2000–2009
Oração e Inspiração
Outubro 2009


15:56

Oração e Inspiração

Experiências de inspiração e oração não são incomuns na Igreja. Elas fazem parte das revelações que o nosso Pai Celestial nos dá.

O Pai jamais enviaria Seus filhos para uma terra distante e perigosa, por toda uma vida de testes, sabendo que Lúcifer vagaria por ela desimpedido, sem antes lhes prover um poder pessoal de proteção. Também lhes daria meios para comunicar-se com Ele, de Pai para filho e de filho para Pai. Todo filho que nosso Pai envia à Terra conta com o Espírito de Cristo — ou a Luz de Cristo.1 Nenhum de nós está aqui sozinho e sem esperança de orientação e redenção.

A Restauração começou com a oração de um rapaz de quatorze anos e uma visão do Pai e do Filho. Foi assim que teve início a dispensação da plenitude dos tempos.

A Restauração do evangelho nos trouxe o conhecimento da existência pré-mortal. Nas escrituras, ficamos sabendo do Conselho no Céu e da decisão de enviar os filhos e as filhas de Deus para a mortalidade a fim de receberem um corpo e serem testados.2 Somos filhos de Deus. Temos um corpo espiritual que está abrigado, por enquanto, num tabernáculo terreno de carne. As escrituras declaram: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (I Coríntios 3:16).

Como filhos de Deus, aprendemos que fazemos parte de Seu “grande plano de felicidade” (Alma 42:8).

Sabemos que houve uma Guerra no Céu e que Lúcifer e seus seguidores foram expulsos sem um corpo:

“Satanás, aquela antiga serpente, sim, o diabo, (…) se rebelou contra Deus e procurou tomar o reino de nosso Deus e seu Cristo —

Portanto ele faz guerra aos santos de Deus e cerca-os” (D&C 76:28–29).

Recebemos nosso livre-arbítrio.3 Precisamos usá-lo com sabedoria e manter-nos próximos do Espírito pois, caso contrário, acabaremos cedendo às tentações do adversário. Sabemos que graças à Expiação de Jesus Cristo nossos erros podem ser limpos e nosso corpo mortal será restaurado a sua perfeita forma.

“Pois eis que o Espírito de Cristo é concedido a todos os homens, para que eles possam distinguir o bem do mal; portanto vos mostro o modo de julgar; pois tudo o que impele à prática do bem e persuade a crer em Cristo é enviado pelo poder e dom de Cristo; por conseguinte podeis saber, com um conhecimento perfeito, que é de Deus” (Morôni 7:16).

Há um modo perfeito de comunicação por intermédio do Espírito, “porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus” (I Coríntios 2:10).

Depois do batismo na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, há uma segunda ordenança: a “imposição de mãos para o dom do Espírito Santo” (Regras de Fé 1:4).

A doce e serena voz da inspiração vem mais como um sentimento do que como um som. A pura inteligência pode entrar em nossa mente. O Espírito Santo Se comunica com o nosso espírito mais pela mente do que pelos sentidos físicos.4 Essa orientação vem por meio de pensamentos, sentimentos, sussurros e impressões.5 É mais provável que sintamos as palavras da comunicação espiritual do que as ouçamos e que vejamos com os olhos espirituais do que com os olhos mortais.6

Servi por muitos anos no Quórum dos Doze Apóstolos com o Élder LeGrand Richards, que morreu aos 96 anos de idade. Ele contou que, quando tinha doze anos, assistiu a uma grande conferência geral no Tabernáculo. Lá, ouviu o Presidente Wilford Woodruff falar.

O Presidente Woodruff contou uma experiência em que fora guiado pelo Espírito. Ele tinha sido enviado pela Primeira Presidência para “reunir todos os santos de Deus da Nova Inglaterra e do Canadá e levá-los para Sião”.7

Chegou à casa de um dos irmãos, em Indiana, parou sua carruagem no jardim, onde ele, a esposa e um filho adormeceram, enquanto o restante da família dormia na casa. Pouco depois de se deitarem, o Espírito sussurrou, alertando-o: “Levante-se e mova sua carruagem”. Ele se levantou e moveu a carruagem até certa distância de onde estava. Ao voltar a deitar-se, o Espírito falou novamente para ele, dizendo: “Leve os cavalos para longe daquele carvalho”. Ele fez isso e novamente foi deitar-se.

Menos de 30 minutos depois disso, um redemoinho de vento atingiu a árvore na qual os cavalos estiveram amarrados e a arrancou do chão. Ela foi carregada por 90 metros, atravessando duas cercas. A imensa árvore, que tinha um tronco de um metro e meio de circunferência, caiu exatamente no lugar onde a carruagem estivera parada. Por ele ter seguido os sussurros do Espírito, a vida do Élder Woodruff, a de sua esposa e a de seu filho foram salvas.8

Esse mesmo Espírito pode inspirá-los e protegê-los.

Quando fui chamado para Autoridade Geral, há 50 anos, morávamos num pequeno terreno no Vale Utah, ao qual chamávamos de nossa fazenda. Tínhamos uma vaca, um cavalo, algumas galinhas e muitos filhos.

Num sábado, eu precisava ir de carro até o aeroporto e pegar um avião para chegar a uma conferência de estaca na Califórnia. Mas nossa vaca estava para dar à luz um bezerro e teve problemas. O bezerro nasceu, mas a vaca não conseguia levantar-se. Chamamos o veterinário, que veio logo em seguida. Ele disse que a vaca havia engolido um arame e que não viveria mais do que aquele dia.

Anotei o número do telefone da empresa de produtos de origem animal para que minha mulher lhes telefonasse pedindo que levassem a vaca assim que ela morresse.

Antes de partir, fizemos uma oração em família. Nosso filhinho caçula fez a oração. Depois de pedir ao Pai Celestial que “abençoasse o papai em suas viagens e abençoasse todos nós”, ele fez uma súplica muito sincera. Ele disse: “Pai Celestial, por favor, abençoa a vaca Bossy, para que ela fique boa”.

Na Califórnia, contei o que aconteceu e disse: “Ele precisa aprender que não recebemos assim tão facilmente tudo o que pedimos em oração”.

Havia uma lição a ser aprendida, mas eu é que teria de aprendê-la, e não meu filho. Quando voltei para casa, no domingo à noite, Bossy tinha “ficado boa”.

Esse processo não se restringe aos profetas. O dom do Espírito Santo opera igualmente em homens, em mulheres e até em criancinhas. É nesse maravilhoso dom e poder que encontramos o remédio espiritual para todos os problemas.

“E agora, ele transmite a sua palavra aos homens por intermédio de anjos; sim, não só aos homens mas também às mulheres. Ora, isso não é tudo; muitas vezes as crianças recebem palavras que confundem o sábio e o instruído” (Alma 32:23).

O Senhor tem muitos meios de derramar conhecimento em nossa mente a fim de inspirar-nos, guiar-nos, ensinar-nos, corrigir-nos e alertar-nos. O Senhor disse: “Eu te falarei em tua mente e em teu coração, pelo Espírito Santo que virá sobre ti e que habitará em teu coração” (D&C 8:2).

E Enos escreveu: “Enquanto estava assim lutando no espírito, eis que a voz do Senhor me veio outra vez à mente” (Enos 1:10).

Vocês podem saber coisas que precisam saber. Orem para que aprendam a receber essa inspiração e para que permaneçam dignos de recebê-la. Mantenham esse canal — a sua mente — limpo e livre da agitação do mundo.

O Élder Graham W. Doxey, que serviu no Segundo Quórum dos Setenta, contou-me uma experiência que teve. Sua mãe, que mais tarde foi conselheira na presidência geral da Primária, também me contou essa experiência.

Durante a Segunda Guerra Mundial, ele estava na marinha, servindo na China. Ele e vários outros companheiros foram de trem até a Cidade de Tientsin para passear.

Mais tarde, pegaram um trem para retornar à base, mas depois de mais de uma hora, viram que o trem virou para o norte. Estavam no trem errado! Nenhum deles falava chinês. Puxaram a corda de emergência e pararam o trem. Desembarcaram em algum lugar do interior do país, sem nada a fazer a não ser voltar a pé para a cidade.

Depois de caminharem por algum tempo, encontraram um trole de tração humana, do tipo usado pelos ferroviários. Eles o colocaram nos trilhos e começaram a impulsionar as alavancas para fazê-lo mover-se. Ele descia bem as ladeiras, mas tinha que ser empurrado nas subidas.

Ao chegarem numa descida íngreme, subiram no trole e o deixaram rolar pelos trilhos. Graham foi o último a subir. O único lugar disponível era na parte da frente do carrinho. Ele correu ao lado do trole e finalmente subiu a bordo. Ao fazer isso, escorregou e caiu. Foi sendo empurrado de costas, com os pés apoiados no trole para não ser atropelado. À medida que o carrinho foi ganhando velocidade, ele ouviu a voz de sua mãe exclamar: “Bud, tenha cuidado!”

Ele calçava pesadas botas militares. O pé escorregou, e a sola da bota se prendeu numa engrenagem da roda e fez o carrinho parar a 30 cm de sua mão.

Seus pais, que na época presidiam a Missão dos Estados do Centro-Leste dos Estados Unidos, estavam dormindo num quarto de hotel. A mãe ergueu-se no leito, às 2h da madrugada, e acordou o marido: “Bud está em perigo!” Ajoelharam-se ao lado da cama e oraram pela segurança do filho.

A primeira carta que ele recebeu depois disso dizia: “Bud, o que houve? O que aconteceu com você?”

Ele, então, escreveu contando o que havia acontecido. Quando compararam os horários, no exato momento em que ele estava sendo empurrado nos trilhos, os pais estavam de joelhos num quarto de hotel, do outro lado do mundo, orando por sua segurança.

Essas experiências de inspiração e oração não são incomuns na Igreja. Elas fazem parte das revelações que o nosso Pai Celestial nos dá.

Uma das mais afiadas ferramentas do adversário é convencer-nos de que não somos mais dignos de orar. Não importa quem você seja ou o que tenha feito, sempre pode orar.

O Profeta Joseph Smith prometeu que “todos os seres com corpos possuem domínio sobre os que não os têm”.9

Quando chegar a tentação, você pode inventar uma tecla imaginária para apagá-la da mente, talvez a letra de um hino favorito. É sua mente que está no comando. O seu corpo é apenas seu instrumento. Quando um pensamento indigno forçar caminho para dentro da mente, substitua-o usando a tecla de apagar. A música digna é muito poderosa e pode ajudá-lo a controlar seus pensamentos.10

Quando Oliver Cowdery fracassou em sua tentativa de traduzir, o Senhor lhe disse:

“Eis que não compreendeste; supuseste que eu o concederia a ti, quando nada fizeste a não ser pedir-me.

Eis que eu te digo que deves estudá-lo bem em tua mente; depois me deves perguntar se está certo e, se estiver certo, farei arder dentro de ti o teu peito; portanto sentirás que está certo.

Mas se não estiver certo, não terás tais sentimentos” (D&C 9:7–9).

Esse princípio é ilustrado na história de uma menininha. Ela estava zangada com o irmão que havia construído uma armadilha para capturar pardais.

Sem ter conseguido nenhuma ajuda, ela disse para si mesma: “Bem, vou orar a respeito disso”.

Depois da oração, a menina disse à mãe: “Sei que ele não vai apanhar nenhum pardal em sua armadilha, porque orei a respeito disso. Eu tenho certeza de que ele não vai pegar nenhum pardal”!

A mãe disse: “Como você pode ter tanta certeza?”

Ela disse: “Depois de orar, fui até lá fora e chutei aquela velha armadilha. Ela ficou em pedaços”!

Ore, mesmo que você seja jovem e rebelde como o profeta Alma, ou tenha uma mente fechada como a de Amuleque, que “sabia a respeito [dessas] coisas, embora não quisesse saber” (Alma 10:6).

Aprenda a orar. Ore sempre. Ore na mente e no coração. Ore de joelhos. A oração é sua chave pessoal para o céu. A fechadura está do seu lado do véu. Também aprendi a terminar todas as minhas orações, dizendo “Seja feita a tua vontade” (Mateus 6:10; ver também Lucas 11:2; 3 Néfi 13:10).

Não espere livrar-se totalmente dos problemas, decepções, sofrimentos e desânimos, porque foi para suportar essas coisas que viemos para a Terra.

Alguém escreveu:

Com mãos irrefletidas e impacientes

Embaraçamos os planos

Que o Senhor criou.

E, quando choramos de dor, Ele diz:

“Fique quieto, homem, enquanto eu desfaço o nó”.11

As escrituras prometem: “Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar” (I Coríntios 10:13).

O Senhor disse: “Achegai-vos a mim e achegar-me-ei a vós; procurai-me diligentemente e achar-me-eis; pedi e recebereis; batei e ser-vos-á aberto” (D&C 88:63).

Iniciamos esta sessão da conferência com o apoio às autoridades. O primeiro a ser apoiado foi Thomas S. Monson, como Presidente de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Conheço o Presidente Monson, creio eu, tão bem quanto qualquer homem da Terra o conhece. E quero prestar um testemunho especial de que ele foi “chamado por Deus, por profecia” (Regras de Fé 1:5). Ele precisa de nossas orações — bem como sua esposa, Frances, e sua família — devido ao fardo extraordinariamente pesado que repousa sobre ele.

Oro para que ele seja apoiado física, intelectual e espiritualmente, e que se torne óbvio para a Igreja, como está óbvio para os que se acham mais próximos dele, que ele foi “chamado por Deus, por profecia”. E depois, “pela imposição de mãos, por quem [possui] autoridade, para pregar o Evangelho e administrar suas ordenanças” (Regras de Fé 1:5), assumiu seu cargo e ofício.

Que o Senhor nos abençoe e sustenha o Presidente Monson e sua família em todas as circunstâncias em que seja necessário cumprir o grande encargo que ele tem sobre os ombros. Presto-lhes esse testemunho e invoco essa bênção como servo do Senhor e em nome de Jesus Cristo. Amém.

Notas

  1. Ver D&C 84:46.

  2. Ver D&C 138:56; ver também Romanos 8:16.

  3. Ver D&C 101:78.

  4. Ver I Coríntios 2:14; D&C 8:2; 9:8–9.

  5. Ver D&C 11:13; 100:5.

  6. Ver 1 Néfi 17:45.

  7. Ver Wilford Woodruff, Conference Report, abril de 1898, p. 30; “Remarks”, Deseret Weekly, 5 de setembro de 1891, p. 323.

  8. Ver Wilford Woodruff, Leaves from My Journal (1881), p. 88. Ver também Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Wilford Woodruff, (2005), p. 48.

  9. Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith, (2007), p. 220.

  10. Ver D&C 25:12.

  11. Autor desconhecido, em Jack M. Lyon e Outros, eds., Best-Loved Poems of the LDS People, (1996), p. 304.