Mensagem da Primeira Presidência
Paz em Nosso Salvador
Há alguns anos, minha esposa e eu visitamos um parque temático popular com membros de nossa família. Em uma das atrações, entramos em um barco que nos levaria a uma queda vertical que provocava gritos dos passageiros à media que o barco descia estrondosamente por uma cachoeira e deslizava até parar na água lá embaixo. Pouco antes de chegarmos à queda, notei um pequeno aviso na parede que declarava uma verdade profunda: “Não se pode fugir dos problemas (…). Não tem lugar longe o bastante!”
Guardei essas palavras na lembrança. Elas referem-se não somente ao tema daquela atração, mas também à nossa jornada pela mortalidade.
A vida é uma escola para se adquirir experiência, um período de provações. Aprendemos à medida que suportamos nossas aflições e sobrevivemos às nossas mágoas.
Ao refletirmos sobre as coisas que podem acontecer a todos nós—doenças, acidentes, morte e uma infinidade de outros desafios—podemos aprender com o Jó da antigüidade: “O homem nasce para a tribulação”.1 Jó era um homem “íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal”.2 Piedoso em sua conduta, próspero nos negócios, Jó teria que passar por um teste que teria destruído qualquer um. Depois de perder tudo o que tinha, de ser desprezado pelos amigos, atormentado pelo sofrimento e arrasado pela perda de sua família, incitaram-no a “[amaldiçoar] a Deus, e [morrer]”.3 Ele resistiu a essa tentação e declarou do fundo de sua nobre alma: “Eis que também agora a minha testemunha está no céu, e nas alturas o meu testemunho está”.4 “Eu sei que meu Redentor vive.”5 Jó conservou a fé.
Podemos presumir seguramente que nenhuma pessoa jamais tenha vivido inteiramente livre de sofrimento e tribulação, nem jamais houve um período na história da humanidade que não tivesse seu quinhão de tumulto, ruína e desgraça.
Quando a vida envereda por um caminho impiedoso, ficamos tentados a perguntar: “Por que eu?” É comum colocarmos a culpa em nós mesmos, mesmo quando não temos qualquer controle sobre a situação. Às vezes, parece não haver luz no final do túnel, nenhum amanhecer para romper a escuridão da noite. Sentimo-nos envolvidos pela dor de um coração partido, pela desilusão de sonhos desfeitos e o desespero de esperanças destruídas. Fazemos parte dos que pronunciam a súplica bíblica: “Porventura não há bálsamo em Gileade?”6 Sentimo-nos abandonados, magoados, sozinhos.
A todos os que passam por isso, ofereço a garantia encontrada em Salmos: “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã”.7
Sempre que tivermos a impressão de nos sentirmos sobrecarregados pelos golpes da vida, devemos nos lembrar que outros já trilharam o mesmo caminho, perseveraram e sobrepujaram-no.
Parece haver um infindável estoque de problemas para todos. Habitualmente esperamos soluções instantâneas, esquecendo-nos que precisamos ter a virtude divina da paciência.
Será que alguns dos desafios a seguir lhes soam de maneira familiar?
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Filhos com deficiências
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A morte de um ente querido
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Desemprego devido a cortes na empresa
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Desatualização profissional
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Filho ou filha rebelde
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Enfermidade mental e emocional
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Acidentes
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Divórcio
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Abuso e maus-tratos
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Dívidas em excesso
A lista é interminável. No mundo de hoje, existe, ocasionalmente a tendência de nos sentirmos afastados—ou mesmo isolados—de Deus, a fonte de toda boa dádiva. Preocupamo-nos por atravessar a vida sozinhos e perguntamos “Como podemos suportar isso?” O que nos dá o consolo supremo é o evangelho.
Somos erguidos de nosso leito de sofrimento e de nosso travesseiro molhado de lágrimas, pela garantia divina e pela preciosa promessa: “Não te deixarei nem te desampararei”.8
Tal consolo é inestimável ao seguirmos nossa jornada pelo caminho da mortalidade, com suas inúmeras bifurcações e desvios. Raramente essa garantia é transmitida por um sinal luminoso ou por uma voz ruidosa. Ao contrário, a linguagem do Espírito é meiga, tranqüila, edifica o coração e é um alento para a alma.
Para que não questionemos o Senhor quanto às nossas preocupações. Lembremo-nos de que a sabedoria de Deus pode não ser facilmente compreendida pelos mortais, mas a maior lição que podemos aprender é que quando Deus fala e o homem obedece, esse homem estará sempre certo.
A experiência de Elias, o tesbita, ilustra essa verdade. Em meio à terrível fome, seca e o desespero, sofrimento e talvez até a morte devido à inanição, “veio a ele a palavra do Senhor, dizendo: Levanta-te e vai para Sarepta, (…) e habita ali; eis que eu ordenei ali a uma mulher viúva que te sustente”.9
Elias não questionou o Senhor. “Ele se levantou, e foi a Sarepta; e, chegando à porta da cidade, eis que estava ali uma mulher viúva apanhando lenha; e ele a chamou, e lhe disse: Traze-me, peço-te, num vaso um pouco de água que beba.
E, indo ela a trazê-la, ele a chamou e lhe disse: Traze-me agora também um bocado de pão na tua mão.
Porém ela disse: Vive o Senhor teu Deus, que nem um bolo tenho, senão somente um punhado de farinha numa panela, e um pouco de azeite numa botija; e vês aqui apanhei dois cavacos, e vou prepará-lo para mim e para o meu filho, para que o comamos, e morramos.
E Elias lhe disse: Não temas, vai, faze conforme à tua palavra; porém faze dele primeiro para mim um bolo pequeno, e traze-mo aqui. Depois farás para ti e para teu filho.
Porque assim diz o Senhor Deus de Israel: A farinha da panela não se acabará, e o azeite da botija não faltará até ao dia em que o Senhor dê chuva sobre a terra.”10
Ela não questionou essa promessa tão pouco provável de se cumprir. “E ela foi e fez conforme a palavra de Elias; e assim comeu ela, e ele, e a sua casa muitos dias.
Da panela a farinha não se acabou, e da botija o azeite não faltou; conforme a palavra do Senhor, que ele falara pelo ministério de Elias.”11
Agora viremos, rapidamente, as páginas da história até aquela noite especial em que os pastores cuidavam de seus rebanhos e ouviram o sagrado pronunciamento: “Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo:
Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor”.12
Com o nascimento do infante em Belém, houve ali uma grande dádiva—um poder mais forte do que as armas, uma riqueza mais duradoura do que as moedas de César. A promessa há muito predita foi cumprida; o Cristo infante nascera.
O registro sagrado revela que “crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens”.13 Posteriormente, uma escritura discreta relata que Ele “andou fazendo bem”.14
De Nazaré e através das gerações passadas vemos Seu exemplo, Suas palavras acolhidas com alegria, Seus feitos divinos. Eles inspiram com paciência para tolerar as aflições, forças para suportar a dor, coragem para encarar a morte e confiança para enfrentar a vida. Neste mundo caótico de tribulações e incertezas, nunca foi tão angustiante a nossa necessidade para tal orientação divina.
As lições de Nazaré, Cafarnaum, Jerusalém e Galiléia transcendem as barreiras da distância, da passagem do tempo e dos limites da compreensão ao levar a luz e mostrar o caminho ao coração aflito.
Em seu futuro encontravam-se o jardim do Getsêmani e o monte do Calvário.
O relato bíblico revela: “Então chegou Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani, e disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto vou além orar.
E levando consigo Pedro [Tiago e João], começou a entristecer-se e a angustiar-se muito.
Então lhes disse: A minha alma está cheia de tristeza até a morte; ficai aqui, e velai comigo.
E, indo um pouco mais para adiante. (…) orando e dizendo:”15
“Pai, se queres, passa de mim este cálice. Todavia não se faça a minha vontade, mas a tua.
E apareceu-lhe um anjo do Senhor, que o fortalecia.
E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão.”16
Que sofrimento, que sacrifício e que angústia Ele suportou para expiar os pecados do mundo!
Para o nosso benefício, o poeta escreveu:
Na dourada juventude, quando o mundo parece
Uma terra onde sempre é verão, cheia de cânticos e alegria,
Quando a alma é feliz e o coração despreocupado,
E não há nenhuma sombra escurecendo a visão.
Não o sabemos, mas ali existe
Em algum lugar, escondido sob o céu noturno
Um jardim que todos precisamos divisar—
O jardim do Getsêmani…
Seguindo por sendas escuras, cruzando riachos desconhecidos,
Sobre os quais nossos sonhos desfeitos construíram uma ponte;
Por trás dos anos obscurecidos pelo esquecimento,
Além da grande fonte salgada de lágrimas,
Está o jardim. Por mais que nos esforcemos,
Não poderemos desviar-nos dele.
Todos os caminhos que existiram ou que virão a existir
Passam pelo Getsêmani.17
A missão mortal do Salvador do mundo aproximou-se rapidamente de seu final. Adiante estavam a cruz do Calvário, os atos corruptos cometidos por aqueles que ansiavam pelo derramamento do sangue do Filho de Deus. Sua divina resposta foi uma simples, porém profundamente significativa oração: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.18
O final chegou: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto”,19 o Grande Redentor morreu. Ele foi colocado em um sepulcro. Ressuscitou na manhã do terceiro dia. Foi visto por seus discípulos. As palavras que nos restaram daquele que foi o acontecimento mais importante de todas as eras atravessam os anais da história e trazem à nossa alma, ainda nos dias de hoje, consolo, alívio bálsamo, e certeza: “Ele não está aqui: (…) ressuscitou”.20 A ressurreição tornou-se realidade para todos.
Há algum tempo, recebi uma carta recheada de fé, de Lawrence M. Hilton. Vou contar-lhes a história de alguém que sobreviveu a uma tragédia pessoal, exercendo fé, em nada duvidando.
Em 1892, Thomas e Sarah Hilton, avós de Lawrence, foram para Samoa, onde Thomas foi designado como presidente de missão após a chegada. Havia levado consigo uma menina, ainda bebê e tiveram dois meninos enquanto lá serviam. Tragicamente, os três filhos morreram em Samoa e, em 1895, os Hilton retornaram da missão sem filhos.
David O. McKay era amigo da família e ficou profundamente sentido pela perda que sofreram. Em 1921, como parte de uma visita mundial aos membros da Igreja em muitas nações, o Élder McKay, na época membro do Quórum dos Doze Apóstolos, fez uma escala em Samoa. Antes de partir em viagem, ele prometera à irmã Hilton, agora viúva, que visitaria pessoalmente o túmulo dos três filhos dela. Lerei para vocês a carta que o Élder McKay escreveu-lhe, de Samoa:
“Querida irmã Hilton:
No momento em que os raios do poente tocavam a copa dos altos coqueiros, na quarta-feira, 18 de maio de 1921, um grupo de cinco pessoas, com a cabeça baixa, estavam diante do pequeno Cemitério Fagali’i. (…) Lá estávamos, como se lembra, para cumprir a promessa que lhe fiz antes de sair de casa.
As sepulturas e as lápides estão em bom estado de conservação. (…) Envio-lhe uma cópia das inscrições de que tomei nota, enquanto estava (…) na parte externa do muro de pedras que cercava o lugar.
Janette Hilton
Nascida em: 10 de setembro de 1891
Falecida em: 4 de junho de 1892
‘Repouse, querida Jennie’
George Emmett Hilton
Nascido em: 12 de outubro de 1894
Falecido em: 19 de outubro de 1894
‘Tranqüilo seja o teu dormir’
Thomas Harold Hilton
Nascido em 21 de setembro de 1892
Falecido em 17 de março de 1894
‘Repouse na encosta do monte, repouse’
Enquanto olhava para aquelas três sepulturas pequeninas, tentei imaginar os momentos que atravessou como uma jovem mãe, aqui em Samoa. Ao fazê-lo, as lápides tornaram-se monumentos, não apenas aos bebezinhos dormindo sob elas, mas também à fé e a devoção de uma mãe aos princípios eternos da verdade e da vida. Seus três pequeninos, irmã Hilton, em um silêncio profundamente eloqüente e eficaz, levaram avante seu nobre trabalho missionário, iniciado há quase 30 anos, e nele prosseguirão enquanto houver mãos bondosas cuidando de seu lugar final de descanso na Terra.
Mãos amorosas seus olhos fecharam;
Mãos amorosas seus corpos pequeninos arrumaram;
Mãos estranhas as lápides humildes adornaram;
Forasteiros os honraram, e por eles prantearam.
Tofa Soifua [Adeus]
David O. McKay”
Esse relato comovente passa ao coração aflito “a paz (…) que excede todo o entendimento”.21
Nosso Pai Celestial vive. Jesus Cristo, o Senhor , é nosso Salvador e Redentor. Ele guiou o Profeta Joseph. E guia Seu profeta hoje, o Presidente Gordon B. Hinckley. Dessa verdade presto um testemunho pessoal.
Que possamos suportar o peso de nossas tristezas, carregar nossos fardos e enfrentar nossos medos—como o fez nosso Salvador—é minha oração. Eu sei que Ele vive.
Idéias para os mestres familiares
Depois de estudar a mensagem em espírito de oração, transmita a mensagem utilizando um método que incentive a participação daqueles a quem ensina. Eis alguns exemplos:
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Examine a lista de desafios indicadas no artigo. Convide os membros da família a acrescentar desafios à lista. Então leia os três primeiros parágrafos do artigo em voz alta e pergunte: “Como podemos enfrentá-los?” Estude uma ou mais referências de escritura ou histórias do Presidente Monson com eles, para encontrar respostas a essa pergunta.
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Peça a quatro pessoas que leiam em voz alta as palavras do narrador, do Senhor, de Elias e da viúva, em I Reis 17:8–16. O que o Presidente Monson diz que podemos aprender com essa história? Conte-lhes uma experiência em que a obediência a Deus trouxe paz à sua vida.
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Leia com eles a história da família Hilton e a carta do Élder David O. McKay. Convide os membros da família a compartilhar experiências a respeito de como o Salvador ajudou-os a suportar as tribulações e encontrar a paz.