2010–2019
Escolhei hoje
Outubro de 2018


13:49

Escolhei hoje

A magnitude de nossa felicidade eterna depende de escolhermos o Deus vivo e de nos unirmos a Ele em Sua obra.

A personagem de ficção Mary Poppins é uma típica babá inglesa — exceto por suas habilidades mágicas. Ela voa com o vento para ajudar a problemática família Banks, que mora no número 17 da rua Cherry Tree Lane, em Edwardian, Londres. Ela é encarregada de cuidar das crianças, Jane e Michael. De modo firme, mas gentil, ela começa a ensiná-los lições valiosas com um toque de magia.

Jane e Michael progridem consideravelmente, no entanto, Mary decide que é hora de seguir em frente. Na produção teatral, o amigo de Mary, Bert, que é limpador de chaminés, tenta dissuadi-la da ideia de partir. Ele argumenta: “Mas são bons meninos, Mary”.

Ela retruca: “Eu estaria preocupada com eles se eles não fossem bons? Mas não consigo ajudá-los se eles não me permitirem, e não há nada mais difícil do que ensinar uma criança que já sabe tudo”.

Bert pergunta: “Então?”

Mary responde: “Então eles têm que seguir adiante por conta própria”.

Irmãos e irmãs, assim como Jane e Michael Banks, somos os “bons meninos” que merecem atenção. Nosso Pai Celestial quer nos ajudar e nos abençoar, mas nem sempre O permitimos fazê-lo. Às vezes, até agimos como se já soubéssemos tudo. E também precisamos “seguir adiante” por nossa conta. Por isso viemos à Terra de um lar pré-mortal, celestial. Nosso encargo de “seguir adiante” requer que façamos escolhas.

O objetivo de nosso Pai Celestial ao nos ensinar não é que Seus filhos façam o que é certo, é ajudar Seus filhos a escolherem fazer o que é certo e, por fim, se tornarem semelhantes a Ele. Se Ele simplesmente quisesse que fôssemos obedientes, usaria recompensas e punições imediatas para influenciar nosso comportamento.

Entretanto, Deus não está interessado em que Seus filhos sejam apenas “bichos de estimação” adestrados que não vão morder chinelos na sala de estar celestial. Não, Deus quer que Seus filhos cresçam espiritualmente e se unam a Ele nos negócios da família.

Deus estabeleceu um plano pelo qual podemos nos tornar herdeiros em Seu reino, um caminho do convênio que nos leva a nos tornarmos semelhantes a Ele, termos o tipo de vida que Ele tem e a vivermos para sempre como família em Sua presença. A escolha pessoal foi — e é — parte crucial desse plano, sobre o qual aprendemos em nossa existência pré-mortal. Aceitamos o plano e escolhemos vir à Terra.

Para garantir que exerceríamos fé e aprenderíamos a usar nosso arbítrio de modo adequado, um véu de esquecimento foi colocado em nossa mente para que não nos lembrássemos do plano de Deus. Sem o véu, os propósitos de Deus não seriam alcançados porque não conseguiríamos progredir e nos tornar os herdeiros fiéis que Ele quer que sejamos.

O profeta Leí disse: “O Senhor Deus concedeu, portanto, que o homem agisse por si mesmo; e o homem não poderia agir por si mesmo a menos que fosse atraído por um ou por outro”. Basicamente, uma opção é representada por Jesus Cristo, o Primogênito do Pai. A outra opção é representada por Satanás, Lúcifer, que quer destruir o arbítrio e usurpar o poder.

Em Jesus Cristo, “temos um Advogado para com o Pai”. Após completar Seu sacrifício expiatório, Jesus “subiu aos céus (…) para reclamar do Pai os direitos de misericórdia que tem sobre os filhos dos homens”. E, tendo reclamado os direitos de misericórdia, “ele advoga a causa dos filhos dos homens”.

A defesa de Cristo perante o Pai a nosso favor não é contraditória. Jesus Cristo, que permitiu que Sua vontade fosse absorvida pela vontade do Pai, não apoia coisa alguma diferente do que o Pai desejava desde o princípio. O Pai Celestial sem dúvida Se alegra com nossas conquistas e as aprova.

A defesa de Cristo é, ao menos em parte, lembrar-nos de que Ele pagou por nossos pecados e que ninguém está excluído do alcance da misericórdia de Deus. Para aqueles que acreditam em Jesus Cristo, que se arrependem, que são batizados e que perseveram até o fim — um processo que leva à reconciliação —, o Salvador perdoa, cura e defende. Ele é nosso adjutor, consolador e intercessor, atestando e endossando nossa reconciliação com Deus.

Em contrapartida, Lúcifer é o acusador ou o promotor. João, o Revelador, descreveu a última derrota de Lúcifer: “E ouvi uma grande voz no céu, que dizia: Agora chegada está a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do seu Cristo”. Por quê? “Porque já o acusador de nossos irmãos foi expulso, o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite. E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram a sua vida até a morte”.

Lúcifer é esse acusador. Ele se pronunciou contra nós na existência pré-mortal e continua a nos acusar nesta vida. Ele procura nos destruir. Quer que sintamos uma angústia sem fim. Ele é quem nos diz que não somos aceitáveis, quem nos diz que não somos bons o suficiente, quem nos diz que não há como reparar os erros. Ele é o grande agressor, aquele que nos escorraça quando estamos desprotegidos.

Se Lúcifer estivesse ensinando uma criança a andar e ela cambaleasse, ele gritaria com ela, puniria essa criança e diria que parasse de tentar. A maneira de Lúcifer agir traz desânimo e desespero — mais cedo ou mais tarde, sempre. O pai das mentiras é o maior disseminador de falsidades e “ele [procurará] tornar todos os homens tão miseráveis como ele próprio”.

Se Cristo estivesse ensinando uma criança a andar e ela cambaleasse, Ele a ajudaria a se levantar e a incentivaria a dar os passos seguintes. Cristo é o adjutor e o consolador. Sua maneira de agir traz alegria e esperança — mais cedo ou mais tarde, sempre.

O plano de Deus contém instruções para nós, mencionadas nas escrituras como mandamentos. Esses mandamentos não são um conjunto de regras excêntricas ou arbitrárias impostas somente para nos treinar a ser obedientes. Eles estão ligados ao desenvolvimento de nossos atributos divinos, ao retorno ao nosso Pai Celestial e ao recebimento de alegria duradoura. A obediência a Seus mandamentos não é cega; escolhemos conscientemente a Deus e Seu caminho de volta ao lar. O padrão que nos foi dado é o mesmo dado a Adão e Eva: “Depois de ter-lhes revelado o plano de redenção, Deus lhes deu mandamentos”. Apesar de Deus querer que estejamos no caminho do convênio, Ele nos dá a honra de escolher.

De fato, Deus deseja, espera e orienta que cada um de Seus filhos escolha por si mesmo. Ele não vai nos forçar. Por meio do dom do arbítrio, Deus permite que Seus filhos “[ajam] por si mesmos e não [recebam] a ação”. O arbítrio nos permite escolher seguir ou não o caminho. Ele permite que deixemos ou não o caminho. Assim como não podemos ser forçados a obedecer, não podemos ser forçados a desobedecer. Ninguém pode, sem nossa cooperação, tirar-nos do caminho. (Isso não deve ser confundido com aqueles cujo arbítrio é violado. Eles não estão fora do caminho; são vítimas. Eles recebem a compreensão, o amor e a compaixão de Deus.)

Mas, quando saímos do caminho, Deus Se entristece porque sabe que, no final, isso invariavelmente nos levará a ser menos felizes e a perder bênçãos. Nas escrituras, deixar o caminho representa o pecado, e a consequente perda da felicidade e das bênçãos é chamada de punição. Nesse sentido, Deus não está nos punindo, punição é uma consequência de nossas próprias escolhas, não das Dele.

Quando descobrimos que estamos fora do caminho, podemos continuar fora dele ou, devido à Expiação de Jesus Cristo, podemos escolher mudar a direção e retornar ao caminho. Nas escrituras, o processo de decidir mudar e de retornar ao caminho representa o arrependimento. Falhar ao nos arrepender significa escolher nos desqualificar para as bênçãos que Deus deseja nos conceder. Se não estivermos “dispostos a usufruir aquilo que [poderíamos] ter recebido”, “[regressaremos] a [nosso] próprio lugar para usufruir aquilo que [estivermos] dispostos a receber” — nossa escolha, não a de Deus.

Não importa há quanto tempo estejamos fora do caminho nem o quanto estejamos afastados, no momento em que decidimos mudar, Deus nos ajuda a voltar. Da perspectiva de Deus, por meio do arrependimento sincero e prosseguindo com firmeza em Cristo, uma vez que estamos de volta ao caminho, é como se nunca tivéssemos nos desviado dele. O Salvador paga por nossos pecados e nos liberta da perda iminente da felicidade e das bênçãos. Isso é retratado nas escrituras como o perdão. Após o batismo, todos os membros se desviam do caminho — alguns de nós até se afastam. Portanto, exercer fé em Jesus Cristo, arrepender-se, receber ajuda Dele e ser perdoado não são eventos isolados, mas processos que duram por toda a vida, processos que são repetitivos e frequentes. Desse modo “[perseveramos] até o fim”.

Precisamos escolher a quem vamos servir. A magnitude de nossa felicidade eterna depende de escolhermos o Deus vivo e de nos unirmos a Ele em Sua obra. Ao nos esforçarmos para “seguir adiante” por nossa conta, exercitamos o uso correto de nosso arbítrio. Como disseram duas ex-presidentes gerais da Sociedade de Socorro, não devemos ser “bebês, que precisam de atenção e correção o tempo todo”. Não, Deus quer que nos tornemos adultos maduros e que governemos nossa vida.

Escolher seguir o plano do Pai é o único meio pelo qual podemos nos tornar herdeiros em Seu reino; somente desse modo Ele pode confiar que nem sequer pediremos o que for contrário à vontade Dele. Entretanto, precisamos nos lembrar de que “não há nada mais difícil do que ensinar uma criança que já sabe tudo”. Então precisamos estar prontos para aceitarmos ser ensinados à maneira do Senhor, pelo Senhor e pelos Seus servos ungidos. Podemos confiar que somos filhos amados de nossos Pais Celestiais e merecemos ser ensinados e saber que estar “por nossa conta” nunca vai significar estarmos “sozinhos”.

Como o profeta Jacó, do Livro de Mórmon, disse, digo também:

“Animai-vos, portanto, e lembrai-vos de que sois livres para agir por vós mesmos — para escolher o caminho da morte eterna ou o caminho da vida eterna.

Portanto, reconciliai-vos, meus amados irmãos [e irmãs], com a vontade de Deus e não com a vontade do diabo (…); e lembrai-vos, depois de vos reconciliardes com Deus, de que é somente na graça e pela graça de Deus que sois salvos”.

Portanto, escolham a fé em Cristo; escolham o arrependimento; escolham ser batizados e receber o Espírito Santo; optem por se prepararem conscientemente para o sacramento e partilhem dele dignamente; escolham fazer convênios no templo; e decidam servir ao Deus vivo e aos filhos Dele. Nossas escolhas determinam quem somos e quem vamos nos tornar.

Concluo com a parte final da bênção de Jacó: “Possa Deus, portanto, levantar-vos (…) da morte eterna, pelo poder da expiação, a fim de que sejais recebidos no eterno reino de Deus”. Em nome de Jesus Cristo. Amém.