Sua Influência Pessoal
Por seguirmos o Homem da Galiléia—o Senhor Jesus Cristo—nossa influência pessoal será sentida de forma positiva onde quer que nos encontremos, seja qual for o nosso chamado.
Meus queridos irmãos e irmãs, tanto os que estão dentro do meu campo de visão quanto os que se acham reunidos em todo o mundo, peço suas orações e sua fé neste momento em que cumpro a designação de dirigir-lhes a palavra e pelo privilégio de fazê-lo.
Há mais de 40 anos, quando o Presidente David O. McKay fez meu chamado para o Quórum dos Doze Apóstolos, recebeu-me calorosamente com um sorriso sincero e um abraço carinhoso. Entre os conselhos sagrados que recebi dele, encontrava-se a seguinte declaração: “Há uma responsabilidade da qual ninguém pode esquivar-se: a responsabilidade da influência pessoal”.
O chamado dos primeiros Apóstolos refletiu a influência do Senhor. Quando procurou um homem de fé, Ele não o selecionou dentre a multidão de hipócritas que eram encontrados regularmente na sinagoga. Ao contrário, Ele o chamou do meio dos pescadores de Cafarnaum. Pedro, André, Tiago e João ouviram o chamado: “Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens”.1 Eles O acompanharam. Simão, homem de dúvidas, tornou-se Pedro, Apóstolo de fé.
Quando o Salvador deveria escolher um missionário dedicado e com poder, Ele o encontrou não entre Seus seguidores, mas em meio a Seus adversários. Saulo de Tarso—o perseguidor—tornou-se Paulo, o prosélito. O Redentor escolheu homens imperfeitos para ensinar o caminho da perfeição. Ele o fez naquela época; Ele continua a fazê-lo agora.
Ele chama vocês e eu para que O sirvamos aqui na Terra e coloca diante de nós a tarefa que quer que realizemos. O compromisso é total. Não existe conflito de consciência.
Por seguirmos o Homem da Galiléia—o Senhor Jesus Cristo—nossa influência pessoal será sentida de forma positiva onde quer que nos encontremos, seja qual for o nosso chamado.
A tarefa que nos foi designada pode parecer insignificante e desnecessária, que passa despercebida. Alguns ficarão tentados a questioná-la:
“Pai, onde trabalharei hoje?”
E o meu amor fluiu cálido e abundante.
Ele, então, apontou para um lugar pequenino
E disse: “Toma conta disso para mim”.
Depressa respondi: “Oh, não. Isso não!
Ora, ninguém vai ver.
Não importa quão bem eu realize meu trabalho.
Não me dê um lugar tão pequeno assim”.
Disse-me ele, então, sem reprovação:
“Estás trabalhando para eles ou para mim?
Nazaré era um lugar pequenino
E a Galiléia o era também”.2
A família é o local ideal para o ensino. É também um laboratório para o aprendizado. A noite familiar pode trazer crescimento espiritual para cada membro.
“O lar é a base de uma vida justa e nenhum outro meio pode tomar o seu lugar ou cumprir suas funções essenciais.”3 Tal verdade vem sendo ensinada por muitos presidentes da Igreja.
É no lar que o pai e a mãe podem ensinar aos filhos o viver previdente. Compartilhar tarefas e ajudar um ao outro estabelece um padrão para futuras famílias à medida que as crianças crescem, casam-se e mudam-se de casa. As lições aprendidas no lar são aquelas que mais perduram. O Presidente Gordon B. Hinckley continua a enfatizar que se deve evitar dívidas desnecessárias, o erro de se viver além das próprias posses e a tentação de permitir que nossos desejos se tornem nossas necessidades.
A exortação do Apóstolo Paulo a seu amado discípulo Timóteo, dá o conselho que capacitará nossa influência pessoal a encontrar morada no coração daqueles com quem nos relacionamos: “Sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza”. 4
Quando eu era pequeno, nossa família residia na Ala Sessenta e Sete da Estaca Pioneer. Os membros da ala eram um tanto transitórios, o que resultava em um alto índice de rotatividade no que dizia respeito aos professores da Escola Dominical. Nós, meninos e meninas, mal nos familiarizávamos com um professor em particular e passávamos a gostar dele, quando o Superintendente da Escola Dominical entrava em nossa sala de aula e apresentava um novo professor. Ficávamos muito desapontados e, como conseqüência, a disciplina entrava em colapso.
Professores em perspectiva, ao saber da péssima reputação de nossa classe, em particular, recusavam-se delicadamente a servir ou sugeriam a possibilidade de ensinarem em uma classe diferente, onde os alunos fossem mais fáceis de serem controlados. Nós adorávamos nosso status recém-descoberto e estávamos determinados a viver da forma que os professores temiam.
Certo domingo pela manhã, uma jovem adorável chegou à sala de aula em companhia do Superintendente e foi-nos apresentada como a professora que pedira uma oportunidade para ensinar-nos. Seu nome era Lucy Gertsch. Ela era linda, de fala mansa e interessava-se por nós. Pediu a cada aluno que se apresentasse, depois fez algumas perguntas para conhecer a vida de cada um de nós. Contou-nos de sua infância em Midway, Utah e, à medida que descrevia o lindo vale, fez sua beleza parecer tão real, que desejamos visitar os verdes campos que ela tanto amava.
Quando Lucy ensinava, ela realmente dava vida às escrituras. Passamos a conhecer Samuel, Davi, Jacó, Néfi, Joseph Smith e o Senhor Jesus Cristo pessoalmente. Nosso conhecimento do evangelho cresceu. Nosso comportamento melhorou. Nosso amor por Lucy Gertsch não tinha limites.
Incumbimo-nos de um projeto para economizar moedas de dez e de cinco centavos para aquela que seria uma festa de Natal fabulosa. A irmã Gertsch manteve um registro cuidadoso de nosso progresso. Como crianças com um apetite típico da idade, convertemos mentalmente o total arrecadado em bolos, biscoitos, tortas e sorvete. Aquele seria um evento glorioso. Nunca um de nossos professores havia sequer sugerido um acontecimento social como aquele.
Os meses de verão transformaram-se gradativamente em outono. O outono em inverno. A meta estabelecida para a realização da festa fora atingida. A classe crescera espiritualmente. Um bom espírito predominava.
Nenhum de nós se esquecerá daquela manhã cinzenta de janeiro, quando nossa amada professora comunicou a morte da mãe de um de nossos colegas de classe. Pensamos em nossa própria mãe e no quanto ela significava para nós. Sentimos uma tristeza sincera pela grande perda que Billy Devenport tivera.
A lição daquele domingo fora extraída do livro de Atos, capítulo 20, versículo 35: “[Recordai] as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber”. Ao término da apresentação de uma aula bem preparada, Lucy Gertsch comentou a respeito da situação financeira da família de Billy. Vivíamos na época da Depressão, e o dinheiro era escasso. Com um brilho nos olhos perguntou-nos: “Gostariam de seguir esse ensinamento do Senhor? Como se sentiriam se pegássemos o dinheiro de nossa festa e, em nome da classe, o déssemos aos Devenport, como expressão de nosso amor?” A decisão foi unânime. Contamos muito cuidadosamente cada centavo e colocamos tudo em um grande envelope. Um lindo cartão foi comprado e nosso nome inscrito nele.
Esse simples ato de bondade fez com que nos tornássemos um. Aprendemos por experiência própria que, de fato, mais bem-aventurada coisa é dar do que receber.
Os anos voaram. A velha capela não mais existe, vítima do progresso. Os meninos e meninas que aprenderam, riram e cresceram sob a orientação daquela inspirada professora da verdade, nunca se esqueceram de seu amor nem de suas aulas. Sua influência pessoal para o bem foi contagiante.
Uma Autoridade Geral cuja influência pessoal foi sentida em todas as partes foi o falecido Presidente Spencer W. Kimball. Ele realmente fez a diferença na vida de um número incontável de pessoas.
Quando eu era bispo, o telefone tocou certo dia e a pessoa identificou-se como sendo o Élder Spencer W. Kimball. Disse ele: “Bispo Monson, existe em sua ala um pátio para estacionamento de trailers e, em um pequeno trailer naquele pátio—o menor trailer de todos—mora uma doce índia navajo que é viúva, Margaret Bird. Será que poderia pedir à presidente da Sociedade de Socorro de sua ala que a visitasse para convidá-la a participar da Sociedade de Socorro com as outras irmãs?” Nós o fizemos. Margaret Bird foi à reunião e foi carinhosamente recebida.
O Élder Kimball telefonou-me em uma outra ocasião. “Bispo Monson”, disse, “fiquei sabendo que existem dois rapazes samoanos morando em um hotel no centro da cidade. Eles vão ter problemas. Poderia levá-los para a sua ala?
Encontrei os dois garotos à meia-noite, sentados nos degraus do hotel tocando ukeleles e cantando. Eles se tornaram membros de nossa ala. No final, casaram-se no templo e serviram valorosamente. Sua influência para o bem propagou-se.
Logo que fui chamado como bispo, descobri que o número de assinaturas da revista da Sociedade de Socorro estava em declínio. Em espírito de oração, analisamos o nome de pessoas que poderíamos chamar para o cargo de representante da revista. A inspiração sugeriu o nome de Elizabeth Keachie para a designação. Como seu bispo, entrevistei-a para a tarefa. Ela respondeu: “Bispo Monson, eu o farei”.
Elizabeth Keachie descendia de escoceses e quando ela disse:”Eu o farei”, não havia dúvida de que realmente faria. Ela e a cunhada, Helen Ivory—nenhuma das duas com mais de um metro e meio de altura—começaram a visitar toda a ala, casa por casa, rua por rua e quarteirão por quarteirão. O resultado foi incrível. Tivemos mais assinaturas da revista da Sociedade de Socorro do que todas as outras unidades da estaca juntas.
Dei os parabéns à Elizabeth Keachie certo domingo à noite e disse-lhe: “Sua tarefa foi cumprida”.
Ao que replicou: “Ainda não foi não, bispo. Faltam dois quarteirões inteiros para visitarmos”.
Quando me disse que quarteirões eram eles, eu lhe disse: “Ah, irmã Keachie, não há ninguém morando neles. Só existem indústrias lá”.
“Não faz diferença”, disse ela, “Eu me sentiria melhor se a Nell e eu fôssemos verificar pessoalmente.”
Em um dia chuvoso, Nell e ela cobriram aqueles dois últimos quarteirões. No primeiro não encontraram nenhuma casa, nem no segundo. Ela e a irmã Ivory pararam, contudo, em uma entrada de carros lamacenta devido à chuva recente. A irmã Keachie seguiu a entrada que ficava ao lado de uma oficina mecânica com o olhar e, mais ou menos uns trinta metros adiante avistou uma garagem. Só que não era uma garagem normal, pois havia uma cortina na janela.
Ela se voltou para a companheira e disse: “Nell, devemos entrar e investigar?”
Essas duas meigas irmãs seguiram por cerca de 12 metros pela entrada de carros cheia de lama até onde podiam avistar toda a garagem. Então notaram uma porta que não era visível da rua. Notaram também uma chaminé fumegante.
Elizabeth Keachie bateu à porta. Um homem de 68 anos de idade, William Ringwood, atendeu. Elas então explicaram a necessidade de todas as casas terem uma assinatura da revista da Sociedade de Socorro. Willliam Ringwood replicou: “Acho melhor perguntarem ao meu pai”.
Charles W. Ringwood, então com noventa e quatro anos de idade veio até a porta e ouviu a mensagem. Ele fez uma assinatura.
Elizabeht Keachie relatou-me o fato de esses dois homens estarem morando na área de nossa ala. Quando pedi o certificado de membro dos dois à sede da Igreja, recebi uma ligação do Departamento de Membros do Escritório do Bispado Presidente. A funcionária disse: “O senhor tem certeza de que Charles W. Ringwood vive em sua ala?”
Respondi que sim, e então ela informou-me que o certificado de membro dele havia permanecido no arquivo de “perdidos e desconhecidos” do Escritório do Bispado Presidente durante 16 anos.
No domingo pela manhã, Elizabeth Keachie e Nell Ivory levaram Charles e William Ringwood à nossa reunião do sacerdócio. Aquela foi a primeira vez que eles pisaram em uma capela depois de muitos anos. Charles Ringwood foi o diácono mais velho que eu conheci. Seu filho foi o membro da Igreja mais velho que conheci sem o sacerdócio.
Tive a oportunidade de ordenar o irmão Charles Ringwood ao ofício de mestre, depois sacerdote e finalmente de élder. Jamais esquecerei sua entrevista para receber a recomendação para entrar no templo. Ele entregou-me uma moeda de um dólar que havia retirado de uma carteira velha e surrada e disse: “Esta é a minha oferta de jejum”.
Eu disse a ele: “Irmão Ringwood, o senhor não deve qualquer oferta de jejum. O senhor é que precisa dela”.
“Quero receber as bênçãos, não ficar com o dinheiro”, respondeu ele.
Tive o privilégio de acompanhar Charles Ringwood ao Templo de Salt Lake e participar com ele da sessão de investidura.
Poucos meses depois, Charles W. Ringwood faleceu. Em seu funeral, notei que sua família estava sentada na primeira fileira da capela, mas notei também duas mulheres sentadas quase ao fundo, Elizabeth Keachie e Helen Ivory.
Ao olhar para aquelas duas mulheres fiéis e dedicadas e refletir a respeito de sua influência pessoal para o bem, a promessa do Senhor inundou-me a alma: “Eu, o Senhor, sou misericordioso e benigno para com aqueles que me temem e deleito-me em honrar aqueles que me servem em retidão e em verdade até o fim. Grande será sua recompensa e eterna sua glória”.5
Existe alguém, acima de todos os outros, cuja influência pessoal se espalha pelos continentes, atravessa os oceanos e penetra no coração daqueles que verdadeiramente crêem. Ele expiou pelos pecados da humanidade.
Testifico que Ele é o mestre da verdade—mas Ele é ainda mais do que um mestre. Ele é o Exemplo da vida perfeita—mas Ele é ainda mais do que um exemplo. Ele é o Grande Médico—mas Ele é ainda mais do que um médico. Ele é o Salvador literal do mundo, o Filho de Deus, o Príncipe da Paz, o Santo de Israel, o Senhor ressuscitado, que declarou:
“Eis que eu sou Jesus Cristo, cuja vinda ao mundo foi testificada pelos profetas. (…) Eu sou a luz e a vida do mundo”.6
“Eu sou o primeiro e o último; sou o que vive, sou o que foi morto; eu sou vosso advogado junto ao Pai”.7
Como testemunha Dele, testifico a vocês que Ele vive! Em Seu sagrado nome—o nome de Jesus Cristo, o Salvador. Amém.