2010–2019
Tomar sobre nós o nome de Jesus Cristo
Outubro de 2018


10:24

Tomar sobre nós o nome de Jesus Cristo

Que tomemos fielmente sobre nós o nome de Jesus Cristo — vendo como Ele vê, servindo como Ele serviu e confiando que Sua graça é suficiente.

Meus queridos irmãos e irmãs, recentemente, ao refletir sobre o encargo que o presidente Russell M. Nelson nos deu de chamarmos a Igreja por seu nome revelado, abri as escrituras na passagem em que o Salvador instrui os nefitas a respeito do nome da Igreja. Ao ler as palavras do Salvador, fiquei impressionado ao ver que Ele também disse às pessoas: “Deveis tomar sobre vós o nome de Cristo”. Isso me levou a pensar em minha vida e perguntar: “Estou tomando sobre mim o nome do Salvador como Ele gostaria que eu fizesse?” Quero hoje compartilhar algumas das impressões que recebi em resposta a minha pergunta.

Primeiro, tomar sobre nós o nome de Cristo significa nos esforçarmos fervorosamente para ver como Deus vê. Como Deus vê? Joseph Smith disse: “Embora uma parte da raça humana julgue e condene a outra sem misericórdia, o Grande Pai do universo contempla toda a família humana com cuidado, carinho e atenção paternos”, porque “Seu amor [é] imensurável”.

Há poucos anos, minha irmã mais velha faleceu. Ela teve uma vida problemática. Teve dificuldades em viver o evangelho e nunca foi realmente ativa. O marido a abandonou, deixando-a com quatro filhos pequenos para criar. Na noite de seu falecimento, num quarto com os filhos presentes, dei-lhe uma bênção para que retornasse em paz ao lar. Naquele momento percebi que, com demasiada frequência, eu tinha definido a vida da minha irmã pensando somente em suas provações e sua inatividade. Ao impor as mãos sobre sua cabeça naquela noite, fui fortemente repreendido pelo Espírito, o que me deixou bem ciente de suas virtudes, permitindo que eu a visse como Deus a via: não como alguém que teve problemas com o evangelho e na vida, mas alguém que teve de lidar com questões difíceis que eu não tive de enfrentar. Eu a vi como uma mãe magnífica que, a despeito de imensos obstáculos, tinha criado quatro belos e incríveis filhos. Eu a vi como a amiga de nossa mãe, que reservou um tempo para cuidar dela e lhe fazer companhia depois que nosso pai morreu.

Naquela última noite com minha irmã, creio que Deus estava me perguntando: “Não vê que todos a seu redor são seres sagrados?”

Brigham Young ensinou:

“Quero exortar aos santos (…) que compreendam os homens e as mulheres como eles são, e não como vocês são”.

“Muito frequentemente se diz: ‘Tal pessoa cometeu um erro e não pode ser considerada santa’. (…) Ouvimos alguém dizer palavrões e mentir (…) [ou] quebrar o Dia do Senhor. (…) Não julguem essas pessoas, pois não conhecem o desígnio do Senhor em relação a elas. (…) [Em vez disso], sejam pacientes com elas.”

Será que algum de vocês consegue imaginar o Salvador deixando você e seus fardos passarem despercebidos por Ele? O Salvador olhou para o samaritano, a adúltera, o publicano, o leproso, o mentalmente enfermo e o pecador com os mesmos olhos. Todos eram filhos do Pai Celestial. Todos podiam ser redimidos.

Conseguem imaginá-Lo voltando as costas para alguém com dúvidas a respeito do seu lugar no reino de Deus ou alguém aflito de alguma maneira? Eu não consigo. Aos olhos de Cristo, toda alma tem infinito valor. Ninguém está preordenado a fracassar. A vida eterna é possível para todos.

Com a repreensão do Espírito junto ao leito da minha irmã, aprendi uma grande lição: ao vermos como Ele vê, nossa vitória será dupla — a redenção daqueles com quem interagimos e nossa própria redenção.

Segundo, para tomar sobre nós o nome de Cristo, temos que não apenas ver como Deus vê, mas precisamos também fazer Sua obra e servir como Ele serviu. Vivemos os dois grandes mandamentos, submetemo-nos à vontade de Deus, coligamos Israel e deixamos nossa luz “[resplandecer] (…) diante dos homens”. Recebemos e vivemos os convênios e as ordenanças de Sua Igreja restaurada. Ao fazermos isso, Deus nos investe com poder para nos abençoar, abençoar nossa família e a vida de outras pessoas. Perguntem a si mesmos: “Conheço alguém que não precisa do poder do céu em sua vida?”

Deus fará maravilhas entre nós à medida que nos santificarmos. Santificamo-nos ao purificar nosso coração. Purificamos nosso coração à medida que damos ouvidos a Ele, arrependemo-nos de nossos pecados, convertemo-nos e amamos como Ele ama. O Salvador nos perguntou: “Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis?”

Fiquei sabendo recentemente de uma experiência da vida do élder James E. Talmage que me fez parar e refletir sobre como amo e sirvo às pessoas ao meu redor. Quando ele era um jovem professor, antes de se tornar apóstolo, no auge da epidemia mortal de difteria de 1892, o élder Talmage descobriu uma família de pessoas desconhecidas, não membros da Igreja, que moravam perto dele e que tinham sido acometidas pela doença. Ninguém queria se colocar em risco entrando na casa infectada. O élder Talmage, porém, imediatamente se dirigiu à casa deles. Encontrou quatro crianças: uma de 2 anos e meio morta na cama, uma de 5 anos e uma de 10 anos com muitas dores, e uma de 13 anos bem enfraquecida. Os pais estavam sofrendo, com tristeza e fadiga.

O élder Talmage vestiu as crianças, tanto as vivas quanto a morta, varreu os aposentos, levou as roupas sujas para fora e queimou os trapos imundos infectados pela doença. Trabalhou o dia inteiro e voltou na manhã seguinte. A criança de 10 anos tinha morrido durante a noite. Ele pegou a de 5 anos no colo e a acalentou. Ela tossiu muco com sangue sobre o rosto e as roupas dele. Ele escreveu: “Não conseguia largá-la”, e a segurou no colo até que ela morreu em seus braços. Ajudou a enterrar todas as três crianças e providenciou alimento e roupas limpas para a família que estava de luto. Ao voltar para casa, o irmão Talmage jogou fora suas roupas, tomou banho em uma solução de zinco, isolou-se de sua família e sofreu um leve surto da doença.

A vida de muitas pessoas ao nosso redor está em jogo. Os santos tomam o nome do Salvador sobre si ao se santificarem e ministrarem a todos, independentemente de onde estejam ou de qual seja sua situação — vidas são salvas quando fazemos isso.

Por fim, creio que precisamos confiar Nele para tomar Seu nome sobre nós. Numa reunião da qual participei certo domingo, uma moça perguntou algo assim: “Meu namorado e eu terminamos nosso namoro, e ele decidiu sair da Igreja. Ele me diz que nunca se sentiu tão feliz quanto agora. Como isso é possível?”

O Salvador respondeu a essa pergunta quando disse aos nefitas: “Todavia, se [sua vida] não estiver edificada sobre o meu evangelho, mas edificada sobre as obras dos homens ou sobre as obras do diabo, em verdade vos digo que terão alegria em suas obras por um tempo, porque logo chegará o fim”. Simplesmente não há alegria duradoura fora do evangelho de Jesus Cristo.

Ao término daquela reunião, no entanto, pensei nas muitas pessoas boas que conheço que enfrentam dificuldades, com grandes fardos e mandamentos que lhes parecem muito difíceis. Perguntei a mim mesmo: “O que mais o Salvador poderia dizer a elas?” Creio que Ele perguntaria: “Você confia em mim?” Para a mulher com um fluxo de sangue, Ele disse: “A tua fé te salvou; vai em paz”.

Uma de minhas escrituras favoritas é João 4:4: “E era-lhe necessário passar por Samaria”.

Por que amo essa escritura? Porque não era necessário que Jesus passasse por Samaria. Os judeus de Sua época desprezavam os samaritanos e viajavam por uma estrada que contornava Samaria. Mas Jesus escolheu ir para lá a fim de declarar diante de todo o mundo pela primeira vez que Ele era o Messias prometido. Para essa mensagem, Ele não apenas escolheu um grupo proscrito, mas também uma mulher — e não qualquer mulher, mas uma mulher vivendo em pecado — considerada na época como a mais desprezível de todas as pessoas. Creio que Jesus fez isso para que cada um de nós sempre compreenda que Seu amor é maior que os temores, as feridas, os vícios, as dúvidas, as tentações, os pecados, as famílias desfeitas, a depressão e as ansiedades, as doenças crônicas, a pobreza, os maus-tratos, o desânimo e a solidão. Ele quer que todos saibam que não há nada nem ninguém que Ele seja incapaz de curar e de livrar para que tenha alegria eterna.

Sua graça basta. Somente Ele desceu abaixo de todas as coisas. O poder de Sua Expiação é o poder de vencer todo fardo em nossa vida. A mensagem da mulher junto ao poço é a de que Ele conhece a situação de nossa vida e que sempre podemos andar com Ele, onde quer que estejamos. Para ela e para cada um de nós, Ele diz: “Aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, (…) [mas terá] uma fonte de água que salte para a vida eterna”.

Em qualquer das jornadas da vida, por que nos afastaríamos do único Salvador que tem todo o poder para nos curar e salvar? Seja qual for o preço que tenhamos que pagar, vale a pena. Irmãos e irmãs, decidamos aumentar nossa fé no Pai Celestial e em nosso Salvador Jesus Cristo.

Do fundo de minha alma, presto testemunho de que A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é a Igreja do Salvador e é dirigida pelo Cristo vivo por meio de um profeta verdadeiro. Minha oração é que tomemos fielmente sobre nós o nome de Jesus Cristo — vendo como Ele vê, servindo como Ele serviu e confiando que Sua graça é suficiente para nos conduzir a nosso lar e a uma alegria eterna. Em nome de Jesus Cristo. Amém.

Notas

  1. Ver 3 Néfi 27:3–8.

  2. Ver 3 Néfi 27:5–6; ver também Doutrina e Convênios 20:77 e o convênio do sacramento.

  3. Ver Dallin H. Oaks, His Holy Name, 1998, para um estudo abrangente a respeito de tomar Seu nome sobre nós e ser uma testemunha do nome de Jesus Cristo.

  4. Ver Mosias 5:2–3. Parte da vigorosa mudança no coração ocorrida em meio ao povo do rei Benjamim, que tomou sobre si o nome de Cristo, foi a de que seus olhos se abriram para “grandes visões”. Aqueles que herdam o reino celestial são pessoas que “veem como são vistos” (Doutrina e Convênios 76:94).

  5. Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith, 2007, p. 42.

  6. Brigham Young, Journal of Discourses, vol. 8, p. 37.

  7. Discursos de Brigham Young, comp. por John A. Widtsoe, 1954, p. 278.

  8. Ver 3 Néfi 17:7.

  9. Ver João 3:14–17; Atos 10:34; 1 Néfi 17:35; 2 Néfi 26:33; Doutrina e Convênios 50:41–42; Moisés 1:39. O élder D. Todd Christofferson também ensinou: “Com confiança testificamos que a Expiação de Jesus Cristo já previra todas as privações e perdas daqueles que se voltam a Ele e, no final, vai compensá-los. Ninguém está predestinado a receber menos do que tudo o que o Pai tem para Seus filhos” (“Por que casar, por que ter uma família”, A Liahona, maio de 2015, p. 52).

  10. Ver Mateus 5:14–16; 22:35–40; Mosias 3:19; Doutrina e Convênios 50:13–14; 133:5; ver também Russell M. Nelson, “A coligação da Israel dispersa”, A Liahona, novembro de 2006, p. 79.

  11. Ver Levítico 18:4; 2 Néfi 31:5–12; Doutrina e Convênios 1:12–16; 136:4; Regras de Fé 1:3–4.

  12. Ver Doutrina e Convênios 84:20–21; 110:9.

  13. Ver Josué 3:5; Doutrina e Convênios 43:16; ver também João 17:19. O Salvador Se santificou a fim de ter poder para nos abençoar.

  14. Ver Helamã 3:35; Doutrina e Convênios 12:6–9; 88:74.

  15. Ver Joseph Smith—História 1:17, o primeiro mandamento dado por Deus em visão ao profeta Joseph Smith; ver também 2 Néfi 9:29; 3 Néfi 28:34.

  16. Ver Marcos 1:15; Atos 3:19; Alma 5:33; 42:22–23; Doutrina e Convênios 19:4–20. Também pondere estas duas meditações sobre o pecado. Primeiro, Hugh Nibley escreveu: “O pecado é desperdício. É fazer uma coisa quando deveríamos estar fazendo outra, algo melhor para o qual temos a capacidade” (Approaching Zion, ed. por Don E. Norton, 1989, p. 66). A mãe de John Wesley, Susanna Wesley, escreveu para o filho: “Use esta regra: Tudo o que enfraquece seu raciocínio, prejudica a sensibilidade de sua consciência, obscurece sua percepção de Deus ou remove seu deleite pelas coisas espirituais; (…) tudo o que aumenta a (…) autoridade de seu corpo sobre sua mente; isso é um pecado para você, por mais inocente que seja” (Susanna Wesley: The Complete Writings, ed. por Charles Wallace Jr., 1997, p. 109).

  17. Ver Lucas 22:32; 3 Néfi 9:11, 20.

  18. Ver João 13:2–15, 34. Na véspera de Sua Expiação, o Salvador lavou os pés daquele que O traiu, de outro que O negou e ainda de outros que caíram no sono em Sua hora de maior necessidade. Depois, Ele ensinou: “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei a vós”.

  19. Mateus 5:46.

  20. Ver John R. Talmage, The Talmage Story: Life of James E. Talmage—Educator, Scientist, Apostle, 1972, pp. 112–114.

  21. Ver Alma 10:22–23; 62:40.

  22. 3 Néfi 27:11.

  23. Em Mateus 11:28, 30, o Senhor diz: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. (…) Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve”. Ver também 2 Coríntios 12:7–9: Paulo descreve o sofrimento causado por um vigoroso “espinho na carne”, sobre o qual ele orou para que fosse removido. Cristo disse a ele: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Ver também Éter 12:27.

  24. Ver Mosias 7:33; 29:20; Helamã 12:1; Doutrina e Convênios 124:87.

  25. Ver Lucas 8:43–48; Marcos 5:25–34. A mulher com um fluxo de sangue estava desesperada e sem ter a quem recorrer. Tinha sofrido por 12 anos, gastado todos os seus recursos com médicos e estava piorando. Expulsa de seu povo e de sua família, ela deliberadamente abriu caminho em meio a uma grande multidão e se atirou em direção ao Salvador. Tinha total confiança e fé no Salvador, e Ele sentiu o toque na barra de Seu manto. Graças àquela fé, Ele instantânea e completamente a curou. Depois, chamou-a de “filha”. Já não era mais uma pessoa excluída, mas fazia parte da família de Deus. Sua cura foi física, social, emocional e espiritual. As dificuldades podem se estender por anos ou por toda a vida, mas Sua promessa de cura é segura e absoluta.

  26. Ver Lucas 4:21; João 4:6–26. Lucas, não João, relata que, no início do ministério de Jesus, Ele foi para Sua própria sinagoga em Nazaré, leu uma passagem de Isaías que profetizava sobre o Messias e então declarou: “Hoje se cumpriu esta escritura em vossos ouvidos”. Essa foi a primeira vez em que se tem registro que o Salvador Se referiu a Si mesmo como o Messias. Contudo, no poço de Jacó, João relata a primeira vez em que Jesus declara em público ser o Messias. Naquela situação, como os samaritanos não eram considerados judeus, Jesus também ensinou que Seu evangelho era para todos, tanto judeus quanto gentios. Essa declaração ocorreu na “sexta hora”, ou ao meio-dia, quando a Terra recebe a mais plena luz do sol. O poço de Jacó também fica no vale próximo ao lugar exato em que a antiga Israel fez cerimonialmente um convênio com o Senhor, depois de entrar na terra prometida. É interessante notar que, de um lado do vale, existe um monte seco e, do outro lado, há um monte cheio de fontes de água viva.

  27. O élder Neal A. Maxwell ensinou: “Quando, numa situação de estresse, nós nos perguntamos se conseguimos dar algo mais, podemos nos consolar por saber que Deus, que conhece perfeitamente nossa capacidade, foi quem nos colocou ali para termos sucesso. Ninguém está preordenado a fracassar ou a ser iníquo. (…) Quando nos sentimos sobrecarregados, invoquemos a certeza de que Deus não nos deu encargos além de nossa capacidade” (“Meeting the Challenges of Today”, devocional da Universidade Brigham Young, 10 de outubro de 1978, p. 9, speeches.byu.edu).

  28. O presidente Russell M. Nelson ensinou:

    “Um dia, vocês vão se apresentar perante o Salvador. Vocês ficarão impressionados a ponto de chorar por estarem em Sua santa presença. Vão ter dificuldades para encontrar palavras para agradecê-Lo por pagar por seus pecados, por perdoá-los de qualquer maldade com outros, por curá-los das injúrias e injustiças desta vida.

    Vocês vão agradecê-Lo por fortalecê-los para fazer o impossível, por tornar suas fraquezas em forças e por tornar possível viverem com Ele e com sua família para sempre. Sua identidade, Sua Expiação e Seus atributos se tornarão pessoais e reais para vocês” (“Profetas, liderança e lei divina”, devocional mundial para jovens adultos, 8 de janeiro de 2017, broadcasts.LDS.org).

  29. Ver Isaías 53:3–5; Alma 7:11–13; Doutrina e Convênios 122:5–9.

  30. Ver Joseph Smith—História 1:17; Elaine S. Dalton, “Ele conhece vocês pelo nome”, A Liahona, maio de 2005, p. 109.

  31. João 4:14.