O Plano de Felicidade
O propósito de toda atividade da Igreja é cuidar para que um homem e uma mulher com seus filhos sejam felizes no lar, selados para toda a eternidade.
Há muitos anos, depois da Segunda Guerra Mundial, eu estava na faculdade. Lá conheci Donna Smith. Por volta daquela época, li que dois dos ingredientes essenciais para um casamento bem-sucedido são um biscoito e um beijo. Achei que era um equilíbrio muito bom.
Eu ia à faculdade pela manhã e depois voltava para Brigham City para trabalhar na oficina mecânica do meu pai à tarde. A última aula de Donna pela manhã era a de economia doméstica. Eu parava junto à porta da sala de aula dela antes de sair. A porta tinha uma janela de vidro fosco, mas, se eu ficasse bem perto do vidro, ela conseguia ver minha sombra do lado de fora. Ela então me passava um biscoito e um beijo. Já sabemos como foi o restante da história. Casamo-nos no Templo de Logan e demos início à grande aventura de nossa vida.
Ao longo dos anos, ensinei com frequência um importante princípio: o propósito de toda atividade da Igreja é cuidar para que um homem e uma mulher com seus filhos sejam felizes no lar e sejam selados para esta vida e para toda a eternidade.
No princípio:
“Os Deuses desceram para organizar o homem a sua própria imagem, para formá-lo à imagem dos Deuses, para formá-los, homem e mulher.
E os Deuses disseram: Abençoá-los-emos. E os Deuses disseram: Faremos com que sejam frutíferos e se multipliquem e encham a terra e subjuguem-na” (Abraão 4:27–28).
E assim iniciou o ciclo da vida humana na Terra quando “Adão conheceu a sua mulher e ela concebeu filhos e filhas; e eles começaram a multiplicar-se e a encher a Terra.
E (…) os filhos e filhas de Adão começaram a dividir-se de dois em dois na terra e (…) também geraram filhos e filhas” (Moisés 5:2–3).
O mandamento de multiplicar-nos e encher a Terra nunca foi revogado. Ele é essencial para o plano de redenção e a fonte da felicidade humana. Ao exercermos esse poder em retidão, podemos achegar-nos ao Pai Celestial e sentir a plenitude da alegria, e até mesmo vivenciar a divindade. O poder de procriação não é uma parte secundária do plano; ele é o plano de felicidade. É o ponto-chave para a felicidade.
O desejo de procriar é constante e muito forte na humanidade. Nossa felicidade na vida mortal, nossa alegria e exaltação dependem de como reagimos a esses desejos físicos persistentes e compulsivos. À medida que o poder de procriação amadurece no início da vida adulta, ocorrem de modo natural alguns sentimentos muito pessoais que diferem de qualquer outra experiência física.
O ideal é que a procriação tenha início com o romance. Embora os costumes variem, esse romance floresce com todos os sentimentos de entusiasmo e expectativa, e, às vezes, até de rejeição, típicos das histórias românticas. Haverá luar e rosas, cartas e canções de amor, poesias, mãos dadas e outras expressões de afeto entre um rapaz e uma moça. O mundo desaparece em torno do casal, e eles vivenciam sentimentos de grande alegria.
E se vocês acham que o pleno arrebatamento do jovem amor romântico é a soma total das possibilidades que emanam da fonte da vida, ainda não viveram para ver a devoção e o reconforto do amor daqueles que estão casados há muito tempo. No matrimônio, o casal é posto à prova por tentações, mal-entendidos, problemas financeiros, crises familiares e enfermidades, mas, ao longo de tudo isso, o amor se torna mais forte. O amor maduro proporciona uma felicidade suprema que os recém-casados nem sequer imaginam.
O verdadeiro amor exige que se reserve até depois do casamento a expressão desse afeto que destrava os sagrados poderes da fonte de vida. Isso significa evitar situações em que o desejo físico possa assumir o controle. O puro amor pressupõe que, somente após o juramento de fidelidade eterna, em uma cerimônia legal e legítima, e de preferência após a ordenança do selamento no templo, é que esses poderes de procriação serão permitidos aos olhos de Deus para a plena expressão do amor. Isso deve ser compartilhado única e exclusivamente com alguém que seja seu cônjuge eterno.
Quando partilhado dignamente, esse processo combina os mais sublimes e elevados sentimentos físicos, emocionais e espirituais associados à palavra amor. Essa parte da vida não tem equivalente em toda a experiência humana. Há de durar eternamente se forem feitos e cumpridos os convênios, “pois [na Casa do Senhor] são conferidas as chaves do santo sacerdócio, para que recebais honra e glória” (D&C 124:34), “glória essa que será uma plenitude e uma continuação das sementes para todo o sempre” (D&C 132:19).
Mas o amor romântico é incompleto, apenas um prelúdio. O amor é nutrido pela chegada dos filhos, que emanam da fonte de vida confiada ao casal no matrimônio. A concepção ocorre no enlace matrimonial entre marido e mulher. Um minúsculo corpo começa a se formar segundo um padrão de magnífica complexidade. Uma criança vem ao mundo no milagre do nascimento, criada à imagem de seu pai e de sua mãe terrenos. Dentro de seu corpo mortal está um espírito capaz de sentir e perceber as coisas espirituais. Adormecido no corpo mortal dessa criança está o poder de gerar descendentes à sua própria imagem.
“O espírito e o corpo são a alma do homem” (D&C 88:15), e há leis espirituais e físicas que devem ser cumpridas se quisermos ser felizes. Há lei eternas, inclusive as que estão relacionadas a esse poder de conceder a vida, as quais foram “irrevogavelmente [decretadas] no céu antes da fundação deste mundo, [e nas quais] todas as bênçãos se baseiam” (D&C 130:20). Trata-se de leis espirituais que definem o padrão moral para a humanidade (ver Tradução de Joseph Smith, Romanos 7:14–15, no Guia para Estudo das Escrituras; 2 Néfi 2:5; D&C 29:34; 134:6). São convênios que unem, selam, salvaguardam e prometem bênçãos eternas.
Alma aconselhou seu filho Siblon a “[fazer] com que todas as [suas] paixões [fossem] dominadas, para que [ele se enchesse] de amor” (Alma 38:12). Dominar significa guiar, direcionar, restringir. Nossas paixões precisam ser controladas. Quando legitimamente usado, o poder de procriação abençoa e santifica (ver Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph F. Smith, 1998, p. 158).
As tentações estão sempre presentes. Como o adversário não pode gerar vida, ele tem inveja de todos os que possuem esse sublime poder. Ele e aqueles que o seguiram foram expulsos, sendo-lhes negado o direito de ter um corpo mortal. “Ele procura tornar todos os homens tão miseráveis como ele próprio” (2 Néfi 2:27). Se puder, vai tentar degradar, corromper e, se possível, destruir esse dom pelo qual podemos, se formos dignos, ter uma descendência eterna (ver D&C 132:28–31).
Se poluirmos nossas fontes de vida ou levarmos outras pessoas a transgredir, haverá penalidades mais “intensas” e “mais difíceis de suportar” (D&C 19:15) do que poderia valer todo o prazer físico obtido.
Ele disse ao filho Coriânton: “Não sabes, meu filho, que essas coisas são uma abominação à vista do Senhor? Sim, mais abomináveis que todos os pecados, salvo derramar sangue inocente ou negar o Espírito Santo?” (Alma 39:5). Não podemos escapar das consequências quando transgredimos.
A única expressão legítima e autorizada dos poderes de procriação é entre marido e mulher, um homem e uma mulher, que são legal e legitimamente casados. Qualquer outra maneira viola os mandamentos de Deus. Não cedam às terríveis tentações do adversário, porque toda dívida de transgressão deverá ser paga até “o último ceitil” (Mateus 5:26).
Não há circunstância na qual se manifestem mais intensamente a generosidade e a misericórdia de Deus do que no arrependimento.
Nosso corpo físico, quando ferido, consegue regenerar-se, às vezes com a ajuda de um médico. Se o ferimento for extenso, porém, em geral permanece uma cicatriz como lembrete da lesão.
No caso de nosso corpo espiritual, a questão é outra. Nosso espírito é lesado quando cometemos erros e pecados. Mas, ao contrário do corpo mortal, quando o processo de arrependimento é total, não restam cicatrizes, graças à Expiação de Jesus Cristo. A promessa é esta: “Eis que aquele que se arrependeu de seus pecados é perdoado e eu, o Senhor, deles não mais me lembro” (D&C 58:42).
Quando falamos do casamento e da vida em família, inevitavelmente pensamos: “E quanto às exceções?” Alguns nascem com limitações e não podem gerar filhos. Algumas pessoas inocentes veem seu casamento ser destruído devido à infidelidade do cônjuge. Outras não se casam e vivem solteiras em retidão.
Por enquanto, ofereço este consolo: Deus é nosso Pai! Todo o amor e toda a generosidade manifestados no pai terreno ideal são magnificados Nele que é nosso Pai e nosso Deus, muito além da capacidade de compreensão da mente humana. Seus julgamentos são justos; Sua misericórdia, sem limites. Seu poder para compensar está além de qualquer comparação terrena. “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (I Coríntios 15:19).
Reverentemente uso agora a palavra templo. Visualizo uma sala de selamento e um altar com um jovem casal ali ajoelhado. Essa sagrada ordenança do templo é muito mais do que um casamento, porque esse matrimônio pode ser selado pelo Santo Espírito da Promessa, e as escrituras declaram que “[herdaremos] tronos, reinos, principados e poderes, domínios” (D&C 132:19). Vejo a alegria que aguarda aqueles que aceitam esse dom sublime e o utilizam dignamente.
A irmã Donna Smith Packer e eu estamos lado a lado no casamento há quase 70 anos. No que se refere à minha esposa, a mãe de nossos filhos, não tenho palavras. O sentimento é tão profundo, e a gratidão, tão vigorosa, que mal consigo me expressar. A maior recompensa que recebemos nesta vida, e na vida futura, são nossos filhos e nossos netos. Quase no fim de nossos dias mortais juntos, sinto-me grato por todo e cada momento em que estou ao lado dela e pela promessa que o Senhor nos fez de que não haverá fim.
Presto testemunho de que Jesus é o Cristo e o Filho do Deus vivo. Ele está à frente da Igreja. Graças à Sua Expiação e ao poder do sacerdócio, as famílias que começam na mortalidade podem permanecer unidas pela eternidade. A Expiação, que pode resgatar cada um de nós, não deixa cicatriz. Isso significa que não importa o que fizemos, onde estivemos, ou como algo aconteceu, se nos arrependermos sinceramente, Ele nos prometeu que o preço seria pago. E quando Ele expiou, isso foi resolvido. Há muitos de nós se debatendo por aí, com sentimento de culpa, sem saber como escapar. Você escapa ao aceitar a Expiação de Cristo, e todo o sofrimento pode se transformar em beleza, amor e eternidade.
Sou muito grato pelas bênçãos do Senhor Jesus Cristo, pelo poder de procriação, pelo poder de Redenção, pela Expiação — a Expiação que pode purificar todas as manchas, não importa quão difícil seja ou quanto tempo leve ou quantas vezes for necessário. A Expiação pode libertá-lo para seguir em frente, de forma pura e digna, para prosseguir no caminho que você escolheu nesta vida.
Presto testemunho de que Deus vive, que Jesus é o Cristo, que a Expiação não é algo geral para toda a Igreja. A Expiação é individual. E se algo do passado ainda o estiver incomodando, mesmo que tenha acontecido há tanto tempo que você mal consiga se lembrar, aplique a Expiação em sua vida. Isso vai purificar sua vida, e você, assim como Ele, não mais se lembrará de seus pecados. Em nome de Jesus Cristo. Amém.