“Dareis Ouvidos a Todas as Palavras”

L. Tom Perry

Of the Quorum of the Twelve Apostles

A contínua expansão tecnológica somente traz as mensagens até nós. Permanece o mesmo desafio … de que cada indivíduo e família … compreenda e viva as mensagens do evangelho.

Aos irmãos Ted E. Davis, Donald D. Salmon e Frank M. McCord: como membro da Igreja, gostaria de agradecer-lhes pessoalmente pelas incontáveis horas, dias e anos despendidos para garantir-me que todas as coisas estejam em perfeita ordem na Igreja, em termos contábeis. Tenho certeza de que os quase 11 milhões de membros da Igreja também lhes são gratos. Muitíssimo obrigado.

Nos últimos anos, observamos ansiosos a construção deste belo Centro de Conferências. Aqui dentro, agora, vivemos uma conferência geral histórica em que milhares mais podem estar presentes para ouvir as palavras dos profetas. Certamente, começa uma nova era na história da Igreja -- uma era de influência e de alcance mais amplos e mais profundos, uma era de crescimento e impacto maiores.

Antes da última reunião da Primeira Presidência e dos Doze no ano passado, o Presidente Hinckley, pressentindo as mudanças a caminho, propôs que jejuássemos para vir ao templo e que encerrássemos o ano, o século e o milênio com uma reunião de jejum e testemunhos. Para que não nos afastássemos do espírito de testemunho, pediu que não tratássemos dos assuntos rotineiros administrativos nessa reunião especial, reservando-os para o ano novo.

O encontro foi um banquete espiritual abundante em testemunho do nosso Senhor e Salvador. Após partilharmos do sacramento, cada membro dos Doze levantou-se e prestou seu testemunho da missão de Jesus, o Cristo, o Salvador do mundo. Os últimos três testemunhos foram oferecidos pelos membros da Primeira Presidência, encerrando-se a reunião com o testemunho do Presidente Hinckley. Foi uma experiência solene mas jubilosa em que nos fortalecemos com fortes testemunhos.

O Presidente Hinckley complementou seu testemunho veemente e emocionado com diversas preocupações quanto ao futuro. Uma delas em especial chamou-me a atenção. Preocupava-lhe que o grande crescimento da Igreja no mundo todo viesse a dificultar cada vez mais o contato direto dos apóstolos com os membros da Igreja para admoestá-los pessoalmente a viverem o evangelho. Assim, no futuro dependeremos mais da tecnologia para que a mensagem do evangelho possa ser levada à Igreja mundial.

Ao analisarmos a história sagrada contida nas santas escrituras, encontramos eventos semelhantes em que um profeta de Deus percebe a chegada de mudanças significativas. É interessante observar que, nesses momentos críticos, dá-se atenção minuciosa à mensagem profética em si e à sua forma -- ou seja, a tecnologia que é usada para levar a mensagem do evangelho.

Lembro-me do grande discurso do rei Benjamim a seu povo, que podemos encontrar nos primeiros capítulos do livro de Mosias. Esse rei era um homem reto, que servira seu povo fielmente por muito tempo. Era chegada a hora de entregar a liderança a seu filho. Antes de fazê-lo, porém, quis prestar testemunho de seu Senhor e Salvador a seu povo. Inicialmente, instruiu seus filhos que “se tornassem homens de entendimento; e para que soubessem das profecias que haviam sido feitas pela boca de seus pais e que lhes foram entregues pela mão do Senhor”. (Mosias 1:2)

Também ensinou-os sobre os registros que estavam gravados nas placas de latão, dizendo:

“ … Meus filhos, quisera que vos lembrásseis de que, se não fosse por estas placas que contêm estes registros e estes mandamentos, teríamos permanecido em ignorância até o presente, não conhecendo os mistérios de Deus.” (Mosias 1:3)

Para o rei Benjamim, manter a pureza da doutrina era de suma importância e por isso queria que todo o seu povo recebesse seu testemunho e sua palavra. Fez com que Mosias, seu filho e sucessor, fosse levado à sua presença e deu-lhe instruções específicas para que reunisse seu povo para sua última conferência. Disse:

“ … Meu filho, quisera que fizesses uma proclamação por toda esta terra, entre todo este povo, ou melhor, o povo de Zaraenla e o povo de Mosias que habita esta terra, para que se reúnam; porque amanhã proclamarei a este meu povo, de viva voz, que tu és rei e governante deste povo que o Senhor nosso Deus nos deu.

E ademais, darei a este povo um nome, para que assim sejam distinguidos de todos os povos que o Senhor Deus trouxe da terra de Jerusalém; e isto faço porque tem sido um povo diligente na obediência aos mandamentos do Senhor.” (Mosias 1:10­11)

Então Mosias seguiu e proclamou ao povo que deveria reunir-se e ir ao templo para que pudesse ouvir as palavras de seu pai. O povo reuniu-se e “[armou] suas tendas nos arredores, cada homem conforme sua família, que consistia na esposa e nos filhos e nas filhas; e nos filhos e nas filhas destes, do mais velho ao mais jovem, cada família separada uma da outra”. (Mosias 2:5) Eles armaram suas tendas com a porta voltada para o templo a fim de que pudessem ouvir as palavras do rei Benjamim, que lhes ensinava sobre a doutrina da vida eterna. Como havia muitas pessoas reunidas dentro e fora dos muros do templo, o rei mandou construir uma torre para que pudessem ouvir suas palavras. No entanto, percebeu que mesmo da torre não poderia ser ouvido por todos, portanto fez com que suas palavras fossem escritas e enviadas àqueles que se achavam fora do alcance de sua voz, para que também recebessem suas palavras. (Ver Mosias 2:6­8.)

Dessa torre, disse a seu povo que aguçasse os ouvidos e ouvisse seu testemunho do Salvador. Depois de profetizar e testemunhar, aconselhou-os, ensinando o que fazer para que voltassem a seu Pai Celestial:

“ E ainda mais, quisera que considerásseis o estado abençoado e feliz daqueles que guardam os mandamentos de Deus. Pois eis que são abençoados em todas as coisas, tanto materiais como espirituais; e se eles se conservarem fiéis até o fim, serão recebidos no céu, para que assim possam habitar com Deus em um estado de felicidade sem fim. Oh! Lembrai-vos, lembrai-vos de que estas coisas são verdadeiras, porque o Senhor Deus as disse.” (Mosias 2:41)

Finalmente, para assegurar-se de que o povo entendesse suas palavras e mantivesse os convênios com Deus de guardar Seus mandamentos, o rei Benjamim “[designou] sacerdotes para ensinar o povo, para que assim todos pudessem ouvir e conhecer os mandamentos de Deus e para fazê-los lembrar-se do juramento que haviam feito”. (Mosias 6:3) O rei Benjamim usou de todos os recursos disponíveis em sua época para reunir seu povo, espalhar a boa palavra de Deus e confirmar a palavra.

Em uma outra era, encontramos outro profeta usando novos meios de comunicação para levar sua mensagem ao coração das pessoas. Houve uma conferência especial no centésimo aniversário da Igreja. Encontramos este registro do 100º Relatório da Conferência Anual, realizada no Tabernáculo no domingo, 6 de abril de 1930:

“ De acordo com instruções anteriores da Primeira Presidência da Igreja, o seguinte programa foi transmitido, com início às 10h da manhã de 6 de abril, para todas as alas e ramos da Igreja … em que se tivessem tomado as providências para que as pessoas se reunissem em sua capela e ouvissem, pelo rádio, os serviços transmitidos do Tabernáculo de Salt Lake City.”

O prédio estava completamente lotado, todos os assentos tomados, assim como os corredores e portas e cada espaço possível estavam ocupados. (in Conference Report, abril de 1930, p. 2)

O Presidente Heber J. Grant, que presidia essa primeira conferência geral com transmissão radiofônica, deu início a ela dizendo:

“ Meu coração está repleto de gratidão, além do que posso expressar, por ver este público maravilhoso do sacerdócio do Deus vivo ao lado dos líderes de nossas organizações, reunidos aqui em conferência para comemorar o centésimo aniversário da organização de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

Estou prestes a ler para vocês um anúncio da Primeira Presidência da Igreja que foi enviado a todas as alas, estacas e missões em todos os países em que a Igreja está organizada. Neste instante, em todo o mundo, essa mensagem será lida para nosso povo.” (Conference Report, abril de 1930, p. 3.)

Como o rei Benjamim, o Presidente Grant começou prestando testemunho de Deus, o Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Passou então a tratar das grandes invenções, descobertas científicas e progressos industriais que controlaram as forças do universo e as adaptaram para o conforto e conveniência do homem. Disse:

“ Sem dúvida alguma, o grande milagre do século é a conquista que nos permite preservar indefinidamente e reproduzir detalhadamente a voz, com a personalidade humana de que é característica.

Ao contemplarmos as conquistas dos últimos cem anos, às quais se fez apenas breve referência, somos levados a exclamar:

Grandes e maravilhosas são as Tuas obras, ó Senhor Deus!

Tu és o mesmo de eternidade em eternidade!

Teus propósitos não falham, nem há quem seja capaz de reter a Tua mão!” (in Conference Report, abril de 1930, p. 5)

Hoje, 1º de abril de 2000, estamos reunidos neste belo Centro de Conferências novo para que milhares mais possam ver o profeta e ouvir sua voz. Porém, mesmo com esse prédio e a possibilidade sempre maior de viajar entre os santos e encontrá-los em tantos lugares, um número menor de membros terá a oportunidade de manter contato pessoal com os profetas e apóstolos, devido ao crescimento da Igreja. A tecnologia abençoa-nos com numerosas inovações para levarmos a mensagem do evangelho por satélite, pelo nosso próprio site na Internet, pela televisão, rádio e ainda pela palavra escrita em nossas revistas e jornais. Tudo isso aumenta nossos meios de transmissão, o que amplia enormemente nossa capacidade de receber as mensagens enviadas.

Entretanto, os tijolos e o cimento, somados à contínua expansão tecnológica, somente trazem as mensagens até nós. Permanece o mesmo desafio da época do rei Benjamim e da época do Presidente Grant, qual seja, a compreensão e vivência das mensagens do evangelho de nosso Senhor e Salvador na prática diária de cada indivíduo e família, por intermédio do estudo pessoal e coletivo. A salvação não está na tecnologia ou nos prédios, mas na palavra. Apenas o poder da palavra terá efeito em nossa vida de modo a vivermos mais próximos de nosso Pai Celeste.

Lembrem as palavras do Senhor quando instruiu os santos de Sua Igreja restaurada pela primeira vez, em 6 de abril de 1830. Ele declarou:

“ Eis que um registro será escrito entre vós; e nele serás chamado vidente, tradutor, profeta, apóstolo de Jesus Cristo, élder da igreja pela vontade de Deus, o Pai, e pela graça de vosso Senhor Jesus Cristo,

Portanto vós, ou seja, a igreja, dareis ouvidos a todas as palavras e mandamentos que ele vos transmitir à medida que ele os receber, andando em toda santidade diante de mim;

Pois suas palavras recebereis como de minha própria boca, com toda paciência e fé.” (D&C 21:1, 4, 5)

É maravilhoso poder estar neste novo e belo prédio e dispor da tecnologia para transmitir as sessões da conferência a todo o mundo. Mas é a mensagem recebida que, mediante estudo e prática, nos trará a luz do evangelho como preparo adicional em nossa grande busca pela vida eterna.

Este é meu humilde testemunho a vocês, em nome de Jesus Cristo. Amém.