Tornar-se um Missionário
Vocês e eu, hoje e sempre, devemos prestar testemunho de Jesus Cristo e declarar a mensagem da Restauração. (…) A obra missionária é uma manifestação da nossa identidade e herança espiritual.
Todos nós que recebemos o santo sacerdócio temos a sagrada obrigação de abençoar as nações e famílias da Terra proclamando o evangelho e convidando todos a receberem, pela devida autoridade, as ordenanças de salvação. Muitos de nós já servimos como missionários de tempo integral, alguns de nós atualmente servimos como missionários de tempo integral e todos nós estamos servindo agora e continuaremos a servir como missionários pela vida inteira. Somos missionários todos os dias em nossa família, na escola, em nosso trabalho e em nossa comunidade. A despeito da nossa idade, experiência ou situação na vida, somos todos missionários.
Proclamar o evangelho não é uma atividade na qual nos envolvemos periódica e temporariamente. Nosso trabalho como missionários certamente não se restringe ao curto período de tempo dedicado ao serviço missionário de tempo integral em nossa juventude ou em nossa maturidade. Sem dúvida, a obrigação de proclamar o evangelho restaurado de Jesus Cristo é inerente ao juramento e convênio do sacerdócio que fizemos. A obra missionária é essencialmente uma responsabilidade do sacerdócio, e todos nós que portamos o sacerdócio somos servos autorizados do Senhor na Terra e somos missionários em todo momento e em todos os lugares — e sempre seremos. Nossa identidade como portadores do sacerdócio e semente de Abraão é em grande parte definida pela responsabilidade de proclamar o evangelho.
Minha mensagem hoje se aplica a todos nós em nosso dever do sacerdócio de proclamar o evangelho. Meu propósito específico nesta reunião do sacerdócio, porém, é falar aberta e honestamente com os rapazes da Igreja que estão-se preparando para servir como missionários. Os princípios que compartilharei com vocês são simples e espiritualmente importantes e devem-nos levar a ponde- rar, avaliar e melhorar. Rogo que o Espírito Santo esteja comigo e com vocês ao considerarmos juntos essa importante questão.
Uma Pergunta Freqüente
Nas reuniões com jovens da Igreja ao redor do mundo, sempre convido os presentes a fazerem perguntas. Uma das perguntas mais freqüentes que os rapazes me fazem é esta: “O que posso fazer para me preparar melhor para servir como missionário de tempo integral?” Essa pergunta merece uma resposta sincera.
Meus queridos jovens, acima de tudo, a coisa mais importante que podem fazer para se preparar para servir é tornarem-se missionários bem antes de ir para a missão. Notem que em minha resposta enfatizei o tornar, em vez do ir. Vou explicar o que quero dizer com isso.
No vocabulário que usamos na Igreja, sempre falamos de ir à Igreja, ir ao templo e ir para a missão. Ouso sugerir que a ênfase que costumamos dar ao verbo ir não é apropriada.
A questão não é ir à Igreja; antes, a questão é adorar e renovar convênios ao freqüentarmos a Igreja. O ponto não é ir ao templo ou passar por ele; é mais precisamente ter em nosso coração o espírito, os convênios e as ordenanças da Casa do Senhor. A idéia não é ir para a missão; mas, tornar-se um missionário e servir a vida inteira de todo o coração, poder, mente e força. É possível a um rapaz ir para a missão e não se tornar um missionário, mas isso não é o que o Senhor requer ou o que a Igreja precisa.
Minha esperança é de que cada um de vocês, rapazes, não apenas vão para a missão — mas que se tornem missionários muito antes de enviarem seus papéis para a missão, muito antes de receberem o chamado para servir, muito antes de serem designados pelo presidente da estaca e muito antes de entrarem no CTM.
O Princípio de Tornar-se
O Élder Dallin H. Oaks explicou-nos com extrema clareza o desafio de tornar-se algo, em vez de apenas fazer o que se espera ou de praticar determinadas ações.
“O Apóstolo Paulo ensinou que o Senhor nos deu ensinamentos e professores para que chegássemos ‘à medida da estatura completa de Cristo’ (Efésios 4:13). Esse processo exige muito mais do que a aquisição de conhecimento. Não basta sequer que sejamos convencidos pelo evangelho. Precisamos agir e pensar de modo a sermos convertidos a ele. Ao contrário das instituições do mundo, que nos ensinam a saber algo, o evangelho de Jesus Cristo desafia-nos a tornarmo-nos algo. (…)
(…) Não basta fazer tudo mecanicamente. Os mandamentos, ordenanças e convênios do evangelho não são uma lista de depósitos que precisamos fazer numa conta bancária celestial. O evangelho de Jesus Cristo é um plano que nos mostra como podemos tornar-nos o que nosso Pai Celestial deseja que nos tornemos” (“O Desafio de Tornar-se, A Liahona, janeiro de 2001, p. 40).
Irmãos, o desafio de tornar-se aplica-se precisa e perfeitamente à preparação missionária. Obviamente o processo de tornar-se um missionário não exige que o rapaz use camisa branca e gravata para ir à escola todos os dias, ou que siga as regras de horário dos missionários para deitar-se e levantar-se, embora a maioria dos pais certamente apoiasse essa idéia. Mas vocês podem desenvolver o desejo de servir a Deus (ver D&C 4:3), e podem começar a pensar como pensam os missionários, ler o que os missionários lêem, orar como os missionários oram e sentir o que os missionários sentem. Podem evitar as influências mundanas que fazem o Espírito Santo Se afastar, e podem ganhar confiança em reconhecer e responder aos sussurros do espírito. Linha sobre linha e preceito sobre preceito, um pouco aqui e um pouco ali, vocês podem se tornar gradativamente o missionário que desejam ser e o missionário que o Salvador espera que sejam.
Vocês não serão transformados subitamente, nem por um passe de mágica, num missionário preparado e obediente no dia em que passarem pela porta da frente do Centro de Treinamento Missionário. Vocês serão no CTM o que se tornaram nos dias, meses e anos antes do serviço missionário. Na verdade, a natureza da transição pela qual passarão no CTM será um forte indicador do seu progresso em se tornar um missionário.
Ao entrarem no CTM, vocês naturalmente sentirão saudades da família, e muitos aspectos de sua rotina diária serão novos e difíceis. Porém, para um rapaz que se preparou bem para se tornar um missionário, o ajuste básico aos rigores da obra e ao estilo de vida missionária não será opressivo nem constrangedor. Assim, um elemento-chave para se elevar o nível de preparo inclui o esforço para tornar-se um missionário antes de ir para a missão.
Pais, vocês entendem seu papel de ajudar seu filho a tornar-se um missionário antes de ir para a missão? Vocês, pais e mães, são fundamentais no processo para que ele se torne um missionário. Líderes do sacerdócio e auxiliares, vocês reconhecem sua responsabilidade de ajudar os pais e de ajudar cada rapaz a se tornar um missionário antes de ir para a missão? O nível de preparo também se elevou para os pais e para todos os membros da Igreja. Se ponderarem em espírito de oração o princípio de tornar-se, terão a inspiração sob medida para as necessidades específicas de seu filho ou dos rapazes a quem servem.
A preparação que descrevo não está orientada apenas para o serviço missionário dos jovens de 19, 20 ou 21 anos. Irmãos, vocês estão-se preparando para uma vida de serviço missionário. Como portadores do sacerdócio somos sempre missionários. Se progredirem verdadeiramente no processo de tornar-se missionários, tanto antes de ir para a missão como durante a missão, quando chegar o dia da sua desobrigação honrosa do serviço missionário de tempo integral, vocês partirão do campo e retornarão ao lar — mas nunca deixarão de fazer a obra missionária. Os portadores do sacerdócio são missionários em todos os momentos e em todos os lugares. Missionários: é isso o que somos como portadores do sacerdócio e como semente de Abraão.
A Semente de Abraão
Os herdeiros de todas as promessas e convênios feitos por Deus a Abraão são mencionados como a semente de Abraão (ver Guia para Estudo das Escrituras, “Abraão”, subtítulo “Semente de Abraão”, p. 9). Essas bênçãos são obtidas apenas pela obediência às leis e ordenanças do evangelho de Jesus Cristo. Irmãos, o processo de tornar-se um missionário está diretamente relacionado à compreensão de quem somos como semente de Abraão.
Abraão foi um grande profeta que desejava andar em retidão e que era obediente a todos os mandamentos que recebia de Deus, inclusive o mandamento de oferecer em sacrifício o seu precioso filho, Isaque. Por causa da sua firmeza e obediência, Abraão é sempre mencionado como o pai dos fiéis, e o Pai Celestial estabeleceu um convênio com ele e sua posteridade e prometeu-lhes grandes bênçãos.
“Porquanto fizeste esta ação, e não me negaste o teu filho, o teu único filho,
Que deveras te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus, e como a areia que está na praia do mar; e a tua descendência possuirá a porta dos seus inimigos;
E em tua descendência serão benditas todas as nações da terra; porquanto obedeceste à minha voz.” (Gênesis 22:16–18)
Assim, Abraão recebeu a promessa de uma grande posteridade e de que as nações da Terra seriam abençoadas por meio dessa posteridade.
Como as nações da Terra são abençoadas por meio da semente de Abraão? A resposta a essa importante pergunta se encontra no Livro de Abraão.
“E farei de ti uma grande nação e abençoar-te-ei sobremaneira e engrandecerei o teu nome entre todas as nações; e serás uma bênção para tua semente depois de ti, para que em suas mãos levem este ministério e Sacerdócio a todas as nações;
E abençoá-las-ei por meio de teu nome; pois todos os que receberem este Evangelho serão chamados segundo o teu nome e contados como tua semente; e levantar-se-ão e abençoar-te-ão como seu pai.” (Abraão 2:9–10)
Aprendemos nesses versículos que os herdeiros fiéis de Abraão teriam as bênçãos do evangelho de Jesus Cristo e a autoridade do sacerdócio. Assim, a frase “levar esse ministério e Sacerdócio a todas as nações” refere-se à responsabilidade de proclamar o evangelho de Jesus Cristo e convidar todos a receberem, pela devida autoridade do sacerdócio, as ordenanças de salvação. De fato, uma grande responsabilidade repousa sobre a semente de Abraão nestes últimos dias.
Como essas promessas e bênçãos se relacionam a nós hoje? Por linhagem literal ou adoção, todo homem e rapaz que me ouve hoje é, por direito, herdeiro das promessas feitas por Deus a Abraão. Somos a semente de Abraão. Uma das razões primordiais pelas quais recebemos a bênção patriarcal é para ajudar-nos a entender mais plenamente quem somos como posteridade de Abraão e a reconhecer a responsabilidade que temos.
Meus amados irmãos, vocês e eu, hoje e sempre, devemos abençoar todos os povos de todas as nações da Terra. Vocês e eu, hoje e sempre, devemos prestar testemunho de Jesus Cristo e declarar a mensagem da Restauração. Vocês e eu, hoje e sempre, devemos convidar todos a receberem as ordenanças de salvação. Proclamar o evangelho não é uma obrigação de tempo parcial do sacerdócio. Não é simplesmente uma atividade na qual nos engajamos por um tempo limitado nem uma designação que precisamos completar como membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Mais precisamente, a obra missionária é uma manifestação da nossa identidade e herança espiritual. Fomos preordenados na existência pré-mortal e nascemos na mortalidade para cumprir o convênio e promessa que Deus fez a Abraão. Estamos aqui na Terra nesta época para magnificar o sacerdócio e para pregar o evangelho. É isso o que somos, e é por isso que estamos aqui — hoje e sempre.
Vocês talvez gostem de música, de atletismo ou de mecânica e algum dia talvez trabalhem num ofício, numa profissão ou nas artes em geral. Por mais importantes que essas atividades e ocupações sejam, elas não definem quem somos. Primeiro e acima de tudo, somos seres espirituais. Somos filhos de Deus e semente de Abraão:
“Pois aqueles que forem fiéis de modo a obter estes dois sacerdócios de que falei e a magnificar seu chamado serão santificados pelo Espírito para a renovação do corpo.
Tornam-se os filhos de Moisés e de Aarão e a semente de Abraão; e a igreja e reino e os eleitos de Deus” (D&C 84:33–34).
Meus queridos irmãos, muito recebemos e muito é requerido de nós. Que vocês, rapazes, entendam mais plenamente quem são como semente de Abraão e tornem-se missionários bem antes de ir para a missão. Depois de voltar para casa e para sua família, que vocês, ex- missionários, continuem a ser sempre missionários. Que nos levantemos como homens de Deus e abençoemos as nações da Terra com um testemunho e um poder espiritual maiores do que nunca.
Declaro meu testemunho de que Jesus é o Cristo, nosso Salvador e Redentor. Sei que Ele vive! Testifico que, como portadores do sacerdócio, somos Seus representantes na obra gloriosa de proclamar Seu evangelho, hoje e sempre, em nome de Jesus Cristo. Amém.