2015
Ainda É Maravilhoso para Você?
Maio de 2015


Ainda É Maravilhoso para Você?

Admirar-se com as maravilhas do evangelho é um sinal de fé. É reconhecer a mão do Senhor em nossa vida e em tudo ao nosso redor.

Minha mulher e eu tivemos o privilégio de criar nossos cinco filhos perto da magnífica Cidade de Paris. Durante esses anos, quisemos oferecer a eles valiosas oportunidades para descobrir as coisas maravilhosas deste mundo. Todos os anos, nossa família fez longas viagens para visitar os monumentos, as maravilhas naturais e os locais históricos mais significativos da Europa. Enfim, depois de passar 22 anos na região de Paris, nós nos preparamos para mudar. Ainda me lembro do dia em que meus filhos vieram até mim e disseram: “Pai, isso é absolutamente vergonhoso! Moramos aqui a vida inteira e nunca fomos à Torre Eiffel!”

Há muitas maravilhas neste mundo. No entanto, às vezes, quando as temos sempre diante de nossos olhos, damos pouco valor a elas. Olhamos, mas na verdade não vemos; ouvimos, mas na verdade não escutamos.

Durante Seu ministério terreno, Jesus disse a seus discípulos:

“Bem-aventurados os olhos que veem o que vós vedes.

Pois vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que ouvis, e não o ouviram”.1

Sempre me perguntei como teria sido viver na época de nosso Salvador. Vocês conseguem se imaginar sentados a Seus pés, sentindo Seu abraço, vendo-O ministrar a outras pessoas? Mesmo assim, muitos que O conheceram não conseguiram reconhecer — “ver” — que o próprio Filho de Deus estava vivendo entre eles.

Também somos privilegiados por viver em uma época extraordinária. Os profetas antigos viram a obra da Restauração como “uma obra maravilhosa (…), sim, uma obra maravilhosa e um assombro”.2 Em nenhuma outra dispensação tantos missionários foram chamados, tantas nações foram abertas para a mensagem do evangelho e tantos templos foram construídos no mundo todo.

Para nós, santos dos últimos dias, maravilhas também ocorrem em nossa vida pessoal. Elas incluem a nossa própria conversão, as respostas que recebemos a nossas orações e as ternas bênçãos que Deus derrama sobre nós diariamente.

Admirar-se com as maravilhas do evangelho é um sinal de fé. É reconhecer a mão do Senhor em nossa vida e em tudo ao nosso redor. Nossa admiração também produz força espiritual. Ela nos dá energia para permanecermos ancorados em nossa fé e para nos envolvermos no trabalho de salvação.

Mas sejamos cautelosos. Nossa capacidade para admirar é frágil. A longo prazo, coisas como a obediência esporádica aos mandamentos, apatia ou até mesmo o cansaço podem nos tornar insensíveis aos mais notáveis sinais e milagres do evangelho.

O Livro de Mórmon descreve um período, muito semelhante ao nosso, que precedeu a vinda do Messias às Américas. Os sinais de Seu nascimento apareceram repentinamente no céu. As pessoas ficaram tão admiradas que se humilharam e quase todas foram convertidas. No entanto, apenas quatro anos mais tarde, “começaram a esquecer os sinais e as maravilhas de que haviam ouvido falar; e admiravam-se cada vez menos com qualquer sinal ou maravilha dos céus, (…) e começaram a duvidar de tudo quanto haviam ouvido e visto”.3

Meus irmãos e irmãs, o evangelho ainda é maravilhoso para vocês? Vocês ainda conseguem ver, ouvir, sentir e se admirar? Ou seus sensores espirituais se encontram no modo de espera? Seja qual for sua situação pessoal, convido-os a fazer três coisas.

Em primeiro lugar, nunca se cansem de descobrir ou redescobrir as verdades do evangelho. O escritor Marcel Proust disse: “A verdadeira viagem da descoberta consiste não em buscar novas paisagens, mas em ter olhos novos”.4 Vocês se lembram da primeira vez que leram um versículo das escrituras e sentiram como se o Senhor estivesse falando a vocês pessoalmente? Vocês se lembram da primeira vez que sentiram a doce influência do Espírito Santo chegar até vocês, talvez até antes de perceberem que era o Espírito Santo? Esses momentos não foram especiais e sagrados?

Devemos ter fome e sede de conhecimento espiritual todos os dias. Essa prática pessoal está alicerçada no estudo, na meditação e oração. Às vezes, podemos ser tentados a pensar: “Não preciso estudar as escrituras hoje; já as li no passado” ou “não preciso ir à igreja hoje; não há nada de novo lá”.

Mas o evangelho é uma fonte de conhecimento que nunca seca. Sempre há algo novo para aprender e sentir a cada domingo, em todas as reuniões e em cada versículo de escritura. Temos fé na promessa de que, se “[buscarmos], (…) [encontraremos]”.5

Em segundo lugar, ancore sua fé nas verdades claras e simples do evangelho. Nossa admiração deve ser enraizada nos princípios fundamentais de nossa fé, na pureza de nossos convênios e ordenanças e nos nossos atos de adoração mais simples.

Uma missionária me contou a história de três homens que ela conheceu durante uma conferência de distrito na África. Eles vieram de um vilarejo isolado, onde a Igreja ainda não tinha sido organizada, mas havia 15 membros fiéis e quase 20 pesquisadores. Por mais de duas semanas, esses homens caminharam a pé, viajando mais de 480 quilômetros por estradas enlameadas por causa da estação chuvosa, para que pudessem assistir à conferência e levar o dízimo dos membros de seu grupo. Eles planejavam permanecer durante uma semana inteira para que pudessem desfrutar o privilégio de tomar o sacramento no domingo seguinte e depois pretendiam voltar de viagem carregando caixas cheias de exemplares do Livro de Mórmon sobre a cabeça para distribuir ao povo de sua vila.

A missionária testificou que fora tocada pelo sentimento de assombro que esses irmãos demonstraram e por seu pleno sacrifício para obter as coisas que ela sempre teve prontamente disponíveis.

Ela se perguntou: “Se me levantasse em uma manhã de domingo no Arizona e percebesse que meu carro não estava funcionando, andaria até a igreja, que fica a apenas alguns quarteirões de minha casa? Ou simplesmente ficaria em casa porque era muito longe ou estava chovendo?”6 Essas são boas perguntas para todos nós refletirmos.

Por fim, eu os convido a buscar e a valorizar a companhia do Espírito Santo. A maioria das maravilhas do evangelho não pode ser percebida por meio de nossos sentidos naturais. São as coisas que o “olho não viu, e o ouvido não ouviu, (…) as [coisas] que Deus preparou para os que o amam”.7

Quando temos o Espírito conosco, nossos sentidos espirituais são acentuados e nossa memória é despertada para que não nos esqueçamos dos milagres e sinais que testemunhamos. Por essa razão, sabendo que Jesus estava prestes a deixá-los, Seus discípulos nefitas oraram fervorosamente “por aquilo que mais desejavam; e desejavam que o Espírito Santo lhes fosse dado”.8

Embora tivessem visto o Salvador com seus próprios olhos e tivessem tocado Suas feridas com as próprias mãos, eles sabiam que seu testemunho poderia definhar se não fosse constantemente renovado pelo poder do Espírito de Deus. Meus irmãos e irmãs, nunca façam nada que arrisque a perda desse maravilhoso e precioso dom — a companhia do Espírito Santo. Busquem-No por meio de oração fervorosa e de uma vida em retidão.

Testifico que o trabalho no qual estamos engajados é “uma obra maravilhosa e um assombro”. Ao seguirmos Jesus Cristo, Deus presta testemunho a nós, “por sinais, e milagres, e várias maravilhas e dons do Espírito Santo, distribuídos por sua vontade”.9 Neste dia especial, presto testemunho de que os assombros e as maravilhas do evangelho estão ancorados no mais grandioso de todos os dons de Deus — a Expiação do Salvador. Esse é o dom perfeito de amor que o Pai e o Filho, unidos em propósito, oferecem a cada um de nós. Assim como a vocês, “Assombro me causa o amor que me dá Jesus; (…) Que assombroso é! Assombroso, sim!”10

Que tenhamos sempre olhos para ver, ouvidos para ouvir e um coração que reconhece os assombros deste evangelho maravilhoso, é minha oração em nome de Jesus Cristo. Amém.

Notas

  1. Lucas 10:23–24.

  2. 2 Néfi 27:26.

  3. 3 Néfi 2:1.

  4. “Marcel Proust”, Guardian, 22 de julho de 2008, theguardian.com/books/2008/jun/11/marcelproust, tradução livre.

  5. Mateus 7:7.

  6. Ver Lorraine Bird Jameson, “The Giants of Kinkondja” [Os Gigantes de Kinkondja] (artigo sobre o site da Área África Sudeste, 2009), web.archive.org/web/20101210013757/http:/www.LDS.co.za/index.php/news-a-events/news/aseanews/91-the-giants-of-kinkondja.

  7. I Coríntios 2:9.

  8. 3 Néfi 19:9.

  9. Hebreus 2:4.

  10. “Assombro Me Causa”, Hinos, nº 112.