Encontrando Esperança em Cristo
O Evangelho de Jesus Cristo possibilita-nos encontrar paz e esperança em quaisquer circunstâncias.
Quando era estudante na Universidade de Viena, na Áustria, dois missionários bateram a minha porta e disseram: “Temos uma mensagem de Deus para você”. Convidei-os a entrar, imaginando por que o fizera, já que não tinha interesse algum em religião. Profundamente afetado pela Revolução Húngara de 1956 — que fez com que os refugiados fluíssem aos milhares para a Áustria — eu estivera procurando o significado da vida. Contudo, não esperava encontrar a resposta em igreja alguma.
A mensagem desses missionários era a mensagem da Restauração. Acho que comecei a amar o Profeta Joseph Smith desde o primeiro momento em que ouvi falarem dele. Fui especialmente tocado pelas circunstâncias do seu martírio. Mais tarde, quando comecei a ler o Livro de Mórmon e a orar senti, por meio do poder do Espírito Santo, uma certeza tranqüilizadora e agradável de que Jesus é o Cristo, que Joseph Smith foi o Profeta da Restauração e que a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é a Igreja restaurada do Senhor aqui na Terra, liderada por profetas vivos que preparam o mundo para a Sua Segunda Vinda.
Durante mais de 40 anos como membro da Igreja desde aquela época, tenho tido muitas experiências pessoais que me confirmaram que o evangelho de Jesus Cristo é o único caminho verdadeiro que conduz à paz e felicidade neste mundo. Sei também que vocês e eu não podemos evitar as dificuldades, provações e aflições da nossa vida mortal. O evangelho de Jesus Cristo, no entanto, dá-nos a força para triunfar, para “[vencer] pela fé” (D&C 76:53) e para seguir adiante com esperança e otimismo.
A Dor Da Separação
Minha esposa e eu conseguimos compreender melhor essa verdade quando perdemos nosso querido filho Georg, que morreu aos 27 anos. Isso aconteceu quando eu estava servindo como presidente da recém-criada Missão Áustria Viena Sul, que incluía os países da antiga Iugoslávia. Durante uma conferência de zona em Zagreb, na Croácia, a Síster Wondra e eu recebemos uma mensagem de que deveríamos ligar para casa. Logo falamos ao telefone com nossa querida nora Regina, que gritava com toda a angústia de sua alma: “Papa, Georg morreu. Georg morreu!” As investigações médicas que se seguiram não deram conta de descobrir qualquer razão para sua morte. Nosso filho nunca tivera doença grave alguma. Seu coração simplesmente parou de bater, sem qualquer explicação médica.
Georg era um filho muito especial, cheio de alegria e vigor, cheio de amor por nós e por sua própria família, puro de coração e sincero. Em 1989, ele foi um dos primeiros missionários enviados à República Democrática da Alemanha, durante um período grandioso para o trabalho missionário. Ele sempre falava sobre os batismos de que ele e seus companheiros participavam, mas nunca sobre o número de batismos — ele sentia que essas experiências eram muito sagradas para serem reduzidas a estatística. No fim da primeira carta de Georg durante a missão ele escreveu: “Não sintam muito a minha falta. A vida tem que continuar sem mim”. No dia em que morreu, ele havia lido a mensagem do Presidente Gordon B. Hinckley “A Vitória sobre a Morte” e sublinhou: “Quão trágico e pungente é o sofrimento dos que ficam para trás. A viúva sofredora, a criança órfã de mãe, o pai desolado e solitário, todos são testemunhas da dor causada pela separação”. (A Liahona, abril de 1997, p. 3)
Nossa família sofreu essa dor. Sentimos tanta saudade de Georg! Mas existe também um sentimento ardente dentro de nós dizendo-nos que por acreditarmos na Expiação, na morte e Ressurreição de Jesus Cristo — por acreditarmos na mensagem do Getsêmani, do Gólgota e da tumba vazia — podemos também confiar, durante os momentos de pesar da nossa vida, que Deus é um Deus de amor, misericórdia e compaixão, mesmo quando não entendemos o que aconteceu ou o por quê. Deus aceitou o sacrifício do Seu Filho, Jesus Cristo, que padeceu todas as coisas “por causa de sua amorosa bondade e longanimidade para com os filhos dos homens”. (1 Néfi 19:9)
Algumas semanas depois da morte de Georg, a Síster Wondra e eu viajamos pela Sérvia e Montenegro e visitamos o afresco do White Angel (Anjo Branco) no Monastério de Mileseva. Esse afresco, uma das maiores obras de arte existentes, contém as palavras de uma das maiores mensagens que já foram dadas: “Por que buscais o vivente entre os mortos? Não está aqui, mas ressuscitou”. (Lucas 24:5–6) Essa mensagem foi um conforto para o maravilhoso, pacífico e hospitaleiro povo da Sérvia ao longo de todos os séculos de tirania e destruição da sua história. Essa mensagem oferece conforto para todos nós — o único conforto real e duradouro que temos.
Na sala superior, na noite da Última Ceia — a noite do maior sofrimento que houve em todos os mundos criados por Ele — Cristo falou de paz, da Sua paz: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou (…) Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”. (João 14:27) Como poderia Ele falar de paz nessa situação? Sinto que isso só foi possível por causa do Seu “perfeito amor ” que “lança fora o temor”. (I João 4:18) Em sua oração intercessória, Cristo orou pelos Seus discípulos e por todos “que pela sua palavra hão de crer em mim” — o que naturalmente nos inclui — “que eles sejam perfeitos em unidade” e “que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja”. (João 17:20, 23, 26)
Deixando a sala superior, Jesus e Seus discípulos atravessaram o vale de Cedrom e foram a um jardim de oliveiras na encosta do Monte das Oliveiras. Esse jardim chamava-se Getsêmani, que significa “prensa de óleo”. As olivas têm gosto amargo, mas quando espremidas em uma prensa, o óleo produzido por elas é doce. Cristo bebeu da “taça amarga” para que toda a amargura possa ser retirada da nossa vida e ela se torne doce, se abandonarmos nossos pecados e buscarmos a Ele. Ele disse: “E bebi da taça amarga que o Pai me deu e glorifiquei o Pai, tomando sobre mim os pecados do mundo”. (3 Néfi 11:11)
Enquanto orava no Getsêmani, toda a agonia e dor do mundo inteiro concentrou-se Nele. Ele era “homem de dores, e experimentado nos trabalhos. (…) Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si”. (Isaías 53:3–4) Ele tomou sobre Sua alma imaculada os pecados do mundo e o peso das dores do mundo. “Não se tratava de dor física, nem apenas de angústia mental, que o fizera sofrer tortura tão grande até produzir a extrusão de sangue de todos os seus poros, mas sim de uma agonia da alma, de tal magnitude, que somente Deus seria capaz de experimentar.” [James E. Talmage, Jesus, o Cristo, 3ª edição (1916), p. 592] Ele orou ao Pai: “Não se faça a minha vontade, mas a tua”. (Lucas 22:42) Fazer a vontade do Pai era o desejo supremo do Filho — mesmo sendo tão doloroso como foi no Getsêmani.
“Pois eis que eu, Deus, sofri essas coisas por todos, para que não precisem sofrer caso se arrependam;
Mas se não se arrependerem, terão que sofrer assim como eu sofri;
Sofrimento que fez com que eu, Deus, o mais grandioso de todos, tremesse de dor e sangrasse por todos os poros. (…)
Todavia, glória seja para o Pai; eu bebi e terminei meus preparativos para os filhos dos homens.” (D&C 19:16–19)
Por meio de Cristo aprendemos a ser obedientes, mesmo quando é doloroso, como o foi para Ele no Getsêmani. Aprendemos a servir os outros, mesmo quando é inoportuno, como certamente foi “inoportuno” para Ele na cruz do Gólgota. E aprendemos a confiar no amor de Deus, mesmo quando sentimos que Deus nos abandonou — pois quando triunfamos pela fé, esses momentos de dor e amargura da nossa vida podem tornar-se como os degraus da escada de Jacó, que nos levarão à presença celestial de Deus. (Ver Gênesis 28:12–13.)
Um Momento Glorioso
Que momento glorioso foi quando o Cristo ressurreto apareceu a Maria Madalena! “Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela, cuidando que era o hortelão, disse-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei.
Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Raboni (que quer dizer, Mestre).” (João 20:15–16)
Que enorme alegria Maria Madalena deve ter sentido ao ver seu amado Senhor ressuscitado. Todavia disse-lhe Ele bondosamente: “Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”. (João 20:17) Ele deixou Maria Madalena e subiu triunfalmente à presença de Seu Pai. Repetidas vezes tento imaginar essa maravilhosa cena.
Toda a Minha Esperança Está Centralizada Em Cristo
Por meio do Seu sacrifício expiatório, Cristo desfez os laços da morte. Exatamente como Ele tomou Seu corpo e saiu da tumba, todos nós iremos desfrutar da reunião do corpo e do espírito no dia da nossa própria ressurreição. “O plano divino de felicidade permite que os relacionamentos familiares sejam perpetuados além da morte. As ordenanças e os convênios sagrados dos templos santos permitem que as pessoas retornem à presença de Deus e que as famílias sejam unidas para sempre.” (A Família: Proclamação ao Mundo”, A Liahona, outubro de 1998, p. 24) Que “boas novas de grande alegria”! (D&C 128:19) Nossa vida é eterna. As famílias podem estar juntas para sempre. O relacionamento amoroso entre marido e mulher e entre pais e filhos continua além da morte.
Isso também se aplica ao nosso relacionamento com nosso amado filho Georg. Para a Síster Wondra e eu, constitui-se um milagre que, mesmo em face da perda do nosso filho, tenhamos fortalecido nossa fé em Cristo e nossa confiança em Suas palavras: “Porque as montanhas desaparecerão e os outeiros serão removidos, mas a minha benignidade não se desviará de ti nem será removido o convênio da minha paz, diz o Senhor que se compadece de ti”. (3 Néfi 22:10)
Toda a minha esperança está centralizada em Cristo. Ele é nosso Salvador e Redentor. Ele verdadeiramente é o Bom Pastor que deu a vida pelo Seu rebanho. “Graças damos a Deus pela incomparável dádiva de Seu Filho divino.” (“O Cristo Vivo — O Testemunho dos Apóstolos”, A Liahona, abril de 2000, pp. 2–3)
O Élder Johann A. Wondra é Setenta-Autoridade de Área e serve na Área Europa Central.