Uma Pequena Coisa
Filiei-me à Igreja quando estava no curso médio e era o único membro da Igreja em minha família. Tive muita dificuldade em fazer a transição para a vida na Igreja, por não conhecer muitas das atividades e chamados. Por isso, quando me pediram pela primeira vez que fosse professora visitante, no meu segundo ano da faculdade, tive muita dificuldade para saber exatamente o que aquilo significava. Minha companheira era uma jovem mãe muito fiel, a irmã Bray (os nomes foram alterados), e foi-me fácil deixar que ela marcasse os compromissos, dirigisse as visitas e cuidasse de nossas irmãs. Uma irmã, em particular, foi um desafio maior do que as outras. Cassie era um membro menos ativo, que morava com o namorado e estava esperando seu primeiro filho. Ela sempre parecia estar triste ou cheia de problemas.
Num domingo, a presidência do ramo pediu-nos que convidássemos todo mundo de nossa lista de visitas para o serão missionário que haveria naquela noite. “Sem problemas”, pensei. “A irmã Bray vai ligar para a Cassie”. Olhei em volta no salão sacramental. A irmã Bray estava fora da cidade naquele domingo e não faria nenhum telefonema.
Quando voltei para meu apartamento, depois da Igreja, senti o Espírito me cutucar, dizendo: “Ligue para a Cassie”. Recusei-me a fazê-lo. Era evidente que ela não iria, mesmo que eu a convidasse. Pela segunda vez o Espírito sussurrou-me com firmeza: “Ligue para a Cassie!” Recusei-me novamente. Por fim, foi impossível ignorar o Espírito, então liguei para ela, de má vontade, e foi a secretária eletrônica que atendeu. “Está vendo”, pensei, “eu sabia que não adiantaria nada.” Deixei uma mensagem para Cassie e seu namorado, Will, dizendo que haveria um serão naquela noite e que ficaríamos muito felizes em vê-los lá.
No serão, percebi que embora muitas pessoas tivessem comparecido, Cassie e Will não estavam entre elas. “Eu sabia que eles não viriam”, pensei, de modo meio petulante. Quando faltavam dez minutos para terminar o serão, fiquei muito surpresa ao ver Cassie e Will entrarem na capela. Os missionários se levantaram silenciosamente e saíram com eles. “Quem diria?” disse comigo mesma.
Logo depois disso vieram as férias de Natal e fui para a minha ala de origem durante os feriados. Um mês depois, quando voltei para a minha ala da faculdade, uma das irmãs veio falar comigo, entusiasmada, e perguntou se eu estaria no batismo daquela noite. “É claro”, disse eu, “mas quem vai ser batizado?” A irmã respondeu: “Will, o marido da Cassie”. Marido? Fui procurar a Cassie assim que pude.
Quando encontrei a Cassie e o Will, cumprimentei-os pelo seu casamento e pelo batismo do Will e perguntei como aquilo tinha acontecido. “Lembra-se daquele serão para o qual você nos convidou?” respondeu Cassie. “Chegamos tarde, por isso os élderes nos levaram para outra sala e nos mostraram uma fita de vídeo. Will gostou tanto que pediu para ouvir as palestras. Nós nos casamos, e hoje Will está sendo batizado.” Senti-me muito humilde e envergonhada comigo mesmo, mas completamente maravilhada com o amor que o Pai Celestial tem por todos os Seus filhos.
Mas esse não é o fim da história. Há pouco tempo, tive a oportunidade de voltar para a minha ala da faculdade, depois de seis anos em outra ala. Fiquei emocionada ao ver tantos rostos conhecidos e poder apresentar meu marido e meus dois filhos a meus velhos amigos.
Ao passar pelos bancos, vi alguém que achei que conhecia mas que parecia um pouco diferente. “Eu não conheço você?” disse eu. “Sim, eu sou a Cassie. Você foi minha professora visitante. Lembra-se do Will, não é?” Ela apontou para o homem a seu lado, depois chamou duas crianças no corredor. “E estes são nossos dois filhos”. Ela parecia feliz, tranqüila e segura de si. Disse que estava servindo na presidência da Primária. “Vocês tiveram a oportunidade de ir ao templo?” perguntei. “Qual deles?” perguntou ela, com um sorriso. “Chicago? Detroit? Nauvoo? Estivemos em todos eles”.
Esse encontro relembrou-me novamente que é “por meio de coisas pequenas e simples que as grandes são realizadas” (Alma 37:6), mesmo uma coisa tão pequena quanto um telefonema.
Shannon Vanderspool Watson é membro da Ala Lake Villa II, Estaca Buffalo Grove Illinois.