2007
Oh! Lembrai-vos, Lembrai-vos
Novembro de 2007


Oh! Lembrai-vos, Lembrai-vos

“Oh! Lembrai-vos, Lembrai-vos”, imploraram os profetas do Livro de Mórmon.1 Meu objetivo é exortá-los a achar maneiras de reconhecer e recordar a bondade de Deus.

Senti-me grato pela apresentação do coro nesta manhã, sobre o Salvador, e grato por ver que a letra de um dos hinos que eles cantaram, “Este É o Cristo”, foi escrita pelo Presidente James E. Faust. Ao sentar-me ao lado do irmão Newell, inclinei-me para ele e perguntei: “Como estão seus filhos?” Ele me disse: “Quando o Presidente Faust se sentava nessa cadeira, era o que ele sempre me perguntava!” Não estou surpreso, pois o Presidente Faust sempre foi o exemplo perfeito do discípulo descrito no programa “Música e a Palavra Proferida” de hoje. Eu sempre achei que, quando crescesse, eu queria ser como o Presidente Faust. Talvez ainda haja tempo.

Quando nossos filhos ainda eram pequenos, passei a anotar alguns acontecimentos do nosso cotidiano. Deixem-me contar como isso começou. Eu voltava para casa tarde, após uma designação da Igreja. Já estava escuro e eu me dirigia à porta da frente, quando, surpreso, avistei meu sogro, que morava perto de nós. Ele carregava nos ombros um feixe de canos e andava a passos largos, com roupas de trabalho. Eu sabia que ele estava construindo um sistema para bombear água de um riacho perto de casa até a nossa propriedade.

Ele sorriu, cumprimentou-me em voz baixa e, apressado seguiu caminho no escuro para continuar o trabalho. Andei em direção a nossa casa, pensando no que ele estava fazendo por nós e, assim que cheguei à porta, ouvi na mente as seguintes palavras: Essas experiências não são só para você. Anote-as”.

Entrei. Não fui me deitar, embora estivesse cansado. Peguei algumas folhas e comecei a escrever. Ao fazê-lo, compreendi a mensagem que ouvira na mente. Eu devia escrever para que meus filhos lessem no futuro como eu vira a mão de Deus abençoar nossa família. Vovô não precisava fazer o que estava fazendo por nós. Ele poderia ter delegado a tarefa para outra pessoa, ou simplesmente não ter feito nada. Mas ele estava servindo a nós, sua família, como sempre fazem os discípulos de Jesus Cristo que assumem convênios. Eu sabia que isso era verdade. Assim, registrei essas coisas para que meus filhos se lembrassem um dia, quando precisassem.

Escrevi algumas linhas diariamente durante anos. Não falhei um único dia, por mais cansado que estivesse nem por mais cedo que precisasse acordar no dia seguinte. Antes de redigir, refletia sobre a pergunta: “Vi hoje a mão de Deus se estender sobre nós, nossos filhos ou sobre a família?” Com a continuidade, algo começou a acontecer: Ao relembrar o dia, via evidências do que Deus fizera por algum de nós e que eu não reconhecera nos momentos mais atarefados. à medida que isso ocorria — e era freqüente — percebi que esse esforço de memória permitira a Deus mostrar-me o que Ele realizara.

Algo mais do que a simples gratidão começou a crescer em meu coração: meu testemunho aumentou; adquiri uma certeza ainda maior de que o Pai Celestial ouve e responde a nossas orações; senti maior gratidão pelo efeito enternecedor e purificador da Expiação do Salvador Jesus Cristo, e fiquei mais confiante de que o Espírito Santo pode fazer-nos lembrar de tudo, mesmo coisas que não notamos ou que não nos chamaram a atenção quando aconteceram.

Passaram-se os anos, meus meninos hoje são homens feitos. E, de vez em quando, um deles me surpreende, ao dizer: “Pai, eu estava lendo o meu diário da época em que…” e então me conta como a leitura de algo ocorrido há tanto tempo o ajudou a perceber algo feito por Deus em sua própria época.

Meu objetivo é exortá-los a achar maneiras de reconhecer e recordar a bondade de Deus. Isso fortalecerá nosso testemunho. Talvez vocês não tenham um diário ou costumem mostrar às pessoas a quem amam e servem os registros que guardam, mas tanto vocês como elas serão abençoados se recordarem das obras do Senhor. Vocês devem estar lembrados do hino que às vezes cantamos: “Conta as bênçãos (…), dize-as de uma vez, E verás, surpreso, quanto Deus já fez”.2

Não vai ser fácil lembrar. Por causa do véu que nos cobre os olhos, não recordamos como era nossa vida ao lado do Pai Celestial e de Seu Filho Amado, Jesus Cristo, no mundo pré-mortal; nem podemos, com os olhos físicos ou somente com a razão, enxergar a mão de Deus em nossa vida. Para vermos tais coisas, precisamos do Espírito Santo. E não é fácil ser digno da companhia do Espírito Santo num mundo iníquo.

é por isso que esquecer-se de Deus é um problema recorrente entre Seus filhos, desde o início do mundo. Pensem na época de Moisés, quando Deus enviava maná e, por outros meios miraculosos e visíveis, dirigia e protegia Seus filhos. Ainda assim, o profeta admoestou as pessoas que tinham sido tão abençoadas, como os profetas sempre fizeram e sempre farão: “Tão-somente guarda-te a ti mesmo, e guarda bem a tua alma, que não te esqueças daquelas coisas que os teus olhos têm visto, e não se apartem do teu coração todos os dias da tua vida.”3

O desafio de recordar foi sempre maior para quem é abençoado em abundância. Quem é fiel a Deus recebe proteção e prospera. Isso resulta do serviço a Deus e da obediência a Seus mandamentos. Mas com essas bênçãos vem também a tentação de esquecer sua origem. é fácil começar a achar que as bênçãos não provêm de um Deus amoroso de quem somos dependentes, mas da nossa própria força. Muitas e muitas vezes os profetas repetiram este lamento:

“E assim podemos ver quão falso e também quão inconstante é o coração dos filhos dos homens; sim, podemos ver como o Senhor, na grandeza de sua infinita bondade, abençoa e faz prosperar os que colocam nele a sua confiança.

Sim, e vemos que é justamente quando ele faz prosperar seu povo, sim, aumentando seus campos, seu gado e seus rebanhos e ouro e prata e toda sorte de coisas preciosas de todo tipo e de todo estilo, preservando-lhes a vida e livrando-os das mãos de seus inimigos, abrandando o coração dos inimigos para que não lhes façam guerra; sim, e, em resumo, fazendo tudo para o bem e a felicidade de seu povo; sim, então é quando endurecem o coração, esquecendo-se do Senhor seu Deus e pisando o Santíssimo — sim, e isto em virtude de seu conforto e de sua enorme prosperidade.”

E o profeta prossegue dizendo:

“Sim, quão rápidos em se ensoberbecerem; sim, quão rápidos em se vangloriarem e em praticarem toda sorte de iniqüidades; e quão lentos são em se recordarem do Senhor seu Deus e em dar ouvidos a seus conselhos; sim, quão lentos em trilhar os caminhos da sabedoria.”4

Infelizmente, não é só a prosperidade que leva as pessoas a esquecer-se de Deus. Também pode ser difícil recordá-Lo quando nossa vida vai mal. Quando, como acontece com muitos, defrontamos-nos com a extrema pobreza, quando nossos inimigos prevalecem contra nós ou quando somos acometidos por doenças graves, o inimigo de nossa alma pode transmitir sua mensagem maléfica de que não há Deus ou, caso exista, não Se preocupa conosco. Então, pode custar muito ao Espírito Santo trazer-nos à memória uma vida inteira de bênçãos concedidas pelo Senhor desde a infância e mesmo em nosso infortúnio.

Há uma cura simples para o terrível mal de nos esquecer de Deus, de Suas bênçãos e Suas mensagens para nós. Jesus Cristo prometeu-a aos Seus discípulos quando estava prestes a ser crucificado, a ressuscitar e a retirar-Se da presença deles para ascender em glória para o Pai. Eles estavam preocupados, desejosos de saber como conseguiriam perseverar quando Ele não estivesse mais em seu meio.

Aqui está a promessa, que se cumpriu para eles e pode cumprir-se para todos nós hoje:

“Tenho-vos dito isto, estando convosco. Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.”5

A chave para essa lembrança que gera e conserva o testemunho é receber a companhia do Espírito Santo. é o Espírito Santo que nos ajuda a ver o que Deus já fez por nós. é o Espírito Santo que pode ajudar aqueles a quem servimos a verem o que Deus fez por eles.

O Pai Celestial concedeu-nos um meio simples para termos a companhia do Espírito Santo, não apenas uma vez, mas continuamente, em nosso cotidiano agitado. Esse método é repetido na oração sacramental. Prometemos recordar sempre o Salvador, tomar Seu nome sobre nós e guardar Seus mandamentos. E recebemos a promessa de que, ao fazer essas coisas, teremos Seu Espírito conosco.6 Essas promessas se entrelaçam de modo maravilhoso para fortalecer o nosso testemunho e, finalmente, por meio da Expiação, transformar nossa natureza ao cumprirmos nossa parte da promessa.

é o Espírito Santo que testifica que Jesus Cristo é o Filho Amado de um Pai Celestial que nos ama e deseja que tenhamos a vida eterna com Ele em família. Mesmo quando estamos começando a adquirir este testemunho, sentimos o desejo de servi-Lo e guardar Seus mandamentos. Ao persistirmos, receberemos os dons do Espírito Santo para nos dar forças em nosso serviço. Passaremos a ver a mão de Deus com maior clareza, a tal ponto que passaremos não só a recordá-Lo, mas a amá-Lo e, graças ao poder da Expiação, a nos tornar mais semelhantes a Ele.

Vocês poderiam perguntar: “Mas como esse processo pode iniciar-se, no caso de alguém que não conhece nada sobre Deus e afirma não recordar nenhuma experiência espiritual?” Todos já passaram por experiências espirituais, mesmo sem as terem reconhecido. Ao vir ao mundo, todos recebem o Espírito de Cristo. O livro de Morôni descreve o modo de agir desse espírito:

“Pois eis que o Espírito de Cristo é concedido a todos os homens, para que eles possam distinguir o bem do mal; portanto vos mostro o modo de julgar; pois tudo o que impele à prática do bem e persuade a crer em Cristo é enviado pelo poder e dom de Cristo; por conseguinte podeis saber, com um conhecimento perfeito, que é de Deus.

Mas tudo que persuade o homem a praticar o mal e a não crer em Cristo e a negá-lo e a não servir a Deus, podeis saber, com conhecimento perfeito, que é do diabo; porque é desta forma que o diabo age, pois não persuade quem quer que seja a fazer o bem; não, ninguém; tampouco o fazem seus anjos; nem o fazem os que a ele se sujeitam. (…)

Portanto vos suplico, irmãos, que procureis diligentemente, na luz de Cristo, diferenciar o bem do mal; e se vos apegardes a tudo que é bom e não o condenardes, certamente sereis filhos de Cristo.”7

Assim, mesmo antes de as pessoas terem direito aos dons do Espírito Santo, após serem confirmadas membros da Igreja, e mesmo antes de o Espírito Santo lhes confirmar a verdade antes do batismo, elas vivem experiências espirituais. O Espírito de Cristo já as convidou, desde a infância, a fazer o bem e as alertou contra o mal. Elas têm lembranças dessas experiências mesmo que ainda não tenham reconhecido sua fonte. Essas lembranças lhes voltarão à mente quando ouvirem a palavra de Deus. Recordarão a sensação de alegria ou tristeza ao aprender as verdades do evangelho; e essa lembrança lhes abrandará o coração para permitir que o Espírito Santo lhes testifique. Isso as levará a guardar os mandamentos e a desejar tomar sobre si o nome do Salvador. E ao fazê-lo, nas águas do batismo, e ao ouvirem as palavras de confirmação “Recebe o Espírito Santo”, proferidas por um servo autorizado do Senhor, sua capacidade de recordar-se sempre de Deus aumentará.

Testifico-lhes que os sentimentos cálidos que vivenciaram ao ouvirem a verdade proclamada nesta conferência provêm do Espírito Santo. O Salvador, que prometeu enviar o Espírito Santo, é o Filho amado e glorificado do nosso Pai Celestial.

Esta noite e amanhã à noite, ao orarem e ponderarem, sugiro que façam a pergunta: “Deus mandou uma mensagem específica para mim?” “Vi Sua mão agir em minha vida e na vida dos meus filhos?” Eu vou fazer isso. E então, preservarei essa lembrança para o dia em que eu e meus entes queridos precisarmos recordar o quanto Deus nos ama e o quanto necessitamos Dele. Testifico que Ele nos ama e nos abençoa, mais do que a maioria de nós consegue reconhecer. Sei que isso é verdade e sinto alegria ao recordá-Lo. Em nome de Jesus Cristo. Amém.

Notas

  1. Mosias 2:41; Alma 37:13; Helamã 5:9.

  2. “Conta as Bênçãos”, Hinos, nº. 57.

  3. Deuteronômio 4:9.

  4. Helamã 12:1–2, 5.

  5. João 14:25–26.

  6. Ver D&C 20:77, 79.

  7. Morôni 7:16–17, 19.