O Senhor Tem um Plano para Nós!
Se continuarmos vivendo como estamos vivendo, as bênçãos prometidas irão se cumprir?
Que privilégio poder fazer parte deste momento histórico em que os oradores da conferência geral têm a opção de falar em seu idioma nativo. Na última vez em que falei neste púlpito, eu estava preocupado com o meu sotaque em inglês. Agora, estou preocupado com a velocidade do meu português. Não quero falar mais rápido do que a legenda.
Todos nós já passamos ou ainda passaremos por momentos de grandes decisões em nossa vida. Devo seguir esta carreira ou aquela? Será que devo servir missão? Será que esta é a pessoa certa para mim?
São situações, em diferentes áreas de nossa vida, nas quais uma pequena mudança de rumo poderá trazer grandes consequências futuras. Nas palavras do Presidente Dieter F. Uchtdorf: “Ao longo dos anos em que servi ao Senhor (…), aprendi que a diferença entre a felicidade e a infelicidade para pessoas, casamentos e famílias muitas vezes se resume a um erro — de cálculo — de poucos graus” (“Uma Questão de Poucos Graus”, A Liahona, maio de 2008, p. 57).
Como podemos então evitar estes pequenos erros de cálculo?
Vou usar uma experiência pessoal para ilustrar minha mensagem.
No final dos anos 1980, nossa jovem família era composta por minha esposa, Mônica, por mim e por dois de nossos quatro filhos. Morávamos em São Paulo, Brasil, eu trabalhava em uma boa empresa, tinha concluído os estudos universitários e acabara de ser desobrigado do chamado de bispo da ala onde morávamos anteriormente. A vida estava boa e tudo parecia estar onde deveria estar até que um dia um velho amigo veio nos visitar.
Ao final de sua visita, ele fez um comentário e uma pergunta que abalaram minhas convicções. Ele disse: “Carlos, tudo parece estar bem com você, sua família, sua carreira e seu serviço na Igreja, mas (aí veio a pergunta) se você continuar vivendo como está vivendo, as bênçãos prometidas em sua bênção patriarcal irão se cumprir?”
Eu nunca tinha pensado em minha bênção patriarcal dessa maneira. Eu a lia de vez em quando, mas nunca com a perspectiva de olhar as bênçãos prometidas no futuro e, assim, avaliar como estou vivendo no presente.
Após sua visita, voltei minha atenção à bênção patriarcal: “Se continuarmos vivendo como estamos vivendo, as bênçãos prometidas irão se cumprir?” Depois de algumas ponderações, o sentimento foi de que algumas mudanças eram necessárias, em particular nas áreas educacional e profissional.
Não era uma decisão entre o certo e o errado, mas entre o bom e o melhor, como nos ensinou o Élder Dallin H. Oaks quando disse: “Ao refletirmos sobre várias escolhas, convém lembrar que não basta que algo seja bom. Há outras escolhas melhores, muito boas, e outras melhores ainda, excelentes” (“Bom, Muito Bom, Excelente”, A Liahona, novembro de 2007, p. 104).
Como então podemos assegurar que estamos tomando a melhor decisão?
Eis alguns princípios que aprendi:
Princípio Número Um: Precisamos Avaliar Nossas Opções com o Fim em Mente.
Tomar decisões que podem afetar nossa vida e a das pessoas a quem amamos, sem uma visão mais ampla de suas consequências, pode trazer alguns riscos. Porém, se projetarmos as possíveis consequências dessas decisões para o futuro, poderemos visualizar com mais clareza o melhor caminho a ser tomado no presente.
Entender quem somos, por que estamos aqui e o que o Senhor espera de nós nesta vida, vai ajudar-nos a ter essa visão mais ampliada.
Podemos encontrar alguns exemplos nas escrituras nos quais uma visão mais ampla deixa claro o rumo a ser tomado.
Moisés conversou com o Senhor face a face, aprendeu sobre o plano de salvação e assim entendeu melhor seu papel como o profeta da coligação de Israel.
“E Deus falou a Moisés, dizendo: Eis que eu sou o Senhor Deus Todo-Poderoso. (…)
E mostrar-te-ei as obras de minhas mãos; (…).
E tenho uma obra para ti, Moisés, meu filho” (Moisés 1:3–4, 6).
Com este entendimento, Moisés pôde perseverar durante os muitos anos de tribulações no deserto e liderar Israel em seu retorno ao lar (ver Moisés 1:2–4, 6).
Leí, o grande profeta do Livro de Mórmon, teve um sonho, e em suas visões, entendeu sua missão de levar sua família a uma terra prometida.
“E aconteceu que o Senhor ordenou a meu pai, num sonho, que partisse com a família para o deserto.
(…) E deixou sua casa e a terra de sua herança e seu ouro e sua prata e suas coisas preciosas” (1 Néfi 2:2–4).
Leí se manteve fiel a essa visão, apesar das dificuldades da viagem e da vida confortável que deixaram para trás em Jerusalém (ver 1 Néfi 2:2–4).
O Profeta Joseph Smith é outro grande exemplo. Por meio de muitas revelações, a começar pela Primeira Visão, ele pôde completar sua missão da restauração de todas as coisas (ver Joseph Smith—História 1:1–26).
E quanto a nós? O que o Senhor espera de cada um de nós?
Não precisamos ver um anjo para conseguirmos esse entendimento. Temos as escrituras, o templo, profetas vivos, nossa bênção patriarcal, líderes inspirados e principalmente o direito de recebermos revelação pessoal para assim guiar nossas decisões.
Princípio Número Dois: Precisamos Estar Preparados para os Desafios Que Virão.
Os melhores caminhos a serem percorridos raramente são os mais fáceis. Muitas vezes, é exatamente o contrário. Podemos ver o exemplo dos profetas que mencionei.
Moisés, Leí e Joseph Smith não tiveram uma jornada fácil, apesar de as decisões tomadas serem corretas.
Estamos dispostos a pagar o preço de nossas decisões? Estamos preparados para sairmos de nossa zona de conforto para chegarmos a um lugar melhor?
Voltando à experiência com a minha bênção patriarcal, a conclusão na época foi de que eu deveria buscar educação adicional e concorrer a uma bolsa de estudos em uma universidade americana. Isso significava que, sendo aprovado, iria deixar o emprego onde estava, vender tudo o que tínhamos e vir morar nos Estados Unidos como bolsista por dois anos.
Testes como TOEFL e GMAT foram os primeiros desafios a serem vencidos. Foram três longos anos de preparação, muitos “nãos” e alguns “quases” até ser aceito na universidade. Lembro ainda hoje do telefonema que recebi, no final daquele terceiro ano, da pessoa responsável pela bolsa de estudos.
Ela disse: “Carlos, eu tenho uma boa e uma má notícia para você. A boa é que você está entre os três finalistas neste ano. (Era somente uma vaga naquela época.) A má é que, dos três candidatos, um é filho de uma pessoa importante; o outro é filho de outra pessoa também importante; e você…” Mais do que depressa eu acrescentei: “E eu, que sou
um filho de Deus”.
Felizmente paternidade terrena não era um critério e eu fui aceito naquele ano de 1992.
Somos filhos de um Deus Todo-Poderoso. Ele é nosso Pai, Ele nos ama e tem um plano para nós. Não estamos aqui nesta vida somente para desperdiçar nossos dias, envelhecer e morrer. O Senhor espera que cresçamos, que atinjamos o nosso potencial.
Nas palavras do Presidente Thomas S. Monson: “Cada um de vocês, solteiros ou casados, não importa a idade, tem a oportunidade de aprender e crescer. Expandir o seu conhecimento, tanto intelectual como espiritual, até a completa estatura de seu potencial divino” (“A Grande Força da Sociedade de Socorro”, A Liahona, janeiro de 1998, p. 108).
Princípio Número Três: Precisamos Compartilhar Essa Visão com as Pessoas a Quem Amamos.
Não foram poucas as tentativas de Leí para que Lamã e Lemuel compreendessem o quanto era importante a mudança que estavam iniciando. O fato de não compartilharem a mesma visão de seu pai fez com que murmurassem muito durante a jornada. Néfi, em contrapartida, buscou o Senhor para ver o que seu pai tinha visto.
“E aconteceu que eu, Néfi, depois de ouvir todas as palavras de meu pai referentes às coisas que ele vira numa visão, (…) também desejei ver e ouvir e conhecer essas coisas pelo poder do Espírito Santo” (1 Néfi 10:17).
Com essa visão, Néfi foi capaz, não só de sobrepujar os desafios do caminho, mas também de liderar sua família quando isso se tornou necessário.
É muito provável que, ao decidirmos por rumos diferentes, as pessoas a quem amamos sejam afetadas e algumas, mais do que isso, vão pagar conosco o preço da mudança. O ideal seria que elas visualizassem o que visualizamos e compartilhassem as mesmas convicções. Nem sempre isso é possível, mas quando acontece, torna a jornada muito mais fácil.
Na experiência pessoal que usei como ilustração, sem dúvida, eu precisava ter o apoio da minha esposa. Nossos filhos ainda eram pequenos, sem muito direito a voto. Mas o apoio da minha esposa era essencial. Lembro que no começo, os planos de mudança precisaram ser bem explicados para a Mônica, até o ponto em que ela se sentisse confortável e também comprometida. Essa visão compartilhada fez com que ela não só apoiasse a mudança, mas também se tornasse uma parte essencial para o seu sucesso.
Eu sei que o Senhor tem um plano para nós nesta vida. Ele nos conhece e sabe o que é melhor para nós. Não é pelo fato de tudo estar bem, que não precisamos avaliar de tempos em tempos se não existe algo ainda melhor. Se continuarmos vivendo como estamos vivendo, as bênçãos prometidas irão se cumprir?
Deus vive. Ele é nosso Pai. O Salvador Jesus Cristo vive e eu sei que por meio de Seu Sacrifício Expiatório podemos encontrar forças para vencer nossos desafios do dia a dia. Em nome de Jesus Cristo. Amém.