“Com Sua Força Posso Fazer Todas as Coisas”
Homens comuns, abençoados com o privilégio de serem portadores do sacerdócio de Deus, podem ser chamados para realizar grandes feitos por meio da fé nesse poder sagrado.
Nesta noite, irmãos, sinto um forte desejo de contar-lhes uma particularidade de uma história que é bem documentada, mas pouco conhecida na Igreja. Ela demonstra a coragem, a força de um grupo de rapazes da era pioneira, alguns estavam na faixa etária dos sacerdotes e mestres, como muitos dos que estão reunidos aqui esta noite. Esses rapazes fizeram, de boa-vontade, sacrifícios significativos quando receberem um chamado.
Enquanto conto a história, gostaria que vocês tivessem em mente o poder que nos unifica e liga-nos a eles. Não é por mera coincidência que o sacerdócio real que possuímos figura nessa história. Eles possuíam o mesmo sacerdócio que atualmente dá autoridade a vocês para servir ao próximo por meio de pequenos ou de grandes atos.
Homens comuns (incluindo, talvez especialmente, os rapazes), abençoados com o privilégio de serem portadores do sacerdócio de Deus, podem ser chamados para realizar tarefas extraordinárias. Os portadores do santo sacerdócio são capazes de realizar grandes atos de heroísmo, bravura e serviço ao próximo por meio da fé nesse poder sagrado.
Os pioneiros não tinham dúvida disso. Freqüentemente, prestaram testemunho de que foram guiados e dirigidos pelo Espírito do Senhor. Para confirmar esse testemunho, afirmo-lhes: Seu Espírito está com todos nós. Ele deseja abençoar-nos e fortalecer-nos. Ele há de tornar-nos capazes de realizar qualquer tarefa justa que nos dispusermos a fazer em Seu nome. Multiplicará imensamente nossa capacidade natural. Vocês podem alcançar um sucesso muito maior do que aquele que obteriam com as próprias forças, se aprenderem a confiar no Espírito do Senhor.
A história que prometi contar-lhes começou antes da conferência geral de outubro de 1856, mas ⌦esse será nosso ponto de partida. ⌦O Presidente Brigham Young levantou-se e, do púlpito do Antigo Tabernáculo, nesta mesma praça, convocou voluntários para resgatar as Companhias de Carrinhos de Mão Willie e Martin. Dois dias depois, cerca de 30 irmãos fiéis e boas parelhas de mulas foram enviados para buscar os integrantes das companhias de carrinhos de mão, que estavam retidos no caminho e passando dificuldades, a quase 500 quilômetros ao leste. Dan W. Jones, que havia-se filiado à Igreja menos de cinco anos antes, era um dos voluntários.
Depois de árduos esforços, finalmente encontraram a companhia Willie. Os santos, que haviam sido surpreendidos pelas tempestades do início do inverno, estavam morrendo de frio e fome. O grupo de socorro fez tudo a seu alcance para aliviar a situação, mas para alguns já era tarde demais. Na manhã anterior à chegada do resgate, nove integrantes da companhia haviam sido sepultados numa única cova.
Alguns dos componentes do grupo de resgate foram designados para levar os membros da companhia de carrinhos de mão para o Vale do Lago Salgado; os outros, porém, prosseguiram rumo ao leste para tentar encontrar a Companhia Martin. Essa companhia e duas companhias de carroções (Hodgett e Hunt) foram finalmente encontradas, atoladas na neve, a aproximadamente 64 quilômetros a leste de Devil’s Gate, Wyoming.
Os integrantes da companhia Martin estavam em condições extremamente precárias. Sua porção diária de alimentos tinha sido reduzida a poucos gramas de trigo. Só um terço deles ainda conseguia andar, e todos os dias havia mortes.
Os líderes do grupo de resgate decidiram sabiamente não poupar esforços para levar os aflitos sobreviventes para a segurança do vale do Lago Salgado. Devido à falta de espaço nos carroções, foi preciso que a maior parte da bagagem da companhia de carrinhos de mão ficasse guardada em Devil’s Gate até a primavera.
O irmão Dan W. Jones, dois outros componentes do grupo de resgate e 17 jovens das companhias de carroções receberam o encargo de permanecer no local para tomar conta desses bens. Eles teriam de enfrentar cinco meses de inverno no Wyoming, a centenas de quilômetros de qualquer lugar onde pudessem encontrar ajuda, praticamente sem alimentos e privados de quase tudo o que é necessário à subsistência. Imaginem que sacrifício! Todos haviam sido convidados a embarcar nos carroções que iam para o vale, mas decidiram ficar, em obediência a um chamado para servir.
Há registros de que esse inverno foi um dos mais severos da história. Os intrépidos guardas esforçaram-se para consertar as cabanas de Devil’s Gate, mataram os bois que restavam, armazenaram a carne fibrosa e dura para servir-lhes de alimento, consertaram e empilharam os bens que haviam sido deixados a seus cuidados.
Mataram alguns búfalos, mas a caça tornou-se rara. Em pouco tempo a comida acabou e eles tiveram de alimentar-se de peles de ⌦animais, tirando-lhes o pêlo e fervendo o couro. Comeram o revestimento de couro das lingüetas dos carroções, solas de mocassins velhos e uma pele de búfalo bem gasta que vinha sendo usada como esteira há dois meses. Dan Jones chegou quase a comer a própria sela!
Em fevereiro, nesse rigoroso inverno, um índio da tribo Snake apareceu e ajudou-os. Naquela primeira noite, ele e dois batedores voltaram ao acampamento carregados de boa carne de búfalo.
O inverno passou e, finalmente, no início de maio, os carroções de resgate começaram a chegar. Entre as várias mensagens enviadas ao irmão Jones, uma carta extremamente importante do Presidente Brigham Young extraviou-se. Sem ela, não poderiam começar a fazer o carregamento e o transporte dos bens deixados a seu cuidado.
Eles passaram dias esperando em crescente expectativa. Finalmente, o irmão Jones buscou o Senhor em oração para saber o que deveria fazer. Ele registrou este testemunho:
“Na manhã seguinte, sem dizer palavra sobre a falta de instruções, começamos o trabalho. Logo alguém perguntou que parelhas deveriam ser carregadas primeiro [e] eu disse ao secretário para tomar nota do que seria feito. Continuamos dessa maneira. Tão logo o secretário anotava o que seria feito, as ordens eram dadas e prosseguíamos. Continuamos a [agir dessa forma] durante quatro dias. ( … ) Todas as parelhas foram carregadas, as companhias organizadas e colocadas no caminho de volta [ao vale].” [Daniel W. Jones, Forty Years Among the Indians (Quarenta Anos Entre os Índios), 1960, p. 107.]
Os 17 jovens seguiram nos últimos carroções que partiram para o Vale do Lago Salgado, onde se reuniriam a suas famílias e entes queridos.
O irmão Jones chegou mais tarde, sentindo-se bastante inseguro quanto à maneira como seria recebido quando se apresentasse ao Presidente Young. Será que deveria ter esperado até receber, por escrito, as ordens do Presidente? Quando tudo foi esclarecido, soube-se que o Presidente Young de fato havia ditado uma carta de instruções que não foi entregue. Dan apresentou um detalhado relatório do que havia feito. Seu testemunho foi fortalecido ao descobrir que fora inspirado a fazer no Wyoming exatamente o que constava da carta do profeta.
Os rapazes de Dan Jones haviam feito muito mais do que imaginavam ser capazes:
• Cruzaram as planícies em carroções e carrinhos de mão, a maior parte do tempo a pé;
• Viram muitos de seus amigos e parentes morrerem pelo caminho;
• Ofereceram-se para passar o inverno a quase 500 quilômetros do lugar para onde iam;
• Sobreviveram a um difícil inverno com pouca comida e pouco ou nenhum conforto;
• Atenderam ao chamado do profeta para ajudar outros santos;
• Perseveraram até o fim corajosamente e foram abençoados por seus esforços.
Eu repito, irmãos: Homens comuns, abençoados com o privilégio de serem portadores do sacerdócio de Deus, podem ser chamados para realizar tarefas extraordinárias e grandes feitos por meio da fé nesse poder sagrado!
Um dos meus heróis do Livro de Mórmon, Amon, o filho de Mosias, fala do quanto duas pessoas podem realizar quando uma delas é o Senhor:
“Sim, sei que nada sou; quanto a minha força, sou débil; portanto não me vangloriarei de mim mesmo, mas gloriar-me-ei em meu Deus, porque com sua força posso fazer todas as coisas; sim, eis que fizemos muitos grandes milagres nesta terra, pelo que louvaremos o seu nome para sempre.” (Alma 26:12)
Aos jovens do Sacerdócio Aarônico e aos irmãos do Sacerdócio de Melquisedeque presto testemunho de que podemos fazer “muitos milagres”, como testificaram Amon e Dan Jones! Eles permitiram que o Senhor fosse seu guia, ouviram e obedeceram ao Espírito Santo e aprenderam que podiam, de fato, realizar grandes milagres, coisa que nunca haviam suposto.
Passaremos por grandes dificuldades. Teremos necessidade de muitas coisas. Devemos ser tão valentes em nossa lealdade para com as grandes verdades do evangelho quanto aqueles jovens que perseveraram há cerca de 140 anos.
Oro, irmãos, que façamos do Senhor, e de Sua palavra revelada por meio de Seus servos, os profetas, a influência que nos guiará na vida. Todos temos um milagre a realizar, uma jornada a terminar e uma missão maravilhosa a cumprir.
Que o Pai Celestial os abençoe para que saibam que fazem parte de uma geração real e abençoada de Seus filhos escolhidos e que há grandes milagres que Ele espera que vocês realizem. Com Sua força e a orientação do Espírito, vocês também podem fazer todas as coisas! Isso, testifico em nome de Jesus Cristo. Amém. 9