Conferência Geral
“Porventura não há bálsamo em Gileade?”
Conferência Geral de Outubro de 2021


10:24

“Porventura não há bálsamo em Gileade?”

O poder de cura do Salvador não se trata apenas de Sua capacidade de curar nosso corpo, mas, talvez ainda mais importante do que isso, de Sua capacidade de curar nosso coração.

Pouco depois de minha missão, enquanto eu estudava na Universidade Brigham Young, recebi uma ligação de meu pai. Ele me disse que havia sido diagnosticado com um câncer no pâncreas e que, embora suas chances de sobreviver não fossem altas, ele estava determinado a ser curado e a voltar a realizar suas atividades diárias normais. Aquela ligação foi um momento de reflexão para mim. Meu pai tinha sido meu bispo, meu amigo e meu mentor. Quando minha mãe, meus irmãos e eu contemplamos o futuro, ele pareceu desolador. Meu irmão mais novo, Dave, estava servindo missão em Nova Iorque e acompanhou à distância esses difíceis acontecimentos em nossa família.

Os médicos que estavam cuidando de meu pai sugeriram uma cirurgia para tentar reduzir a propagação do câncer. Nossa família jejuou e orou fervorosamente por um milagre. Senti que tínhamos fé suficiente para que meu pai fosse curado. Pouco antes da cirurgia, meu irmão mais velho, Norm, e eu demos uma bênção em meu pai. Com toda a fé que conseguimos reunir, oramos para que ele fosse curado.

A cirurgia estava programada para durar várias horas, mas depois de pouco tempo, o médico foi até a sala de espera para falar com nossa família. Ele nos disse que assim que começaram a cirurgia, viram que o câncer havia se espalhado por todo o corpo do meu pai. Com base no que observaram, meu pai tinha apenas alguns meses de vida. Ficamos arrasados.

Quando meu pai acordou da cirurgia, ficou ansioso para saber se o procedimento cirúrgico havia sido bem-sucedido. Contamos a ele a triste notícia.

Continuamos a orar e a jejuar por um milagre. Como a saúde de meu pai piorou rapidamente, começamos a orar para que ele tivesse alívio da dor. Por fim, à medida que sua condição piorava, pedimos ao Senhor que permitisse que ele descansasse logo. Poucos meses após a cirurgia, conforme previsto pelo cirurgião, meu pai faleceu.

Muito amor e atenção foram dados à nossa família por membros da ala e amigos da família. Tivemos um lindo funeral que homenageou a vida de meu pai. Com o passar do tempo, no entanto, sentimos a dor de sua ausência e comecei a me perguntar por que ele não havia sido curado. Eu me perguntava se minha fé não era forte o suficiente. Por que algumas famílias presenciavam milagres, mas a nossa não? Eu havia aprendido em minha missão a buscar respostas nas escrituras, então comecei a examiná-las.

O Velho Testamento cita uma resina aromática ou especiaria usada para curar feridas, que era extraída de um arbusto cultivado em Gileade. Na época do Velho Testamento, essa especiaria passou a ser conhecida como o “bálsamo de Gileade”.1 O profeta Jeremias lamentou as calamidades que ele observou entre seu povo e esperava uma cura. Jeremias questionou: “Porventura não há bálsamo em Gileade? ou não há lá médico?”2 Na literatura, na música e na arte, o Salvador Jesus Cristo já foi muitas vezes chamado de Bálsamo de Gileade devido a Seu notável poder de cura. Assim como Jeremias, eu me perguntava: “Porventura não há bálsamo em Gileade para a família Nielson?”

No capítulo 2 de Marcos, no Novo Testamento, encontramos o Salvador em Cafarnaum. A notícia do poder de cura do Salvador havia se espalhado por todo o país e muitas pessoas viajaram para Cafarnaum para serem curadas pelo Salvador. Havia tantas pessoas reunidas ao redor da casa onde o Salvador se encontrava que não havia espaço para Ele receber todas elas. Quatro homens conduziram um paralítico para que ele fosse curado pelo Salvador. Eles não conseguiram se aproximar por causa da multidão, então descobriram o telhado da casa e baixaram o homem até o chão para que encontrasse o Salvador.

Ao ler esse relato, fiquei surpreso com o que o Salvador disse quando se encontrou com aquele homem: “Filho, estão perdoados os teus pecados”.3 Pensei que se fosse um dos quatro que conduziam aquele homem, eu teria dito ao Salvador: “Na verdade, nós o trouxemos aqui para que ele fosse curado”. Acho que o Salvador teria respondido: “Foi o que Eu fiz”. Seria possível que eu não houvesse compreendido plenamente que o poder de cura do Salvador não se tratava apenas de Sua capacidade de curar nosso corpo, mas, talvez ainda mais importante do que isso, de Sua capacidade de curar nosso coração e o coração partido de meus familiares?

O Salvador ensinou uma lição importante por meio dessa experiência quando, por fim, curou aquele homem fisicamente. Ficou claro para mim que Sua mensagem era que Ele podia tocar os olhos dos cegos e eles conseguiam ver. Podia tocar os ouvidos dos surdos e eles conseguiam ouvir. Podia tocar as pernas dos que não conseguiam andar e eles andavam. Ele pode curar nossos olhos, ouvidos e pernas, mas o mais importante é que Ele pode curar nosso coração ao nos purificar do pecado e nos elevar nos momentos difíceis.

No Livro de Mórmon, quando o Salvador aparece ao povo após Sua Ressurreição, Ele fala novamente de Seu poder de cura. Os nefitas ouvem Sua voz, que vinha do céu, dizendo: “Não volvereis a mim agora, arrependendo-vos de vossos pecados e convertendo-vos, para que eu vos cure?”4 Depois, o Salvador ensina: “Porque não sabeis se eles irão voltar e arrepender-se e vir a mim com toda a sinceridade de coração e eu irei curá-los”.5 O Salvador não estava se referindo a uma cura física, mas a uma cura espiritual de sua alma.

Morôni esclarece ainda mais essa ideia ao compartilhar as palavras de seu pai, Mórmon. Após falar sobre milagres, Mórmon explica: “E Cristo disse: Se tiverdes fé em mim, tereis poder para fazer tudo quanto me parecer conveniente”.6 Aprendi que o objeto de minha fé deve ser Jesus Cristo e que eu precisava aceitar o que era conveniente para o Salvador à medida que exercia fé Nele. Agora entendo que o falecimento de meu pai foi conveniente para o plano de Deus. Hoje, quando coloco as mãos sobre a cabeça de outra pessoa para abençoá-la, minha fé está voltada a Jesus Cristo, e entendo que uma pessoa pode e será curada fisicamente se isso parecer conveniente ao Senhor.

A Expiação do Salvador, que faz com que Seu poder redentor e Seu poder capacitador se tornem acessíveis, é a bênção mais sublime que Jesus Cristo oferece a todas as pessoas. Ao nos arrependermos de todo o coração, o Salvador nos purifica do pecado. Ao sujeitarmos, de bom grado, nossa vontade ao Pai, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, o Salvador aliviará nossos fardos e os tornará leves.7

Mas a maior lição que aprendi foi a seguinte: eu havia acreditado erroneamente que o poder de cura do Salvador não tinha surtido efeito em minha família. Agora, ao olhar para o passado com uma visão mais amadurecida e com mais experiência, vejo que o poder de cura do Salvador estava evidente na vida de cada um dos meus familiares. Eu estava tão concentrado na cura física que não consegui ver os milagres que haviam ocorrido. O Senhor fortaleceu e elevou minha mãe além de sua capacidade durante essa difícil provação e ela teve uma vida longa e produtiva. Ela exerceu uma influência maravilhosa e muito positiva sobre seus filhos e netos. O Senhor abençoou a mim e a meus irmãos com amor, união, fé e resiliência que se tornaram uma parte importante de nossa vida e isso continua até hoje.

Mas e meu pai? Assim como acontece com todos os que se arrependem, ele foi curado espiritualmente ao buscar e receber as bênçãos disponíveis por causa da Expiação do Salvador. Ele recebeu a remissão de seus pecados e agora aguarda o milagre da Ressurreição. O apóstolo Paulo ensinou: “Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também em Cristo todos serão vivificados”.8 Percebam que eu estava dizendo ao Salvador: “Trouxemos meu pai para ele ser curado”, e agora está claro para mim que o Salvador realmente o curou. O bálsamo de Gileade surtiu efeito na família Nielson — não da maneira que imaginávamos, mas de uma forma ainda mais significativa que abençoou e continua a abençoar nossa vida.

No capítulo 6 do livro de João, no Novo Testamento, o Salvador realizou um milagre muito interessante. Com apenas alguns peixes e alguns pães, o Salvador alimentou cinco mil pessoas. Já li esse relato muitas vezes, mas há uma parte dessa experiência da qual eu não tinha me dado conta e que agora tem um grande significado para mim. Depois que o Salvador alimentou as cinco mil pessoas, Ele pediu a Seus discípulos que juntassem o restante da comida, as sobras, as quais encheram 12 cestos. Eu me perguntava por que o Salvador tinha Se dado ao trabalho de fazer isso. Ficou claro para mim que uma lição que podemos aprender com isso é a de que Ele foi capaz de alimentar cinco mil pessoas e houve sobras. “Minha graça basta a todos.”9 O poder de redenção e de cura do Salvador pode reparar qualquer pecado, ferida ou provação, por maior ou por mais difícil que seja — e há sobras. Sua graça basta.

Com esse conhecimento, podemos seguir em frente com fé, sabendo que, quando surgirem momentos difíceis, e eles certamente virão, ou quando o pecado envolver nossa vida, o Salvador “trará cura debaixo de suas asas”,10 convidando-nos a achegar-nos a Ele.

Presto meu testemunho do Bálsamo de Gileade, o Salvador Jesus Cristo, nosso Redentor, e de Seu maravilhoso poder de cura. Presto meu testemunho do desejo que Ele tem de curar vocês. Em nome de Jesus Cristo, amém.