Capítulo 7
“Religião Pura”
Zelar e Ministrar por Meio das Professoras Visitantes
Quando estava na Terra, Jesus Cristo nos mostrou como devemos viver. “Na Terra o Mestre nos mostrou”, escreveu a irmã Eliza R. Snow.1 Ele nos mostrou como ministrar — como zelar e fortalecer uns aos outros. Ele ministrava individualmente às pessoas, uma a uma. Ensinou que devemos deixar as noventa e nove para salvar uma que se desgarrou.2 Ele curava e ensinava as pessoas individualmente, chegando até a passar um tempo com cada pessoa de uma multidão de 2.500 indivíduos, permitindo que cada uma delas recebesse um testemunho pessoal de Sua divindade.3
O Salvador chamou Seus discípulos para trabalharem com Ele em Seu ministério, dando-lhes a oportunidade de servir outros e de tornar-se semelhantes a Ele. Na Sociedade de Socorro, cada irmã tem a oportunidade de zelar e fortalecer as outras irmãs, uma a uma, por meio do trabalho das professoras visitantes. A irmã Julie B. Beck, a décima quinta presidente geral da Sociedade de Socorro, disse: “Por seguirmos o exemplo e os ensinamentos de Jesus Cristo, valorizamos essa sagrada atribuição de amar, conhecer, servir, compreender, ensinar e ministrar em Seu nome”.4
Início do Trabalho de Professoras Visitantes: Coletar Doações e Organizar o Serviço
“Tenhamos compaixão uns pelos outros e que os fortes cuidem ternamente dos fracos até que se fortaleçam. Aqueles que enxergam devem guiar os cegos até que possam encontrar o caminho por si mesmos.”
Brigham Young
Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Brigham Young, 1997, p. 219
Em 1843, à medida que a população de Nauvoo, Illinois, crescia, os santos dos últimos dias que moravam na cidade foram divididos em quatro alas. Em uma reunião realizada no dia 28 de julho daquele ano, as líderes da Sociedade de Socorro nomearam um comitê de visitas para cada ala composto por quatro irmãs. As responsabilidades mais visíveis do comitê de visitas eram avaliar as necessidades e coletar doações.
As doações incluíam dinheiro, alimento e roupas. A cada semana, os comitês de visita entregavam as doações que haviam coletado à tesoureira da Sociedade de Socorro. A Sociedade de Socorro usava essas doações para oferecer auxílio e ajuda aos necessitados.
No cumprimento dessa responsabilidade, uma irmã expressou sua crença de que “nossa salvação depende de nossa generosidade para com os pobres”. Outra irmã concordou, declarando: “O Senhor confirma isso repetidas vezes. Ele Se deleita com nossos atos de caridade”.5
Essa prática ainda continuou por um bom tempo durante o século XX. Geralmente as irmãs que ficavam encarregadas das visitas levavam consigo cestas e recolhiam coisas como fósforos, arroz, fermento em pó e conservas de frutas. A maioria das doações eram usadas para ajudar nas necessidades locais, mas algumas eram usadas para atender a pessoas necessitadas que moravam a milhares de quilômetros dali. Por exemplo: após a Segunda Guerra Mundial, as irmãs da Sociedade de Socorro dos Estados Unidos coletaram, selecionaram, remendaram e embalaram mais de 500.000 peças de roupa e as enviaram para a Europa.
Além de coletar doações, os comitês de visita avaliavam as necessidades dos lares que visitavam. Relatavam suas observações às líderes da Sociedade de Socorro, que organizavam o trabalho de ajuda.
O Presidente Joseph F. Smith, sexto Presidente da Igreja, contou sobre uma ocasião em que viu as irmãs da Sociedade de Socorro oferecerem abnegado amor cristão a uma família:
“Há pouco tempo tive o privilégio de visitar uma de nossas colônias em uma distante estaca de Sião, onde havia muitas pessoas doentes na época. Embora tivéssemos viajado por muitos dias e chegado à colônia tarde da noite, foi-nos pedido que acompanhássemos o presidente em uma visita a alguns dos doentes. Encontramos uma pobre irmã acamada, em condições muito graves. Seu pobre marido estava sentado ao lado da cama, tomado de ansiedade pelo estado da mulher, que era mãe de várias crianças que se apinhavam ao redor da cama. A família parecia ser muito pobre.
Uma boa mulher com ar maternal logo chegou à casa, levando uma cesta com alimentos nutritivos e alguns doces para a família aflita. Ao perguntarmos quem era, ficamos sabendo que ela havia sido designada pela Sociedade de Socorro da ala a cuidar daquela mulher doente durante a noite. Ela estava preparada para cuidar dos filhinhos, providenciar para que se lavassem adequadamente, que fossem alimentados e colocados na cama; limpar a casa e fazer tudo para que a mulher enferma e sua família tivessem o máximo de conforto possível. Também ficamos sabendo que outra boa irmã seria designada a substituí-la no dia seguinte; e assim por diante, dia após dia, aquela pobre e aflita família recebeu os mais gentis cuidados e atenção das irmãs da Sociedade de Socorro até que a boa saúde viesse aliviar a enferma de seus sofrimentos.
Também ficamos sabendo que aquela Sociedade de Socorro era tão organizada e disciplinada que todos os enfermos da colônia estavam recebendo atenção semelhante e ministrações para seu consolo e alívio. Nunca tinha visto um exemplo tão claro da utilidade e beleza dessa grande organização como aquele que testemunhei, e pensei que coisa gloriosa foi o Senhor ter inspirado o Profeta Joseph Smith a estabelecer uma organização assim na Igreja”.6
O Trabalho das Professoras Visitantes Como Ministração Espiritual
Embora as professoras visitantes sempre cuidassem das necessidades materiais das pessoas e famílias, elas também tinham um propósito maior. A irmã Eliza R. Snow, segunda presidente geral da Sociedade de Socorro, ensinou: “Considero o cargo de professora elevado e sagrado. Espero que as irmãs não pensem que ele consista apenas em pedir doações para ajudar os pobres. É preciso que estejam cheias do Espírito de Deus, de sabedoria, de humildade, de amor, para que, caso não tenham nada para doar, as pessoas não temam sua visita”.
A irmã Snow esperava que as irmãs “percebessem uma diferença na casa delas” depois de uma visita.7 Ela aconselhou as professoras visitantes a preparar-se espiritualmente antes de visitar os lares para que pudessem conhecer e atender às necessidades espirituais e temporais: “A professora (…) deve estar em sintonia com o Espírito do Senhor de tal maneira que, ao entrar em uma casa, reconheça o espírito presente ali. (…) Roguem perante Deus e o Espírito Santo para que tenham [o Espírito] de modo que possam atender ao espírito predominante naquela casa (…) e sentirão se devem falar palavras de paz e consolo, e caso encontrem a irmã passando frio, tomem-na em seu coração como tomariam uma criança no colo para aquecê-la”.8
Sarah M. Kimball, que foi presidente da Sociedade de Socorro de ala no final da década de 1860, compartilhou um conselho semelhante com as irmãs de sua ala: “É dever das professoras visitar suas [irmãs designadas] uma vez por mês, para saber da prosperidade e felicidade dos membros. É seu dever falar palavras de sabedoria, consolo e paz”.9 As líderes da Sociedade de Socorro enfatizaram que as professoras visitantes deviam “não apenas fazer coletas, mas também ensinar e expor os princípios do evangelho”.10 Em 1916, foi formalmente pedido às professoras visitantes que abordassem um tópico do evangelho a cada mês, além de prestar serviço temporal. Em 1923, a presidência geral da Sociedade de Socorro introduziu mensagens mensais a serem ensinadas por todas as professoras visitantes.
“O Renascimento do Programa de Professoras Visitantes” — “Uma Bela Experiência para as Mulheres”
Em 1944, oito anos após a implementação do plano de bem-estar da Igreja (ver capítulo 5), a irmã Amy Lyman Brown, oitava presidente da geral Sociedade de Socorro, começou a questionar a responsabilidade costumeira das professoras visitantes de recolher donativos. Depois de estudar o assunto, ela e suas conselheiras recomendaram ao Bispado Presidente que “a questão da coleta de fundos (…) deve ser decidida pelas Autoridades Gerais da Igreja, em vez de pela Sociedade de Socorro”.
O Bispo Presidente LeGrand Richards levou a recomendação para a Primeira Presidência. Mais tarde, ele relatou que a Primeira Presidência e o Bispado sentiam que era “aconselhável que a Sociedade de Socorro interrompesse a coleta de fundos de caridade pelas professoras visitantes”.11
A irmã Belle S. Spafford, que na época era a segunda conselheira da irmã Lyman, compartilhou um relato pessoal dessa mudança no programa de professoras visitantes:
“As Autoridades Gerais disseram: ‘Não haverá mais coleta de fundos de caridade pelas professoras visitantes da Sociedade de Socorro. Vocês se tornarão uma organização de serviço, e não uma organização de financiamento de auxílio de caridade’.
(…) Lembro-me muito bem de estar em uma reunião com membros da presidência da Sociedade de Socorro e a secretária e duas ou três integrantes da junta, quando uma das irmãs disse: ‘Eles anunciaram o fim do programa das professoras visitantes. Se elas não podem fazer coletas para os pobres, quem irá de porta em porta apenas para fazer uma visita?’ (…) Eu me manifestei, dizendo: ‘Não creio que seja o prenúncio do fim. Creio que seja o renascimento do programa das professoras visitantes. E creio que um número incontável de irmãs que se recusavam a servir como professoras visitantes agora ficarão felizes em fazer uma visita carinhosa para observar as condições do lar em que haja necessidades, sem fazer uma investigação de bem-estar social; sem sentirem que estão mendigando dinheiro. Elas saberão que estarão indo para edificar o espírito do lar. E será uma bela experiência para as mulheres que precisam disso. (…) Não creio de modo algum que esse seja o anúncio do fim do programa de professoras visitantes’.
Isso se comprovou. Dali em diante, o programa começou a florescer e as mulheres, que antes não participavam, pediram para ser professoras visitantes”.12
Mais tarde, a irmã Spafford foi a nona presidente geral da Sociedade de Socorro. Ela viu inúmeros exemplos do bem que o programa das professoras visitantes pode levar para a vida de todas as irmãs da Sociedade de Socorro. Ela testificou:
“Parte desse excelente trabalho é alcançado porque nossas professoras visitantes e nossas presidentes da Sociedade de Socorro vão sob o espírito de seu chamado e são emissárias da Sociedade de Socorro. (…) São mães, e têm o entendimento humano de outras mulheres e de seus sofrimentos. Portanto, não devemos restringir nosso conceito de bem-estar social para os famintos ou para os pobres. O Salvador nos disse para lembrar-nos dos pobres de espírito, não foi? E acaso os ricos não ficam doentes, assim como os pobres, e será que não têm dificuldade para encontrar uma enfermeira? (…) Isso é o que a Sociedade de Socorro deve fazer. Eu poderia contar-lhes história após história sobre ocasiões em que as professoras visitantes fizeram um excelente trabalho para aliviar os problemas de um lar, simplesmente cumprindo o seu chamado”.13
Um Privilégio, um Dever e um Compromisso: Compartilhar a Visão das Professoras Visitantes em Todo o Mundo
O Presidente Henry B. Eyring, conselheiro na Primeira Presidência, testificou que o programa de professoras visitantes faz parte do plano do Senhor para prover ajuda às pessoas do mundo todo:
“O único sistema que poderia prover auxílio e consolo em uma Igreja tão grande e em um mundo tão variado seria por meio do serviço individual a pessoas necessitadas que estejam mais próximas. O Senhor sabia que seria assim, em vista do início que teve a Sociedade de Socorro.
Ele estabeleceu um padrão. Duas irmãs da Sociedade de Socorro aceitam o chamado do Senhor de visitar uma terceira irmã. Isso foi assim desde o início. (…)
As irmãs da Sociedade de Socorro sempre tiveram a confiança dos pastores locais do sacerdócio. Todo bispo e todo presidente de ramo tem uma presidente da Sociedade de Socorro na qual pode confiar. Ela tem professoras visitantes que conhecem as provações e as necessidades de cada irmã. Por meio delas, a presidente pode conhecer o coração das pessoas e das famílias. Ela pode atender a necessidades e ajudar o bispo em seu chamado de nutrir pessoas e famílias.”14
Conforme observou o Presidente Eyring, o programa de professoras visitantes condiz totalmente ao crescimento mundial da Igreja. Por meio de um sistema que cuida das irmãs e zela por elas, toda mulher santo dos últimos dias tem a oportunidade de ser um instrumento nas mãos do Senhor.
As irmãs da Sociedade de Socorro trabalham diligentemente para estabelecer o programa de professoras visitantes no mundo todo. Por exemplo: quando a Igreja era nova no Brasil, a maioria dos ramos não tinha uma Sociedade de Socorro nem o conhecimento sobre como estabelecê-la. Como as líderes locais não conheciam a Sociedade de Socorro, William Grant Bangerter, presidente da missão na época, chamou sua mulher, Geraldine Bangerter, para ser a presidente da Sociedade de Socorro da missão. Ela não conhecia o país, não tinha aprendido a falar a língua e acabara de dar à luz seu sétimo filho. Mesmo assim, começou a trabalhar com suas conselheiras e uma secretária. Com a ajuda das missionárias que atuavam como intérpretes, aquelas irmãs decidiram que “a primeira coisa que precisavam fazer era ensinar as mulheres a visitar umas às outras e conhecer suas necessidades. Por isso, disseram: ‘Vamos ensinar-lhes o programa de professoras visitantes’. (…)
Decidiram começar com um pequeno ramo [de] São Paulo, na parte industrial da cidade, cujos habitantes eram em sua maioria pobres. A presidência convocou algumas irmãs daquele ramo, dizendo: ‘Encontrem-nos hoje à noite no seguinte horário no prédio que alugamos’”.
A irmã Bangerter e uma de suas conselheiras “atravessaram de carro uma cidade de doze milhões de habitantes. Chegaram ao ramo, onde (…) havia sete mulheres humildes”.
Depois que as irmãs deram início à reunião com um hino e uma oração, uma das conselheiras da irmã Bangerter ficou de pé e começou a ensinar sobre as professoras visitantes. “Ela segurava um papel que tremia em sua mão, de tão nervosa que estava. Ela ficou de pé e leu sua mensagem, que durou cinco minutos.
Depois se sentou, e todas olharam para a [irmã Bangerter], que disse: ‘Não falo português’. Mas as irmãs queriam que ela lhes ensinasse. Ninguém na sala falava inglês. Ela se levantou e disse tudo o que sabia em português. Foi um parágrafo de quatro frases:
‘Eu sei que Deus vive.’
‘Eu sei que Jesus é o Cristo.’
‘Eu sei que esta é a igreja verdadeira.’
‘Em nome de Jesus Cristo, amém.’
Essa foi a primeira reunião da Sociedade de Socorro realizada naquele ramo: um discurso de cinco minutos sobre o programa de professoras visitantes por uma irmã que nunca tivera uma professora visitante, nunca vira uma professora visitante e nunca tinha sido uma professora visitante, [seguido de] um testemunho do evangelho.
(…) A partir daquele pequeno grupo e de outros semelhantes, cresceu um exército maravilhoso, vibrante e cheio de fé exercida por mulheres no Brasil. São líderes talentosas, instruídas, inteligentes e fabulosas, que jamais seriam o que são sem o evangelho de Jesus Cristo e sua fé.”15
O programa de professoras visitantes tornou-se para as mulheres santos dos últimos dias do mundo todo um instrumento para amar, nutrir e servir — para “agir de acordo com essa compreensão plantada por Deus em seu coração”, como Joseph Smith ensinou.16
Professoras visitantes dedicadas atendem ao chamado dos profetas modernos para prestar serviço cristão. O Presidente Spencer W. Kimball, décimo segundo Presidente da Igreja, ensinou: “Deus está ciente de nós e zela por nós. Mas geralmente é por intermédio de outra pessoa que Ele atende a nossas necessidades. Portanto, é fundamental que sirvamos uns aos outros no reino”.17 O Presidente Thomas S. Monson, o décimo sexto Presidente da Igreja, disse: “Estamos cercados de pessoas que necessitam de nossa atenção, nosso incentivo, nosso apoio, nosso consolo e nossa bondade. (…) Somos as mãos do Senhor aqui na Terra, com o encargo de servir e edificar Seus filhos. Ele precisa de cada um de nós”.18
As Professoras Visitantes Hoje: Esforço Contínuo para Seguir Jesus Cristo
A história das professoras visitantes continua na vida das irmãs do mundo todo à medida que as mulheres santos dos últimos dias cumprem o convênio de seguir Jesus Cristo. O Presidente Dieter F. Uchtdorf, conselheiro na Primeira Presidência, disse: “Vocês, magníficas irmãs, servem ao próximo com compaixão por razões muito superiores ao desejo de obter benefício próprio. Ao fazê-lo, estão imitando o Salvador que, embora sendo Rei, não procurou destaque, nem Se preocupou se era notado ou não. Não Se preocupava em competir com os outros. Seu pensamento estava sempre focado em ajudar os outros. Ele ensinava, curava, conversava com os outros e ouvia-os. Ele sabia que a grandeza nada tinha a ver com sinais externos de prosperidade ou destaque. Ele ensinou e viveu a própria doutrina: ‘O maior dentre vós será vosso servo’”.19
Ao longo dos anos, as irmãs aprenderam que o programa de professoras visitantes exige comprometimento, dedicação e sacrifício. Aprenderam que precisam do Espírito para dirigir suas visitas. Viram o poder que advém de ensinar a verdade e prestar testemunho, oferecendo ajuda temporal com amor, estando dispostas a chorar com as que choram, oferecer consolo e ajudar a carregar os fardos de suas irmãs.
Comprometimento, Dedicação e Sacrifício
“Quem poderia imaginar os incontáveis atos de caridade que foram realizados, todo o alimento que foi colocado em mesas vazias, a fé que foi nutrida nas horas desesperadoras de enfermidade, as feridas que foram tratadas, as dores que foram aliviadas por mãos amorosas e palavras serenas e confortadoras, o consolo nas horas de luto e solidão?”
Gordon B. Hinckley
Ensign, março de 1992, p. 4
O Presidente Kimball salientou que as professoras visitantes precisam de total comprometimento e dedicação. Ele disse: “Em muitos aspectos, seus deveres são bastante semelhantes aos dos mestres [familiares], que em resumo devem ‘zelar sempre pela igreja’ — não vinte minutos por mês, mas sempre — ‘estar com eles e fortalecê-los’ — não uma batida na porta, mas estar com eles, e elevá-los, e fortalecê-los, e capacitá-los e fortificá-los — e certificar-se que não haja iniquidade (…) nem aspereza (…), maledicências ou calúnias”.20 O Presidente Kimball viu essa dedicação em sua esposa, Camilla, que disse o seguinte a respeito de seu trabalho como professora visitante: “Procurei não reprimir nenhum desejo de oferecer uma palavra ou ação generosa”.21
O trabalho das professoras visitantes é um encargo contínuo; nunca está realmente concluído. Com frequência é exigido que as professoras visitantes façam sacrifícios e vençam o desânimo. Isso é particularmente verdade quando seus esforços parecem em vão, como nesta história de Cathie Humphrey:
“Quando recebi pela primeira vez o chamado de professora visitante, fui designada para visitar uma jovem que nunca ia à Igreja. (…) Todos os meses, fielmente, eu batia a sua porta. Ela abria a porta interna, mas deixava fechada a tela intermediária. (…) Ela nunca dizia nada, simplesmente ficava de pé em frente à porta. Com alegria na voz, eu dizia: ‘Olá, sou a Cathie, sua professora visitante’. Como ela não respondia, eu continuava: ‘Bem, a lição de hoje é sobre (…)’ e tentava dizer rapidamente algo edificante e amistoso. Quando eu terminava, ela dizia: ‘Obrigada’ e fechava a porta.
Eu não gostava de ir lá. (…) Mas continuava a ir, pois queria ser obediente. Depois de fazer isso por sete ou oito meses, recebi um telefonema do bispo.
‘Cathie’, disse ele, ‘a jovem que você visita acabou de dar à luz um bebê que viveu apenas alguns dias. Ela e o marido vão realizar uma cerimônia fúnebre e ela perguntou se você gostaria de comparecer. Ela disse que você é a única amiga dela’. Fui ao cemitério. A jovem, seu marido, o bispo e eu estávamos presentes. Éramos os únicos.
Eu vira-a apenas uma vez por mês por alguns minutos em cada ocasião. Como ela nunca abria totalmente a porta, eu nem sequer conseguira ver que ela estava grávida. Contudo, minhas visitas desajeitadas, porém cheias de esperança, abençoaram a nós duas”.22
Buscar Orientação Espiritual
Vez após vez, as fiéis professoras visitantes buscaram e receberam orientação espiritual. Uma irmã da Sociedade de Socorro do Brasil contou sobre uma ocasião em que recebeu ajuda do Senhor:
“Não tenho como falar com as irmãs por telefone. Não temos telefones. Por isso, ajoelho-me em oração para saber do que as irmãs precisam naquela semana. Isso nunca falha. [Por exemplo:] havia uma jovem querida em nossa ala que não tinha roupas para seu bebê que ia nascer. Eu não tinha a menor ideia de quando ela daria à luz, mas sabia que estava perto. Reuni um grupo de irmãs e confeccionamos algumas roupas para seu bebê. Não queríamos que ela tivesse que levar o bebê para casa envolto em jornais. Não podíamos telefonar umas para as outras, por isso oramos, e foi-nos dito quando deveríamos ir ao hospital levar o enxoval do bebê. Quando chegamos ao hospital, ela acabara de dar à luz seu bebê e pudemos presentear-lhe com as roupas que as irmãs da Sociedade de Socorro tinham feito”.23
Como as condições de cada irmã são diferentes, as professoras visitantes precisam de orientação específica do Espírito Santo para saber a melhor maneira de ajudar cada uma delas. Florence Chukwurah da Nigéria recebeu essa orientação “ao receber a designação de ser a professora visitante de uma irmã que estava tendo dificuldades no casamento e no lar, o que tornava o mercado público o único local possível para as visitas. Depois de ouvir e observar as dificuldades dessa irmã, a irmã Chukwurah pediu uma bênção do sacerdócio a seu marido para saber como ajudar essa irmã atormentada. Depois da bênção, ela sentiu-se inspirada a conversar com essa irmã sobre a importância do dízimo. ‘Em meio a lágrimas, ela disse-me que não pagava o dízimo porque não ganhava o bastante’, recorda a irmã Chukwurah. ‘Sugeri que juntas estudássemos Malaquias 3:10 e que o fizéssemos em minha casa, a fim de podermos relaxar e estar sozinhas. Ela concordou. Depois de nosso estudo, incentivei-a a exercer sua fé e a pagar o dízimo por pelo menos seis meses. Prestei-lhe meu testemunho pelo Espírito’.
(…) Poucos meses depois dessa visita, as circunstâncias dessa irmã mudaram drasticamente. Sua filha recebeu uma bolsa de estudos para terminar o ensino secundário, seu marido, com a ajuda do bispo, reativou-se na Igreja e aceitou um chamado, e o casal uniu-se para melhorar sua situação financeira e seu relacionamento. Depois de algum tempo, tornaram-se uma inspiração para as outras pessoas”.24
Ensinar Verdades e Prestar Testemunho
O Presidente Kimball ensinou que, quando as professoras visitantes compartilham o evangelho e seu testemunho, elas podem ajudar as irmãs a seguir o Salvador:
“Quão glorioso é o privilégio de duas irmãs visitarem uma casa. (…)
No meu ponto de vista, não pode haver nada forçado nesse programa. É uma questão de incentivo e amor. É assombroso como muitas pessoas podem ser convertidas e inspiradas pelo amor. Devemos ‘admoestar, explicar, exortar e ensinar e convidar todos a virem a Cristo’ (D&C 20:59), conforme o Senhor disse em suas revelações. (…)
Não fiquemos satisfeitos apenas em visitar e fazer amizade. Com certeza, isso também tem sua importância. (…) A amizade, obviamente, é essencial, porém mais do que fazer amizade, não seria muito melhor ensinar princípios eternos de vida e salvação para alguém? (…)
Seu testemunho é um instrumento fabuloso. (…) Nem sempre é preciso prestar testemunho formalmente; há muitas formas de abordagem. (…)
(…) As professoras visitantes (…) precisam emanar energia, visão, diligência — e testemunho”.25
Uma jovem mãe expressou sua gratidão às professoras visitantes que a ajudaram a voltar a viver o evangelho:
“Sinto-me grata até hoje por minhas professoras visitantes, porque elas me amaram e não me condenaram. Elas realmente fizeram-me sentir que eu era, de fato, importante e que havia um lugar para mim na Igreja.
Elas foram visitar-me em minha casa e conversaram comigo. (…) Elas deixaram uma mensagem para mim todo mês.
Quando elas chegavam todos os meses, sua visita fazia-me sentir realmente importante, como se elas realmente se importassem comigo e realmente me amassem e gostassem de mim.
Por meio de suas visitas decidi que era o momento de voltar para a Igreja. Acho que eu realmente não sabia como voltar, mas com suas visitas, atenção e carinho, elas proporcionaram-me um caminho para voltar.
Precisamos compreender que o Senhor nos ama, não importando quem sejamos, e minhas professoras visitantes ajudaram-me a ver que isso era verdade.
Hoje meu marido e eu já fomos selados no templo”.26
O programa das professoras visitantes é um meio de levar o evangelho de Jesus Cristo para a vida das irmãs e da família delas. A irmã Mary Ellen Smoot, décima terceira presidente geral da Sociedade de Socorro, declarou: “Meu desejo é pedir às irmãs que deixem de imaginar se um telefonema ou uma visita trimestral ou mensal é suficiente e, em vez disso, passem a concentrar-se em nutrir almas delicadas. Temos a responsabilidade de cuidar para que a chama do evangelho continue a brilhar com fulgor. Nosso encargo é encontrar as ovelhas perdidas e ajudá-las a sentir o amor de nosso Salvador”.27
O Presidente Kimball ensinou:
“Há muitas irmãs que se vestem com trapos — trapos espirituais. Elas têm o direito de vestir luxuosos mantos espirituais. (…) Temos o privilégio de entrar nos lares e trocar os trapos por mantos. (…)
(…) Vocês vão salvar almas, e quem pode dizer quantas pessoas que estão ativas na Igreja hoje devem isso ao fato de vocês terem entrado na casa delas e lhes proporcionado um novo visual, uma nova visão. Vocês lhes abriram as cortinas. Ampliaram seus horizontes. (…)
Como veem, vocês não estão apenas salvando essas irmãs, mas talvez também o marido e o lar delas”.28
Oferecer Ajuda Temporal com Amor
A caridade é a base do serviço temporal e dos cuidados oferecidos pelas professoras visitantes. Com frequência uma irmã e os membros de sua família têm necessidades físicas que são difíceis ou impossíveis de ser satisfeitas por eles próprios, sem ajuda. Isso pode acontecer quando nasce um bebê ou quando a doença ou a morte acomete um membro da família. Tal como as primeiras irmãs da Sociedade de Socorro em Nauvoo e na jornada para o oeste rumo ao Vale do Lago Salgado, as modernas professoras visitantes com frequência são as primeiras a ajudar. A irmã Silvia H. Allred, conselheira na presidência geral da Sociedade de Socorro, disse:
“Maravilho-me ao testemunhar os incontáveis atos de caridade realizados diariamente por professoras visitantes no mundo inteiro, que de modo abnegado ministram às irmãs necessitadas e a suas famílias. A essas fiéis professoras visitantes, digo: ‘Por meio desses pequenos atos de caridade, vocês seguem o Salvador e agem como instrumentos em Suas mãos, à medida que ajudam, cuidam, elevam, consolam, ouvem, incentivam, nutrem, ensinam e fortalecem as irmãs sob seus cuidados’. Gostaria de compartilhar [dois] breves exemplos desse ministério.
Rosa sofre de diabetes e outras enfermidades debilitantes. Ela filiou-se à Igreja há alguns anos. Cria sozinha seu filho adolescente. Com frequência precisa ser hospitalizada, e fica internada alguns dias. Suas bondosas professoras visitantes não apenas a levam para o hospital, mas a visitam e a consolam no hospital, enquanto cuidam de seu filho no lar e na escola. Suas professoras visitantes são suas amigas e sua família.
Depois das primeiras visitas a uma determinada irmã, Kathy descobriu que essa irmã não sabia ler, mas queria aprender. Kathy ofereceu-se para ajudá-la, mesmo sabendo que isso exigiria tempo, paciência e constância”.
Chorar com os que Choram, Consolar e Ajudar a Carregar os Fardos
“[O membro da Igreja deve] alimentar os famintos, vestir o nu, prover o sustento das viúvas, enxugar as lágrimas dos órfãos e consolar os aflitos seja nesta ou outra igreja, ou fora dela, onde quer que estejam.”
Joseph Smith
Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith, 2007, p. 449
A irmã Elaine L. Jack, a décima segunda presidente geral da Sociedade de Socorro, ensinou: “No trabalho das professoras visitantes, estendemos a mão umas às outras. As mãos falam coisas que as palavras não conseguem transmitir. Um abraço caloroso transmite muitas coisas. Sentimo-nos unidas quando rimos juntas. Sentimos a alma renovar quando partilhamos momentos juntas. Nem sempre podemos levar o fardo de uma irmã que está aflita, mas podemos erguê-la para que ela consiga suportá-lo bem”.30
Uma irmã que ficou viúva recentemente sentiu gratidão pelas professoras visitantes que choraram com ela e a consolaram. Ela escreveu: “Eu precisava desesperadamente de alguém com quem pudesse me abrir, alguém que me ouvisse. (…) E elas ouviram. Elas me consolaram. Choraram comigo. Abraçaram-me (…) [e] me ajudaram a sair do desespero e da depressão daqueles primeiros meses de solidão”.31
Outra mulher resumiu o que sentiu quando recebeu a verdadeira caridade de uma professora visitante: “Eu sabia que eu era mais do que apenas um número no livro de registros de visitas dela. Sabia que ela se importava comigo”.32
Como o Trabalho de Professoras Visitantes Abençoa a Professora Visitante
Quando as irmãs servem outras como professoras visitantes, elas próprias recebem bênçãos. A irmã Barbara W. Winder, décima primeira presidente geral da Sociedade de Socorro, ensinou: “É vital que toda irmã tenha professoras visitantes, para fazê-la sentir-se necessária, sentir que alguém a ama e se preocupa com ela. Mas, igualmente importante, é a capacidade que a professora visitante tem de aumentar sua caridade. Ao darmos às mulheres o encargo de ser professoras visitantes, também damos a elas a oportunidade de desenvolverem o puro amor de Cristo, que pode ser a maior bênção da vida delas”.33
Uma irmã falou das bênçãos que foram derramadas sobre ela ao servir suas irmãs:
“Pouco depois de nos casarmos, meu marido e eu nos mudamos para Nova Jersey. Estando no primeiro ano da faculdade de medicina, meu marido raramente voltava para casa antes das 23h (…). Não fiz amizades rapidamente. Aquela mudança tinha sido solitária e difícil para mim.
O bispo de minha nova ala pediu-me que ficasse responsável por um programa para os membros da ala que falavam espanhol. Isso significava traduzir a reunião sacramental, dar aulas de doutrina do evangelho e supervisionar a Sociedade de Socorro. Com exceção das pessoas que falavam espanhol como língua nativa, eu era a única mulher na ala que falava espanhol fluentemente.
Para aumentar minhas responsabilidades, a presidente da Sociedade de Socorro encarregou-me de ser a professora visitante de doze irmãs que moravam em um bairro que ficava do outro lado da cidade. Admito que não fiquei muito entusiasmada com minha nova designação. Estava atarefada com meu outro chamado e temia não saber como ajudá-las. (…) Mas fiz algumas visitas que me foram atribuídas, e antes de me dar conta do que estava acontecendo, estava sentada na sala de estar da família Dumez.
‘Você é minha professora visitante?’ perguntou a irmã Dumez, ao entrar na sala. ‘Bem-vinda a minha casa. Não recebo uma professora visitante há dois anos.’ Ela ouviu atentamente a mensagem, conversamos, e ela me agradeceu muitas vezes pela visita.
Antes de eu sair, ela chamou seus cinco filhos para que cantassem ‘Sou um Filho de Deus’, em espanhol. Ela me abraçou e apertou minha mão. (…)
Todas as visitas que fiz naquela primeira vez foram melhores do que eu esperava. Ao longo dos meses subsequentes, ao ver as irmãs me receberem com carinho em suas casas, passei a aguardar ansiosamente por minhas visitas. Mas não estava preparada para as histórias de tragédia e adversidade que ouvi, ao passar a conhecer um pouco melhor aquelas excelentes pessoas. Decidi ao menos tentar tornar a vida daquelas irmãs e de suas famílias, muitas das quais passavam dificuldades financeiras, um pouco melhor. Comecei a levar pratos de comida quando as visitava. Levei as famílias para passear. Levei-as de carro para consultas médicas e para fazer compras no mercado.
Rapidamente esqueci minha própria solidão ao servir outras pessoas. As irmãs que a princípio eu tinha considerado que fossem diferentes de mim, logo se tornaram amigas queridas. Foram amigas leais e fiéis, que ficavam agradecidas até pelas menores coisas que fiz por elas. E elas conseguiam prever minhas necessidades: eu regularmente recebia telefonemas e presentes dados de coração. Uma irmã me fez uma toalha de crochê para a mesa. Outra compôs um poema para meu aniversário.
Contudo, vários meses após meu chamado, sentia-me frustrada por não conseguir tornar a vida mais segura ou mais confortável para minhas amigas. (…)
Certa noite, senti-me particularmente desanimada. Ajoelhei-me em oração, suplicando ao Senhor que me mostrasse o caminho a seguir. Tive a impressão de que o Senhor queria que eu ajudasse aquelas irmãs a se tornarem mais autossuficientes e a servirem umas às outras. Admito que fiquei descrente que pessoas com tamanhos fardos pudessem ter a força necessária para erguerem-se umas às outras, mas sabia que precisava seguir a inspiração.
Comecei a reorganizar o programa de professoras visitantes na Sociedade de Socorro de idioma espanhol. Uma de minhas fiéis amigas, a irmã Moreira, ofereceu-se para visitar ela própria seis das irmãs. Minha primeira reação foi dizer: ‘Não lhe será possível cuidar de todas elas sem ter carro. É muito longe para ir a pé!’ Mas então me lembrei da inspiração que tive de deixar as irmãs servirem umas às outras. Coloquei todas as seis irmãs na nova lista de visitas da irmã Moreira.
Ao voltar de sua maratona de visitas de professora visitante, a irmã Moreira me ligou, cheia do Espírito. (…) Estava com os pés doloridos, mas o Senhor tinha aliviado seu fardo e elevado seu coração.
Após mais algumas visitas, a irmã Moreira recrutou outra irmã para acompanhá-la a pé nas visitas. (…)
Assim que comecei a procurar, encontrei todo tipo de maneiras para ajudar aquelas irmãs a ajudarem-se a si mesmas e umas às outras. (…)
Bem na época que comecei a perceber um grande crescimento espiritual se desenvolvendo entre os membros de minha ala, fiquei sabendo que meu marido e eu iríamos nos mudar. (…) Nem queria pensar em ter que deixar minhas maravilhosas amigas. Ansiava por continuar a servir com elas: tínhamos nos doado tanto umas às outras. Mas ao menos pude ver que a causa do evangelho estava seguindo adiante com muito vigor na vida delas, e que estavam cuidando umas das outras. E eu, que havia começado a trabalhar a contragosto, voltei carregada de frutos”.34
O Presidente Lorenzo Snow, quinto Presidente da Igreja, ensinou que as irmãs da Sociedade de Socorro são um exemplo da religião pura. Ele disse: “O Apóstolo Tiago disse que ‘a religião pura e imaculada para com Deus (…) é esta; visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo’. Aceitando isso como verdade, as mulheres da Sociedade de Socorro sem dúvida exemplificam em sua vida a religião pura e imaculada; elas visitam os aflitos, demonstram grande amor pelos órfãos e viúvas, e guardam-se da corrupção do mundo. Posso testificar que não existem mulheres mais puras e tementes a Deus no mundo do que as que fazem parte da Sociedade de Socorro”.35
As irmãs puras e tementes a Deus que fazem parte da Sociedade de Socorro cuidam umas das outras e se fortalecem mutuamente desde os primeiros dias em Nauvoo até os dias de hoje, por meio do trabalho amoroso e inspirado das professoras visitantes. É um ministério compartilhado uma a uma, coração a coração.