo, aprenderemos a valorizar as contribuições de cada indivíduo e a aumentar a eficácia com que cumprimos os nossos papéis divinos. Teremos uma alegria superior a qualquer outra que já desfrutámos.

Que cada um de nós escolha unir-se ao método inspirado do Senhor para ajudar a Sua obra a avançar. Em nome do nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo, amém.

Notas

  1. Ver Génesis 3:1-18; Moisés 4:1-19.

  2. Ver Moisés 5:1-12. Estes versículos ensinam a verdadeira parceria de Adão e Eva: eles tiveram filhos juntos (versículo 2); trabalharam juntos para prover a si mesmos e à sua família (versículo 1); oraram juntos (versículo 4); obedeceram aos mandamentos de Deus e ofereceram sacrifícios juntos (versículo 5); e juntos aprenderam (versículo 4, 6–11) e ensinaram o evangelho de Jesus Cristo aos seus filhos (versículo 12).

  3. Joseph Smith — História 1:16.

  4. Joseph Smith em Sarah M. Kimbal, “Auto-Biography” (Autobiografia), Woman’s Exponent (O Expoente da Mulher), 1 de setembro de 1883, ver também Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith (2007).

  5. Joseph Smith, em “Nauvoo Relief Society Minute Book” (Livro de Atas da Sociedade de Socorro em Nauvoo), p. 40, josephsmithpapers.org.

  6. Ver George Albert Smith, “Address to the Members of the Relief Society” (Discurso às Irmãs Membros da Sociedade de Socorro), Relief Society Magazine, Dezembro 1945, p. 717.

  7. Ver John Taylor, em Nauvoo Relief Society Minutes (Livro de Atas da Sociedade de Socorro em Nauvoo), 17 de março de 1842, disponível em churchhistorianspress.org. Segundo Eliza R. Snow, Joseph Smith também ensinou que as mulheres tinham sido formalmente organizadas em dispensações anteriores (ver Eliza R. Snow, “Female Relief Society” (Sociedade de Socorro Feminina), Deseret News, 22 de abril de 1868, p. 1; Filhas em Meu Reino: A História e o Trabalho da Sociedade de Socorro [2011].

  8. Ver Dallin H. Oaks, “As Chaves e a Autoridade do Sacerdócio”, Liahona, Maio 2014.

  9. Ver Russell M. Nelson, “Tesouros Espirituais”, Conferência Geral, Outubro 2019. https://www.churchofjesuschrist.org/study/general-conference/2019/10/36nelson?lang=ept

  10. Russell M. Nelson, “Tesouros Espirituais”.

  11. “Mas o evangelho restaurado ensina a eterna ideia de que maridos e esposas são interdependentes um do outro. Eles são iguais. Eles são parceiros” (Bruce R. and Marie K. Hafen, “Crossing Thresholds and Becoming Equal Partners” [Atravessar Limites e Tornarem-se Parceiros Iguais], Liahona, 28 de gosto de 2007).

  12. Tópicos do Evangelho, “Ensinamentos de Joseph Smith sobre o Sacerdócio, o Templo e as Mulheres”, topics.ChurchofJesusChrist.org. https://www.churchofjesuschrist.org/manual/gospel-topics-essays/joseph-smiths-teachings-about-priesthood-temple-and-women?lang=por.

  13. Correspondência pessoal.

  14. Ver Russell M. Nelson, “Um Apelo às Minhas Irmãs”, Liahona, Novembro 2015.

  15. Russell M. Nelson, “Um Apelo às Minhas Irmãs”.

  16. Ver General Handbook: Serving in The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1.4, ChurchofJesusChrist.org. (Até à data está publicado apenas na versão inglesa)

  17. Russell M. Nelson, “Um Apelo às Minhas Irmãs”.

  18. “Minhas queridas irmãs, seja qual for o [vosso] chamado, sejam quais forem [as vossas] circunstâncias, precisamos [do vosso] ponto de vista, [das vossas] impressões e inspiração. Precisamos que falem abertamente e se manifestem nos conselhos de ala e de estaca. Precisamos que cada irmã casada fale como uma parceira participativa e plena de direitos” ao [unir-se] ao seu marido no governo da sua família. Casadas ou solteiras, todas as irmãs, possuem habilidades distintas e uma intuição especial que receberam como dádiva de Deus. Nós, irmãos, não podemos substituir [a vossa] influência singular…

    …Precisamos [da vossa] força!” (Russell M. Nelson, “Um Apelo às Minhas Irmãs”).

  19. Russell M. Nelson, “Um Apelo às Minhas Irmãs”.