Conferência Geral
“Lembra-te de teus santos que estão sofrendo, ó nosso Deus”
Conferência Geral de Outubro de 2021


10:17

“Lembra-te de teus santos que estão sofrendo, ó nosso Deus”

Guardar os convênios dá acesso ao poder do sacrifício expiatório de Jesus Cristo proporcionando força e até alegria a vocês que sofrem.

O plano de felicidade do Pai Celestial inclui experiências mortais em que todos os Seus filhos serão testados e enfrentarão desafios.1 Há cinco anos, fui diagnosticado com câncer. Senti e ainda sinto as dores físicas das cirurgias, da radioterapia e dos efeitos colaterais dos remédios. Vivenciei desafios emocionais durante noites atormentadoras sem conseguir dormir. As estatísticas médicas indicam que provavelmente partirei da mortalidade mais cedo do que esperava, deixando para trás, por um período, uma família que significa tudo para mim.

A despeito de onde vivem, sofrimentos físicos ou emocionais resultantes de diversas provações e fraquezas mortais já fizeram, fazem ou farão parte de sua vida algum dia.

O sofrimento físico pode ser causado pelo envelhecimento, por acidentes ou doenças inesperadas; pela fome, pela falta de moradia, pelo abuso, por atos violentos ou por guerras.

O sofrimento emocional pode surgir como resultado da ansiedade ou depressão; da traição de um cônjuge, de um parente ou de um líder de confiança; do desemprego ou de um revés financeiro; do julgamento injusto de uma pessoa; das escolhas dos amigos, dos filhos ou de outros familiares; de muitas formas de abuso; dos sonhos não realizados de se casar ou ter filhos; da doença grave ou da morte prematura de entes queridos; ou de tantas outras fontes.

Como suportar o sofrimento exclusivo, e às vezes debilitante, que afeta cada um de nós?

Felizmente, a esperança é encontrada no evangelho de Jesus Cristo e ela também pode ser parte de sua vida. Hoje, compartilho quatro princípios de esperança que extraí das escrituras, dos ensinamentos proféticos, das muitas visitas de ministração e de minha provação atual com a saúde. Esses princípios não são apenas amplamente aplicáveis, mas também profundamente pessoais.

Primeiro, o sofrimento não significa que Deus está insatisfeito com sua vida. Há 2 mil anos, os discípulos de Jesus viram um homem cego no templo e perguntaram: “Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?”

Os discípulos pareciam ter a crença incorreta, como muitas pessoas hoje, de que todas as dificuldades e sofrimentos na vida resultam do pecado. Mas o Salvador respondeu: “Nem ele pecou nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus”.2

A obra de Deus é levar a efeito nossa imortalidade e vida eterna.3 Mas como as provações e o sofrimento — especialmente aqueles causados pelo uso pecaminoso do arbítrio de outra pessoa4 — podem afinal levar a efeito a obra de Deus?

O Senhor disse a Seu povo do convênio: “Eis que já te purifiquei (…); escolhi-te na fornalha da aflição”.5 Seja qual for a causa de seus sofrimentos, seu amoroso Pai Celestial pode direcioná-los para refinar sua alma.6 Almas refinadas podem carregar os fardos uns dos outros com sincera empatia e compaixão.7 Almas refinadas que “vieram de grande tribulação” estão preparadas para viver com alegria na presença de Deus para sempre, e “Deus enxugará de seus olhos toda lágrima”.8

Segundo, o Pai Celestial está intimamente ciente de seu sofrimento. Enquanto em meio a nossas provações, podemos pensar erroneamente que Deus está distante e não Se preocupa com nossa dor. Até mesmo o profeta Joseph Smith expressou esse sentimento durante um momento difícil em sua vida. Quando estava preso na cadeia de Liberty, enquanto milhares de santos dos últimos dias eram expulsos de casa, Joseph buscou entendimento por meio da oração: “Ó Deus, onde estás? E onde está o pavilhão que cobre teu esconderijo?” Ele terminou com este apelo: “Lembra-te de teus santos que estão sofrendo, ó nosso Deus”.9

A reposta do Senhor tranquilizou Joseph e a todos os que sofrem;

“Meu filho, paz seja com tua alma; tua adversidade e tuas aflições não durarão mais que um momento;

E então, se as suportares bem, Deus te exaltará no alto”.10

Muitos santos que estão sofrendo compartilharam comigo como sentem o amor de Deus durante suas provações. Recordo-me com clareza de uma experiência pessoal em certo ponto de minha batalha contra o câncer, quando os médicos ainda não tinham diagnosticado a causa de algumas dores fortes. Sentei-me com minha esposa para oferecer uma oração de rotina na hora do almoço. Em vez de orar, tudo o que consegui fazer foi chorar: “Pai Celestial, por favor, ajuda-me. Estou muito doente”. Nos 20 a 30 segundos seguintes, fui envolvido por Seu amor. Não recebi uma razão para minha doença, nenhuma indicação do que aconteceria e nenhum alívio para a dor. Senti apenas Seu puro amor, e isso foi suficiente, e ainda é.

Testifico que nosso Pai Celestial, que está ciente de cada passarinho que cai por terra, está ciente de seu sofrimento.11

Terceiro, Jesus Cristo oferece Seu poder capacitador para ajudá-lo a ter força a fim de suportar bem seu sofrimento. Esse poder capacitador se tornou possível por meio de Sua Expiação.12 Temo que muitos membros da Igreja pensem que, se forem um pouco mais fortes, conseguirão superar qualquer sofrimento sozinhos. Isso é um jeito difícil de se viver. Seu momento temporário de força nunca pode ser comparado ao poder infinito do Salvador de fortalecer sua alma.13

O Livro de Mórmon ensina que Jesus Cristo “tomará sobre si” nossas dores e nossas enfermidades para que Ele possa nos socorrer.14 Como podemos evocar o poder que Jesus Cristo oferece para nos socorrer e nos fortalecer durante o sofrimento? A chave é nos unirmos ao Salvador, guardando os convênios que fizemos com Ele. Fazemos esses convênios quando recebemos as ordenanças do sacerdócio.15

O povo de Alma fez o convênio do batismo. Mais tarde, eles sofreram no cativeiro e foram proibidos de adorar publicamente, até mesmo de orar em voz alta. Contudo, eles guardaram seus convênios da melhor maneira que podiam, clamando silenciosamente em seu coração. Como resultado, receberam o poder divino. “O Senhor fortaleceu-os para que pudessem carregar seus fardos com facilidade.”16

Em nossos dias, o Salvador nos convida: “Buscai-me em cada pensamento; não duvideis, não temais”.17 Quando guardamos nosso convênio sacramental de nos lembrarmos sempre Dele, Ele promete que Seu Espírito estará conosco. O Espírito nos dá força para suportar as provações e fazer o que possivelmente não conseguimos fazer sozinhos. O Espírito pode nos curar, embora, como o presidente James E. Faust ensinou: “Algumas curas poderão ocorrer no mundo vindouro”.18

Também somos abençoados pelas ordenanças e pelos convênios do templo, nos quais “[se manifesta] o poder da divindade”.19 Visitei uma mulher que perdeu a filha adolescente em um terrível acidente e depois o marido devido a um câncer. Perguntei como ela conseguiu suportar tamanha perda e sofrimento. Ela respondeu que a força veio das certezas espirituais de uma família eterna, recebidas durante a adoração regular no templo. Como prometido, as ordenanças na casa do Senhor a haviam suprido com o poder de Deus.20

Quarto, escolha encontrar alegria a cada dia. Aqueles que sofrem frequentemente sentem que a noite não tem fim e que o amanhecer nunca chegará. Não há problema em chorar.21 No entanto, se você se encontra nas noites escuras de sofrimento, ao escolher a fé, você pode despertar para as manhãs brilhantes de esperança.22

Por exemplo, visitei uma jovem mãe em tratamento de câncer que sorria lindamente em sua cadeira apesar da dor e da falta de cabelo. Conheci um casal de meia-idade servindo alegremente como líderes dos jovens embora não conseguissem conceber filhos. Sentei-me com uma querida mulher — uma jovem avó, mãe e esposa — cuja morte aconteceria em poucos dias; contudo, em meio às lágrimas da família, havia risos e lembranças alegres.

O sofrimento desses membros da Igreja exemplifica o que nos foi ensinado pelo presidente Russell M. Nelson:

“A alegria que sentimos tem pouco a ver com as circunstâncias de nossa vida e tem tudo a ver com o enfoque de nossa vida.

Quando o enfoque de nossa vida é o plano de salvação criado por Deus (…) e em Jesus Cristo e Seu evangelho, podemos sentir alegria a despeito do que está acontecendo — ou não — em nossa vida”.23

Testifico24 que nosso Pai Celestial Se lembra de Seus santos que estão sofrendo, Ele os ama e está intimamente ciente de vocês. Nosso Salvador sabe como se sentem. “Certamente ele tomou sobre si nossas dores e carregou nossos pesares.”25 Como um beneficiário diário,26 sei que guardar os convênios dá acesso ao poder do sacrifício expiatório de Jesus Cristo proporcionando força e até alegria a vocês que sofrem.

Para todos os que sofrem, oro: “Permita Deus que vossas cargas sejam leves pela alegria em seu Filho”.27 Em nome de Jesus Cristo, amém.