2000–2009
Jogos de Azar
Abril 2005


Jogos de Azar

Se vocês nunca se envolveram em jogos de pôquer ou outras formas de jogo, não comecem. Se estão envolvidos, então parem agora enquanto podem.

Meus queridos irmãos, estamos tendo uma ótima reunião. Gostaria de endossar tudo o que foi dito e deixar-lhes minha bênção.

Em primeiro lugar gostaria de falar algo a respeito daqueles a quem apoiamos esta tarde como membros dos Quóruns dos Setenta.

Estou convencido de que existem literalmente centenas de irmãos dignos e capazes para servirem como oficiais gerais da Igreja. Nós os encontramos em todas as partes. Os que foram apoiados hoje foram chamados para cumprir com responsabilidades específicas. Na maior parte dos casos, isso envolverá sacrifício, que será feito de boa vontade.

Entre os que foram apoiados, como perceberam, encontra-se meu filho de 63 anos de idade. Deixo claro que eu não indiquei seu nome. Isso foi feito por outras pessoas que tinham o direito de fazê-lo. Sou extremamente suscetível no que diz respeito ao nepotismo. Como fazem os advogados, recusei-me a participar. Acredito, contudo, que ele seja digno e qualificado sob todos os aspectos. Antes de mais nada, ele teve uma mãe ótima e maravilhosa. Gostaria de poder dizer o mesmo quanto a seu pai.

Digo isso apenas devido à minha suscetibilidade ao se tratar de nepotismo. Peço-lhes que não usem seu relacionamento comigo contra ele. Ele não tem como mudar isso.

Agora, vamos ao assunto que quero mencionar esta noite. Respondendo a inúmeros pedidos que me foram feitos quanto à posição da Igreja em relação a uma prática que está se tornando cada vez mais comum em nosso meio, particularmente entre os jovens. Refiro-me à questão dos jogos de azar, em suas diversas modalidades.

Conta-se que num domingo, Calvin Coolidge, que foi presidente dos Estados Unidos e era conhecido por ser um homem de poucas palavras, voltou da igreja para casa. A mulher lhe perguntou sobre o que o pregador tinha falado. Ele respondeu: “Pecado”. “O que foi que ele disse?” perguntou ela. “Que ele é contra”, foi sua concisa resposta.

Creio que eu poderia responder à pergunta sobre o jogo de modo igualmente breve. Somos contra.

Os jogos de azar podem ser encontrados em quase toda parte e estão crescendo. As pessoas jogam pôquer. Apostam em corridas de cavalos e cães. Jogam roleta e usam máquinas caça-níqueis. Reúnem-se em bares, salões e cassinos, e muito freqüentemente em suas próprias casas. Muitos não conseguem parar. O jogo vicia. Em muitos casos ele conduz a outras práticas e hábitos destrutivos.

Em muitos e muitos casos, os envolvidos não conseguem pagar o dinheiro que ele exige. Muitas vezes, ele rouba da esposa e filhos a segurança financeira.

O jogo de pôquer, como é chamado, está se tornando uma mania nas faculdades e até nas escolas do ensino médio.

Lerei para vocês um artigo do noticiário do New York Times:

“Para Michael Sandberg, tudo começou há poucos anos com apostas de pequeno valor entre amigos.

Mas no outono passado, conta ele, o jogo tornou-se uma fonte de renda milionária e uma alternativa para a faculdade de direito.

Sandberg, que tem 22 anos, praticamente divide seu tempo entre a universidade de Princeton, onde está cursando o último ano, e estuda política, e Atlantic City, onde joga pôquer com altas apostas (…).

Sandberg é um exemplo extremo de uma revolução de jogo nos campus universitários do país. Sandberg chama isso de explosão, que foi promovida pelos campeonatos de pôquer da televisão e uma proliferação de websites que oferecem jogos de pôquer online.

Os especialistas dizem ser difícil ignorar a popularidade do jogo nos campus. Em dezembro, por exemplo, um grêmio feminino da Universidade de Colúmbia realizou seu primeiro torneio de pôquer com 80 participantes, sendo dez dólares a aposta mínima exigida, enquanto que a Universidade da Carolina do Norte realizou seu primeiro torneio em outubro, com 175 participantes. Os dois torneios tiveram comparecimento em massa, inclusive com listas de espera. Na Universidade da Pensilvânia, são anunciados jogos particulares todas as noites na lista de e-mails do campus”. (Jonathan Cheng, Poker Is Major College Craze”, Deseret Morning News, 14 de março de 2005, p. A2)

A mesma coisa está acontecendo bem aqui em Utah.

Uma mãe escreveu-me o seguinte:

“Meu filho de dezenove anos joga pôquer na Internet e ninguém ali parece se importar que a pessoa tenha menos de 21 anos de idade. Tudo que é preciso é ter uma conta bancária com saldo positivo. Ele vem jogando continuamente há quase um ano. Ele costumava ter um emprego, mas o abandonou por estar tão viciado na Internet e em jogar pôquer a dinheiro. Ele participa o tempo todo de torneios de pôquer, e quando vence, é esse o dinheiro que ele usa para comprar as coisas de que precisa. Tudo que ele faz é sentar-se na frente do computador para jogar na Internet.”

Foi-me dito que Utah e o Havaí são hoje os dois únicos estados dos Estados Unidos que não legalizaram as loterias e os jogos de azar em suas diversas modalidades. Com base nas cartas que recebi de membros da Igreja, fica evidente que alguns de nossos jovens começam jogando pôquer. Eles adquirem o gosto de ganhar algo em troca de nada, e então saem do estado para lugares onde possam jogar legalmente.

Recebi uma carta que dizia: “Tenho visto esse mal entrando sorrateiramente na vida de muitas pessoas. A televisão está repleta disso. A ESPN tem um programa chamado Pôquer das Celebridades, e o Campeonato Nacional de Pôquer”.

A carta continua, dizendo: “Um de nossos amigos convidou meu marido a pagar uma taxa para inscrever-se no campeonato local de pôquer. Esse amigo disse: ‘Não é jogo. Seu dinheiro vai para um grande jarro, e quem vencer ganha o jarro como prêmio’”.

Isso não é jogo? Claro que é. O jogo é simplesmente um processo que coleta dinheiro e não oferece um retorno justo em bens ou serviços.

Temos agora loterias estaduais em grande escala. Antigamente isso era proibido por lei. Elas agora funcionam como meio de arrecadação de dinheiro.

Há 20 anos, falando em uma conferência, eu disse: “A febre da loteria recebeu um grande impulso recentemente quando o Estado de Nova York anunciou que três bilhetes vencedores dividiriam o prêmio de 41 milhões de dólares. As pessoas fizeram fila para comprar bilhetes. Um bilhete vencedor foi comprado por 21 operários de uma fábrica, com 778 segundos colocados, e 113.000 que receberam prêmios menores. Isso pode parecer muito bom.

Mas também houve 35.998.956 perdedores, cada um dos quais pagou para ter a chance de vencer e não recebeu nada em troca”. (Conference Report, outubro de 1985, p. 67; ou Ensign, novembro de 1985, p. 52.)

Alguns estados americanos impuseram pesados impostos aos cassi-nos como fonte de arrecadação. A empresa que gerencia o jogo também precisa ter lucros. Surge, então, o portador do bilhete premiado. Todos os outros que compraram bilhetes ficam de mãos vazias.

Sinto-me grato pelo Senhor ter-nos dado a lei do dízimo quando estabeleceu esta Igreja. Conversei certa vez com um líder de outra igreja que, pelo que entendi, utilizava o jogo de bingo para conseguir uma parte substancial de sua renda. Eu disse àquele homem: “Você já pensou em usar o dízimo para financiar sua igreja?” Ele respondeu: “Sim, e como eu gostaria que pudéssemos utilizar essa prática em vez de jogar bingo. Mas não creio que isso mude durante a minha vida”.

Foram abertos cassinos em reservas indígenas como meio de garantir renda para seus proprietários. Poucos ganham, e a maioria perde. É preciso que percam, para que alguns ganhem e a casa tenha lucro.

Um de nossos rapazes disse recentemente: “Pagar cinco dólares para assistir um filme no cinema — ou pagar cinco dólares para jogar pôquer, é a mesma coisa”.

Não é a mesma coisa. Em um caso você recebe algo pelo dinheiro que pagou; no outro, somente uma pessoa recebe o prêmio, e os outros ficam de mãos vazias.

A experiência mostrou que jogar pôquer pode levar a pessoa ficar obcecada com os jogos de azar.

Desde o princípio desta Igreja o jogo foi condenado.

Já em 1842, Joseph Smith descreveu as condições em que os santos viviam no Missouri. Ele disse: “Adquirimos grandes porções de terra, nossas fazendas produziam em abundância, e havia paz e felicidade dentro de nossa família e em toda a vizinhança;

Mas como não participávamos com nossos vizinhos (…) de suas festas noturnas, sua violação do Dia do Senhor, suas corridas de cavalos e jogos de azar, eles começaram primeiro a ridicularizar-nos, então a perseguir-nos, e por fim, uma multidão enfurecida foi reunida para queimar a casa dos santos, cobrir de piche e penas e chicotear muitos de nossos irmãos, até que, por fim, em oposição à lei, justiça e humanidade, eles nos expulsaram de nossa casa”. (Comp. de James R. Clark, Messages of The First Presidency of the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 6 vols. [1965–1975], vol. 1, p. 139)

Brigham Young, em outubro de 1844, disse o seguinte a respeito de Nauvoo: “Queremos eliminar todas as lojas de bebidas alcoólicas, casas de jogo e todos os outros estabelecimentos ou procedimentos desordeiros de nosso meio, e não tolerar a intemperança ou o vício entre nós”. (Messages of the First Presidency, vol. 1, p. 242.)

Os Presidentes e os conselheiros na Presidência da Igreja falaram muitas vezes a respeito desse mal. George Q. Cannon, conselheiro de três Presidentes da Igreja, disse: “Há muitos males no mundo contra os quais os jovens devem se precaver. Um deles são os jogos de azar. Existem várias modalidades desse mal, mas todas são ruins e não devem ser toleradas”. (Gospel Truth: Discourses of President George Q. Cannon, sel. Jerreld L. Newquist, 2 vols. [1974], vol. 2, p. 223)

O Presidente Joseph F. Smith declarou: “A Igreja não aprova o jogo, mas o condena firmemente como moralmente errado, e inclui nessa categoria os jogos de azar e as loterias, de todos os tipos, e desaprova veementemente a participação de seus membros nesses jogos”. (Editor’s Table”, Improvement Era, setembro de 1908, p. 807)

O Presidente Heber J. Grant aconselhou: “A Igreja sempre desaprovou e continua desaprovando todos os tipos de jogos de azar. Ela se opõe a todo tipo de jogos de azar, profissões ou os assim chamados negócios que tirem dinheiro de uma pessoa que o possua, sem oferecer algo de valor em troca desse dinheiro. Ela se opõe a todas as práticas que tenham a tendência de (…) degradar ou enfraquecer o elevado padrão moral que os membros da Igreja, e nossa comunidade de modo geral, sempre mantiveram”. (Messages of the First Presidency, vol. 5, p. 245.)

O Presidente Spencer W. Kimball disse: “Desde o princípio fomos advertidos contra toda espécie de jogo de azar. Toda pessoa se degrada e fica prejudicada, quer ela vença ou perca, se receber algo por nada, se receber algo sem esforço, se receber algo sem pagar o preço completo”. (Conference Report, abril de 1975, p. 6; Ensign, maio de 1975, p. 6)

O Élder Dallin H. Oaks, que está conosco aqui hoje, proferiu em 1987, um discurso excelente sobre o assunto no então chamado Ricks College. Ele se intitulava “Jogos de Azar — Moralmente Errados e Politicamente Insensatos”. (Ver Ensign, junho de 1987, p. 69–75.)

A essas declarações da posição da Igreja acrescento a minha própria. A participação em jogos de azar pode parecer uma diversão inofensiva. Mas existe neles uma intensidade que realmente se expressa no rosto daqueles que estão jogando. Em muitos casos, essa prática, que aparenta ser inocente, pode conduzir a um vício real. A Igreja sempre se opôs e continua se opondo a essa prática. Se vocês nunca se envolveram em jogos de pôquer ou outras formas de jogo, não comecem. Se estão envolvidos, então parem agora enquanto podem.

Existem maneiras melhores de se passar o tempo. Existem objetivos melhores nos quais vocês podem ocupar seu interesse e energia. Existem muitas coisas maravilhosas para se ler. É bem pouco provável que nos excedamos na leitura. Existem músicas a serem aprendidas e desfrutadas. Vocês podem simplesmente passar um tempo agradável juntos — dançando, passeando, andando de bicicleta ou fazendo outras coisas juntos, rapazes e moças, desfrutando a companhia uns dos outros, de forma sadia.

Estive lendo um livro que foi recentemente publicado pela Oxford University Press e recebeu muita atenção entre nós. Ele contém um estudo realizado pelos membros do corpo docente da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill. Refere-se à vida espiritual e religiosa dos adolescentes norte-americanos. As pessoas que realizaram o estudo entrevistaram jovens de várias religiões e tradições. (Ver Christian Smith e Melinda Lundquist Denton, Soul Searching: The Religious and Spiritual Lives of American Teenagers, [2005].)

Chegaram à conclusão de que nossos jovens SUD conhecem mais a respeito de sua religião, são mais dedicados a ela e vivem mais os seus ensinamentos referentes à conduta social do que outros jovens da mesma faixa etária.

Um dos pesquisadores declarou: “A Igreja SUD exige muito de seus adolescentes, e (…) na maior parte das vezes consegue o que exige deles”. (Elaine Jarvik, LDS Teens Rank Tops in Living Their Faith”, Deseret Morning News, 15 de março de 2005, p. A3)

A pesquisa mostrou ser mais provável que nossos jovens mantenham as mesmas crenças religiosas de seus pais, que freqüentem os serviços religiosos uma vez por semana para compartilhar sua fé com outros, que participem de jejuns e outras formas de sacrifício pessoal, e que tenham menos dúvidas a respeito de suas crenças religiosas.

Os analistas do estudo mencionam que nossos jovens acordam cedo para freqüentar o seminário. “É bem difícil acordar tão cedo”, disse um aluno do seminário. “Mas recebemos bênçãos por isso. É uma forma maravilhosa de se começar o dia.”

Os pesquisadores salientam que nem todos os nossos jovens são perfeitos, mas que na maioria dos casos eles se destacam de modo notável. Devo acrescentar que não há tempo para jogar pôquer para esses alunos do curso médio.

Meus queridos jovens amigos, a quem me dirijo nesta noite, vocês significam muito para nós. Vocês são muito importantes. Como membros desta Igreja, e como portadores do sacerdócio, vocês têm uma grande responsabilidade. Por favor, por favor, não desperdicem seu tempo ou seus talentos em objetivos inúteis. Se o fizerem, diminuirão sua capacidade de fazer coisas que valem a pena. Creio que isso embotará sua sensibilidade a seus estudos na escola. Seus pais ficarão desapontados, e com o passar dos anos, quando olharem para trás, vocês também ficarão desapontados.

O sacerdócio que vocês possuem, como rapazes, traz consigo o privilégio do ministério de anjos. Essa companhia é incompatível com a participação em jogos de azar.

“Faze o bem se houver uma escolha”. (“Faze o Bem”, Hinos, no 147)

Que as bênçãos do céu estejam com vocês é a minha humilde oração, ao deixar-lhes meu testemunho desta obra e meu amor por todos que dela participam, no sagrado nome de Jesus Cristo. Amém.