O Padrão Divino da Honestidade
Extraído do discurso intitulado “Honesty—The Heart of Spirituality” [Honestidade: O Cerne da Espiritualidade], proferido na Universidade Brigham Young, em 13 de setembro de 2011. Para o texto integral em inglês, acesse o site speeches.byu.edu.
Para um discípulo de Cristo, a honestidade é um aspecto primordial da espiritualidade.
Deus, o Pai, e Seu Filho, Jesus Cristo, são seres de absoluta, perfeita e completa honestidade e verdade. Somos filhos e filhas de Deus. Nosso destino é tornar-nos semelhantes a Ele. Procuramos ser perfeitamente honestos e verdadeiros como nosso Pai e Seu Filho. A honestidade descreve o caráter de Deus (ver Isaías 65:16), portanto a honestidade está no centro de nosso crescimento espiritual e dos dons espirituais.
Jesus declarou: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida” (João 14:6; ver também João 18:37; D&C 84:45; 93:36).
O Senhor perguntou ao irmão de Jarede: “Crês nas palavras que eu direi?”
O irmão de Jarede respondeu: “Sim, Senhor, eu sei que falas a verdade, porque és um Deus de verdade e não podes mentir” (Éter 3:11, 12).
E nas palavras do próprio Salvador: “Eu sou o Espírito da verdade” (D&C 93:26; ver também o versículo 24). “Digo-vos a verdade” (João 16:7; ver também o versículo 13).
Por outro lado, Satanás é descrito como o pai das mentiras: “E ele tornou-se Satanás, sim, o próprio diabo, o pai de todas as mentiras, para enganar e cegar os homens e levá-los cativos segundo a sua vontade, sim, todos os que não derem ouvidos à minha voz” (Moisés 4:4).
Jesus disse: “O diabo (…) não permaneceu na verdade, porque não há verdade nele; quando fala mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso” (João 8:44; ver também D&C 93:39).
O Salvador constantemente repreendia aqueles que professavam em público acreditar em um princípio, mas não o vivenciavam na prática (ver Mateus 23:27). Elogiava quem vivia sem fingimento (ver D&C 124:15). Conseguem perceber a marcante diferença? De um lado, há a mentira, o engano, a hipocrisia e as trevas. Do outro, estão a verdade, a luz, a honestidade e a integridade. O Senhor faz uma distinção muito clara.
O Presidente Thomas S. Monson ensinou:
“Antigamente os padrões da Igreja e os da sociedade eram em grande parte compatíveis, mas hoje há um grande abismo entre nós, que está se tornando cada vez maior. (…)
O Salvador da humanidade descreveu-Se como alguém que estava no mundo, mas não era do mundo (ver João 17:14; D&C 49:5). Nós também podemos estar no mundo sem ser do mundo, se rejeitarmos conceitos e ensinamentos falsos e permanecermos fiéis ao que Deus ordenou”.1
O mundo nos diz que a verdade e a honestidade são difíceis de definir. O mundo considera engraçado mentir de vez em quando e rapidamente se justifica alegando ser uma mentira “inocente”. O contraste entre o certo e o errado não é tão óbvio, e as consequências da desonestidade são minimizadas.
Para receber constantemente o Espírito da Verdade — o Espírito Santo —, temos que preencher a vida com verdade e honestidade. À medida que nos tornamos completamente honestos, nossos olhos espirituais se abrem a um maior esclarecimento.
Podemos facilmente entender como essa força espiritual amplia nosso aprendizado na sala de aula. Mas será que também conseguimos ver como esse princípio se aplica a decisões vitais sobre como e com quem despendemos nosso tempo e como moldamos nossa vida?
Comprometer-se com a Honestidade Pessoal
Não é possível separar o dom espiritual de veracidade que precisamos e desejamos ter da pessoa honesta e verdadeira que devemos ser. A veracidade que buscamos está vinculada à pessoa que somos. A luz, as respostas espirituais e a orientação celeste estão inseparavelmente ligadas à nossa própria honestidade e veracidade. Grande parte da satisfação duradoura que teremos na vida advirá à medida que elevarmos continuamente nosso comprometimento para com a honestidade pessoal.
Roy D. Atkin contou a seguinte história:
“Após certo número de alunos ter abandonado o curso [em meu] primeiro ano na faculdade, o curso de Odontologia ficou ainda mais competitivo. Todos se empenhavam muito para ficar entre os melhores da turma. À medida que a competição aumentava, alguns alunos decidiram que precisariam colar para se dar bem. Isso me perturbou muito. (…)
Eu sabia que não podia colar. Eu queria estar bem com Deus mais do que desejava tornar-me dentista.
No penúltimo ano, foi-me oferecida uma cópia do exame que seria aplicado numa disciplina muito importante. Obviamente, isso significava que alguns de meus colegas de classe teriam as questões do exame previamente. Recusei a oferta. Quando as provas corrigidas foram devolvidas, a média da classe foi extremamente alta, fazendo com que a minha ficasse bem baixa, em comparação. O professor me chamou para conversar.
‘Roy’, disse ele, ‘você costuma se sair bem nos testes. O que aconteceu?’
‘Professor’, disse-lhe eu, ‘no próximo exame, se o senhor passar um teste que nunca foi dado antes, creio que vai ver que vou me sair muito bem’. Ele não respondeu.
Tivemos outro exame na mesma disciplina. Quando o teste nos foi entregue, ouviram-se resmungos bem audíveis. Foi um teste que o professor nunca tinha aplicado antes. Quando as provas foram devolvidas com as notas, eu havia tirado uma das notas mais altas da classe. Depois disso, todos os testes foram novos”.2
Como somos discípulos de Cristo, o padrão divino da honestidade cresce dentro de nós. No Livro de Mórmon, a admoestação do rei Benjamim de “[despojar-nos] do homem natural” (Mosias 3:19) faz parte de uma conclamação a um senso mais elevado de honestidade e veracidade.
O Apóstolo Paulo aconselhou os efésios: “Que (…) vos despojeis do velho homem, que se corrompe (…) e vos renoveis no espírito da vossa mente”. Em seguida, Paulo nos instou especificamente a tornar-nos um “novo homem” ou uma “nova mulher”: o primeiro passo seria “[deixar] a mentira, e [falar] a verdade cada um com o seu próximo” (ver Efésios 4:22–25; ver também Colossenses 3:9; 3 Néfi 30:2).
Gosto desta definição de honestidade: “Honestidade é ser completamente verdadeiro, reto e justo”. E, também, integridade é “[ter] coragem moral para tornar [nossas] ações compatíveis com [nosso] conhecimento do certo e do errado”.3
O Presidente James E. Faust (1920–2007), Segundo Conselheiro na Primeira Presidência, contou certa vez que se inscreveu para a Escola de Aspirantes a Oficiais do Exército dos Estados Unidos. Ele disse:
“Fui chamado para me apresentar à junta de seleção. Minhas qualificações eram poucas, mas havia feito dois anos de faculdade e concluíra uma missão para a Igreja na América do Sul.
As perguntas que me foram feitas pelos oficiais da banca tomaram um rumo surpreendente. Quase todas se centralizavam em minhas crenças. ‘Você fuma?’ ‘Bebe?’ ‘O que acha de quem fuma e bebe?’ Não tive dificuldade alguma para responder a essas perguntas.
‘Você ora?’ ‘Acredita que um oficial deve orar?’ O oficial que fazia aquelas perguntas era um calejado militar de carreira. Não parecia alguém que orasse com muita frequência. (…) Eu queria muito tornar-me oficial. (…)
Decidi não omitir a verdade. Admiti que orava e que achava que os oficiais poderiam buscar orientação divina, como alguns excelentes generais haviam feito. (…)
Fizeram-me perguntas ainda mais interessantes. ‘Em tempos de guerra, o código moral não deve ser menos rigoroso? O estresse da batalha não justifica que os homens façam coisas que não fariam em situações normais?’
(…) Suspeitava que os homens que me questionavam não viviam de acordo com os padrões que eu aprendera. Passou-me pela cabeça dizer que eu tinha minhas próprias crenças, mas que não queria impô-las aos outros. Mas também me veio à mente o rosto das muitas pessoas a quem eu, como missionário, ensinara a lei da castidade. No final, eu disse simplesmente: ‘Não acredito em um duplo padrão de moralidade’.
Saí da entrevista convencido de que aqueles rígidos militares de carreira (…) me dariam notas bem baixas. Dias depois, quando as notas foram divulgadas, verifiquei com surpresa que eu havia passado. Estava no primeiro grupo de candidatos à Escola de Aspirantes a Oficiais!”
E então o Presidente Faust, dando-se conta de como as pequenas decisões podem ter grandes consequências, disse: “Foi um dos momentos decisivos mais importantes de minha vida”.4
Honestidade, integridade e veracidade são princípios eternos que moldam nossa experiência na mortalidade de maneira significativa e ajudam a determinar nosso destino eterno. Para um discípulo de Cristo, a honestidade é um aspecto primordial da espiritualidade.
Honrar a Palavra
A honestidade engloba todas as partes de nosso cotidiano, mas quero citar alguns exemplos específicos. Quando eu era estudante, lembro-me de quando Dallin H. Oaks, que na época era reitor da Universidade Brigham Young e hoje é membro do Quórum dos Doze Apóstolos, compartilhou esta citação de Karl G. Maeser: “Meus jovens amigos, foi-me perguntado o que quero dizer quando dou minha palavra de honra. Vou dizer-lhes. Coloquem-me na prisão — uma prisão com paredes de pedra muito altas, muito espessas e fincadas no chão — e haverá uma chance, ainda que remota, de que eu consiga fugir. Contudo, se de pé eu for colocado e traçarem uma linha no chão a minha volta e me pedirem minha palavra de honra de que nunca a cruzarei, poderei sair daquele círculo? Não, nunca! Morreria primeiro!”5
Há ocasiões em que honramos compromissos simplesmente por havermos concordado em honrá-los. Haverá situações em sua vida em que vocês serão tentados a desconsiderar um acordo que fizeram. Inicialmente fizeram o acordo por causa de algo que desejavam receber em troca. Mais tarde, devido à mudança de circunstâncias, já não desejam honrar os termos do acordo. Aprendam agora que, quando derem sua palavra, quando fizerem uma promessa, quando assinarem seu nome, sua honestidade e integridade os obrigam a cumprir a promessa, o compromisso, o contrato.
Somos extremamente gratos por vocês “[crerem] em ser honestos” (Regras de Fé 1:13), dizerem a verdade, não colarem nas provas, não plagiarem trabalhos nem enganarem uns aos outros. O Senhor nos diz:
“E a verdade é o conhecimento das coisas como são, como foram e como serão;
E o que for mais ou menos do que isto é o espírito daquele ser iníquo que é um mentiroso desde o princípio” (D&C 93:24–25).
Nossas dificuldades geralmente surgem no “mais ou menos” — as pequenas tentações nas áreas limítrofes da honestidade plena. Quando eu estava no primeiro ano da faculdade, tinha sobre a mesa uma declaração muito citada do Presidente David O. McKay (1873–1970). Ela dizia: “A maior batalha da vida é travada no interior dos silenciosos aposentos da alma”.6
Como vocês acham que o Senhor Se sente quando tomamos decisões difíceis relacionadas à honestidade? Há um imenso poder espiritual em manter-nos verdadeiros e honestos quando as consequências de nossa honestidade talvez pareçam ser uma desvantagem. Cada um de vocês enfrentará decisões assim. Esses momentos decisivos vão pôr à prova sua integridade. Ao escolherem a honestidade e a verdade — quer a situação tenha o desfecho que esperam ou não —, vocês vão se dar conta de que esses momentos decisivos se tornarão pilares fundamentais de força em seu crescimento espiritual.
“Ser Justos na Escuridão”
O Presidente Brigham Young (1801–1877) disse certa vez: “Precisamos aprender a ser justos na escuridão”.7 Uma definição dessa frase é a de que precisamos aprender a ser honestos quando ninguém ficaria sabendo se fôssemos desonestos. Quero instá-los a serem “justos na escuridão”. Escolham o curso que o próprio Salvador escolheria.
O poeta Edgar A. Guest escreveu:
Não quero numa estante do armário guardar
Mil segredos a meu respeito que busco esconder,
Enganando-me a mim mesmo, procurando a vida levar,
Achando que mais ninguém vai deles saber.8
Lembrem-se das belas palavras do Profeta Joseph Smith: “Eu sabia-o e sabia que Deus o sabia, e não podia negá-la nem ousaria fazê-lo; pelo menos eu tinha consciência de que, se o fizesse, ofenderia a Deus e estaria sob condenação” (Joseph Smith—História 1:25).
Somos pressionados a ter sucesso, a tirar notas altas, a encontrar emprego, a conseguir amigos, a agradar às pessoas a nosso redor, a formar-nos na escola. Não permitam que essas pressões prejudiquem seu caráter de honestidade. Sejam honestos quando as consequências lhes parecerem desfavoráveis. Orem por maior honestidade, pensem nas áreas em que o Senhor deseja que sejam mais honestos e tenham a coragem de dar os passos necessários para elevar seu espírito a um nível mais elevado de determinação de serem completamente honestos.
O Presidente Monson nos admoestou: “Que sejamos exemplos de honestidade e integridade, onde quer que estejamos e em tudo o que fizermos”.9 Coloquem esse conselho do profeta do Senhor num lugar onde possam vê-lo com frequência.
O Élder Oaks aconselhou: “Não devemos ser tolerantes com nós mesmos. Devemos ser regidos pelas exigências da verdade”.10 Sejam inflexíveis consigo mesmos. O Salvador disse: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me” (Mateus 16:24).
Termino por onde comecei. Nosso Pai Celestial e Seu Filho são seres de absoluta, perfeita e completa honestidade. Testifico que nosso Pai Celestial e Seu Amado Filho vivem. Eles os conhecem pessoalmente. Eles os amam. Seu destino como filhos ou filhas de Deus é o de tornarem-se semelhantes a Ele. Somos discípulos do Senhor Jesus Cristo. Tenhamos a coragem de segui-Lo.