2007
Aprender pela Fé
Setembro de 2007


Aprender pela Fé

Somos admoestados repetidas vezes nas escrituras a pregar, pelo poder do Espírito, as verdades do evangelho (ver D&C 50:14). Creio que a grande maioria de nós, pais e professores da Igreja, estamos cientes desse princípio e geralmente nos esforçamos devidamente para colocá-lo em prática. Não obstante, por mais importante que esse princípio seja, ele é apenas um dos elementos que compõem um padrão espiritual muito maior. Também somos freqüentemente ensinados a procurar conhecimento pela fé (ver D&C 88:118). Pregar pelo espírito e aprender pela fé são princípios intrinsecamente unidos, os quais devemos esforçar-nos para compreender e aplicar simultânea e constantemente.

Acho que enfatizamos e sabemos muito mais sobre como o professor ensina pelo espírito do que sobre como o aluno aprende pela fé. É bem evidente que os princípios e processos tanto do ensino quanto do aprendizado são espiritualmente essenciais. No entanto, ao contemplarmos o futuro e anteciparmos o mundo ainda mais confuso e turbulento em que viveremos, creio ser essencial, para todos nós, aumentar nossa capacidade de procurar aprender pela fé. Em nossa vida pessoal, em família e na Igreja, podemos receber e de fato receberemos as bênçãos de força espiritual, orientação e proteção, se buscarmos, pela fé, obter e aplicar o conhecimento espiritual.

Néfi nos ensina que “quando um homem fala pelo poder do Espírito Santo, o poder do Espírito Santo leva [a mensagem] aos corações dos filhos dos homens” (2 Néfi 33:1). Observem que o poder do Espírito leva a mensagem ao coração e não necessariamente para dentro dele. O professor pode explicar, demonstrar, persuadir e testificar, e fazê-lo com grande força espiritual e eficácia. Mas no final, o conteúdo da mensagem e o testemunho do Espírito Santo só penetrarão no coração se o aluno permitir que entrem. O aprendizado pela fé abre o caminho para dentro do coração.

O Princípio de Ação: Fé no Senhor Jesus Cristo

O Apóstolo Paulo definiu a como o fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se vêem (ver Hebreus 11:1). Alma declarou que a fé não é um perfeito conhecimento, mas que, se tivermos fé, teremos esperança em coisas que não vemos mas que são verdadeiras (ver Alma 32:21). Além disso, aprendemos em Lectures on Faith que a fé é “o primeiro princípio da religião revelada e o alicerce de toda a retidão” e também que é “o princípio de ação em todos os seres inteligentes”.1

Esses ensinamentos destacam os três elementos básicos da fé: (1) fé como a certeza das coisas que esperamos e que são verdadeiras, (2) fé como a prova das coisas que não se vêem e (3) fé como o princípio de ação em todos os seres inteligentes. Descrevo esses três componentes da fé no Salvador como a ocorrência simultânea das ações de contemplar o futuro, olhar para o passado e iniciar uma ação no presente.

A fé, como a certeza das coisas que esperamos, contempla o futuro. Essa certeza fundamenta-se na compreensão correta de Deus e na confiança que depositamos Nele, além de permitir-nos “prosseguir com firmeza” (2 Néfi 31:20) nas situações incertas — e muitas vezes desafiadoras — quando servimos ao Salvador.

Por exemplo: Néfi confiou exatamente nesse tipo de certeza que contempla o futuro, ao voltar para Jerusalém a fim de obter as placas de latão, “não sabendo de antemão o que deveria fazer. Não obstante [seguiu] em frente” (1 Néfi 4:6–7).

A fé em Cristo está inseparavelmente ligada à esperança em Cristo — e resulta nessa esperança — para nossa redenção e exaltação. E a certeza e a esperança nos possibilitam caminhar até o limiar da luz e dar alguns passos na escuridão, esperando e confiando que a luz se moverá e iluminará o caminho.2 A combinação da certeza com a esperança inicia a ação no presente.

A fé, como a prova das coisas que não se vêem, olha para o passado e confirma nossa confiança em Deus, bem como na veracidade das coisas que não vemos. Caminhamos para dentro da escuridão com certeza e esperança, e recebemos a prova e a confirmação quando a luz realmente se move e nos provê a claridade de que necessitamos. O testemunho que adquirimos depois do teste de nossa fé (ver Éter 12:6) é a prova que aumenta e fortalece a nossa certeza.

Certeza, ação e prova influenciam-se mutuamente, num processo contínuo. Essa hélice é como uma mola que ascende em espiral, tornando-se cada vez mais ampla. Esses três elementos da fé — certeza, ação e prova — não são separados e distintos: em vez disso, estão inter-relacionados, são contínuos e formam um ciclo ascendente. E a fé que alimenta esse processo contínuo se desenvolve, evolui e se transforma. Ao encararmos novamente o futuro incerto, a certeza nos conduz à ação e produz uma prova, que aumenta ainda mais a certeza. Nossa confiança se torna mais forte, linha sobre linha, preceito sobre preceito, um pouco aqui e um pouco ali.

Encontramos um vigoroso exemplo da interação entre certeza, ação e prova na ocasião em que os filhos de Israel transportavam a Arca da Aliança sob a liderança de Josué (ver Josué 3:7–17). Lembram-se de quando os israelitas chegaram ao rio Jordão e lhes foi prometido que as águas se abririam e eles poderiam cruzar o rio em seco? É interessante notar que as águas não se abriram quando os filhos de Israel pararam junto às margens do rio esperando que algo acontecesse; em vez disso, a sola de seus pés se molhou antes que as águas se abrissem. A fé que os israelitas possuíam manifestou-se no fato de que caminharam para dentro da água antes que elas se abrissem. Eles caminharam para dentro do rio Jordão com uma certeza que contemplava o futuro nas coisas que esperavam. Quando os israelitas seguiram adiante, as águas se abriram, e quando cruzaram o rio em seco, olharam para trás e viram a prova das coisas que não eram vistas. Naquele episódio, a fé como certeza conduziu à ação e produziu a prova de coisas que não eram vistas, mas que eram verdadeiras.

A verdadeira fé se concentra no Senhor Jesus Cristo e sempre conduz à ação. A fé, como princípio de ação, é ressaltada em muitas escrituras que todos conhecemos muito bem.

“Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta” (Tiago 2:26; grifo do autor).

“Sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes” (Tiago 1:22; grifo do autor).

“Mas eis que, se despertardes e exercitardes vossas faculdades, pondo à prova minhas palavras, e exercerdes uma partícula de fé (…)” Alma 32:27; grifo do autor).

E a fé como princípio de ação é extremamente essencial ao processo de aprendizado e aplicação prática da verdade espiritual.

Aprender pela Fé: Agir, e Não Apenas Receber a Ação

De que modo a fé, como princípio de ação em todos os seres inteligentes, relaciona-se ao aprendizado do evangelho? E o que significa procurar aprender pela fé?

Na grande divisão de todas as criações de Deus, há coisas que existem para agir e coisas que existem para receber a ação (ver 2 Néfi 2:13–14). Como filhos e filhas de nosso Pai Celestial, fomos abençoados com o dom do arbítrio, isto é, a capacidade e o poder de agir independentemente. Investidos com o arbítrio, somos agentes, e devemos principalmente agir e não só receber a ação, especialmente ao buscar obter e colocar em prática o conhecimento espiritual.

Aprender pela fé e pela experiência são duas características centrais do plano de felicidade do Pai. O Salvador preservou o arbítrio moral por meio da Expiação, possibilitando-nos agir e aprender pela fé. A rebelião de Lúcifer contra o plano buscava destruir o arbítrio do homem, e seu intento era de que nós, como aprendizes, apenas recebêssemos a ação.

Ponderem a pergunta feita pelo Pai Celestial a Adão, no Jardim do Éden: “Onde estás?” (Gênesis 3:9). O Pai sabia onde Adão estava escondido, mas mesmo assim Ele fez a pergunta. Por quê? Um Pai sábio e amoroso permitiu que Seu filho agisse no processo de aprendizado, e não apenas recebesse a ação. Não houve um sermão unidirecional para um filho desobediente, como talvez muitos de nós estejamos inclinados a proferir. Em vez disso, o Pai ajudou Adão, como aprendiz, a atuar como agente e exercer devidamente o seu arbítrio.

Lembram-se de quando Néfi quis saber as coisas que seu pai Leí tinha visto na visão da árvore da vida? É interessante notar que o Espírito do Senhor começou sua orientação a Néfi perguntando o seguinte: “Que desejas tu?” (1 Néfi 11:2). É evidente que o Espírito sabia o que Néfi desejava. Então, por que motivo fez a pergunta? O Espírito Santo estava ajudando Néfi a agir no processo de aprendizado e não simplesmente receber a ação. Observem em 1 Néfi 11–14, como o Espírito faz perguntas e incentiva Néfi a “olhar”, como elementos ativos no processo de aprendizado.

Vendo esses exemplos, reconhecemos que, como aprendizes, temos de agir e ser cumpridores da palavra e não meros ouvintes que recebem a ação. Vocês são agentes que atuam e procuram aprender pela fé, ou estão esperando ser ensinados e receber a ação? As crianças, jovens e adultos a quem vocês ensinam estão agindo e procurando aprender pela fé, ou estão esperando ser ensinados e receber a ação? Estamos incentivando e ajudando nossos alunos a procurarem aprender pela fé? Nós e nossos alunos devemos ocupar-nos zelosamente perguntando, buscando e pedindo (ver 3 Néfi 14:7).

Um aprendiz que exerce seu arbítrio agindo de acordo com princípios corretos, abre seu coração ao Espírito Santo e convida-O a ensinar, a testificar com poder e a confirmar o testemunho. O aprendizado pela fé exige esforço físico, mental e espiritual e não apenas uma receptividade passiva. É na sinceridade e na constância de nossa ação inspirada pela fé que mostramos ao Pai Celestial e a Seu Filho Jesus Cristo a nossa disposição de aprender e receber instrução do Espírito Santo. Assim, aprender pela fé envolve o exercício do arbítrio moral para agirmos com a certeza das coisas que esperamos e convidarmos o único professor verdadeiro, o Espírito do Senhor, a dar-nos a prova das coisas que não vemos.

Ponderem como os missionários ajudam os pesquisadores a aprender pela fé. Assumir e cumprir compromissos espirituais, como estudar o Livro de Mórmon e orar a respeito dele, freqüentar as reuniões da Igreja e cumprir os mandamentos, são coisas que exigem que o pesquisador exerça sua fé e aja. Um dos papéis fundamentais do missionário é ajudar o pesquisador a assumir e honrar compromissos, ou seja, a agir e aprender pela fé. Ensinar, exortar e explicar, por mais importantes que sejam, não podem proporcionar ao pesquisador um testemunho da veracidade do evangelho restaurado. Somente quando a fé do pesquisador inicia a ação e abre o caminho para o seu coração é que o Espírito Santo pode conceder-lhe um testemunho confirmador. É óbvio que os missionários precisam aprender a ensinar pelo poder do Espírito. Mas de igual importância é a responsabilidade que os missionários têm de ajudar os pesquisadores a aprender pela fé.

O aprendizado que estou descrevendo transcende a mera compreensão cognitiva e a retenção e memorização de informações. O tipo de aprendizado de que estou falando faz com que deixemos de lado o homem natural (ver Mosias 3:19), mudemos nosso coração (ver Mosias 5:2) e sejamos convertidos ao Senhor e nunca apostatemos (ver Alma 23:6). Aprender pela fé exige um “coração e uma mente solícita” (ver D&C 64:34). Aprender pela fé é o resultado de o Espírito Santo levar o poder da palavra de Deus não só até o coração, mas também para dentro dele. O aprendizado pela fé não pode ser transferido do instrutor para o aluno por meio de uma palestra, uma demonstração ou um exercício experimental; em vez disso, o aluno precisa exercer fé e agir para obter tal conhecimento por si mesmo.

O jovem Joseph Smith compreendia intuitivamente o que significava procurar conhecimento pela fé. Um dos episódios mais conhecidos da vida de Joseph Smith foi quando ele leu os versículos sobre a oração e a fé no livro de Tiago, no Novo Testamento (ver Tiago 1:5–6). Aquele texto inspirou-o a retirar-se para um bosque próximo de sua casa e a orar e procurar conhecimento espiritual. Observem as perguntas que Joseph havia formulado em sua mente e sentido em seu coração, e que o levaram para o bosque. É claramente evidente que ele tinha-se preparado para “pedir com fé” (Tiago 1:6) e agir:

“Em meio a essa guerra de palavras e divergência de opiniões, muitas vezes disse a mim mesmo: Que deve ser feito? Quem, dentre todos esses grupos está certo, ou estão todos igualmente errados? Se algum deles é correto, qual é, e como poderei sabê-lo? (…)

Meu objetivo ao dirigir-me ao Senhor era saber qual de todas as seitas estava certa, a fim de saber a qual me unir. Portanto, tão logo me controlei o suficiente para poder falar, perguntei aos Personagens que estavam na luz acima de mim qual de todas as seitas estava certa (…) e a qual me unir” (Joseph Smith — História 1:10, 18).

Observem que as perguntas de Joseph enfocavam não apenas o que ele precisava saber mas também o que ele teria de fazer. E sua primeira pergunta centrava-se na ação e no que precisava ser feito! Sua oração não foi simplesmente para saber qual era a igreja verdadeira. Sua pergunta foi sobre a qual igreja ele deveria filiar-se. Joseph foi ao bosque para aprender pela fé. Ele estava decidido a agir.

Finalmente, a responsabilidade de aprender pela fé e colocar em prática a verdade espiritual está sobre nossos ombros, individualmente. Essa é uma responsabilidade cada vez mais séria e importante no mundo em que vivemos e em que ainda viveremos. O que, como e quando aprendemos têm por apoio um instrutor, um método de apresentação ou um tópico ou formato de aula específico, mas não dependem disso.

Na verdade, um dos grandes desafios da mortalidade é procurar aprender pela fé. O Profeta Joseph Smith resumiu muito bem o processo de aprendizado e os resultados que estou tentando descrever. Em resposta a um pedido de instrução feito pelos Doze Apóstolos, Joseph ensinou: “A melhor maneira de obter verdade e sabedoria não é procurar nos livros, mas buscar a Deus em oração, para obter ensinamento divino”.3

Em outra ocasião, o Profeta Joseph explicou: “A leitura das experiências alheias, ou as revelações recebidas por outras pessoas jamais poderão dar a nós um entendimento de nossa condição e de nossa verdadeira relação com Deus”.4

Implicações para os Professores

As verdades a respeito do aprendizado pela fé têm profundas implicações para os pais e professores. Ponderemos juntos três dessas implicações.

Implicação 1. O Espírito Santo é o único professor verdadeiro.

O Espírito Santo é o terceiro membro da Trindade e é Ele o professor e testificador de toda a verdade. Como escreveu o Élder James E. Talmage (1862–1933), do Quórum dos Doze Apóstolos: “O ofício do Espírito Santo referente a Sua ministração entre os homens está descrito nas escrituras. Ele é um mestre enviado pelo Pai; e aos que são dignos de Seus ensinamentos Ele revelará todas as coisas necessárias para o progresso da alma”.5

Sempre devemos lembrar que o Espírito Santo é o professor que, por meio do convite adequado, pode entrar no coração do aluno. De fato, temos a responsabilidade de pregar o evangelho pelo Espírito, sim, o Consolador, como pré-requisito para o aprendizado pela fé, que somente pode ser alcançado por intermédio do Espírito Santo (ver D&C 50:14). Nesse sentido, somos mais semelhantes às longas e finas fibras de vidro usadas para construir os cabos de fibra óptica através dos quais os sinais de luz são transmitidos a grandes distâncias. Assim como o vidro nesses cabos precisa ser puro, para conduzir a luz eficaz e eficientemente, da mesma forma devemos tornar-nos e permanecer condutos dignos por meio dos quais o Espírito do Senhor possa operar.

Mas precisamos, irmãos e irmãs, ter o cuidado de lembrar em nosso trabalho que somos condutos e canais; não somos a luz. “Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós” (Mateus 10:20). Nunca sou eu ou vocês. Na verdade, tudo o que fazemos como professores no intuito de intencionalmente chamar a atenção para nós mesmos — nas mensagens que apresentamos, nos métodos que usamos ou em nossa conduta pessoal — torna-se uma forma de artimanha sacerdotal que inibe a eficácia do ensino do Espírito Santo. “Prega-a pelo Espírito da verdade ou de alguma outra forma? E se for de alguma outra forma, não é de Deus” (D&C 50:17–18).

Implicação 2. Somos professores mais eficazes quando incentivamos e facilitamos o aprendizado pela fé.

Todos conhecemos o ditado de que dar um peixe a um homem garante apenas uma refeição. Se o ensinarmos a pescar, porém, estaremos alimentando esse homem por toda a vida. Como instrutores do evangelho, não estamos trabalhando na distribuição de peixes, mas, sim, no trabalho de ajudar as pessoas a aprenderem a “pescar” e a se tornarem espiritualmente auto-suficientes. A melhor maneira de alcançar esse importante objetivo é incentivarmos e agirmos de modo a facilitar aos alunos a ação de acordo com princípios corretos, ajudando-os a aprender fazendo. “Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus” (João 7:17).

Observem essa implicação colocada em prática no conselho dado a Junius F. Wells, pelo Presidente Brigham Young (1801–1877), quando o irmão Wells foi chamado em 1875 para organizar os Rapazes da Igreja:

“Em suas reuniões, você deve começar no alto da lista e chamar o máximo de membros que o tempo permitir para que prestem seu testemunho e, na reunião seguinte, comece de onde parou e chame outros, para que todos participem e adquiram o hábito de se levantar e dizer algo. Muitos acham que não têm um testemunho para prestar, mas faça com que se levantem, e eles descobrirão que o Senhor lhes dará capacidade de expressar muitas verdades nas quais não tinham pensado. Mais pessoas adquiriram um testemunho quando se levantaram e tentaram prestá-lo do que ajoelhadas orando para consegui-lo.”6

O Presidente Boyd K. Packer, Presidente Interino do Quórum dos Doze Apóstolos, deu um conselho semelhante para os nossos dias:

“Oh! Se ao menos eu pudesse ensinar-lhes este único princípio: O testemunho é descoberto quando nós o prestamos! Em algum lugar de sua jornada em busca de conhecimento espiritual, existe aquele ‘salto de fé’, como os filósofos o chamam. É o momento em que chegamos até o limiar da luz e damos um passo para dentro da escuridão, e descobrimos então que o caminho está iluminado por apenas um ou dois passos à nossa frente. ‘O espírito do homem’, como bem disse a escritura, é realmente ‘a lâmpada do Senhor’ (Provérbios 20:27).

Uma coisa é receber um testemunho daquilo que lemos ou de algo que outra pessoa disse; e temos obrigatoriamente que começar por aí. Outra coisa totalmente diferente é sentir o Espírito confirmar em nosso peito que aquilo que nós testificamos é verdadeiro. Percebem que isso lhes será concedido, quando vocês o compartilharem? Ao oferecerem o que vocês têm, isso lhes será devolvido e aumentado!”7

Observei uma característica comum entre os professores que exerceram maior influência em minha vida. Eles me ajudaram a procurar aprender pela fé. Recusaram-se a dar-me respostas fáceis para perguntas difíceis. Na verdade, não me deram resposta alguma. Em vez disso, indicaram o caminho e me ajudaram a dar os passos para encontrar minhas próprias respostas. Sem dúvida nem sempre apreciei essa abordagem, mas a experiência me permitiu compreender que uma resposta dada por outra pessoa geralmente não é lembrada por muito tempo, se é que será lembrada. Mas uma resposta que descobrimos ou obtemos pelo exercício da fé geralmente é retida por toda a vida. O aprendizado mais importante da vida é alcançado, não ensinado.

A compreensão espiritual, com que fomos abençoados e que foi confirmada como verdadeira em nosso coração, simplesmente não pode ser transmitida a outra pessoa. O preço da diligência e do aprendizado pela fé precisa ser pago para se obter e “possuir” pessoalmente esse conhecimento. Somente dessa forma, o que conhecemos na mente pode-se transformar em algo que sentimos no coração. Somente dessa maneira uma pessoa pode deixar de depender da confiança no conhecimento espiritual e na experiência de outros e reivindicar essas bênçãos para si mesma. Somente desse modo podemos estar espiritualmente preparados para o que está por vir. Precisamos “[procurar] conhecimento, sim, pelo estudo e também pela fé” (D&C 88:118).

Implicação 3. Nossa fé é fortalecida quando ajudamos outras pessoas a procurar aprender pela fé.

O Espírito Santo, que pode “ensinar-nos todas as coisas e fazer-nos lembrar de todas as coisas” (ver João 14:26), está ansioso por ajudar-nos a aprender, se agirmos e exercermos fé em Jesus Cristo. É interessante notar que esse auxílio didático divino talvez nunca seja tão evidente quanto quando ensinamos, seja no lar ou nas atribuições da Igreja. Conforme Paulo deixou bem claro para os romanos: “Tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo?” (Romanos 2:21).

Observem os seguintes versículos de Doutrina e Convênios, sobre como o ensino diligente convida a graça e a instrução celestes:

“E dou-vos um mandamento de que vos ensineis a doutrina do reino uns aos outros.

Ensinai diligentemente e minha graça acompanhar-vos-á, para que sejais instruídos mais perfeitamente em teoria, em princípio, em doutrina, na lei do evangelho, em todas as coisas pertinentes ao reino de Deus, que vos convém compreender” (D&C 88:77–78; grifo do autor).

Tenham em mente que as bênçãos descritas nessas escrituras se referiam especificamente ao professor: “Ensinai diligentemente e minha graça o acompanhará” — para que vocês, os professores, sejam instruídos!

O mesmo princípio está bem claro no versículo 122 dessa mesma seção:

“Dentre vós designai um professor e não falem todos ao mesmo tempo; mas cada um fale a seu tempo e todos ouçam suas palavras, para que quando todos houverem falado, todos sejam edificados por todos, para que todos tenham privilégios iguais” (D&C 88:122; grifo do autor).

Se todos falarem e todos ouvirem de modo ordeiro e digno, todos serão edificados. O exercício individual e coletivo da fé no Salvador convida a instrução e o fortalecimento provenientes do Espírito do Senhor.

Procurar Aprender pela Fé — Um Exemplo Recente

Todos nós fomos abençoados com o desafio lançado pelo Presidente Gordon B. Hinckley, em agosto de 2005, de ler o Livro de Mórmon até o final daquele ano. Ao fazer o desafio, o Presidente Hinckley prometeu que o cumprimento diligente daquele simples programa de leitura traria para a nossa vida e para o nosso lar “mais do Espírito do Senhor, uma determinação mais firme de obedecer a Seus mandamentos e um testemunho mais forte da realidade viva do Filho de Deus”.8

Observem como esse desafio inspirado foi um exemplo clássico do aprendizado pela fé. Em primeiro lugar, não fomos forçados, coagidos ou obrigados a ler. Em vez disso, fomos convidados a exercer nosso arbítrio como agentes e a agir de acordo com princípios corretos. O Presidente Hinckley, como líder inspirado, incentivou-nos a agir e não apenas a receber a ação. Cada um de nós, em última análise, decidiu se aceitaria o desafio e como o faria — e se perseveraria até o fim da tarefa.

Em segundo lugar, ao fazer-nos o convite de ler e agir, o Presidente Hinckley incentivou cada um de nós a procurar aprender pela fé. Nenhum material de estudo novo foi distribuído aos membros da Igreja, e não se criaram pela Igreja novas lições, aulas ou programas. Cada um de nós tinha seu exemplar do Livro de Mórmon — e um caminho para dentro de nosso coração mais amplamente aberto pelo exercício de nossa fé no Salvador, ao aceitar o desafio da Primeira Presidência. Assim, estávamos preparados para receber instrução do único professor verdadeiro, o Espírito Santo.

A responsabilidade de procurar aprender pela fé está sobre os ombros de cada um de nós individualmente, e essa obrigação se tornará cada vez mais importante à medida que o mundo em que vivemos se tornar mais confuso e complicado. O aprendizado pela fé é essencial ao nosso desenvolvimento pessoal e espiritual, e também para o crescimento da Igreja nestes últimos dias. Que tenhamos verdadeiramente fome e sede de retidão e estejamos cheios do Espírito Santo (ver 3 Néfi 12:6) — para que busquemos aprender pela fé.

Extraído de um discurso transmitido via satélite para os educadores do Sistema Educacional da Igreja, proferido em 3 de fevereiro de 2006.

Notas

  1. Lectures on Faith, 1985, p. 1.

  2. Ver Boyd K. Packer, “The Candle of the Lord”, Tambuli, julho de 1983, p. 27.

  3. History of the Church, volume 4, p. 425.

  4. History of the Church, volume 6, p. 50.

  5. The Articles of Faith, 1924, p. 162.

  6. Junius F. Wells, “Historic Sketch of the YMMIA”, Improvement Era, junho de 1925, p. 715.

  7. Tambuli, julho de 1983, p. 34.

  8. “Um Testemunho Vibrante e Verdadeiro”, A Liahona, agosto de 2005, p. 6.