2010–2019
Não Me Enganes
Conferência geral de outubro de 2019


Não Me Enganes

Ao obedecermos aos mandamentos de Deus, seremos sempre guiados no caminho certo e não seremos enganados.

Hoje, tenho conselhos para todos, mas, especialmente, para os da nova geração — crianças da Primária, rapazes e moças. A juventude é profundamente amada pelo profeta do Senhor dos nossos dias, o Presidente Russell M. Nelson — tanto que ele falou com muitos de vós, no ano passado, na transmissão do devocional mundial para os jovens intitulado “Juventude da Promessa”.1 Ouvimos, com frequência, o Presidente Nelson chamar-vos exatamente isto, a “juventude da promessa”, a nova geração e o futuro da Igreja restaurada de Jesus Cristo.

Meus jovens amigos, gostaria de começar por partilhar duas histórias familiares.

Os 102 Dálmatas

Há vários anos atrás, cheguei a casa do trabalho e fiquei surpreso ao ver salpicos de tinta branca espalhados por todo o lado — no chão, na porta da garagem e nas paredes de tijolo vermelho da nossa casa. Inspecionei mais de perto e descobri que a tinta ainda estava fresca. Segui um rasto de tinta que me levou até ao quintal. Lá, encontrei o meu filho de cinco anos, com um pincel na mão, a perseguir o nosso cão. O nosso lindo Labrador preto estava quase todo borrifado de branco!

“O que é que estás a fazer?” — perguntei com uma voz animada.

O meu filho parou, olhou para mim, olhou para o cão, olhou para o pincel a pingar tinta branca e disse: “Eu só quero que ele fique parecido com os cães com pintas pretas do filme, aquele com os 101 Dálmatas”.

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Labrador Preto
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Dálmata

Eu adorava o nosso cão. Achava que ele era perfeito mas, naquele dia, o meu filho teve uma ideia diferente.

O Gatinho Listrado

A minha segunda história gira em torno do tio-avô Grover, que morava numa casa de campo, longe da cidade. O tio Grover já estava a ficar muito velhinho. Achámos que os nossos filhos deviam conhecê-lo antes que morresse. Então, certa tarde, fizemos uma longa viagem até à sua humilde casa. Sentámo-nos juntos e apresentámo-lo aos nossos filhos. Pouco depois de começarmos a conversar, os nossos dois filhos, talvez com cinco e seis anos, queriam sair e brincar.

Ao ouvir o pedido deles, o tio Grover inclinou-se e aproximou a sua cara da deles. A sua cara era tão enrugada e desconhecida, que os meninos ficaram com um bocadinho de medo dele. Ele disse-lhes, com uma voz grave: “Cuidado — há muitas doninhas lá fora”. Ao ouvir isto, a Lesa e eu, ficámos mais do que assustados; ficámos com receio que eles fossem borrifados por uma doninha! Pouco depois, os rapazes foram brincar lá para fora enquanto nós continuámos a conversar.

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Doninha

Mais tarde, quando entrámos no carro para ir para casa, perguntei-lhes: “Viram alguma doninha?” Um deles respondeu: “Não, não vimos doninhas, mas vimos um gatinho preto com uma listra branca nas costas!”

O Grande Enganador

Estas histórias sobre crianças inocentes que descobrem algo sobre a vida e a realidade podem fazer-nos sorrir, porém, também ilustram um conceito mais profundo.

Na primeira história, o nosso filho pequeno tinha um lindo cão como animal de estimação; não obstante, pegou numa lata de tinta e, com um pincel na mão, estava determinado a criar a sua própria realidade imaginária.

No segundo relato, os rapazes não estavam cientes da ameaça desagradável que enfrentaram com a doninha. Incapazes de identificar adequadamente o que tinham realmente encontrado, corriam o risco de sofrer algumas consequências infelizes. São histórias de identidade equivocada — presumir que algo real seja outra coisa. Em ambos os casos, as consequências foram mínimas.

No entanto, hoje, muitos de nós lidam com estes mesmos problemas numa escala muito maior. Somos incapazes de ver as coisas como realmente são ou sentimo-nos insatisfeitos com a verdade. Para além disso, existem forças em ação concebidas, deliberadamente, para nos afastar da verdade absoluta. Estes embustes e mentiras vão muito para além da identidade equivocada inocente e, geralmente, têm até consequências terríveis.

Satanás, o pai das mentiras e o grande enganador, faz-nos questionar as coisas como elas realmente são e ignorar as verdades eternas, ou substitui-las por algo que parece mais agradável. “Ele faz guerra contra os santos de Deus”2 e passou milénios a calcular e a praticar a capacidade de persuadir os filhos de Deus a acreditar que o bom é mau e o mau é bom.

Ele construiu a sua própria reputação convencendo os mortais de que as doninhas são apenas gatinhos ou que, aplicando tinta, podemos tornar um Labrador num Dálmata!

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Moisés viu Deus face a face

Agora, vamos passar a um exemplo deste mesmo princípio, encontrado nas escrituras, quando o profeta Moisés se deparou com este mesmo problema. “Moisés foi arrebatado a uma montanha sumamente alta[;]… e viu Deus face a face e falou com ele.”3 Deus ensinou Moisés sobre a sua identidade eterna. Apesar de Moisés ser mortal e imperfeito, Deus ensinou-lhe que ele era “à semelhança de meu Unigênito; e meu Unigênito… será o Salvador”.4

Em suma, nesta maravilhosa visão, Moisés viu Deus e também aprendeu algo importante sobre si mesmo: ele era na realidade um filho de Deus.

Ouçam, com atenção, o que aconteceu quando esta maravilhosa visão terminou. “E aconteceu que… Satanás veio tentá-lo”, dizendo: “Moisés, filho de homem, adora-me!”5 Moisés respondeu corajosamente: “Quem és tu? Pois eis que sou um filho de Deus, à semelhança de seu Unigênito; e onde está tua glória, para que te adore?”6

Por outras palavras, Moisés disse: “Não consegues enganar-me, pois eu sei quem sou. Fui criado à imagem de Deus. Tu não tens nem a Sua luz e nem a Sua glória. Então, por que é que eu deveria adorar-te ou ser vítima da tua artimanha?”

Agora, prestem atenção ao que Moisés diz a seguir. Ele declara: “Vai-te, Satanás, não me enganes”.7

Há muitas coisas que podemos aprender com a poderosa resposta de Moisés à tentação do adversário. Convido-vos a responder da mesma maneira quando se sentirem influenciados pela tentação. Ordenem ao inimigo da vossa alma, dizendo: “Vai-te embora! Não tens glória. Não me tentes nem me mintas! Pois eu sei que sou um filho de Deus. E sempre invocarei ao meu Deus para me ajudar”.

O adversário, no entanto, não abandona facilmente os seus motivos destrutivos para nos enganar e diminuir. Ele certamente não o fez com Moisés, e pelo contrário, quis fazer com que Moisés se esquecesse da sua natureza eterna.

Como se estivesse a fazer uma birra infantil, “Satanás clamou com alta voz e bramou sobre a terra e ordenou, dizendo: Eu sou o Unigénito; adora-me!”8

Vamos rever. Ouviram o que ele acabou de dizer? “Eu sou o unigénito. Adora-me!”

Na verdade, o grande enganador disse: “Não te preocupes; não te vou magoar, não sou uma doninha; sou apenas um inocente gatinho listrado, preto e branco”.

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Moisés a expulsar Satanás

Então, Moisés clamou a Deus e recebeu a Sua força divina. Embora o adversário tremesse e a terra estremecesse, Moisés não cedeu. A sua voz era segura e clara. “Retira-te de mim, Satanás”, declarou ele, “porque somente a este único Deus adorarei, o qual é o Deus de glória”.9

Por fim, ele “retirou-se … da presença de Moisés”.10

Depois de ter aparecido e abençoado Moisés pela sua obediência, o Senhor disse:

“Bendito és tu, Moisés, pois… serás mais forte que muitas águas. …

E eis que estou contigo, sim, até o fim de teus dias”.11

A resistência de Moisés ao adversário é um exemplo vívido e esclarecedor, para cada um de nós, independentemente da fase da vida em que nos encontremos. É uma mensagem, particularmente, poderosa para vós — saber o que fazer quando ele tentar enganar-vos. Pois, tal como Moisés, foram abençoados com o dom da ajuda celestial.

Mandamentos e Bênçãos

Como é que podem obter esta ajuda celestial, tal como Moisés, e não serem enganados, nem caírem em tentação? Um excelente canal de assistência divina foi reafirmado, nesta dispensação, pelo próprio Senhor, quando declarou: “Portanto, eu, o Senhor, conhecendo as calamidades que adviriam aos habitantes da Terra, chamei meu servo Joseph Smith Júnior e falei-lhe do céu e dei-lhe mandamentos”.12 Com palavras mais simples, podemos dizer que o Senhor, que conhece “o fim desde o princípio”,13 conhece as dificuldades específicas dos nossos dias. Assim sendo, Ele proveu uma forma para que resistíssemos aos desafios e tentações, muitos dos quais resultam diretamente das influências enganosas do adversário e dos seus ataques.

A forma é simples. Por meio dos Seus servos, Deus fala connosco, os Seus filhos, e dá-nos mandamentos. Poderíamos reformular o versículo que acabei de citar e dizer: “Eu o Senhor,… [chamei] o meu servo [o Presidente Russell M. Nelson], e [falei-lhe] do Céu e [dei-lhe] mandamentos”. Não é uma verdade gloriosa?

Presto solene testemunho de que o Senhor, realmente, falou a Joseph Smith do Céu, e tudo começou com a grande Primeira Visão. Ele também fala com o Presidente Nelson nos nossos dias. Testifico que Deus comungou com profetas em eras passadas e deu-lhes mandamentos destinados a levar os Seus filhos à felicidade nesta vida e à glória na próxima.

Deus continua a dar mandamentos ao nosso profeta vivo, hoje em dia. Existem muitos exemplos: um equilíbrio no ensino do evangelho mais centrado no lar com o apoio da Igreja; a substituição do ensino familiar por ministrar; os ajustes aos procedimentos e ordenanças do templo; e o novo programa para as Crianças e Jovens. Fico maravilhado com a bondade e compaixão dum amoroso Pai Celestial e do Seu Filho, Jesus Cristo, que restaurou a Igreja do Salvador na Terra uma vez mais e chamou um profeta nos nossos dias. A Restauração do evangelho de Jesus Cristo compensa os tempos perigosos com a plenitude dos tempos.

A Iniquidade Nunca Foi Felicidade

A obediência aos mandamentos dados ao nosso profeta é uma chave, não só para evitar a influência do enganador, mas também para sentir alegria e felicidade duradouras. Esta fórmula divina é bastante simples: a retidão, ou a obediência aos mandamentos, traz bênçãos e as bênçãos trazem felicidade, ou alegria, às nossas vidas.

Contudo, da mesma forma que o adversário tentou enganar Moisés, ele tenta enganar-vos. Ele sempre fingiu ser algo que não é. Sempre tentou esconder quem ele realmente é. Ele afirma que a obediência tornará a vossa vida miserável e que isso vos roubará a felicidade.

Conseguem imaginar algumas das suas manobras para nos enganar? Por exemplo, ele disfarça as consequências destrutivas das drogas ilícitas ou do álcool e sugere que isto trará prazer. Mergulha-nos nos vários elementos negativos que podem existir nas redes sociais, inclusive as comparações debilitadoras e a realidade idealizada. Além disso, faz a camuflagem doutros conteúdos obscuros e prejudiciais encontrados online, como a pornografia, ataques chocantes a outras pessoas através do cyberbullying e do semear de informações falsas para gerar dúvidas e medo no nosso coração e na nossa mente. Ele, astutamente, sussurra: “Basta seguires-me e serás feliz”.

As palavras escritas já há tantos séculos, por um profeta do Livro de Mórmon são especialmente relevantes para os nossos dias: “A iniquidade nunca foi felicidade”.14 Que possamos reconhecer os enganos de Satanás pelo que eles são. Que possamos resistir e ver através das mentiras e influências de quem procura destruir a nossa alma e roubar-nos a nossa alegria presente e glória futura.

Meus queridos irmãos e irmãs, temos de continuar a ser fiéis e vigilantes, pois esta é a única forma para discernir a verdade e ouvir a voz do Senhor, através dos Seus servos. “Pois o Espírito fala a verdade e não mente… Estas coisas nos são manisfestadas claramente para a salvação [da] nossa alma… Porque Deus também as disse aos profetas da antiguidade.”15 Nós somos os Santos do Deus Todo-Poderoso, a juventude da promessa. Vamos desistir? “Deve Sião fugir à luta? Não! … A nossa mão e o coração, a teu serviço, Senhor, estão”.16

Presto o meu testemunho do Santo de Israel — o próprio Jesus Cristo. Testifico do Seu amor, verdade e alegria permanentes, que são possíveis pelo Seu infinito e eterno sacrifício. Ao obedecermos aos Seus mandamentos, seremos sempre guiados no caminho certo e não seremos enganados. No sagrado nome do nosso Salvador, Jesus Cristo. Amém.

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