Duas Cartas da Mamãe
Ken Pinnegar, Califórnia, EUA
Em 1996, minha mulher e eu tínhamos dois filhos, de quatro e de sete anos. Éramos uma típica família jovem e atarefada. Numa noite, bem tarde, minha esposa conseguiu escrever uma carta para meu sobrinho, Glen, que na época estava servindo missão na Finlândia.
Por alguma razão, ela sentiu que precisava escrever uma carta longa — repleta de detalhes sobre o que cada membro da família estava fazendo, como estavam espiritualmente, o que estava acontecendo em meu chamado e no chamado dela na Igreja, a história da conversão dela, seus sentimentos sobre a obra missionária e seu testemunho do evangelho.
Era uma carta excelente, mas fiquei me perguntando se meu sobrinho precisava mesmo de tanta informação. Mais tarde, ela escreveu a ele novamente.
Seis anos depois, enquanto eu servia como bispo e nossos filhos tinham 10 e 13 anos, meu mundo de repente virou de cabeça para baixo. Em 2 de janeiro de 2002, minha esposa, com apenas 42 anos de idade, faleceu de um ataque do coração.
Em casa, tentei continuar a seguir os princípios contidos em “A Família: Proclamação ao Mundo”.1 Descobri que eu conseguia presidir e prover o sustento, mas senti que não estava à altura da tarefa de dar a meus filhos o cuidado de que eles precisavam. Mesmo assim, continuamos da melhor maneira possível.
Em junho de 2012, meu filho caçula, Sam, que estava então servindo uma missão de tempo integral na Missão Colorado Denver Sul, me mandou um e-mail. “Algo muito legal aconteceu esta semana”, ele escreveu. “Recebi duas cartas da mamãe.”
Ele explicou que tinha recebido um pacote de seu primo Glen com as cartas que ela lhe tinha escrito enquanto ele estava na Finlândia.
“Ele me disse que aquelas duas cartas que mamãe enviou para ele na missão na verdade foram escritas para mim quando eu estivesse na missão”, escreveu Sam. “Então ele as enviou para mim, e elas foram incríveis!”
Descobrir como foi a conversão de sua mãe, saber do testemunho e dos sentimentos dela quanto à obra missionária foi “um grande apoio moral neste momento”, escreveu Sam. Ele disse que planejava fotocopiar as cartas e enviar para casa as originais.
“Não tinha ideia de que você já tinha servido como presidente do quórum de élderes ou como o líder da missão da ala”, escreveu Sam. Ele ficou sabendo que quando tinha quatro anos de idade, ele “pulava na cama depois das orações e gritava: ‘Eu quero ser um missionário’”.
Então, ele acrescentou algo que ficou sabendo sobre sua mãe: “Mamãe devia saber que eu me tornaria um lutador porque ela disse que eu era capaz de fazer amizade até com o mais sisudo lutador profissional”. :)
Fiquei emocionado com a reação de Sam às cartas. Algumas semanas mais tarde ele as enviou para casa pelo correio. As cartas já eram motivadoras, pessoais e tocantes quando foram escritas em 1996, mas, tendo em vista o que aconteceu nos anos seguintes, elas tinham se tornado ainda mais.
As cartas de minha esposa fortaleceram meu sobrinho, mas assim como ao “[lançar o] pão sobre as águas” (ver Eclesiastes 11:1), elas retornaram anos depois para abençoar seu filho missionário e seu marido viúvo.