O Presenteador Secreto
“Deus ama ao que dá com alegria” (II Coríntios 9:7).
Adoro tudo relacionado ao Natal: a iluminação, os cânticos, o tempo que passamos com a família, — tudo o que fazemos para comemorar o nascimento de Jesus. E, acima de tudo, adoro ganhar presentes. Começo a fazer minha lista de pedidos de Natal em setembro.
Certo ano, minha lista era quase tão longa quanto meu braço. E eu não parava de pensar em coisas para adicionar a ela. Não via a hora de mostrá-la a meu pai. “Então, Davi, vejo o que você quer ganhar no Natal”, disse ao consultar a lista. “Mas o que você vai dar?”
“Estou fazendo presentes na escola para você e a mamãe. Na sexta-feira, a mamãe vai me levar para comprar algo para a Sara e o João. Já tenho tudo planejado.”
“Hummm”, foi tudo que o pai disse. Por algum motivo ele não ficara satisfeito com minha resposta. Não gostei muito do “hummm”.
Na noite familiar seguinte, meus pais abordaram a idéia de dar e receber e o verdadeiro significado do Natal. A cada minuto que passava, tinha a impressão de que minha lista de pedidos encolhia. Perguntaram se tínhamos idéias que nos ajudavam a lembrar de doar mais. Sara levantou a mão, alvoroçada. Eu e João, meu irmão mais velho, suspiramos. As idéias da Sara costumavam girar em torno de coisas a fazer para os outros, como arrancar as ervas daninhas do jardim dos vizinhos.
“Vamos escolher algumas pessoas solitárias ou necessitadas e deixar anonimamente presentes na frente da porta deles,” sugeriu Sara com entusiasmo.
“Até que não é má idéia,” elogiou João. “E seria segredo de estado.”
“Acho que vai ser divertido,” pensei.
Todos concordamos que era um excelente plano. Escolhemos duas famílias. Uma era a família Souza, de nossa ala. Como o pai da família voltara a estudar, parecia que eles nunca tinham dinheiro suficiente. Também tinham muitos filhos, que adorariam ganhar surpresas de Natal. A outra família era o Sr. Gilberto e a dona Maria Perez, um casal idoso que morava na nossa rua. Eles pareciam sempre um pouco solitários.
Fomos todos juntos comprar os presentes. Concordamos que para isso usaríamos parte do dinheiro que teríamos gasto com nossos próprios presentes. Aceitei bem a situação. Achei muito divertido escolher brinquedos para os filhos mais novos da família Souza. Por algum motivo, meus próprios presentes não pareciam mais tão importantes.
Decidimos dar um presente por noite a cada família, a partir do décimo segundo dia antes do Natal. Quando chegou a primeira noite, vesti-me de preto da cabeça aos pés, e meu irmão João me levou de carro até a casa da família Souza. Sem fazer barulho, pus o primeiro presente na varanda, apertei a campainha e saí correndo a toda velocidade. Saltei para trás de uma cerca assim que uma das crianças abriu a porta. Ouvi a voz surpresa deles ao acharem o presente. Achei que fosse explodir de entusiasmo e alegria. Era o início de minha carreira de Presenteador Secreto.
As coisas só tenderam a melhorar — e a se complicar. Tivemos que ir em horários diferentes a cada noite e às vezes até de manhã, pois as crianças da família Souza começaram a olhar pela janela para tentar nos surpreender. E a cada vez que eu me aproximava da casa da família Perez, imaginava a dona Maria me esperando, pronta para escancarar a porta, dar-me um abraço e dizer o quanto eu era maravilhoso. Eu queria impedir isso a qualquer custo. Metade da diversão era justamente manter o segredo.
E aquele ano foi apenas o começo. No Natal seguinte, escolhemos uma família cuja filha fora hospitalizada 11 vezes no ano, e outra família cuja mãe tinha câncer. Uau! — Nunca havia me dado conta de que a vida era tão dura para certas pessoas.
Agora, que estamos outra vez às vésperas do Natal, decidimos ajudar três famílias. A parte mais difícil é escolhê-las. Parece haver tantas pessoas que precisam de um pouco de alegria no Natal!
E minha própria lista? A cada ano ela encolhe mais um pouquinho. Estou sempre tão entretido com meus planos de Presenteador Secreto que não sobra muito tempo para pensar em mim mesmo. Há presentes a escolher e estratégias a planejar.
Mas uma coisa é certa: é maravilhoso fazer coisas pelos outros. Nada se iguala ao sentimento que nasce quando vejo a surpresa e o entusiasmo no rosto das pessoas que ajudamos. Doar tornou-se uma de minhas coisas favoritas no Natal.