“Soldado Abatido!”
Esse sentimento de responsabilidade por outras pessoas é o ponto central do serviço fiel no sacerdócio.
Sinto-me grato pela honra e bênção de poder falar ao sacerdócio de Deus. Meu propósito hoje é ajudá-los a ser corajosos e destemidos no serviço do sacerdócio.
Vocês precisam ter coragem e destemor porque fazem parte do exército do Senhor nesta última dispensação. Não estamos em tempo de paz. Estamos em guerra desde que Satanás reuniu suas forças contra o plano do Pai Celestial na existência pré-mortal. Não conhecemos os detalhes da batalha ali travada; mas sabemos qual foi um dos resultados. Satanás e seus seguidores foram expulsos e lançados à Terra. Essa guerra continua desde a criação de Adão e Eva, e vemos que ela se intensificou. As escrituras sugerem que a guerra se tornará ainda mais violenta e que haverá muitas baixas espirituais nas fileiras do Senhor.
Quase todos já viram um campo de batalha mostrado em um filme ou leram a descrição numa história. Em meio às explosões e aos gritos dos soldados, ouve-se alguém clamar: “Soldado abatido!”
Ao ouvir esse grito, os leais companheiros do soldado abatido se dirigem ao local de onde partiu o aviso. Outro soldado ou um oficial médico ignora o perigo e se aproxima do companheiro ferido. O soldado abatido sabe que a ajuda virá. Seja qual for o risco, alguém vai esgueirar-se ou se arrastar-se para chegar até ele a tempo de protegê-lo e oferecer assistência. Isso acontece em qualquer grupo de homens unidos numa missão difícil e perigosa, a qual decidiram cumprir a qualquer custo. As histórias desses grupos estão repletas de relatos de homens leais que tomaram a firme decisão de não deixar ninguém para trás.
Eis um desses relatos oficiais.1 Na guerra da Somália, em outubro de 1993, dois soldados do exército dos Estados Unidos estavam em um helicóptero durante um tiroteio e souberam que dois outros helicópteros foram atingidos e caíram nas redondezas. Os dois soldados, em sua posição relativamente segura, ficaram sabendo pelo rádio que não havia forças terrestres disponíveis para resgatar os tripulantes de um dos helicópteros derrubados. Um número cada vez maior de soldados inimigos se aproximava do local da queda.
Os dois soldados que observavam do alto se ofereceram para descer ao solo (as palavras que usaram foi “ser infiltrados”) a fim de proteger seus companheiros gravemente feridos. Seu pedido foi negado porque a situação era demasiadamente perigosa. Pediram mais uma vez. Novamente a permissão foi negada. Só depois de seu terceiro pedido é que eles foram abaixados até o solo.
Munidos apenas com suas armas portáteis, abriram caminho à força até o local em que os helicópteros haviam caído e onde estavam os soldados feridos. Moveram-se sob intenso tiroteio, à medida que os inimigos convergiam para o local da queda. Tiraram os feridos do meio dos destroços. Colocaram-se em posição defensiva ao redor dos feridos, assumindo as posições mais perigosas. Protegeram seus companheiros até ficarem sem munição, e depois foram mortalmente feridos. Sua coragem e sacrifício salvaram a vida de um piloto que, de outra forma, a teria perdido.
Cada um deles foi condecorado postumamente com a Medalha de Honra, a mais alta condecoração de seu país, por bravura diante de um inimigo armado. A homenagem declarava que eles atuaram “acima e além do chamado do dever”.
Pergunto-me, porém, se eles sentiram isso ao descer para ajudar seus companheiros feridos. Movidos pela lealdade, sentiram-se na obrigação de defender seus companheiros, a qualquer custo. Sua coragem de agir e seu serviço abnegado emanavam do sentimento de que eram responsáveis pela vida, felicidade e segurança dos companheiros.
Esse sentimento de responsabilidade por outras pessoas é o ponto central do serviço fiel no sacerdócio. Nossos companheiros têm sido feridos na batalha espiritual que nos cerca. O mesmo se dá com as pessoas a quem fomos chamados para servir e proteger. As feridas espirituais não são facilmente visíveis, a não ser para olhos inspirados. Mas os bispos, presidentes de ramo e presidentes de missão que entrevistam outros discípulos do Salvador conseguem enxergar os feridos e suas feridas.
Isso vem acontecendo há muitos anos, no mundo inteiro. Lembro-me de um bispo que observava o semblante e a atitude de um rapaz do sacerdócio, quando este pensamento lhe veio à mente, de modo tão claro que quase parecia audível: “Preciso falar com ele — e rápido! Algo está acontecendo. Ele precisa de ajuda”.
Eu jamais ignoraria esse tipo de impressão, porque aprendi que as feridas do pecado frequentemente não são sentidas, a princípio, pela pessoa que se feriu. Satanás às vezes parece injetar um anestésico para amortecer a dor espiritual enquanto inflige o ferimento. A menos que algo aconteça de imediato para iniciar o arrependimento, a ferida pode agravar-se e aumentar.
Consequentemente, como portador do sacerdócio responsável pela sobrevivência espiritual de alguns dos filhos do Pai Celestial, você vai entrar em ação para ajudar, sem esperar que alguém grite: “Soldado abatido!” Pode ser que nem mesmo o melhor amigo, outros líderes, nem os pais do jovem tenham percebido o que você percebeu.
Talvez você seja o único a perceber, por inspiração, o grito de alerta. Os outros podem achar, como você também pode ficar tentado a pensar: “Talvez o problema que pensei ter visto seja apenas imaginação minha. Que direito tenho de julgar as pessoas? Não é minha responsabilidade. Vou deixá-lo em paz até que me peça ajuda”.
Somente um juiz autorizado de Israel recebe o poder e a responsabilidade de verificar se existe um ferimento grave e de explorá-lo; e depois, sob inspiração de Deus, prescrever o tratamento necessário para que a cura tenha início. Mesmo assim você está sob o convênio de procurar os filhos de Deus que estejam espiritualmente feridos e tem a responsabilidade de ser corajoso e destemido e não fugir do dever.
Preciso explicar, da melhor forma possível, pelo menos duas coisas. Primeiro: Por que você tem a responsabilidade de agir para ajudar seu amigo ferido? E segundo: Como você pode cumprir essa responsabilidade?
Primeiro, você está sob convênio, como ficou bem claro, de que, ao aceitar o encargo que lhe foi confiado por Deus ao receber o sacerdócio, você aceitou a responsabilidade por tudo o que fizer ou deixar de fazer pela salvação das pessoas, por mais difícil e perigoso que isso lhe pareça.
Há incontáveis exemplos de portadores do sacerdócio que aceitaram essa séria responsabilidade, como eu e vocês precisamos fazer. Foi assim que Jacó, no Livro de Mórmon, descreveu essa sagrada responsabilidade, ao enfrentar uma situação difícil para prestar auxílio: “Agora, meus amados irmãos, eu, Jacó, de acordo com a responsabilidade que tenho para com Deus de magnificar meu ofício com sobriedade e para livrar minhas vestimentas de vossos pecados, venho hoje ao templo para declarar-vos a palavra de Deus”.2
Você pode argumentar que Jacó era profeta, mas você não é. Mas, seja qual for seu ofício no sacerdócio, ele traz consigo a obrigação de “[erguer] as mãos que pendem e [fortalecer] os joelhos enfraquecidos”3 das pessoas ao seu redor. Você é servo do Senhor, e fez o convênio de fazer pelos outros, da melhor forma possível, o que Ele faria.
Sua grande oportunidade e responsabilidade estão descritas em Eclesiastes:
“Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante.”4
A partir disso, você compreenderá as palavras verdadeiras e inspiradoras de Joseph Smith: “Ninguém, a não ser o tolo, trata com leviandade a alma dos homens”.5 Como Jacó acreditava, o sofrimento de todo ser humano decaído que você poderia ter ajudado — mas não o fez — se tornará seu próprio sofrimento. A sua felicidade e a daqueles a quem você foi chamado para servir como portador do sacerdócio estão interligadas.
Chegamos, então, à questão de como ajudar aqueles a quem vocês foram chamados a servir e resgatar. Isso vai depender de sua capacidade e qual sua posição no sacerdócio em relação à pessoa que está correndo perigo espiritual. Vou apresentar três casos que talvez correspondam a suas oportunidades de prestar serviço no sacerdócio.
Comecemos quando você é um inexperiente companheiro júnior, um mestre no Sacerdócio Aarônico, encarregado de acompanhar um companheiro mais experiente para visitar uma jovem família. Antes de preparar-se para a visita, você ora pedindo forças e inspiração para perceber as necessidades das pessoas e saber que tipo de ajuda pode oferecer a elas. Se puder, você deve fazer uma oração com seu companheiro, mencionando especificamente as pessoas que vão visitar. Ao orar, seu coração se achegará a elas individualmente e a Deus. Você e seu companheiro devem chegar a um acordo sobre o que esperam realizar e elaborar um plano do que fazer.
Seja qual for o plano, você deve observar e ouvir as pessoas com muita atenção e humildade durante a visita. Você é jovem e inexperiente, mas o Senhor ama essas pessoas e conhece sua situação espiritual e necessidades. E, como Ele também conhece você e o enviou para agir em Seu nome, você pode ter plena confiança de que perceberá quais são as necessidades das pessoas a quem visita e o que pode fazer para cumprir a responsabilidade de ajudá-las. Você perceberá isso ao visitá-las em casa e conversar com elas face a face. É por isso que você recebeu a seguinte responsabilidade do sacerdócio, registrada em Doutrina e Convênios: “Visitar a casa de todos os membros, exortando-os a orarem em voz alta e em segredo e a cumprirem todas as obrigações familiares.”6
Além disso, você tem outro encargo que exige ainda maior discernimento:
“O dever do mestre é zelar sempre pela igreja, estar com os membros e fortalecê-los; E certificar-se que não haja iniquidade na igreja nem aspereza entre uns e outros nem mentiras, maledicências ou calúnias;
E certificar-se que a igreja se reúna amiúde e também certificar-se que todos os membros cumpram seus deveres.”7
Você e seu companheiro raramente terão inspiração para saber os detalhes de como as pessoas estão cumprindo esse padrão, mas posso prometer, por experiência própria, que você terá o dom de saber o que está indo bem na vida delas e, assim, poderá incentivá-las. Há outra promessa que posso fazer: você e seu companheiro serão inspirados a saber quais mudanças elas podem fazer para dar início à cura espiritual de que precisam. A inspiração que vocês receberem e as palavras que proferirem certamente conterão algumas mudanças importantes que o Senhor deseja que elas façam.
Se seu companheiro tiver a inspiração de aconselhar uma mudança, observe o que ele fará. Provavelmente você ficará surpreso com o modo pelo qual o Espírito o orientará a falar. A voz dele será cativante e ele encontrará um modo de vincular a mudança necessária a uma bênção. Se for o pai ou a mãe quem precisa fazer uma mudança, talvez ele mostre como isso trará felicidade aos filhos. Ele descreverá a mudança como um afastamento da infelicidade e a conquista de um lugar melhor e mais seguro.
Sua contribuição durante a visita talvez pareça pequena, mas ela pode surtir mais efeito do que você imagina. Seu semblante e atitude mostrarão que você se importa com aquelas pessoas. Elas verão que seu amor por elas e pelo Senhor o torna destemido. E você terá a coragem de prestar testemunho da verdade. Seu testemunho humilde, simples e por vezes breve, pode tocar o coração de uma pessoa mais facilmente do que o testemunho de seu companheiro mais experiente. Já vi isso acontecer.
Seja qual for o papel que você venha a desempenhar nessa visita do sacerdócio, seu desejo de visitar as pessoas em nome do Senhor e ajudá-las resultará em pelo menos duas bênçãos. Primeira: você sentirá o amor de Deus pelas pessoas a quem visita. Segunda: você sentirá como o Salvador é grato por você ter sentido o desejo de ajudar as pessoas naquilo que Ele sabia que elas precisavam.
Ele o enviou àquelas pessoas porque sabia que você as visitaria sentindo a responsabilidade de convidá-las a achegar-se a Ele e a buscar a felicidade.
Ao ficar um pouco mais velho, você terá outra oportunidade em seu serviço no sacerdócio. Você conhecerá muito bem seus companheiros de quórum. Pode ser que jogue futebol ou basquete com eles, ou participem juntos de algumas atividades e de projetos de serviço. Com alguns, você desenvolverá maior amizade.
Você aprenderá a reconhecer quando eles estão felizes ou quando estão tristes. Pode ser que nem você nem seu amigo tenha um cargo de autoridade no quórum, mas você sentirá que é responsável por seu colega no sacerdócio. Talvez ele confidencie a você que está começando a quebrar um mandamento e você sabe que isso o prejudicará espiritualmente. Pode ser que ele lhe peça conselhos, porque confia em você.
Posso dizer, por experiência própria que, se você puder influenciá-lo para que se afaste do caminho perigoso, nunca mais esquecerá a alegria que sentiu por ter agido como um verdadeiro amigo. Se não conseguir, prometo que, quando ele sentir pesar e tristeza, o que certamente acontecerá, você sentirá as dores dele como se fossem suas, mas, se você tentou ajudar, ele ainda será seu amigo. E, na verdade, talvez por muitos anos, ele converse com você sobre as coisas boas que poderiam ter acontecido e sobre quão grato ele se sentiu por você ter-se importado e tentado ajudá-lo. Você vai consolá-lo, então, e convidá-lo novamente, como fez na juventude, para que volte para a felicidade que a Expiação ainda permite que ele tenha.
Mais tarde na vida, você se tornará pai, um pai com o sacerdócio. As coisas que aprendeu, graças aos serviços prestados no sacerdócio para ajudar as pessoas a afastarem-se da tristeza e achegarem-se à felicidade, lhe darão a força que você desejará e precisará ter. Os anos que passou sendo responsável pela alma dos homens vão prepará-lo para ajudar e proteger sua família, a qual você amará mais do que pode imaginar em sua juventude. Você saberá como liderá-los com o poder do sacerdócio para a segurança.
Minha oração é que você tenha alegria em servir no sacerdócio nesta vida e para todo o sempre. Oro para que você desenvolva a mesma coragem e o amor pelos filhos do Pai Celestial que levaram os filhos de Mosias a implorar pela chance de enfrentar a morte e o perigo para levar o evangelho a um povo de coração endurecido. O desejo e a coragem que eles tiveram emanavam de seu senso de responsabilidade pela felicidade eterna de desconhecidos em risco de miséria sem fim.8
Que tenhamos ao menos uma porção do mesmo desejo que Jeová teve, no mundo pré-mortal, quando pediu para descer das esferas de glória a fim de servir-nos e dar Sua vida por nós. Ele rogou ao Pai: “Envia-me”.9
Testifico-lhes que vocês foram chamados por Deus e que foram enviados para servir a Seus filhos. Ele não quer que ninguém fique para trás. O Presidente Monson tem as chaves do sacerdócio no mundo inteiro. Deus dará a vocês inspiração e forças para cumprirem seu encargo de ajudar os filhos Dele a encontrar o caminho da felicidade, o qual é possível, graças à Expiação de Jesus Cristo. Dessas coisas eu testifico, em nome de Jesus Cristo. Amém.