História da Igreja
28 Nossos esforços unificados


Capítulo 28

Nossos esforços unificados

prisioneiros caminhando ao longo de uma cerca com arame farpado

Na primavera de 1942, as indústrias nos Estados Unidos estavam apoiando os esforços de guerra. Em Cincinnati, as fábricas forneciam peças de máquinas e motores. Outras empresas na cidade produziam cortinas blackout, paraquedas e transmissores de rádio. Nas mercearias, como a que a família Bang operava, os itens eram cuidadosamente racionados à medida que mais e mais mercadorias eram destinadas para alimentar e equipar os soldados.1

Quando os materiais do dia a dia se tornaram escassos, Paul e Connie Bang se perguntaram se o Ramo Cincinnati seria capaz de construir a nova capela. Depois de vender sua antiga capela, os santos passaram a se reunir em uma sala alugada, nas instalações do YMCA, nas proximidades. Paul e Connie eram membros do comitê de construção do ramo e estavam arrecadando dinheiro para a nova capela desde antes da guerra. Mas agora, com tantas carências, o comitê tinha poucas esperanças de prosseguir com seus planos até que a guerra acabasse.2

Por volta dessa época, Paul e seu cunhado Milton Taylor estavam pensando em levar a família ao templo. Em todos os lugares, a guerra estava separando as famílias. Maridos e mulheres, filhos e filhas estavam saindo de casa para servir ao país. Como jovens na casa dos 20 anos, Paul e Milton haviam se alistado para o serviço militar e podiam ser convocados para a guerra a qualquer momento. Em meio a tantas incertezas, o casamento eterno e os convênios no templo traziam certezas a eles e a suas jovens famílias.3

Certo dia, Paul e Milton souberam que seu amigo Vaughn Ball, de Salt Lake City, mas que atualmente era membro do Ramo Cincinnati, queria fazer uma viagem para Utah. Se fossem de carro para Utah com ele, as famílias Bang e Taylor poderiam realizar o sonho de receber a investidura e ser selados no templo. E, viajando juntos, eles poderiam economizar nas despesas.4

O único problema era encontrar uma maneira de chegar lá. Quase dois anos se haviam passado desde que Paul e Connie Bang se casaram, e agora eles tinham uma filha de 10 meses, Sandra. Milton e sua esposa, Esther, também tinham uma filha pequena, Janet, de 2 anos.5

Milton conhecia um homem que tinha um carro confiável, com assentos suficientes para todos e que concordou em alugá-lo para eles. Enquanto as gerações anteriores de santos tinham ido para o Oeste de carroção, carrinho de mão ou trem, as três famílias, Bang, Taylor e Vaughn Ball, iriam dirigindo um DeSoto Touring Sedan 1939.6

O grupo partiu para Utah na última semana de abril. Como a gasolina não era tão escassa quanto a borracha em meio ao racionamento da guerra, o grupo poderia fazer a viagem pelo país com a consciência limpa, contanto que dirigissem devagar para evitar o desgaste muito rápido dos pneus.7

À medida que o DeSoto cruzava os Estados Unidos, os viajantes aproveitavam as muitas estradas pavimentadas e as estações de serviço que surgiram nos últimos 30 anos. À noite, ficavam em hotéis à beira da estrada, onde sempre conseguiam persuadir os proprietários a deixá-los ficar por alguns dólares a menos do que o preço anunciado.

Além de Vaughn, ninguém no carro tinha ido tão longe em direção ao Oeste antes, então a mudança da paisagem era nova para eles. Eles apreciaram a paisagem até que as Montanhas Rochosas apareceram e as estradas se tornaram mais íngremes e perigosas. Vaughn adorava subir e descer pelas belas passagens nas montanhas, mas todos os outros pareciam temerosos de que as encostas íngremes cedessem e os enterrassem vivos. Eles ficaram aliviados quando chegaram em segurança ao Vale do Lago Salgado.8

Na cidade, Paul, Connie e Sandra ficaram hospedados na casa da mãe de Marion Hanks, uma missionária que servia em Cincinnati, e a família Taylor ficou na casa da mãe de Vaughn Ball. Ambas as famílias visitaram a Praça do Templo várias vezes, tirando fotos dos edifícios e monumentos do local. Eles também visitaram Charles e Christine Anderson, que presidiram o Ramo Cincinnati por mais de duas décadas. Charles e Christine tinham um amor imenso pelos dois casais e há muito esperavam vê-los selados.9

Em 1º de maio, Paul e Connie entraram no Templo de Salt Lake com Milton e Esther. Depois de receberem a investidura, os casais foram levados a uma das cinco salas de selamento do templo. O apóstolo Charles A. Callis, que servira como presidente de missão em Cincinnati, fez o selamento de cada casal, tendo o presidente Anderson como testemunha. Em seguida, Janet e Sandra, em seus vestidos brancos, foram levadas para a sala e seladas aos pais.10

Poucos dias após o selamento, Paul, Connie, Milton e Esther voltaram para outra sessão de investidura. Enquanto Paul e Connie caminhavam pelas muitas salas e corredores do templo, eles se maravilhavam com seu tamanho e sua beleza. Ficaram emocionados por estarem ali, com a certeza de que eles e a filha estavam selados para esta vida e toda a eternidade.11


Naquela primavera, perto de Haia, Holanda, Hanna Vlam, de 37 anos, despediu-se do marido, Pieter, que se dirigia à estação ferroviária. Há dois anos, a Alemanha nazista ocupava a Holanda. Como ex-oficial da marinha holandesa, Pieter era obrigado a se apresentar aos oficiais nazistas regularmente e, no momento, estava indo para uma cidade perto da fronteira alemã a fim de fazê-lo.

“Vejo você de novo amanhã”, disse ele a Hanna antes de partir.12

A invasão alemã pegou Hanna e Pieter de surpresa. Hitler prometera não invadir a Holanda, uma nação neutra, e Pieter acreditara nele. Então, uma noite em maio de 1940, o som de aviões de guerra lançando bombas os tirou da cama. Pieter rapidamente vestiu seu uniforme e saiu para ajudar a defender seu país. Mas, depois de cinco dias de luta, os militares holandeses se renderam à esmagadora força alemã.13

Era difícil viver sob o domínio nazista. Pieter perdeu seu soldo militar, mas conseguiu um emprego na área civil para sustentar sua família. Os ocupantes alemães permitiram que os santos holandeses continuassem se reunindo, desde que as autoridades nazistas pudessem ouvir o que eles falavam. E os santos tinham que se reunir durante o dia para cumprir as restrições de blackout. Como segundo conselheiro na presidência da Missão Holandesa, Pieter passava quase todos os finais de semana viajando com o presidente Jacob Schipaanboord e o primeiro conselheiro Arie Jongkees, ambos holandeses, para visitar os ramos em todo o país.14

Em março de 1941, a família Vlam passou por uma trágica experiência, quando sua filha de 4 anos, Vera, fora atingida por um trem e morrera. O único consolo que Hanna e Pieter tinham era saber que a filhinha estava selada a eles por toda a eternidade. Quando Vera era apenas um bebê, o casal Vlam e seus três filhos foram selados no Templo de Salt Lake, enquanto voltavam para casa ao término de uma designação militar na Indonésia. Esse conhecimento os ajudou a se apegarem aos convênios que fizeram e a encontrarem consolo nos dias sombrios que se seguiram.15

Na manhã em que Pieter saiu para se apresentar às autoridades nazistas, Hanna não esperava que essa separação durasse mais do que as viagens de fim de semana com a presidência da missão. Porém, mais tarde naquele dia, sua filha mais velha, Grace, de 11 anos, irrompeu pela porta.

“É verdade?”, ela chorava. Corriam boatos de que os nazistas haviam prendido os ex-militares que compareceram para se apresentar, disse ela à mãe. Eles tinham sido levados em carroções de gado e estavam a caminho de um campo de prisioneiros.

Hanna ficou chocada demais para falar. No dia seguinte, ela recebeu um aviso pelo correio confirmando que Pieter fora levado para a Alemanha. Ele era agora um prisioneiro de guerra.16

Conforme as semanas passavam lentamente, Hanna orava pedindo paz e força. Ela pedia ao Senhor que zelasse por seu marido e o mantivesse seguro. Depois de quase seis semanas esperando por notícias, ela finalmente recebeu um pequeno cartão de Pieter; sua caligrafia estava apertada para preencher cada espaço disponível.

“Estou bem de corpo e alma”, escreveu Pieter. Os nazistas o mantinham detido em uma prisão chamada Langwasser na cidade alemã de Nuremberg e, embora ele e seus companheiros de prisão fossem maltratados pelos guardas, ele estava bem. “Meus pensamentos estão constantemente com todos vocês”, escreveu ele. “Em minha mente, eu a abraço com força, minha querida Hanny.”

Ele pediu a Hanna que mandasse um pouco de comida e suas escrituras. Hanna não tinha certeza se os livros passariam pela censura nazista, mas decidiu que pelo menos tentaria.

“Tenha coragem”, pediu Pieter. “Deus nos unirá novamente.”17


Em 5 de julho de 1942, David Ikegami participou de uma conferência da Missão Japonesa no Tabernáculo da Estaca Oahu, no Havaí. Para David, aquela reunião de domingo foi diferente das demais. Além de ser ordenado ao ofício de mestre no Sacerdócio Aarônico, ele também fora convidado a falar na primeira sessão da conferência. Com a presença de mais de 200 pessoas, seria uma reunião muito maior do que as da Escola Dominical que ele costumava frequentar.18

A mensagem de David se baseava em Doutrina e Convênios 38:30: “Se estiverdes preparados, não temereis”. Quase sete meses após o ataque a Pearl Harbor, o medo e a incerteza ainda pairavam sobre o Havaí. Os militares dos Estados Unidos ocuparam hotéis e cercaram as praias com arame farpado. Os soldados aplicaram um toque de recolher estrito, e as pessoas que o violavam corriam o risco de serem baleadas. As aulas na escola de David haviam começado novamente, mas ele tinha que carregar uma máscara de gás consigo e, com frequência, os alunos realizavam simulações a fim de se prepararem para ataques aéreos e ataques de gás.19

Como nipo-americanos, David e sua família também tiveram que suportar as crescentes suspeitas de seus vizinhos não japoneses. Algumas pessoas, inclusive muitos oficiais do governo e militares, presumiam, sem qualquer evidência, que os nipo-americanos procurariam minar o esforço de guerra americano por causa de sua lealdade ancestral ao Japão. No início daquele ano, o governo dos Estados Unidos até mesmo começara a transferir mais de cem mil homens, mulheres e crianças nipo-americanos de suas casas, na Califórnia e em outros estados da Costa Oeste, para campos de concentração em estados do interior como Utah.

O governo não realizou confinamentos tão generalizados no Havaí, onde quase 40 por cento da população era descendente de japoneses. Mas as autoridades detiveram cerca de 1.500 membros da comunidade japonesa que ocupavam cargos de poder ou eram considerados suspeitos. E a maioria dos detidos se tornou prisioneira em campos nas ilhas.21

Para mostrar sua lealdade aos Estados Unidos e ajudar nos esforços de guerra, David se juntou a um grupo de voluntários chamado Kiawe Corps, que construía trilhas e derrubava kiawes, árvores pontiagudas, para dar lugar a acampamentos militares. Enquanto isso, seu pai havia começado a trabalhar com seus assistentes na Escola Dominical japonesa para organizar uma arrecadação de fundos para os militares dos Estados Unidos, cujas fileiras incluíam membros da Escola Dominical de David.22

Quando David subiu ao púlpito durante a conferência da missão, ele compartilhou as palavras do mais recente discurso do élder John A. Widtsoe na conferência geral. “O medo é a principal arma de Satanás para tornar a humanidade infeliz”, o apóstolo ensinou aos santos, lembrando-lhes que aqueles que viviam em retidão e união não precisavam temer. “Há segurança”, declarou ele, “onde quer que o povo do Senhor viva tão dignamente a ponto de reivindicar o sagrado título de cidadãos da Sião de nosso Senhor”.23

Nas semanas seguintes à conferência da missão, o pai de David continuou arrecadando dinheiro para os soldados americanos. Chamada de “Estamos Unidos pela Vitória”, a arrecadação de fundos forneceu meios para que um comitê de 50 japoneses na ilha imprimisse milhares de convites e envelopes de doações para distribuir entre seus amigos e vizinhos. Em poucos meses, eles coletaram 11 mil dólares. Os líderes militares nas ilhas agradeceram o dinheiro, que seria usado para comprar livros, cursos de fonografia, dois projetores de cinema e telas para ajudar a elevar o humor dos soldados.24

Os santos da Missão Japonesa estavam felizes em ajudar. O patriotismo e a lealdade deles estavam claramente estampados nos convites distribuídos a toda a comunidade. “Desejamos fazer tudo o que pudermos para ajudar a garantir a liberdade que tanto amamos”, escreveram. “Os militares ficarão felizes com nossos esforços unificados.”25


Alguns meses mais tarde, em uma prisão em Hamburgo, Alemanha, Karl-Heinz Schnibbe esperava para ser julgado por traição. Pouco depois de ser preso, ele viu seu amigo Helmuth Hübener em uma sala longa e branca com dezenas de outros prisioneiros. Todos os prisioneiros receberam ordens de manter o nariz encostado na parede, mas, quando Karl-Heinz passou, seu amigo inclinou a cabeça, sorriu e deu uma piscadela. Helmuth, ao que parecia, não o incriminara. O rosto machucado e inchado do jovem sugeria que ele havia sido espancado severamente por resistir.26

Pouco depois disso, Karl-Heinz também viu seu amigo Rudi Wobbe na sala de espera. Os três rapazes do ramo estavam presos.

Durante os primeiros meses de sua prisão, Karl-Heinz suportou interrogatórios, ameaças e espancamentos nas mãos da Gestapo. Os interrogadores não podiam imaginar que Helmuth Hübener, um garoto de 17 anos, pudesse estar por trás de tal conspiração e exigiam saber o nome dos adultos envolvidos. Claro, não havia nomes de adultos para oferecer.27

Na manhã de 11 de agosto de 1942, Karl-Heinz trocou seu uniforme de prisioneiro por um terno e uma gravata enviados de casa. O terno pendia em seu corpo magro como se estivesse pendurado em um cabide no armário. Em seguida, ele foi levado ao Tribunal do Povo, famoso na Alemanha nazista por julgar prisioneiros políticos e aplicar punições terríveis. Naquele dia, Karl-Heinz, Helmuth e Rudi seriam julgados por conspiração, traição, cumplicidade e por ajudar o inimigo.28

No tribunal, os réus se sentaram em uma plataforma elevada de frente para os juízes, que estavam vestidos com túnicas vermelhas adornadas com uma águia dourada. Por horas, Karl-Heinz ouvia enquanto testemunhas e agentes da Gestapo detalhavam as evidências da conspiração dos meninos. Os panfletos de Helmuth, cheios de um linguajar que denunciava Hitler e expunha as falsidades nazistas, foram lidos em voz alta. Os juízes ficaram furiosos.29

No início, a corte se concentrou em Karl-Heinz, Rudi e em outro rapaz que havia sido colega de trabalho de Helmuth. Em seguida, eles voltaram a atenção para o próprio Helmuth, que não parecia intimidado pelos juízes.

“Por que você fez o que fez?”, perguntou um juiz.

“Porque eu queria que as pessoas soubessem a verdade”, Helmuth respondeu. Ele disse aos juízes que não achava que a Alemanha pudesse vencer a guerra. A sala do tribunal explodiu de raiva e descrença.30

Quando chegou a hora de anunciar o veredito, Karl-Heinz tremia enquanto os juízes voltavam ao banco. O juiz principal os chamou de “traidores” e “escória”. Ele disse: “Vermes como vocês devem ser exterminados”.

Em seguida, ele se voltou para Helmuth e o sentenciou à morte por alta traição e por ajudar e ser cúmplice do inimigo. Houve um silêncio absoluto no local. “Oh, não!”, sussurrou alguém presente no tribunal. “A pena de morte para o rapaz?”31

O tribunal condenou Karl-Heinz a cinco anos de prisão e Rudi a dez. Os meninos ficaram chocados. Os juízes perguntaram se eles tinham algo a dizer.

“Vocês vão me matar sem motivo algum”, disse Helmuth. “Não cometi nenhum crime. Tudo o que fiz foi falar a verdade. Agora é minha vez, mas a vez de vocês vai chegar.”

Naquela tarde, Karl-Heinz viu Helmuth pela última vez. A princípio, eles apertaram as mãos, mas, em seguida, Karl-Heinz abraçou seu amigo. Os olhos grandes de Helmuth se encheram de lágrimas.

“Adeus”, disse ele.32


Um dia depois que os nazistas executaram Helmuth Hübener, Marie Sommerfeld ficou sabendo do ocorrido pelo jornal. Ela era membro do ramo de Helmuth. O filho dela, Arthur, era amigo de Helmuth, que a considerava uma segunda mãe. Ela não podia acreditar que ele estivesse morto.33

Ainda se lembrava dele pequeno, uma criança brilhante e com grande potencial. “Você ainda vai ouvir algo realmente grande sobre mim”, ele lhe disse certa vez. Marie não achava que Helmuth estava se gabando quando disse isso. Ele simplesmente queria usar sua inteligência para fazer algo significativo no mundo.34

Oito meses antes, Marie ouvira falar da prisão de Helmuth antes mesmo do anúncio do presidente do ramo no púlpito. Foi em uma sexta-feira, o dia em que ela normalmente ajudava Wilhelmina Sudrow, avó de Helmuth, a limpar a igreja. Ao entrar na capela, Marie viu Wilhelmina ajoelhada diante do púlpito, com os braços estendidos, implorando a Deus.

“O que aconteceu?”, perguntou Marie.

“Algo terrível aconteceu”, respondeu Wilhelmina. Ela então descreveu como os oficiais da Gestapo apareceram em sua porta com Helmuth, revistaram o apartamento e levaram alguns papéis, o rádio dele e a máquina de escrever do ramo.35

Horrorizada com o que Wilhelmina estava lhe contando, Marie pensou imediatamente em seu filho Arthur, que fora recentemente convocado para o serviço nazista em Berlim. Poderia ele ter se envolvido no plano de Helmuth antes de partir?

Assim que pôde, Marie viajou a Berlim para perguntar a Arthur se ele havia participado de alguma forma. Ela ficou aliviada ao saber que, embora ocasionalmente tivesse ouvido o rádio de Helmuth, ele não tinha ideia de que Helmuth e os outros meninos estivessem distribuindo materiais antinazistas.36

Alguns membros do ramo oraram por Helmuth durante sua prisão. Outros ficaram zangados com os rapazes por colocarem a eles e outros santos alemães em perigo, e por colocarem em risco a autorização da Igreja para realizar reuniões em Hamburgo. Até mesmo membros da Igreja que não simpatizavam com os nazistas temiam que Helmuth os tivesse colocado em risco de prisão ou algo pior, especialmente porque a Gestapo estava convencida de que Helmuth havia recebido ajuda de adultos.37

O presidente do ramo, Arthur Zander, acreditava que precisava agir rápido para proteger os membros de seu ramo e provar que os santos dos últimos dias não estavam conspirando contra o governo. Não muito tempo depois da prisão dos meninos, ele e o presidente interino da missão, Anthon Huck, excomungaram Helmuth. O presidente do distrito e alguns membros do ramo ficaram irritados com aquela ação. Os avós de Helmuth ficaram arrasados.38

Poucos dias após a execução de Helmuth, Marie recebeu uma carta que ele havia escrito para ela algumas horas antes de sua morte. “Meu Pai Celestial sabe que não fiz nada de errado”, disse ele. “Sei que Deus vive, e Ele será o juiz adequado dessa questão.

Até nosso feliz reencontro naquele mundo melhor”, escreveu ele, “continuo sendo seu amigo e irmão no evangelho”.39


Durante meses, Pieter Vlam se perguntou por que o Senhor permitira que os nazistas o prendessem em um campo de prisioneiros, longe de sua família.

Os barracões deteriorados do campo estavam infestados de piolhos, pulgas e percevejos, e Pieter e os outros prisioneiros, às vezes, aventuravam-se a sair para descansar em um pequeno gramado. Um dia, enquanto estavam deitados olhando para o céu, um homem perguntou a Pieter se eles poderiam conversar sobre assuntos espirituais. Ele sabia que Pieter era um santo dos últimos dias e tinha perguntas sobre o mundo além deste. Pieter começou a lhe ensinar o evangelho.40

Logo, outros prisioneiros buscavam a orientação espiritual de Pieter. Os guardas não permitiam que os homens conversassem em grandes grupos, então Pieter pegava dois homens de cada vez, um de cada lado, e eles caminhavam pelo acampamento. Nem todos os homens acreditavam no que Pieter ensinava, mas apreciavam sua fé e compreendiam melhor a Igreja.41

Depois de passar alguns meses no campo alemão, Pieter e seus colegas oficiais holandeses foram transferidos para o Stalag 371, um campo de prisioneiros na Ucrânia ocupada pelos nazistas. Seus novos aposentos ficavam em um edifício de pedra fria, mas as condições lá eram um pouco melhores do que as que os homens suportaram na Alemanha. Sentindo-se mais forte de corpo e espírito, Pieter continuou a caminhar com qualquer pessoa interessada no que ele estava ensinando. Ele andou tanto que escreveu para sua esposa, Hanna, pedindo que mandasse alguns sapatos novos de madeira para substituir seus sapatos surrados.42

Em pouco tempo, um grupo de cerca de dez homens incentivou Pieter a organizar uma Escola Dominical, e ele concordou. Como os nazistas proibiam essas reuniões, eles se reuniam secretamente em um prédio vazio, em um canto distante do campo. Eles cobriam a janela com um cobertor velho e usavam uma caixa de sabão como púlpito. Milagrosamente, as escrituras e o hinário que Hanna mandara para Pieter depois da prisão passaram pelos censores sem serem confiscados. Pieter ensinava usando a Bíblia e o Livro de Mórmon, mas o grupo não se atrevia a cantar. Em vez disso, Peter lia os hinos em voz alta. No final das reuniões, os homens saíam, um de cada vez, para não serem pegos.43

Um ministro protestante em Stalag 371 acabou observando os homens caminhando e conversando com Pieter. Ele chamou cada um deles de lado, mostrou-lhes um livreto cheio de distorções sobre a Igreja e disse-lhes que Pieter estava errado. No entanto, em vez de convencê-los a abandonar Pieter e seus ensinamentos, os esforços do ministro apenas fizeram com que os homens ficassem mais curiosos sobre o evangelho restaurado.

Depois de ler o livreto, um homem chamado senhor Callenbach decidiu se juntar ao grupo. “Não quero ser convertido”, disse ele a Pieter. “Só vim para ouvir a história que você conta.”44

Certo domingo, Pieter decidiu ensinar o princípio do jejum. Ele disse aos homens que deveriam dar o copinho de feijão que receberam naquele dia a outra pessoa.

“Se não conseguirem dormir à noite”, disse Pieter, “orem a Deus e perguntem a Ele se as coisas que ouviram de mim são verdadeiras”.45

No domingo seguinte, os homens se levantaram para compartilhar seu testemunho. O senhor Callenbach foi o último a falar. Com lágrimas nos olhos, ele contou sua experiência com o jejum.

“Naquela noite, senti muita fome”, ele disse. “Então me lembrei o que o senhor Vlam falou sobre a oração.” Contou que orou sinceramente para saber se as coisas que Pieter ensinava estavam corretas. “Uma sensação indescritível de paz tomou conta de mim”, disse ele, “e eu soube que tinha ouvido a verdade”.46

  1. Kennedy, Freedom from Fear, pp. 615–627; Miller, World War II Cincinnati, pp. 51–56; Knepper, Ohio and Its People, pp. 384–387.

  2. “Mormons to Build Church on Old Herrmann Homesite”, Cincinnati Enquirer, 8 de janeiro de 1941, p. 10; Fish, Kramer e Wallis, History of the Mormon Church in Cincinnati, pp. 66–68; Ramo Cincinnati, atas do comitê de construção, 14 de março de 1941–23 de abril de 1941.

  3. Bang, “Personal History of Paul and Connie Bang—1942 Forward”, p. 4; May, “Rosie the Riveter Gets Married”, pp. 128–130; Paul Bang, cartão de alistamento militar, 16 de outubro de 1940, documentos de Paul e Cornelia T. Bang, Biblioteca de História da Igreja; Milton Yarish Taylor, cartão de alistamento militar, 16 de outubro de 1940, Estados Unidos, cartões de alistamento de rapazes para a Segunda Guerra Mundial, disponível em ancestry.com.

  4. Bang, “Personal History of Paul and Connie Bang—1942 Forward”, pp. 4–5; Vaughn William Ball, em Ramo Cincinnati, registro de membros e crianças, nº 403; Ball, memórias, parte 3, seção 4, 00:07:38–00:08:38.

  5. Bang, “Personal History of Paul and Connie Bang—1942 Forward”, p. 4; Janet Taylor, em Ramo Cincinnati, registro de membros e crianças, nº 375; Ball, memórias, parte 3, seção 4, 00:08:38.

  6. Ball, memórias, parte 3, seção 4, 00:08:38–00:09:08; “The Fixers”, fotografia, documentos de Paul e Cornelia T. Bang, Biblioteca de História da Igreja.

  7. Bang, “Personal History of Paul and Connie Bang—1942 Forward”, p. 4; Miller, World War II Cincinnati, pp. 55–56.

  8. Hugill, “Good Roads”, pp. 331–339, 342–343; Jakle and Sculle, Gas Station, pp. 49, 58, 131–133; Ball, memórias, parte 3, seção 4, 00:09:57–00:10:49.

  9. Bang, “Personal History of Paul and Connie Bang—1942 Forward”, pp. 4–5; Taylor, autobiografia, pp. 2–3; Viagem para Utah, fotografias; Charles V. Anderson para Milton Taylor, 13 de janeiro de 1936; Charles V. Anderson para Milton Taylor, 24 de fevereiro de 1937; Charles V. Anderson para George e Adeline Taylor, 30 de julho de 1940, documentos de Paul e Cornelia T. Bang, Biblioteca de História da Igreja. Tópico: Sede da Igreja.

  10. Bang, “Personal History of Paul and Connie Bang—1942 Forward”, pp. 4–5; Taylor, autobiografia, p. 2; Templo de Salt Lake, Investiduras próprias, 1893–1956, vols. H, I, 1º de maio de 1942, microfilmes 184.075 e 184.082; selamentos de casais vivos, 1893–1956, vol. E, 1º de maio de 1942, microfilme 1.239.572; selamentos de casais e filhos, 1942–1970, vol. 3E/3F, 1º de maio de 1942, microfilme 1.063.709, coleção de registros dos Estados Unidos e do Canadá, Biblioteca de História da Família.

  11. Templo de Salt Lake, Investiduras para os mortos, 1893–1970, vols. 6U, 6Y, 4 de maio de 1942, microfilmes 184.248 e 1.239.528, coleção de registros dos Estados Unidos e do Canadá, Biblioteca de História da Família; Bang, “Personal History of Paul and Connie Bang—1942 Forward”, p. 5. Tópicos: Templo de Salt Lake; Investidura no templo; Selamento.

  12. Vlam, Our Lives, p. 95; Vlam, History of Grace Alida Hermine Vlam, p. 7; Weinberg, World at Arms, pp. 122–127.

  13. Vlam, Our Lives, pp. 87–89; Weinberg, World at Arms, p. 122.

  14. Vlam, Our Lives, pp. 87, 91, 95; Missão Holanda Amsterdam, história manuscrita e relatórios históricos, 1939, 1941–1942, pp. 1, 9–12. Tópico: Holanda.

  15. Vlam, Our Lives, pp. 64, 81, 91–95; Vlam, entrevista de maio de 2020, 01:00:25.

  16. Vlam, History of Grace Alida Hermine Vlam, p. 8; Vlam, Our Lives, p. 95.

  17. Vlam, History of Grace Alida Hermine Vlam, p. 8; Vlam, Our Lives, pp. 94–95, 158; Vlam, entrevista de maio de 2020, 01:15:10; Vlam, “Answers to the Questions Posed”, pp. 1–2.

  18. Missão Pacífico Central, atas gerais, 5 de julho de 1942, p. 144.

  19. Ikegami, memórias, p. 1; Allen, Hawaii’s War Years, pp. 90, 112–113, 360–361; Ikegami, diário, 14 de janeiro de 1942; 19 de fevereiro de 1942; 5 e 6 de maio de 1942; 25 de junho de 1942; 5 de julho de 1942.

  20. Okihiro, Cane Fires, pp. 210–211; Jay C. Jensen, “L.D.S. Japanese Aid U.S. Soldiers”, Deseret News, 28 de novembro de 1942, seção da Igreja, p. 1; Kennedy, Freedom from Fear, pp. 748–751; Heimburger, “Remembering Topaz and Wendover”, pp. 148–150.

  21. Knaefler, Our House Divided, p. 6; Odo, No Sword to Bury, pp. 2–3; Scheiber e Scheiber, “Constitutional Liberty in World War II”, pp. 344, 350; Allen, Hawaii’s War Years, pp. 134–137, 351.

  22. Allen, Hawaii’s War Years, p. 91; Ikegami, diário, 24 de junho de 1942; Jay C. Jensen, “L.D.S. Japanese Aid U.S. Soldiers”, Deseret News, 28 de novembro de 1942, seção da Igreja, pp. 1, 6; “We’re United for Victory”, em Missão Pacífico Central, atas gerais, verão de 1942, p. 149; ver também Akinaka, diário, 7–8 de dezembro de 1941 e 16 de junho de 1942.

  23. Ikegami, diário, 5 de julho de 1942; John A. Widtsoe, em One Hundred Twelfth Annual Conference, p. 33.

  24. “We’re United for Victory”, em Missão Pacífico Central, atas gerais, verão de 1942, p. 149; Jay C. Jensen, “L.D.S. Japanese Aid U.S. Soldiers”, Deseret News, 28 de novembro de 1942, seção da Igreja, pp. 6, 8.

  25. “We’re United for Victory”, em Missão Pacífico Central, atas gerais, verão de 1942, p. 149.

  26. Schnibbe, The Price, pp. 45, 47–48; Holmes e Keele, When Truth Was Treason, pp. 55–56.

  27. Schnibbe, The Price, pp. 41–47; Holmes e Keele, When Truth Was Treason, p. 57.

  28. Holmes e Keele, When Truth Was Treason, pp. 61–62, 66–67.

  29. Schnibbe, The Price, pp. 36, 51–52; documento 52, em Holmes e Keele, When Truth Was Treason, pp. 67–68, 221.

  30. Schnibbe, The Price, p. 52; Holmes e Keele, When Truth Was Treason, p. 69.

  31. Documento 52, em Holmes e Keele, When Truth Was Treason, pp. 69, 219; Schnibbe, The Price, p. 54.

  32. Holmes e Keele, When Truth Was Treason, pp. 69–71; Schnibbe, The Price, p. 55. Tópico: Helmuth Hübener.

  33. Documento 72, em Holmes e Keele, When Truth Was Treason, pp. 273–275; Dewey, Hübener vs Hitler, p. 239.

  34. Sommerfeld, entrevista, 2; documento 72, em Holmes e Keele, When Truth Was Treason, pp. 273–274.

  35. Nelson, Moroni and the Swastika, pp. 308–309; Sommerfeld, entrevista, pp. 9–10; documento 72, em Holmes e Keele, When Truth Was Treason, p. 274; Schnibbe, The Price, p. 31.

  36. Documento 72, em Holmes e Keele, When Truth Was Treason, p. 274; Sommerfeld, entrevista, pp. 4–5.

  37. Sommerfeld, entrevista, p. 11; documento 65, em Holmes e Keele, When Truth Was Treason, pp. 257–258; Nelson, Moroni and the Swastika, pp. 281, 307–309.

  38. Documentos 65, 71 e 72, em Holmes e Keele, When Truth Was Treason, pp. 258, 272, 275; Keele e Tobler, “Mormons in the Third Reich”, p. 23; Sommerfeld, entrevista, pp. 11–12.

  39. Dewey, Hübener vs Hitler, p. 239; documento 61, em Holmes e Keele, When Truth Was Treason, p. 240. A carta original foi perdida. As palavras de Helmuth foram recitadas de memória por Marie Sommerfeld.

  40. Vlam, Our Lives, pp. 95–97, 107.

  41. Vlam, Our Lives, pp. 97, 99.

  42. Vlam, Our Lives, p. 99; Vlam, History of Grace Alida Hermine Vlam, p. 9.

  43. Vlam, History of Grace Alida Hermine Vlam, p. 9; Vlam, “Answers to the Questions Posed”, pp. 1–2; Vlam, Our Lives, pp. 99, 101.

  44. Vlam, Our Lives, pp. 99, 101.  

  45. Vlam, Our Lives, p. 101.  

  46. Vlam, Our Lives, p. 101. Tópico: Jejum.