2006
Duas Vezes Salvo
Fevereiro de 2006


Duas Vezes Salvo

Quando eu era menino, meu pai salvou minha vida. É uma história muito contada por minha família, embora não me lembre do acontecido.

Eu tinha dois anos de idade na época e meu irmão tinha quatro. Estávamos com nosso pai enquanto ele alimentava o gado em nossa fazenda. Ele não percebeu que eu e meu irmão nos afastamos até que meu irmão, assustado e sem fôlego, correu até ele. Meu irmão mal podia falar. Ele teve que se esforçar para dizer, “O Rolfe está (…) !” “O Rolfe está (…) !” Felizmente, meu pai percebeu que meu irmão estava tentando dizer a ele que eu havia caído no canal de irrigação.

Meu pai correu até o canal onde eu havia escorregado da barranca para dentro da correnteza. Ele correu ao longo do canal e quando viu meu suéter vermelho rolando por aquelas águas violentas, pulou dentro do canal e me tirou da água. Depois de ministrar-me os primeiros socorros, ele teve a certeza de que eu voltara a respirar.

Tenho uma dívida eterna com meu irmão por ter tido a presença de espírito de avisar meu pai; e serei eternamente grato ao meu pai por ter agido rápido e salvado minha vida.

Salvo do Perigo Espiritual

Já mais velho, meu pai me salvou novamente. Dessa vez, não era um perigo físico, mas na minha vida espiritual deparei-me com um dilema.

Na escola eu praticava esportes, principalmente futebol americano e beisebol. No meu último ano fui escolhido para um jogo muito importante no fim da temporada. Depois disso, quando o ano letivo estava acabando, fui convidado para jogar em um time de beisebol local. Não era um time profissional e nem mesmo semiprofissional, mas fiquei orgulhoso por ter sido convidado a jogar. Existia um único problema: a maioria dos jogos era no domingo à tarde.

Fiz um excelente trabalho de racionalização: Pensei que poderia jogar porque as reuniões da Igreja eram de manhã. Eu poderia assistir às reuniões e dar a aula da Escola Dominical e, depois, ir para os jogos no domingo à tarde.

Com isso em mente, falei com meu pai. Disse a ele que fora convidado para um time de beisebol e o que estava pensando em fazer. Embora fosse o presidente da estaca na época, ele sabiamente se conteve e não me disse para eu desistir do beisebol, como poderia ter feito. Em vez disso, ele simplesmente disse: “Bem, quando tomar uma decisão, lembre-se do impacto que isso terá na sua classe da Escola Dominical”.

Não foi preciso dizer mais nada. Naquele momento a resposta ficou absolutamente clara para mim. Recusei o convite para jogar no time, e depois disso, não joguei mais beisebol; mas, por muitos anos, me diverti jogando nos times de softball da Igreja e nunca precisei jogar aos domingos.

Admirei a maneira que meu pai me ajudou a tomar aquela difícil decisão. Ele fez aquilo de um jeito que permitiu que eu enxergasse a importância de tal escolha e entendesse que as decisões que tomo podem ter um grande impacto sobre as pessoas. Essa decisão também me preparou para posteriormente decidir se iria para a missão.

Dizer Adeus ao Futebol Americano

Sempre pretendi sair em missão quando completasse 20 anos, essa era a idade em que os missionários saíam na época. Depois de jogar futebol americano por duas temporadas na Universidade do Estado de Utah, tinha uma decisão difícil a tomar. Eu sabia que, na época, pouquíssimos ex- missionários jogavam futebol americano depois da missão. Tinha colocado todas minhas energias no futebol e adorava jogar. Decidi atrasar minha missão por poucos meses para poder jogar mais uma temporada e, depois, sairia em missão. No fim daquela temporada, ganhei a posição de zagueiro inicial para o próximo ano.

O técnico do time ficou surpreso e decepcionado, pois, depois de todo o esforço que eu fizera pelo futebol, iria embora. Ele me incentivou a ficar e jogar na minha temporada final. Ele não entendia porque eu perderia aquela oportunidade. Ouvi o que ele tinha a dizer e os seus argumentos, mas disse a ele que não poderia esperar mais um ano para sair como missionário. Se esperasse, temia perder a oportunidade de servir em uma missão. Depois de empenhar-me tanto no futebol, disse adeus ao time e fui para a Grã Bretanha para servir ao Senhor.

Nunca me arrependi daquela decisão. Aprendi muitas coisas na minha missão. Ver as pessoas abraçarem o evangelho foi uma experiência incrível que, de muitas maneiras, foi uma influência importante que direcionou o resto de minha vida. Minha missão ajudou-me a ser a pessoa que sou hoje e teve uma influência muito maior sobre mim do que o futebol jamais poderia ter.

E aconteceu que, quando voltei de minha missão, tive a chance de jogar futebol americano novamente. Embora fosse inesperado, joguei em meu último ano e acho que me saí melhor do que se tivesse jogado antes de minha missão. Tive oportunidades incríveis que provavelmente não teria caso decidisse adiar a missão ou abrir mão dela.

A decisão que tomei de santificar o Dia do Senhor, em vez de jogar beisebol depois do colegial, serviu de padrão para eu deixar o futebol para servir em uma missão. Abandonar o beisebol e o futebol americano foi difícil, mas sou grato pela decisão que tomei. Essas decisões determinaram minhas prioridades cedo na vida e levaram-me a casar-me no templo e a ter felicidade nesta vida.

Sou grato ao meu pai por salvar minha vida duas vezes. Primeiro naquelas águas turvas de um canal de irrigação, e, segundo, das influências que o mundo oferece.