2015
A Parábola do Semeador
Maio de 2015


A Parábola do Semeador

Cabe a cada um de nós estabelecer as prioridades e fazer as coisas que tornam nosso solo bom e a nossa colheita abundante.

Os temas dos discursos da conferência geral são designados, não por autoridade mortal, mas por inspiração do Espírito. Muitos temas tratam das preocupações mortais que todos temos. Mas, assim como Jesus não ensinou a superar os desafios mortais ou as opressões políticas de Seu tempo, Ele geralmente inspira Seus servos modernos a falar a respeito do que podemos fazer para modificar a vida pessoal a fim de nos preparar para retornar ao lar celestial. Neste final de semana da Páscoa, senti-me inspirado a falar a respeito dos ensinamentos preciosos e atemporais de uma das parábolas de Jesus.

A parábola do semeador faz parte do pequeno grupo de parábolas relatadas nos três Evangelhos sinóticos. Também faz parte de um grupo ainda menor, das parábolas que Jesus explicou a Seus discípulos. A semente mencionada era “a palavra do reino” (Mateus 13:19), “a palavra” (Marcos 4:14), ou “a palavra de Deus” (Lucas 8:11), isto é, os ensinamentos do Mestre e de Seus servos.

Os diferentes solos em que as sementes caíram representam diferentes caminhos em que os mortais recebem e seguem esses ensinamentos. Portanto, as sementes que “[caíram] junto do caminho” (Marcos 4:4) não alcançaram o solo mortal onde poderiam crescer. São como os ensinamentos que caem em corações endurecidos ou despreparados. Não direi mais nada a esse respeito. Minha mensagem se destina àqueles dentre nós que se comprometeram a ser seguidores de Cristo. O que estamos fazendo com os ensinamentos do Salvador no decorrer da nossa vida?

A parábola do semeador nos adverte a respeito das circunstâncias e atitudes que podem impedir qualquer pessoa que tenha recebido a semente da mensagem do evangelho de produzir uma boa colheita.

I. Solo Pedregoso, sem Raiz

“E outra [semente] caiu sobre pedregais, onde não havia muita terra, e nasceu logo, porque não tinha terra profunda; Mas, saindo o sol, queimou-se; e, porque não tinha raiz, secou-se” (Marcos 4:5–6).

Jesus explicou que isso descreve aqueles que “ouvindo a palavra, logo com prazer a recebem”; mas, como “não têm raiz em si mesmos (…), sobrevindo tribulação ou perseguição, por causa da palavra, logo se escandalizam” (Marcos 4:16–17).

O que leva os ouvintes a não terem “raiz em si mesmos”? Essa é a situação dos membros novos que são meramente convertidos pelos missionários ou às muitas características atraentes da Igreja ou ainda aos muitos grandes frutos produzidos pela irmandade da Igreja. Por não estarem enraizados na palavra, quando chega a oposição, podem ser queimados e definhar. E até mesmo os que cresceram na Igreja, os membros antigos, podem se ver na condição de não ter raiz em si mesmos. Conheci alguns deles — membros sem uma conversão firme e duradoura ao evangelho de Jesus Cristo. Se não estivermos enraizados nos ensinamentos do evangelho e se não formos constantes em praticá-los, qualquer um de nós pode desenvolver um coração endurecido, um terreno pedregoso para sementes espirituais.

O alimento espiritual é necessário para a sobrevivência espiritual, especialmente em um mundo que se afasta cada vez mais da crença em Deus e nos conceitos absolutos de certo e errado. A Internet amplifica as mensagens que ameaçam a fé, e, por isso, para ficarmos firmes, precisamos nos expor cada vez mais às verdades espirituais.

Jovens, se esse ensinamento lhes parece muito geral, aqui vai um exemplo específico. Se durante a distribuição dos emblemas do sacramento vocês estiverem enviando mensagens, sussurrando, jogando videogame ou fazendo algo que os prive do alimento espiritual essencial, estarão danificando suas raízes espirituais e tornando-se solo pedregoso. Vocês estarão sujeitos a definhar quando se depararem com tribulações como o isolamento, a intimidação ou a ridicularização. Isso também se aplica aos adultos.

Outro destruidor em potencial das raízes espirituais, acelerado pela tecnologia atual (entre outras coisas), é a visão limitada sobre o evangelho ou a Igreja. Essa visão se detém em uma doutrina ou prática particular ou na visível deficiência de um líder, ignorando a visão mais ampla do plano do evangelho e dos frutos pessoais e comunitários dessa colheita. O Presidente Gordon B. Hinckley fez uma vívida descrição de um dos aspectos dessa visão limitada. Falou a uma plateia da BYU a respeito de comentaristas políticos “ardendo em indignação” em um noticiário a que assistira. “Com astúcia ensaiada, despejaram a acidez de sua injúria e ira. (…) concluiu, “esta é a época e o local de talentosos aproveitadores disfarçados”.1 Em contrapartida, para estarmos firmemente enraizados no evangelho, devemos ser moderados e cuidadosos em fazer críticas, e sempre buscar uma visão mais ampla da majestosa obra de Deus.

II. Espinhos: Cuidados Deste Mundo e os Enganos das Riquezas

Jesus ensinou que “outra caiu entre espinhos e, crescendo os espinhos, a sufocaram e não deu fruto” (Marcos 4:7). Ele explicou que esses são os que “ouvem a palavra; Mas os cuidados deste mundo, e os enganos das riquezas e as ambições de outras coisas, entrando, sufocam a palavra, e fica infrutífera” (Marcos 4:18–19). Essa é certamente uma advertência que deve ser ouvida por todos nós.

Falarei primeiro a respeito dos enganos das riquezas. Onde quer que estejamos em nossa jornada espiritual — seja qual for o nosso estado de conversão — todos somos tentados por isso. Quando atitudes ou prioridades visam somente a aquisição, o uso ou a posse de bens, chamamos a isso materialismo. Tanto já foi dito e escrito a respeito do materialismo que pouco precisa ser acrescentado aqui.2 Os que acreditam no que foi chamado de teologia da prosperidade sofrem devido aos “enganos das riquezas”. A posse de riquezas ou uma renda significativa não é um sinal de graça celeste, assim como sua ausência não é uma prova de desfavor celeste. Quando Jesus disse a um seguidor fiel que ele poderia herdar a vida eterna apenas se desse tudo o que tinha aos pobres (ver Marcos 10:17–24), não identificou o mal na posse de riquezas, mas sim o mal na atitude daquele seguidor em relação a elas. Como todos sabemos, Jesus elogiou o Bom Samaritano, que usou, para servir ao próximo, o mesmo tipo de moedas que Judas usou para trair o Salvador. A raiz de todo mal não é o dinheiro, mas sim, o amor ao dinheiro (ver I Timóteo 6:10).

O Livro de Mórmon nos fala de uma ocasião em que a Igreja de Deus “começou a falhar em seu progresso” (Alma 4:10) porque “o povo da Igreja começava a (…) voltar o coração para as riquezas e para as coisas vãs do mundo” (Alma 4:8). Quem tem abundância de coisas materiais corre o risco de ser espiritualmente “sedado” pelas riquezas e outras coisas do mundo.3 Essa é uma apresentação apropriada para o próximo ensinamento do Salvador.

Os espinhos mais sutis que podem sufocar o efeito da palavra do evangelho em nossa vida são as forças mundanas que Jesus chamou de “cuidados e riquezas e deleites da vida” (Lucas 8:14). Esses são numerosos demais para citar. Mas alguns exemplos serão suficientes.

Certa ocasião, Jesus repreendeu Pedro, Seu apóstolo sênior, dizendo: “[Tu] me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens” (Mateus 16:23; ver também D&C 3:6–7; 58:39). Compreender as coisas dos homens significa colocar os cuidados deste mundo antes das coisas de Deus — em nossas ações, em nossas prioridades e em nosso pensamento.

Rendemo-nos aos “prazeres da vida” (1) quando temos algum vício, que danifica a preciosa dádiva de Deus, o arbítrio; (2) quando somos enganados por distrações triviais, que nos afastam das coisas de importância eterna; e (3) quando temos a mentalidade do direito adquirido, que debilita o crescimento pessoal necessário para qualificar-nos para nosso destino eterno.

Somos vencidos pelos “cuidados (…) da vida” quando ficamos paralisados com medo do futuro, o que nos impede de prosseguir com fé e confiar em Deus e em Suas promessas. Há 25 anos, meu estimado professor da BYU, Hugh W. Nibley, falou sobre os perigos de nos entregarmos aos cuidados do mundo. Perguntaram-lhe, em uma entrevista, se as condições do mundo e o nosso dever de propagar o evangelho tornavam desejável buscar uma maneira de “ser complacente com o mundo em relação ao que fazemos na Igreja”.4

A resposta dele foi: “Tem sido assim por toda a história da Igreja, não é? Aqui você tem de estar disposto a incomodar, você tem de estar disposto a arriscar. É aí que entra a fé (…). Nosso comprometimento deve ser um teste, deve ser difícil, deve ser impraticável, em termos deste mundo”.5

Essa prioridade do evangelho foi afirmada no campus da BYU há apenas alguns meses, por um respeitado líder católico, Charles J. Chaput, arcebispo da Filadélfia. Ao falar sobre os “problemas que as comunidades católicas e SUD enfrentam”, como, por exemplo, “os que se referem ao casamento e à família, à natureza de nossa sexualidade, à santidade da vida humana e à urgência da liberdade religiosa”, ele disse:

“Quero salientar novamente a importância de realmente vivermos o que alegamos crer. Isso precisa ser uma prioridade, não só em nossa vida pessoal e familiar, mas em nossa Igreja, em nossas escolhas políticas, em nossos negócios, na maneira como tratamos os pobres; enfim, em tudo o que fazemos.

Vejam por que é importante”, continuou. “Aprendam com a experiência católica. Nós, católicos, cremos que a nossa vocação é ser o fermento na sociedade. Mas há uma linha tênue entre ser o fermento na sociedade, e ser digerido pela sociedade”.6

A advertência do Salvador quanto aos cuidados deste mundo, que sufocam a palavra de Deus em nossa vida, certamente desafia-nos a fixar nossas prioridades — ter o coração enraizado — nos mandamentos de Deus e na liderança de Sua Igreja.

Os exemplos do Salvador podem levar-nos a pensar nessa parábola como a parábola dos solos. A adequação do solo depende do coração de cada um de nós que recebe a semente do evangelho. Em relação à suscetibilidade aos ensinamentos espirituais, alguns corações estão endurecidos e despreparados, outros estão pedregosos pela falta de uso, e outros, fitos nas coisas do mundo.

III. Caiu em Boa Terra e Deu Fruto

A parábola do semeador termina com a descrição que o Salvador faz da semente que “caiu em boa terra e deu fruto”, em várias medidas (Mateus 13:8). Como podemos nos preparar para ser essa boa terra e produzir essa boa colheita?

Jesus explicou: “E a que caiu em boa terra, esses são os que, ouvindo a palavra, a conservam num coração honesto e bom, e dão fruto com perseverança” (Lucas 8:15). Nós temos a semente da palavra do evangelho. Cabe a cada um de nós estabelecer as prioridades e fazer as coisas que tornam nosso solo bom e a nossa colheita abundante. Devemos esforçar-nos para estar firmemente enraizados e edificados no evangelho de Jesus Cristo (ver Colossenses 2:6–7). Podemos obter essa conversão por meio da oração, do estudo das escrituras, pelo serviço e por partilhar assiduamente do sacramento a fim de termos sempre conosco o Seu Espírito. Devemos também procurar essa vigorosa mudança de coração (ver Alma 5:12–14) que substitui maus desejos e preocupações egoístas pelo amor a Deus e pelo desejo de servir a Ele e a Seus filhos.

Presto testemunho da veracidade dessas coisas e presto testemunho de nosso Salvador, Jesus Cristo, cujos ensinamentos mostram o caminho e cuja Expiação torna tudo possível. Em nome de Jesus Cristo. Amém.

Notas

  1. Gordon B. Hinckley, “Let Not Your Heart Be Troubled” [Não Se Turbe o Vosso Coração], devocional na Universidade Brigham Young, em 29 de outubro de 1974, p. 1; speeches.byu.edu.

  2. Ver, por exemplo, Dallin H. Oaks, Pure in Heart [Puro de Coração], capítulo 5, 1988, pp. 73–87.

  3. Estou em débito com o Élder Neal A. Maxwell por essa imagem memorável (ver “These Are Your Days” [Seu Tempo É Agora], Ensign, outubro de 2004, p. 26).

  4. James P. Bell, “Hugh Nibley, in Black and White” [Hugh Nibley, em Preto e Branco], BYU Today, maio de 1990, p. 37.

  5. Hugh Nibley, “Hugh Nibley, in Black and White” [Hugh Nibley, em Preto e Branco], pp. 37–38.

  6. Charles J. Chaput, “A Carta Magna Faz 800 Anos: Por Que Ela Ainda É Tão Importante”, Primeiras Coisas, 23 de janeiro de 2015, firstthings.com/web-exclusives/2015/01/the-great-charter-at-800; ver também Tad Walch, “Na BYU, Arcebispo Católico Busca Fazer Amigos e Diz Que a Liberdade na América Depende de Pessoas com Princípios Morais”, Deseret News, 23 de janeiro de 2015, deseretnews.com/article/865620233/At-BYU-Catholic-archbishop-seeks-friends-says-US-liberty-depends-on-moral-people.html. O Arcebispo Chaput também disse que “algumas de nossas melhores instituições católicas perderam ou enfraqueceram bastante sua identidade religiosa. (…) Brigham Young é uma Universidade extraordinária (…) por ser um centro de aprendizagem enriquecido por sua identidade religiosa. Jamais percam isso” (“A Carta Magna Faz 800 Anos”).