Dias de Dedicação
“Como uma manifestação de nosso amor pelo Senhor, não deveríamos igualmente rededicarmos nossa vida e nosso lar de igual modo?”
Um de meus hinos favoritos descreve os ternos sentimentos de meu coração e de minha alma neste belo dia de dedicação. Creio que ele descreve também o que vocês sentem:
Neste dia de alegria e felicidade,
Senhor, Teu santo nome louvamos;
Neste sagrado local de adoração e verdade,
Em alta voz Tuas glórias proclamamos!
Charles C. Rich, em 7 de abril de 1863, falou sobre a necessidade de haver um tabernáculo para reunir-nos. Ele declarou:
“O que diremos a respeito desse tabernáculo? Podemos ver de imediato que podemos desfrutar a bênção de um edifício assim agora. Se adiarmos sua construção, quando há de ser erigido? Quando esse edifício for construído, poderemos então desfrutar as bênçãos e benefícios por ele proporcionados. O mesmo princípio se aplica a tudo o que tomamos nas mãos e com que lidamos, seja a construção de um templo, de um tabernáculo, seja o envio de grupos para as fronteiras a fim de reunir os pobres ou a realização de qualquer outro trabalho que seja exigido de nós. Nada que nos seja pedido será realizado até que comecemos a trabalhar e façamos algo por nós mesmos. Não temos ninguém mais com quem contar; portanto, nós é que devemos começar a trabalhar e a fazer a nossa parte.”2
Eles começaram a trabalhar!
Graças a Deus por nosso nobre profeta, o Presidente Gordon B. Hinckley, que com a presciência de um vidente reconheceu a necessidade deste magnífico edifício e, com a ajuda de muitos outros, “começou a trabalhar”. O resultado está hoje diante de nós, e ele será dedicado nesta manhã.
Como símbolo de nossa gratidão, como uma manifestação de nosso amor pelo Senhor, não deveríamos igualmente rededicarmos nossa vida e nosso lar de igual modo?
O Apóstolo Paulo, em sua epístola aos Coríntios, acrescentou uma dimensão apostólica a nosso empenho de construção ao declarar: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?”3
A necessidade de dedicação e renovado compromisso pessoal é algo essencial na sociedade de hoje. Basta passarmos os olhos por vários artigos de jornal para termos uma idéia de nossa difícil situação.
Lemos o seguinte em Associated Press: “Em nome da liberdade de expressão, a Suprema Corte dos Estados Unidos vetou uma lei federal que impedia as crianças de assistirem aos canais de TV a cabo com programação voltada ao sexo”.4
No The San Jose Mercury News foi publicado este artigo: “A Alemanha pode ser a locomotiva da Europa, mas ela pára aos domingos. No entanto, o poder do mercado global está começando a perturbar o tradicional dia de descanso alemão. Com … o estilo americano de vida, com lojas abertas [sete dias por semana, como já acontece], e a Internet oferecendo acesso 24 horas aos bens de consumo do mundo, essas leis rígidas referentes às compras são como um castelo dos séculos passados. Para competir com outras cidades cosmopolitas, Berlim precisa ser mais agressiva. ‘Queremos ganhar mais dinheiro.’”5
Ao vermos a desilusão sentida por incontáveis milhares de pessoas atualmente, estamos aprendendo da forma difícil o que um antigo profeta escreveu para nós há três mil anos: “Quem amar o dinheiro jamais dele se fartará; e quem amar a abundância nunca se fartará da renda”.6
O respeitado presidente Abraham Lincoln descreveu precisamente a nossa triste situação:
“Recebemos as mais abundantes bênçãos do céu. Fomos preservados por todos esses anos em paz e prosperidade. Crescemos tanto em riqueza quanto em poder … mas nos esquecemos de Deus. Esquecemo-nos da mão generosa que nos preservou em paz, nos multiplicou, nos enriqueceu e nos fortaleceu. Temos presunçosamente enganado nosso próprio coração imaginando que essas bênçãos foram produzidas por nossa superior sabedoria ou nosso próprio mérito. Embriagados com nosso constante sucesso, tornamo-nos por demais auto-suficientes para sentir a necessidade da graça protetora e redentora, e demasiadamente orgulhosos para orar ao Deus que nos criou.”7
Quando os mares da vida estão tempestuosos, o marinheiro sensato procura um porto pacífico. A família, como tradicionalmente se sabe, é esse refúgio seguro. “O lar é a base de uma vida justa, e nada pode tomar seu lugar ou preencher suas funções essenciais.”8 Na verdade, o lar é muito mais do que uma simples casa. Uma casa é feita de madeira, tijolos e pedra. Um lar é feito de amor, sacrifício e respeito. Uma casa pode ser um lar, e um lar pode ser um céu na Terra quando abriga uma família. Quando os verdadeiros valores e as virtudes básicas adornarem as famílias da sociedade, a esperança vencerá o desespero e a fé triunfará sobre a dúvida.
Esses valores, se forem aprendidos e vividos em nossa família, serão tão bem-vindos quanto a chuva sobre um solo ressequido. Haverá amor, a lealdade do indivíduo ao que há de melhor em si mesmo será ampliada; e as virtudes do caráter, da integridade e da bondade serão promovidas. A família precisa voltar a ocupar seu lugar de destaque em nosso modo de vida, porque ela é a única base possível sobre a qual uma sociedade de seres humanos responsáveis conseguiu encontrar para edificar seu futuro e manter os valores que estima no presente.
Um lar feliz pode ter vários aspectos. Alguns possuem uma família com um pai, mãe, irmãos e irmãs morando juntos num clima de amor. Outros consistem de uma mãe ou pai que cria um ou dois filhos sozinho, enquanto (que) outros lares abrigam uma única pessoa. Existem, porém, características que identificam um lar feliz, seja qual for o número ou a descrição de seus integrantes. Essas características são:
O hábito de orar.
Uma biblioteca de aprendizado.
Um legado de amor.
A esse respeito, no continente americano, Jacó, o irmão de Néfi, declarou: “Confiai em Deus com a mente firme e orai a ele com grande fé”.9
Perguntaram a um importante juiz o que nós, como cidadãos dos países do mundo, podemos fazer para reduzir o crime e a violação da lei, levando paz e alegria aos lares e nações. Ele respondeu, pensativo: “Sugiro que voltemos ao antigo hábito da oração familiar”.
A respeito de nossa vida pessoal e da biblioteca de aprendizado de nosso lar, o Senhor aconselhou: “Nos melhores livros buscai palavras de sabedoria; procurai conhecimento, sim, pelo estudo e também pela fé”.10
As obras padrão são a biblioteca de aprendizado a que me referi. Devemos ter cuidado em não subestimar a capacidade que nossos filhos têm de ler e compreender a palavra de Deus.
Como pais, devemos lembrar que nossa vida pode ser o livro da biblioteca da família que nossos filhos consideram mais precioso. Será que nosso exemplo é digno de ser seguido? Será que vivemos de modo que nosso filho ou filha possa dizer: “Quero seguir os passos de meu pai” ou “Quero ser como minha mãe”? Ao contrário dos livros da estante da biblioteca, cuja capa esconde seu conteúdo, o livro de nossa vida não pode ser fechado. Pais, somos realmente um livro aberto na biblioteca de aprendizado de nosso lar.
Será que deixamos um legado de amor? Será que nosso lar é um legado de amor? Bernadine Healy, aconselhou em um discurso:
“Como médica, tendo o grande privilégio de compartilhar alguns dos momentos mais tocantes da vida das pessoas, inclusive seus momentos finais, quero contar-lhes um segredo: As pessoas que estão diante da morte não pensam nos diplomas que receberam, nos cargos que ocuparam nem em quanto dinheiro conseguiram acumular. No final da vida, o que realmente importa são as pessoas que vocês amam e as que amam vocês. O círculo do amor é tudo, sendo uma boa medida de como uma vida foi vivida. Ele é o presente mais valioso de todos.”11
Nosso Senhor e Salvador deixou-nos uma mensagem de amor. Ela pode ser uma luz para iluminar nosso caminho individual para a exaltação.
“Próximo do final de sua vida, um pai começou a refletir como tinha passado sua vida na Terra. Tendo sido um autor muito respeitado e famoso de livros acadêmicos, ele disse: ‘Quisera ter escrito um livro a menos e levado mais vezes meus filhos para pescar’.”
O tempo passa muito depressa. Muitos pais dizem que parece ter sido ontem que seus filhos nasceram. Hoje esses filhos estão crescidos, talvez até já com seus próprios filhos. ‘Para onde vão os anos?’ perguntam eles. Não podemos voltar no tempo, não podemos parar o tempo nem podemos viver o futuro agora no presente. O tempo é uma dádiva, um tesouro que não pode ser colocado de lado para ser usufruído no futuro, mas precisa ser sabiamente utilizado no presente.
Será que temos desenvolvido um clima de amor em nosso lar? O Presidente David O. McKay declarou: “Um verdadeiro lar mórmon é aquele em que, se chegasse a nele entrar, Cristo gostaria de demorar-se e descansar”.12
O que estamos fazendo para garantir que nosso lar se enquadre nessa descrição? Será que somos assim?
Ao longo da jornada da vida, ocorrem tragédias. Alguns se desviam dos sinais que indicam o caminho para a vida eterna, para descobrir depois que o desvio que escolheram leva a um beco sem saída. A indiferença, o descaso, o egoísmo e o pecado fazem muitas vítimas entre as pessoas. Existem aqueles que, sem motivo aparente, marcham ao som de um compasso diferente, para mais tarde descobrirem que seguiram um caminho que os levará à dor e ao sofrimento.
Um convite está sendo feito hoje deste púlpito para todas as pessoas do mundo inteiro: Venham de seus caminhos errantes, viajantes cansados. Venham para o evangelho de Jesus Cristo. Venham para aquele refúgio celestial chamado lar. Ali descobrirão a verdade. Aprenderão ali a realidade da Trindade, o consolo do plano de salvação, a santidade do convênio matrimonial e o poder da oração pessoal. Voltem para o lar.
Muitos de nós devem lembrar-se de uma história que era contada quando éramos jovens, a respeito de um menininho que foi raptado da casa dos pais e levado para uma vila distante. Por causa disso, aquele menininho cresceu até tornar-se um rapaz, sem conhecer seus pais verdadeiros ou seu lar terreno.
Mas onde estava o seu lar? Onde poderia encontrar seu pai e sua mãe? Se ao menos conseguisse lembrar o nome deles, teria mais esperança nessa tarefa. Ele procurou desesperadamente lembrar-se ainda que fosse de um pequeno vislumbre de sua infância.
Como um lampejo de inspiração, ele lembrou-se do som de um sino que tocava no alto da torre da igreja da vila, todas as manhãs de domingo. O rapaz percorreu uma vila após outra, sempre procurando ouvir aquele sino conhecido. Alguns sinos eram semelhantes, outros muito diferentes do som que ele se lembrava.
Por fim, o cansado rapaz parou, certa manhã de domingo, diante da igreja de uma cidadezinha típica. Ele ouviu atentamente o sino começar a soar. O som lhe era familiar. Era diferente de todos os que tinha ouvido, com exceção do sino que tocava na lembrança que tinha da sua infância. Sim, era o mesmo sino. Seu som era verdadeiro. Seus olhos encheram-se de lágrimas. Seu coração ficou repleto de alegria. Sua alma transbordou de gratidão. O rapaz caiu de joelhos, ergueu os olhos para além da torre do sino, fitando o céu, e numa oração de gratidão sussurrou: “Graças a Deus. Estou em casa”.
Como o soar de um sino conhecido, assim será a verdade do evangelho de Jesus Cristo para a alma daquele que sinceramente procura a verdade. Muitos de vocês percorreram um longo caminho em sua jornada pessoal em busca do som da verdade. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias estende a vocês um sincero convite. Abram a porta para os missionários. Abram a mente para a palavra de Deus. Abram o coração, sim, a sua própria alma, para o som daquela voz mansa e suave que testifica a respeito da verdade. Como prometeu o profeta Isaías: “E os teus ouvidos ouvirão a palavra … dizendo: Este é o caminho, andai nele”.13 Então, como o rapaz que mencionei, vocês também, de joelhos, dirão a seu Deus e meu Deus: “Estou em casa”.
Que todos possam receber essa bênção, é minha oração, em nome de Jesus Cristo. Amém.