As Criancinhas e o Sacramento
O autor mora em Utah, EUA.
Nossos filhos pequenos sentiram que o sacramento era importante para nós. Poderíamos ter feito mais para ajudá-los a ver que também era importante para eles.
Já se perguntou por que permitimos que as crianças não batizadas tomem o sacramento? Será que é apenas para evitar os inevitáveis gritos e contorções quando eles querem um pedaço de pão? Será que é apenas para facilitar a administração da ordenança, para manter a paz?
Não penso assim. Acredito que há motivos mais profundos. Creio que é porque acreditamos que quando diz “todos”, Jesus quer dizer todos. E quando Ele fala a uma multidão, não exclui ninguém.
Quando o Salvador ressuscitado apresentou o sacramento a Seu povo nas Américas, enfatizou que a ordenança tinha um significado especial para os que tinham sido batizados.1 Mesmo assim, ordenou a Seus discípulos “que dessem [o sacramento] à multidão”.2 Essa multidão incluía “criancinhas”.3
Quando os portadores do sacerdócio de hoje proferem as orações sacramentais, pedem ao Pai Celestial que abençoe e santifique o pão e a água “para as almas de todos os que partilharem”.4 Todos. Cada pessoa que partilhar — inclusive cada criança.
Se ao partilhar do pão e da água as crianças recebem esses emblemas como uma bênção para sua alma pura, deve haver um meio de ajudá-las a descobrir significado na ordenança.
Com esse entendimento, relembro os dias em que meus filhos eram pequenos. Minha mulher e eu nos saímos muito bem na tarefa de mantê-los quietos durante a administração do sacramento. Creio que sentiram que o sacramento era importante para nós. Mas poderíamos ter feito mais para ajudá-los a ver que também era importante para eles.
O que poderíamos ter feito? Poderíamos ter lembrado que as criancinhas são capazes de cumprir as promessas feitas na oração sacramental. Elas podem entender a seu próprio modo, pequeno, porém vigoroso, o que significa “sempre lembrar-se” de Jesus. Podem prometer “guardar Seus mandamentos”. Podem até mostrar que estão “dispostas a tomar sobre si o nome” de Cristo, sabendo que em breve terão esse privilégio quando forem batizadas e confirmadas.5
Mas e o que dizer da renovação de convênios? Os líderes da Igreja ensinaram que, quando tomamos o sacramento, renovamos todos os convênios que fizemos com o Senhor.6 As criancinhas não têm nenhum convênio a renovar.
Penso novamente na época em que nossos filhos eram pequenos. Não podíamos tê-los ajudado a relembrar seus convênios, mas poderíamos tê-los ajudado a ansiar por eles. Imagino-me com um filho pequeno numa manhã do Dia do Senhor:
“Quando você fizer 8 anos”, digo, “será batizado e receberá o dom do Espírito Santo. Fará um convênio. O convênio que você vai fazer naquele dia será como as promessas que faz agora ao tomar o sacramento.
Quando eu tomar o sacramento hoje, vou renovar meus convênios batismais, como se eu estivesse fazendo essas promessas de novo. Você estará lá comigo, mas não vai renovar um convênio. Ainda não o fez. Em vez disso, pode praticar como será fazer um convênio. Toda vez que tomar o sacramento, você pode preparar-se para ser batizado e confirmado. Desse modo, estará pronto quando fizer 8 anos”.
Se parecer estranho usar a palavra praticar desse modo, pense no seguinte: num ambiente de reverência, o pai pode ajudar os filhos a prepararem-se para a ordenança do batismo mostrando-lhes como ficarão de pé juntos na água e dizendo quais serão as palavras da oração batismal. Ele não realiza a ordenança nessa ocasião. De certa forma, ajuda seus filhos a praticarem. Desse modo, eles não ficarão preocupados com o que vai acontecer quando entrarem nas águas do batismo. Creio que as mães e os pais também podem ajudar os filhos a praticar como fazer e guardar o convênio batismal. Toda reunião sacramental pode ser uma sagrada sessão prática para as criancinhas quando partilham os emblemas da Expiação do Salvador.
E assim volto para minha pergunta original. Por que permitimos que as criancinhas não batizadas tomem o sacramento? Será que é apenas para “manter a paz”? É claro que não! Ajudamos nossos filhinhos a partilhar o sacramento para que se lembrem do Salvador e tenham a paz Dele — uma paz diferente de tudo o que o mundo pode oferecer.7 Nós os ajudamos a preparar-se para receber essa paz em abundância muitíssimo maior no futuro, quando farão e cumprirão convênios com Ele.