Ir em Frente e Dar Tempo ao Tempo
Nossa meta, o fim da jornada, nossa Sião, é a vida na presença do Pai Celestial. E para chegar lá teremos de andar e andar e andar.
“Dia após dia iam cantando a andar, andar e andar.”1⌦Sempre que penso nos pioneiros, certas cenas vêm-me à mente: carrinhos de mão em tempestades de neve, doença, pés congelados, barrigas vazias e covas rasas.
Entretanto, à medida em que aprendo mais sobre essa jornada monumental convenço-me de que, com todas essas cenas dramáticas e reais, a maior parte da jornada para a maioria das pessoas era pura rotina. O que eles mais faziam era andar e andar e andar.
Todas as manhãs, quando os pioneiros levantavam acampamento, tinham de alimentar e dar de beber ao gado, fazer fogueiras, preparar o desjejum, preparar e embrulhar uma refeição fria para o almoço, fazer consertos, preparar as juntas de bois e recarregar os carroções. Todas as manhãs. Depois, eles andavam uns dez quilômetros, antes de parar para alimentar e dar de beber ao gado, almoçar, reunir-se de novo e andar até umas seis horas da tarde. Depois, havia a rotina de tirar o jugo dos animais e dar-lhes água, fazer consertos, juntar gravetos, fazer fogueiras, preparar o jantar, escrever um pouco no diário antes de escurecer, às vezes cantar ou tocar músicas, orar e, às nove da noite, ir dormir.
Não era importante ser rápido, pois quem dava o ritmo da caminhada eram os bois vagarosos. Ninguém tinha de correr para acompanhar os carroções. Se o dia fosse bom, sem problemas (será que existe um dia assim?), os pioneiros percorriam mais ou menos 24 quilômetros. Normalmente, andavam menos de 16. Imaginem como isso parecia insignificante comparado à meta final de 2080 quilômetros!
Um relevo em bronze no cemitério de Winter Quarters2 tem um detalhe que mostra uma mulher andando rumo ao Vale do Lago Salgado com a mão dentro do carroção. Ela fazia isso por que seu filho pequeno não parava dentro do carroção se não visse a mão da mãe. Mesmo seguindo em frente, esses pioneiros sabiam ajudar um ao outro.
E o que isso tem a ver conosco no mundo de hoje? Eu acho que tem tudo a ver conosco. A vida da maioria de nós não é uma seqüência de momentos dramáticos que exigem heroísmo e coragem imediata. Ao contrário, a vida da maioria de nós é feita de uma rotina diária e de tarefas monótonas, que nos cansam e tornam vulneráveis ao desânimo. É claro que sabemos o que temos pela frente e, se pudéssemos, pularíamos da cama, trabalharíamos como loucas e teríamos terminado tudo ao anoitecer. Mas nossa meta, o fim da jornada, nossa Sião, é a vida na presença do Pai Celestial. E para chegar lá teremos de andar e andar e andar.
Ir em frente semana após semana não é pouca coisa. Sinto-me tão inspirada pela constância dos pioneiros, pelo trabalho árduo e rotineiro, por sua boa vontade em prosseguir lentamente, passo a passo rumo à terra prometida, quanto por seus atos de coragem mais notáveis. É difícil acreditarmos que estamos fazendo algum progresso quando andamos tão vagarosamente, acreditarmos no futuro quando a quilometragem que percorremos durante o dia é tão insignificante.
Vocês consideram-se heróicas pioneiras por levantar todas as manhãs, pentear o cabelo e ir para a escola na hora certa? Reconhecem a importância de fazer o dever de casa todos os dias e a coragem necessária para pedir ajuda quando têm uma tarefa que não conseguem entender? Vêem o que há de heróico em ir à igreja todos os domingos, tomar parte na aula e ser gentil com os outros? Vocês vêem grandeza em lavar a louça, vez após vez? Ou em estudar as lições de piano? Ou em cuidar de crianças? Vocês reconhecem a constância e fé no destino final que são necessárias para continuarem orando e lendo as escrituras todos os dias? Vêem a grandeza que há em dar tempo ao tempo, para que os problemas que pareçam imensos possam ser vistos sob a devida perspectiva?
O Presidente Howard W. Hunter disse: “A verdadeira grandeza ( … ) sempre exige uma caminhada regular, constante, a passos lentos e, por vezes, comuns e materiais durante um longo período de tempo”.3
Como é fácil querer que um dia de trabalho tenha resultados rápidos e de impacto! Mas como são felizes os que aprenderam a aceitar um ritmo de progresso gradual e constante e até a celebrar e deleitar-se no que há de comum na vida.
Não desanimem. Pensem naqueles que andam com a mão no carroção para dar-lhes coragem. Sejam a pessoa que estende a mão aos outros enquanto seguimos avante juntos.
Quando deitarem-se à noite, recapitulem o que realizaram durante o dia. Permitam-se sentir a satisfação de um trabalho terminado, ou mesmo de um parcialmente terminado. Aqueles pioneiros notáveis não só estavam prontos para continuar indo em frente, mas “iam cantando a andar, andar e andar”. Será que temos de fazer o trabalho diário com alegria? Bem, não em todos os dias o dia todo. É claro que, às vezes, ficamos tristes e até zangadas. Podemos, porém, evitar mergulharmos na tristeza ou raiva. Uma jovem escreveu-nos: “Adoro ter 14 anos. Queria poder continuar com 14 anos por muito tempo. Ter 14 anos é tão, mas tão divertido!” Essas poucas palavras alegraram o meu dia. “O coração alegre é como o bom remédio”. (Prov. 17:22)
O povo da cidade de Enoque é lembrado por ter sido tão bom, tão incrivelmente bom, que toda a cidade foi arrebatada para o céu. Mas, se lermos cuidadosamente, veremos que a cidade de Sião foi levada “com o correr do tempo”. (Moisés 7:21) Deve ter sido um processo de seguir avante, passo a passo, por um longo período de tempo, assim como foi para os pioneiros, assim como para vocês e eu.
Existe uma espécie de borboleta de asas grandes que estão entre as mais espetaculares criaturas da natureza. Os cientistas estudaram e registraram detalhadamente o ciclo vital dessas belas espécies: Ela bota um ovo em um ponto escolhido de uma planta que lhe sirva de alimento. Em cinco dias ele rompe-se e surge uma lagarta preta com pintas laranja. Quando alcança a maturidade, a lagarta cria a própria crisálida. A maioria delas sai da crisálida após dois anos. A observação mais interessante é que, apesar disso, algumas chegam a permanecer na crisálida até sete anos. Então, inesperadamente, em poucas horas, o que era uma lagarta pintada surge como uma maravilhosa borboleta negra e alça vôo.4 Será que a crisálida tornou-se uma borboleta em umas poucas horas ou isso levou sete anos?
Os pesquisadores que entendem a respeito do crescimento desse tipo de borboleta continuam seu trabalho com boa-vontade e paciência e dão tempo ao tempo. Quem entende a respeito de crescimento pessoal continua orando e fazendo suas tarefas diárias e dá tempo ao tempo.
A expressão para isso é “tocar em frente”.
Quando eu a conheci, Carly tinha 12 anos. Era uma Abelhinha nova e inexperiente e houve algumas dificuldades em sua vida. Ouçam-na falar um pouco de seus sentimentos. [Foi exibida uma breve gravação em vídeo]:
“Sempre tive muita dificuldade para enfrentar mudanças. Meus problemas não são tão sérios, mas quando penso neles parecem que são os piores do mundo, porque são meus. Todos preocupavam-se com seus próprios problemas, sabem como é …Era como se eu estivesse sozinha o tempo todo e eu nunca queria ir à escola. Sentia-me como se o Pai Celestial não se importasse com a minha tristeza. Era como se não Lhe importasse se eu estava contrariada ou se não tinha amigos. Eu tinha a sensação de que Ele não estava presente. Tinha a sensação de que, na verdade, ninguém se importava.”5
Esta é Carly e atualmente ela tem 16 anos.
“Quando ouço o que disse quando tinha 12 anos, lembro-me de como esses problemas me pareciam grandes, e de como me parecem pequenos agora. Lembro-me do quanto eu queria uma ‘solução mágica’. Agora, acredito que não exista uma coisa que possa fazer tudo ficar bem. O que eu sabia quando tinha 12 anos é que eu queria ser boa. Foi esse desejo que me fez continuar lendo as escrituras, indo à Igreja e orando. Agora, passados quatro anos, sinto-me muito diferente e a razão principal para isso é eu ter continuado a fazer essas coisas. Agora, consigo respostas por meio das escrituras, aproximo-me mais do Senhor por meio da oração e entendo as aulas da igreja muito melhor.
Meu pai tem um quadro na parede com os dizeres: ‘O sucesso parece ser mais uma questão de persistir depois que os outros já desistiram’. [William Feather] Estou muito contente por ter persistido! Acho, até, que precisamos dessas ocasiões em que já esgotamos nossas possibilidades. Elas ajudam-nos a desenvolver confiança no Senhor e obediência a Ele.
Certas músicas populares e filmes nos ensinam a acreditar que nada importa, que é melhor desistirmos já que tudo é temporário mesmo. Nós sabemos que não é assim. Temos o evangelho. Ele não é temporário. É eterno. Não podemos dar o fora. Não podemos desistir. Talvez não vejamos isso agora, mas tudo o que fazemos, todos os dias que vivemos têm um propósito. Além disso, temos um Pai Celestial sempre por perto para nos levantar e animar.”
Importamo-nos tanto umas com as outras em nossa caminhada! Eu sei que o Pai Celestial abençoará a todas nós à medida em que orarmos, trabalharmos arduamente e dermos tempo ao tempo. Em nome de Jesus Cristo. Amém. 9