2010–2019
Um Compromisso Inabalável com Jesus Cristo
Conferência geral de outubro de 2019


Um Compromisso Inabalável com Jesus Cristo

Deus convida-nos a abandonar, completamente, os nossos velhos hábitos e a começar uma vida nova em Cristo.

No passado mês de abril tive o privilégio de dedicar o Templo de Kinshasa, na República Democrática do Congo.1 As palavras não podem expressar a alegria que os fiéis congoleses e eu sentimos ao ver um templo a ser dedicado na sua terra.

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Pintura das Cataratas do Congo

Aqueles que entram no templo de Kinshasa deparam-se com uma pintura original intitulada Congo Falls2 (Cataratas do Congo). Esta obra exclusiva recorda aos visitantes do templo o compromisso inabalável que é necessário para se ancorarem a Jesus Cristo e seguirem o caminho do convénio do plano do nosso Pai Celestial. As cataratas retratadas na pintura, chamam a atenção para uma prática que era comum, há mais de um século atrás, entre os primeiros conversos ao cristianismo no Congo.

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Pintura das Cataratas de Zongo

Antes da sua conversão, eles adoravam objetos inanimados, acreditando que estes possuíam poderes sobrenaturais.3 Após a conversão, muitos fizeram uma peregrinação a uma das inúmeras cataratas do rio Congo, tais como as Cataratas de Zongo.4 Estes conversos, atiraram os seus objetos, anteriormente idolatrados, para as cataratas, como um símbolo diante de Deus e de outros, de que tinham rejeitado as suas antigas tradições e aceite Jesus Cristo. Intencionalmente, eles não atiraram os seus objetos nas águas calmas e rasas; eles atiraram-nos nas águas agitadas de uma enorme catarata, onde se tornaram irrecuperáveis. Estas ações foram um sinal do início de um compromisso novo, porém inabalável com Jesus Cristo.

Pessoas de outros lugares e de outras eras, demonstraram o seu compromisso com Jesus Cristo de formas semelhantes.5 O povo do Livro de Mórmon, conhecido como anti-néfi-leítas, “depuseram as armas de sua rebelião”, enterrando-as “profundamente na terra”, como “um testemunho a Deus… de que nunca mais usariam [as suas] armas”.6 Ao fazê-lo, prometeram seguir os ensinamentos de Deus e jamais voltar atrás no seu compromisso. Esta ação foi o início da sua “[conversão] ao Senhor” e nunca apostataram.7

Estar “convertido ao Senhor” significa mudar de uma linha de conduta, ditada por um antigo sistema de crenças, e adotar uma nova conduta, baseada na fé no plano do Pai Celestial e em Jesus Cristo, e na Sua Expiação. Esta mudança é mais do que uma aceitação intelectual dos ensinamentos do evangelho. A mudança molda a nossa identidade, transforma a nossa compreensão do significado da vida e leva a uma fidelidade imutável a Deus. Os desejos pessoais que são contrários aos de estarmos ancorados ao Salvador e de seguirmos o caminho do convénio, desaparecem e são substituídos por uma determinação de nos submetermos à vontade do Pai Celestial.

Estarmos convertidos ao Senhor começa com um compromisso inabalável com Deus, seguido por tornar esse compromisso uma parte de quem somos. A interiorização deste compromisso é um processo que dura uma vida e que requer contínua paciência e arrependimento. Eventualmente, este compromisso acaba por se tornar uma parte de nós, ficando incorporado no nosso conceito de quem somos e passa a estar sempre presente nas nossas vidas. Tal como nunca nos esquecemos do nosso próprio nome, independentemente de tudo o resto que ocupe a nossa mente, também nunca nos esquecemos de um compromisso que está gravado no nosso coração.8

Deus convida-nos a abandonar, completamente, os nossos velhos hábitos e a começar uma vida nova em Cristo. Isto acontece quando desenvolvemos fé no Salvador, que começa por ouvir o testemunho daqueles que têm fé.9 Depois disso, a fé vai ficando mais profunda à medida que agimos de maneiras que nos ancoram firmemente a Ele.10

Seria bom se uma fé elevada pudesse ser transmissível, tal como a gripe ou uma constipação vulgar. Deste modo, um simples “espirro espiritual” poderia edificar a fé nos outros. Mas, isto não funciona assim. O único caminho que leva ao crescimento da fé é agir com fé. Estas ações geralmente são motivadas por convites feitos por outras pessoas, mas, não podemos “aumentar” a fé de outra pessoa ou depender simplesmente de outros para reforçar a nossa. Para que a nossa fé cresça, devemos escolher ações que fortaleçam a fé, como orar, estudar as escrituras, participar do sacramento, guardar os mandamentos e servir os outros.

À medida que a nossa fé em Jesus Cristo cresce, Deus convida-nos a fazer promessas com Ele. Estes convénios, como são conhecidas estas promessas, são manifestações da nossa conversão. Os convénios também criam uma base segura para a progressão espiritual. Ao escolhermos ser batizados, começamos a assumir o nome de Jesus Cristo11 e escolhemos identificar-nos com Ele. Prometemos tornar-nos como Ele e desenvolver os Seus atributos.

Os convénios ancoram-nos ao Salvador e impulsionam-nos ao longo do caminho que leva ao nosso lar celestial. O poder dos convénios ajuda-nos a manter a poderosa mudança de coração, a aprofundar a nossa conversão ao Senhor e a receber plenamente a imagem de Cristo no nosso semblante.12 Mas, um compromisso hesitante com os nossos convénios não nos garantirá nada.13 Podemos ser tentados a enganar, a atirar os nossos velhos hábitos nas águas calmas ou a enterrar as nossas armas de rebelião com as alças de fora. Mas, um compromisso ambivalente com os nossos convénios não abrirá a porta ao poder santificador do Pai Celestial e de Jesus Cristo.

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O Templo de Kinshasa

O compromisso de cumprir os nossos convénios, não deve ser condicional nem variar de acordo com as circunstâncias que se alteram nas nossas vidas. A nossa constância para com Deus deve ser como o confiável rio Congo, que corre perto do Templo de Kinshasa. Este rio, ao contrário da maioria dos outros rios pelo mundo fora, tem um fluxo constante ao longo do ano14 e descarrega cerca de 41 milhões de litros de água, por segundo, no Oceano Atlântico.

O Salvador convidou os Seus discípulos a serem confiáveis e firmes a este ponto. Ele disse: “Portanto, estabelecei isso em vossos corações, para que cumpram as coisas que Eu vos ensinar e ordenar”.15 “Estabelecer” a determinação de cumprir com os nossos convénios, permite a plena realização das promessas de Deus de alegria duradoura.16

Muitos Santos dos Últimos Dias fiéis, demonstraram que têm o coração “estabelecido” para cumprir os seus convénios com Deus e que mudaram para sempre. Deixem-me falar-vos sobre três dessas pessoas — o irmão Banza Mucioko, a irmã Banza Régine e o irmão Mbuyi Nkitabungi.

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A família Banza

Em 1977, a família Banza morava em Kinshasa, no país do Zaire, agora conhecido como República Democrática do Congo. Eles eram altamente respeitados no seio da sua comunidade da igreja Protestante. Em virtude dos seus talentos, a sua igreja providenciou para que a jovem família fosse estudar para a Suíça e ofereceu-lhes uma bolsa de estudos universitários.

Enquanto estavam em Genebra, no percurso de autocarro para a escola, o irmão Banza via, frequentemente, uma pequena capela com o nome “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”. Ele ponderava: “Será que Jesus Cristo tem Santos agora, nos últimos dias?” Eventualmente, ele decidiu que deveriam ir até lá e ver.

O irmão e a irmã Banza foram recebidos calorosamente no ramo. Eles fizeram algumas das perguntas persistentes que tinham sobre a natureza de Deus, tais como: “Se Deus é um espírito, como o vento, como é que podemos ter sido criados à Sua semelhança? Como é que Ele poderia sentar-se num trono? Nunca tinham recebido uma resposta satisfatória até que, numa breve lição, os missionários explicaram-lhes a doutrina restaurada. Quando os missionários saíram, o irmão e a irmã Banza olharam um para o outro e disseram: “Não é isto que ouvimos a verdade?”. Eles continuaram a ir à igreja e a reunir-se com os missionários. Eles sabiam que o batismo na Igreja restaurada de Jesus Cristo teria consequências. Seriam despojados das suas bolsas de estudo, os seus vistos seriam revogados e eles e os seus dois filhos pequenos seriam obrigados a deixar a Suíça Decidiram ser batizados e confirmados em outubro de 1979.

Duas semanas após o batismo, o irmão e a irmã Banza retornaram a Kinshasa como o primeiro e o segundo membros da Igreja no seu país. Os membros do Ramo de Genebra mantiveram contacto com eles e ajudaram-nos a relacionar-se com líderes da Igreja. A família Banza foi incentivada a aguardar fielmente o tempo prometido, em que Deus estabeleceria a Sua Igreja no Zaire.

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O Elder Mbuyi

Entretanto, um outro estudante de intercâmbio do Zaire, o irmão Mbuyi, estava a estudar na Bélgica. Ele foi batizado em 1980 na ala de Bruxelas, na Bélgica. Pouco depois, serviu uma missão de tempo integral, em Inglaterra. E Deus operou os Seus milagres. O irmão Mbuyi retornou ao Zaire como o terceiro membro da Igreja, no seu país. Com a permissão dos pais, as reuniões da Igreja eram realizadas na casa da sua família. Em fevereiro de 1986, foi feita uma petição ao governo, para o reconhecimento oficial da Igreja. Era requerida a assinatura de três cidadãos do Zaire. Os três felizes signatários da petição foram o irmão Banza, a irmã Banza e o irmão Mbuyi.

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O Irmão Mbuyi e a Família Banza

Estes membros fortes reconheceram a verdade quando a ouviram e fizeram um convénio no batismo, que os ancorou ao Salvador. Metaforicamente, atiraram os seus velhos hábitos numa catarata agitada, sem nenhuma intenção de os recuperar. O caminho do convénio nunca foi fácil. A turbulência política, o contacto pouco frequente com os líderes da Igreja e os desafios inerentes à construção de uma comunidade de Santos, podiam ter dissuadido indivíduos menos comprometidos. Mas, o irmão e a irmã Banza e o irmão Mbuyi perseveraram na sua fé. Eles estiveram presentes na dedicação do Templo de Kinshasa, 33 anos depois de assinarem a petição que levou ao reconhecimento oficial da Igreja no Zaire.

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O Irmão de a Irmã Banza

A família Banza está aqui hoje no Centro de Conferências. Vieram acompanhados pelos seus dois filhos, Júnior e Phil, e as respetivas noras, Annie e Youyou. Em 1986, Junior e Phil foram os dois primeiros indivíduos batizados na Igreja no Zaire. O irmão Mbuyi está a assistir a esta conferência em Kinshasa com a sua esposa, Maguy, e os seus cinco filhos.

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O Irmão e a Irmã Mbuyi

Estes pioneiros compreendem o significado e as consequências dos convénios pelos quais “foram levados a conhecer o Senhor seu Deus e a regozijarem-se em Jesus Cristo, o seu Redentor”.17

Como é que nos ancoramos ao Salvador e permanecemos fiéis como estes irmãos e muitas dezenas de milhares de santos congoleses que os seguiram e milhões de outros pelo mundo fora? O Salvador ensinou-nos como fazê-lo. Participando do sacramento e fazendo um convénio com o nosso Pai Celestial, todas as semanas. Prometendo que vincularemos a nossa identidade ao Salvador, comprometendo a nossa disposição de assumir o nome Dele, a sempre nos recordarmos Dele e a guardar os Seus mandamentos.18 A preparação consciente e a realização digna destes convénios, todas as semanas, ancora-nos ao Salvador, ajuda-nos a interiorizar o nosso compromisso19 e impulsiona-nos, poderosamente, ao longo do caminho do convénio.

Convido-vos a comprometerem-se com um processo de discipulado ao longo de toda a vida. Façam e cumpram convénios. Atirem os vossos velhos hábitos em cataratas profundas e agitadas. Enterrem completamente as vossas armas de rebelião, sem as alças de fora. Devido à Expiação de Jesus Cristo, fazer convénios com uma real intenção de os honrar, abençoará a vossa vida para sempre. Tornar-se-ão mais parecidos com o Salvador, ao lembrarem-se sempre Dele, ao segui-Lo e ao amá-Lo. Testifico que Ele é o firme alicerce. Ele é confiável e as Suas promessas são seguras. Em nome de Jesus Cristo. Amém.

Notas

  1. A dedicação ocorreu no Domingo de Ramos, a 14 de abril de 2019, conforme designada pelo Presidente Russell M. Nelson.

  2. O artista, David Meikle, pintou Congo Falls (Cataratas do Congo) a partir de fotografias de Kiubu Falls. As Cataratas de Kiubu localizam-se, a aproximadamente, 400 quilómetros a norte de Lubumbashi, na região sudeste da República Democrática do Congo.

  3. Estes objetos eram conhecidos como inkisi em Kikongo e como fétiches em francês. A palavra traduz-se em português como “amuleto”, “talismã” ou “objeto enfeitiçado”.

  4. David Meikle também pintou as Nzongo Falls (cataratas de Nzongo), a partir de fotografias das mesmas cataratas. As Cataratas do Nzongo estão localizadas a aproximadamente 130 quilómetros de Kinshasa, República Democrática do Congo. Nestas cataratas, o rio ficou conhecido como Nzadi Inkisi, ou “Rio de Fetiches”. O nome reflete a prática descrita no texto.

  5. Em 1000 DC, os chefes dos clãs islandeses reuniam-se anualmente para o Allting, durante duas semanas, uma assembleia informal que fazia leis que seriam vinculativas para todos. Um homem chamado Thorgeir foi convidado a tomar a decisão por todos, sobre a conversão ao cristianismo ou a continuação do culto aos deuses nórdicos. Após três dias de reclusão na sua tenda, Thorgeir anunciou a sua decisão: os clãs tornar-se-iam cristãos. Quando Thorgeir retornava à sua aldeia, ele pegou nos seus ídolos deuses nórdicos e lançou-os numa catarata, hoje conhecida como Godafoss, ou “Catarata dos Deuses”. Esta ação significou a conversão completa de Thorgeir ao cristianismo.

  6. Alma 23:13; 24:17–18.

  7. Ver Alma 23:6; David A. Bednar, “Convertidos ao Senhor”, Liahona, nov. 2012.

  8. Ver Ezequiel 11:19–20; 2 Coríntios 3:3.

  9. Ver Romanos 10:14, 17.

  10. Ver Pregar Meu Evangelho: Um Guia para o Serviço Missionário, rev. ed. (2018).

  11. Ver Dallin H. Oaks, “Tomar Sobre Si o Nome de Jesus Cristo”, Ensign, maio de 1985, 80–83.

  12. Ver Alma 5:12–14.

  13. Ver Doutrina e Convénios 82:10.

  14. O rio Congo é o rio mais profundo, o segundo mais poderoso e o nono mais longo do mundo. Como cruza o equador duas vezes, pelo menos uma secção do rio está sempre numa estação chuvosa, resultando num fluxo regular de água. O fluxo é, relativamente, consistente durante todo o ano, com uma média de 41.000 m3 de água por segundo, mesmo que a taxa do fluxo possa variar ao longo dos anos (entre os 23.000 a 75.000 metros cúbicos por segundo).

  15. Tradução de Joseph Smith, Lucas 14:28 (em Lucas 14:27, rodapé b). Existe apenas na versão inglesa.

  16. Ver 2 Néfii 9:18; Russell M. Nelson, “Alegria e Sobrevivência Espiritual”, Liahona, nov. 2016. O Presidente Nelson disse: “A Alegria é uma dádiva para os fiéis”.

  17. Alma 37:9.

  18. Ver Doutrina e Convénios 20:77. No Seminário de Liderança da Missão, em junho de 2019, depois de tomar o sacramento, antes de iniciar a sua mensagem formal, o Presidente Russell M. Nelson disse: “Ocorreu-me um pensamento de que fazer um convénio hoje é muito mais importante do que a mensagem que preparei. Fiz um convénio ao participar do sacramento, que estaria disposto a tomar sobre mim o nome de Jesus Cristo e que estou disposto a obedecer aos Seus mandamentos. Frequentemente, ouço a expressão que tomamos o sacramento para renovar convénios feitos no batismo. Embora isto seja verdade, é muito mais do que isso. Eu fiz um novo convénio. Nós fizemos novos convénios… Por sua vez, recebemos a promessa de que podemos ter sempre connosco o Seu Espírito. Que grande bênção!

  19. Ver 3 Néfi 18:12.

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