Liahona
Nutram as raízes, e os ramos crescerão
Novembro de 2024


14:32

Nutram as raízes, e os ramos crescerão

Os ramos do seu testemunho vão se fortalecer à medida que vocês aprofundarem sua fé no Pai Celestial e em Seu Filho Amado.

Uma capela antiga em Zwickau

O ano de 2024 é um marco para mim. Faz 75 anos que fui batizado e confirmado como membro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias em Zwickau, na Alemanha.

Ser membro da Igreja de Jesus Cristo é algo valioso para mim. Fazer parte do povo do convênio de Deus com vocês, meus irmãos e irmãs, é uma das maiores honras que tenho na vida.

Quando penso na minha jornada de discipulado, muitas vezes me lembro da antiga vila em Zwickau, que me traz lembranças queridas da época em que eu frequentava as reuniões sacramentais da Igreja de Jesus Cristo quando era criança. Foi lá que a semente do meu testemunho recebeu seus primeiros nutrientes.

A capela de Zwickau tinha um velho órgão de tubos. Todos os domingos, um rapaz tinha a responsabilidade de levantar e abaixar a pesada alavanca que movimentava os foles que faziam o órgão funcionar. Algumas vezes tive o grande privilégio de ajudar nessa importante tarefa.

Enquanto a congregação cantava os hinos que nós amávamos, eu bombeava com toda a força para que o órgão não parasse. Do local onde se operavam os foles, eu tinha uma visão maravilhosa de belíssimos vitrais; um deles era do Salvador Jesus Cristo e o outro de Joseph Smith no Bosque Sagrado.

Ainda me lembro do sentimento sagrado que eu tinha ao olhar para aqueles vitrais iluminados pela luz do sol enquanto ouvia o testemunho dos membros e os hinos de Sião.

Naquele lugar santo, o Espírito de Deus prestou testemunho à minha mente e ao meu coração destas verdades: Jesus Cristo é o Salvador do mundo. Esta é Sua Igreja. O profeta Joseph Smith viu Deus, o Pai, e Jesus Cristo e ouviu a voz Deles.

No início deste ano, enquanto cumpria uma designação na Europa, tive a oportunidade de voltar a Zwickau. Infelizmente, aquela capela tão querida não existe mais. Foi demolida muitos anos atrás para dar espaço a um grande prédio residencial.

O que é eterno, e o que não é?

Admito ficar triste ao saber que aquela capela tão querida da minha infância agora é só uma lembrança. Era um local sagrado para mim. Mas era só um edifício.

Por outro lado, o testemunho espiritual que obtive do Espírito Santo há tanto tempo não desapareceu. Na verdade, ficou mais forte. As coisas que aprendi na minha juventude sobre os princípios fundamentais do evangelho de Jesus Cristo têm sido meu firme alicerce por toda a vida. O relacionamento de convênio que formei com o Pai Celestial e Seu Amado Filho permaneceu vivo — mesmo depois que a capela de Zwickau foi demolida, e os vitrais, destruídos.

“O céu e a terra passarão”, disse Jesus, “mas as minhas palavras não hão de passar”.

“Porque os montes se moverão, e os outeiros tremerão, porém a minha benignidade não se desviará de ti, e o convênio da minha paz não mudará, diz o Senhor, que se compadece de ti.”

Uma das coisas mais importantes que podemos aprender nesta vida é a diferença entre o que é eterno e o que não é. Uma vez que tenhamos entendido isso, tudo muda — nossos relacionamentos, as escolhas que fazemos e a maneira como tratamos as pessoas.

Para desenvolvermos um testemunho de Jesus Cristo e de Sua Igreja, é fundamental sabermos o que é eterno e o que não é.

Não confundam as raízes com os ramos

O evangelho restaurado de Jesus Cristo, como ensinou o profeta Joseph Smith, “abrange toda [e qualquer porção da] verdade”. Isso não significa que todas as verdades têm o mesmo valor. Algumas verdades são mais importantes, são essenciais e estão na raiz de nossa fé. Outras são apêndices ou ramos — são valiosas, mas apenas se associadas às verdades fundamentais.

O profeta Joseph Smith também disse: “Os princípios fundamentais de nossa religião são o testemunho dos apóstolos e profetas a respeito de Jesus Cristo, que Ele morreu, foi sepultado, ressuscitou no terceiro dia e ascendeu ao céu; todas as outras coisas de nossa religião são meros apêndices disso”.

Em outras palavras, Jesus Cristo e Seu sacrifício expiatório são a raiz do nosso testemunho. Todas as outras coisas são ramos.

Isso não quer dizer que os ramos não são importantes. Uma árvore precisa de ramos. Mas, como o Salvador disse a Seus discípulos: “O ramo de si mesmo não pode dar fruto, se não estiver na videira”. Sem uma conexão com o Salvador — com os nutrientes que se encontram na raiz — o ramo seca e morre.

No que diz respeito a nutrir nosso testemunho de Jesus Cristo, fico pensando se às vezes não confundimos os ramos com as raízes. Esse foi o erro que Jesus observou nos fariseus de Sua época. Eles davam tanta atenção a detalhes relativamente pequenos da lei que acabavam negligenciando o que o Salvador chamou de “o mais importante da lei” — princípios fundamentais como “o juízo, a misericórdia e a fé”.

Quando queremos nutrir uma árvore, não regamos os ramos. Regamos a raiz. Da mesma forma, se quiserem que os ramos do seu testemunho cresçam e deem frutos, nutram a raiz. Se não tiverem certeza de uma doutrina, prática ou de uma parte específica da história da Igreja, busquem esclarecimento com fé em Jesus Cristo. Procurem entender Seu sacrifício por vocês, Seu amor por vocês, Sua vontade em relação a vocês. Sigam a Cristo com humildade. Os ramos do seu testemunho vão se fortalecer à medida que vocês aprofundarem sua fé no Pai Celestial e em Seu Filho Amado.

Por exemplo, se quiserem obter um testemunho mais forte do Livro de Mórmon, concentrem-se no testemunho que ele presta de Jesus Cristo. Observem como o Livro de Mórmon testifica Dele, o que esse livro ensina sobre Ele, e como o livro os convida e inspira a se achegarem ao Salvador.

Se estiverem buscando ter uma experiência mais significativa nas reuniões da Igreja ou no templo, tentem buscar o Salvador nas ordenanças sagradas que recebemos lá. Encontrem o Senhor em Sua casa santa.

Se alguma vez se sentirem estressados ou sobrecarregados com um chamado da Igreja, tentem concentrar seu serviço em Jesus Cristo. Façam com que isso seja uma expressão de seu amor por Ele.

Nutram as raízes e os ramos crescerão. E, com o tempo, eles darão frutos.

Arraigados e edificados Nele

Uma fé vigorosa em Jesus Cristo não é algo que acontece da noite para o dia. Não, neste mundo mortal, são os espinhos e cardos que crescem espontaneamente. A árvore saudável e produtiva da fé exige esforço intencional. E uma parte vital desse esforço é nos certificarmos de que estamos firmemente arraigados em Cristo.

Por exemplo, a princípio, podemos ser atraídos pelo evangelho do Salvador e pela Igreja porque ficamos impressionados com a amabilidade dos membros, pela simpatia do bispo ou pela limpeza da capela. Essas coisas com certeza são importantes para o desenvolvimento da Igreja.

No entanto, se a raiz do nosso testemunho nunca se aprofundar mais do que isso, o que vai acontecer quando mudarmos para uma ala cujo edifício não seja tão bonito, e que os membros não sejam tão acolhedores e o bispo diga algo que nos ofenda?

Aqui está outro exemplo: Não seria razoável esperar que, se guardarmos os mandamentos e formos selados no templo, seremos abençoados com uma família grande e feliz, com filhos inteligentes e obedientes, todos eles permanecerão ativos na Igreja, servirão missão, cantarão no coro da ala e voluntariamente ajudarão na limpeza da capela todos os sábados de manhã?

Sem dúvida espero que isso aconteça em nossa vida. Mas e se não acontecer? Permaneceremos unidos ao Salvador, sejam quais forem as circunstâncias, confiando Nele e no tempo Dele?

Temos que nos perguntar: Meu testemunho se baseia no que eu espero que aconteça em minha vida? Ele depende das ações e atitudes de outras pessoas? Ele está firmemente alicerçado em Jesus Cristo, “arraigado e edificado nele”, sejam quais forem as circunstâncias inconstantes da vida?

Tradições, hábitos e fé

O Livro de Mórmon fala de um povo que “[observava] estritamente as ordenanças de Deus”. Mas apareceu um cético chamado Corior, zombando do evangelho do Salvador, dizendo que são “loucas, vãs e tolas tradições de seus pais”. Corior “[desviou] o coração de muitos, fazendo com que levantassem a cabeça em sua iniquidade”. Mas a outros ele não conseguiu enganar porque, para estes, o evangelho de Jesus Cristo era muito mais do que uma tradição.

A fé é mais forte quando tem raízes profundas na experiência e no compromisso pessoais com Jesus Cristo, sejam quais forem nossas tradições ou o que quer que os outros possam dizer ou fazer.

Nosso testemunho será testado e provado. A fé não é fé se nunca for testada. Ela não pode ser forte se nunca tiver sido confrontada. Portanto, não se desesperem se forem provados em sua fé ou tiverem perguntas sem resposta.

Não devemos esperar entender tudo antes de agirmos. Isso não é fé. Como Alma ensinou: “Fé não é ter um perfeito conhecimento das coisas”. Se esperarmos para agir só depois de termos todas as nossas perguntas respondidas, estaremos limitando extremamente o bem que podemos realizar e limitando o poder da nossa fé.

A fé é bela porque persiste mesmo quando não recebemos as bênçãos que esperávamos. Não podemos ver o futuro, não temos todas as respostas, mas podemos confiar em Jesus Cristo à medida que progredimos, porque Ele é o nosso Salvador e Redentor.

A fé supera as provações e as incertezas da vida porque está firmemente arraigada em Cristo e em Sua doutrina. Jesus Cristo e nosso Pai Celestial que O enviou constituem juntos o único elemento firme e perfeito em que podemos depositar nossa confiança.

Testemunho não é algo que você constrói uma vez e ele dura para sempre. Ele é mais como uma árvore que nutrimos constantemente. Plantar a palavra de Deus em seu coração é só o primeiro passo. Quando nosso testemunho começa a crescer, é aí que o trabalho começa! É aí que você “[trata] dela com muito cuidado, para que crie raiz, para que cresça e dê frutos”. Cultivar a palavra exige “grande esforço” e “paciência”. Mas as promessas do Senhor são certas: “Então, meus irmãos, colhereis a recompensa de vossa fé e de vossa diligência e paciência e longanimidade, esperando que a árvore vos dê fruto”.

Meus queridos irmãos e irmãs, meus queridos amigos, uma parte de mim sente falta da velha capela de Zwickau e de seus vitrais. Mas nos últimos 75 anos, Jesus Cristo me guiou em uma jornada pela vida que tem sido muito mais emocionante do que eu poderia imaginar. Ele tem me consolado em minhas aflições, tem me ajudado a reconhecer minhas fraquezas, curado minhas feridas espirituais e nutrido minha crescente fé.

É minha oração e bênção sinceras que constantemente nutramos as raízes da nossa fé no Salvador, em Sua doutrina e em Sua Igreja. Presto testemunho disso no sagrado nome de nosso Salvador, nosso Redentor e nosso Mestre — em nome de Jesus Cristo, amém.

Notas

  1. O ano de 2024 também marca 30 anos desde que fui chamado como autoridade geral e 25 anos desde que nossa família se mudou da Alemanha para os Estados Unidos para cumprir meu chamado. E há quase 20 anos, em 2 de outubro de 2004, fui apoiado como membro do Quórum dos Doze Apóstolos e uma testemunha especial “do nome de Cristo no mundo todo” (Doutrina e Convênios 107:23).

  2. De certa forma, meus sentimentos em relação àquela capela é como o que o povo de Alma sentiu com respeito às Águas de Mórmon — era um lugar lindo para eles porque “ali vieram a ter conhecimento do seu Redentor” (Mosias 18:30).

  3. Mateus 24:35; ver também Joseph Smith—Mateus 1:35.

  4. Isaías 54:10; ver também 3 Néfi 22:10.

  5. O presidente Thomas S. Monson ensinou essa mesma verdade nestas palavras: “Creio que, entre as maiores lições que devemos aprender nesta breve jornada na Terra, estão as lições que nos ajudam a distinguir o que é importante daquilo que não é. Peço a vocês que não deixem as coisas mais importantes passarem” (“Alegria na jornada”, A Liahona, novembro de 2008, p. 85). De modo semelhante, quando o presidente Russell M. Nelson recentemente nos incentivou a “pensar celestial”, ele disse: “A mortalidade é um curso de mestrado em que aprendemos a escolher as coisas de maior importância eterna” (“Pensem celestial!”, Liahona, novembro de 2023, p. 117).

  6. Ver Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith, 2007, p. 276; ver também Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Brigham Young, 1997, p. 21.

  7. Ensinamentos: Joseph Smith, pp. 52–53.

  8. João 15:4.

  9. Mateus 23:23.

  10. Não é interessante notar as semelhanças arqueológicas entre as culturas americanas e os povos do Livro de Mórmon? Pode ser. Não seria útil conhecer os relatos dos escreventes e outras pessoas com respeito aos detalhes de como Joseph Smith traduziu o Livro de Mórmon? Para alguns, sim. Mas nada disso constituiu um testemunho duradouro do Livro de Mórmon e da palavra de Deus. Para tanto, você precisa encontrar o Salvador no Livro de Mórmon e ouvir Sua voz falando com você. Uma vez que isso aconteça, não vai fazer diferença para você onde a cidade de Zaraenla realmente se localizava ou como eram o Urim e Tumim. Essas coisas são ramos que podem ser cortados da árvore se necessário, mas a árvore permanecerá.

  11. Ver Doutrina e Convênios 84:19–20.

  12. Ver Joy D. Jones, “Por causa Dele”, Liahona, novembro de 2018, p. 50.

  13. Ver Gênesis 3:18.

  14. O presidente Nelson fez um convite a todos nós de “[assumirmos] a responsabilidade por [nosso] próprio testemunho de Jesus Cristo e de Seu evangelho. Esforcem-se para obtê-lo. Cultivem-no para que ele cresça”. “Vencer o mundo e encontrar descanso”, Liahona, novembro de 2022, p. 98.

  15. Colossenses 2:7.

  16. Alma 30:3.

  17. Ver Alma 30:12–16, 31.

  18. Alma 30:18.

  19. É interessante que os argumentos de Corior não foram de forma alguma eficazes em convencer os lamanitas, o povo de Amon (ver Alma 30:19–20), que não estavam seguindo a Cristo por causa das tradições de seus pais.

    Por outro lado, o Livro de Mórmon também fala de uma geração de jovens que quis se afastar da Igreja do Senhor porque “não acreditavam nas tradições de seus pais” (ver Mosias 26:1–4). É bom que as famílias criem tradições. Mas também é igualmente importante que as famílias entendam claramente o porquê por trás das tradições. Por que oramos todas as manhãs e todas as noites? Por que estudamos as escrituras em família? Por que fazemos noites familiares toda semana, atividades e projetos em família etc.? Se nossos filhos compreenderem como essas tradições nos aproximam mais do Pai Celestial e de Jesus Cristo, provavelmente eles vão dar continuidade a elas — e melhorá-las — na família deles.

  20. Alma 32:21. A fé é algo poderoso, não por causa do que ela nos faz saber, mas porque ela nos faz agir.

  21. Ver Hebreus 10:23.

  22. Alma 32:37, 41–43.