O Poder de Mudar
O Presidente Faust preparou este artigo durante os meses que precederam seu falecimento, ocorrido em 10 de agosto de 2007.
O poder de mudar é essencialmente real e é um magnífico dom espiritual concedido por Deus.
Cada um de nós, homem ou mulher, recebeu o poder de mudar a própria vida. Como parte do grande plano de felicidade do Senhor, temos o arbítrio para tomar decisões. Podemos decidir sair-nos melhor e ser melhores. De certa forma, cada um precisa mudar alguma coisa; isto é, uns precisam ser mais bondosos em casa, menos egoístas, melhores ouvintes e ter mais consideração no trato com as pessoas. Outros têm hábitos que precisam mudar, hábitos com que prejudicam a si próprios e aos que estão a seu redor. Pode haver algum momento em que precisemos de um empurrão que nos impulsione para a mudança.
Uma mudança significativa ocorreu a Saulo, quando seguia pela estrada de Damasco. Saulo andava “respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor” (Atos 9:1). No caminho, perto de Damasco, um resplendor de luz celeste o cercou.
“E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?
E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues” (Atos 9:4–5).
Pode ser que o coração de Saulo tenha sido abrandado quando os agitadores expulsaram Estevão da cidade e o apedrejaram, depositando suas capas aos pés de Saulo; mas sem dúvida alguma foi abandonado na estrada para Damasco, quando ouviu a voz do Senhor dizer: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues”.
“E ele, tremendo e atônito, disse: Senhor, que queres que eu faça? E disse-lhe o Senhor: Levanta-te, e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer” (Atos 9:6). Saulo estava cego ao se levantar e precisou ser conduzido até Damasco, onde a visão lhe foi restaurada e ele foi batizado. E ele, logo, “nas sinagogas pregava a Cristo, que este é o Filho de Deus” (Atos 9:20). Saulo, que mais tarde tornou-se conhecido como Paulo, experimentou uma mudança total, absoluta e completa que permaneceu inabalável até o dia de sua morte.
Mudar por Meio da Conversão
Certamente, vocês não tiveram uma experiência como essa em sua vida e nem eu, tampouco! A conversão, para a maioria de nós, é muito menos dramática, mas deve, ser igualmente significativa e representar um estímulo igualmente irresistível. Os recém-conversos da Igreja experimentam, em geral, sentem algo espiritual por ocasião do batismo. Um deles descreveu-o assim: “Jamais esquecerei a emoção que senti em minha alma; por estar limpo, por poder recomeçar, como filho de Deus (…). Foi um sentimento muito especial!”1
A verdadeira conversão modifica vidas. Uma jovem escreveu contando como a vida fora infeliz em sua casa, quando era pequena. “Ficava amargurada vendo minha mãe e irmãos mais novos sofrerem com o temperamento violento de um pai alcoólatra.” Aos quatorze anos, alguém lhe disse que um dos mandamentos de Deus era honrar os pais. Refletindo sobre como poderia fazer isso, ela se sentiu compelida a estudar, a tornar-se uma boa aluna e a ser a melhor filha do mundo.
Pouca coisa além disso mudou na casa, mas ela ainda sentia que devia manter esse objetivo. Ao completar dezoito anos, chegou o momento de morar longe de casa para completar os estudos. Três semanas depois, ela foi visitar a família. Ela relembra:
“Fui visitá-los e minha mãe me recebeu chorando. Pensei que algo terrível tivesse acontecido, mas ela me abraçou e disse: ‘Desde que você foi embora, seu pai nunca mais bebeu’.
Minha mãe me contou que, na noite de minha partida, uns missionários mórmons tinham aparecido em casa (…).
Meu pai se tornou como uma criancinha. Eu podia ver o arrependimento e a humildade em seus olhos. Ele mudara completamente; deixou de fumar e beber ao mesmo tempo, e tentava guardar os mandamentos que os missionários lhe ensinavam. Passou a tratar-me como uma rainha, dispensando igual tratamento a minha mãe e irmãos. (…)
Toda minha família foi batizada. (…) Meu pai, aos 40 anos de idade, tornou-se o melhor pai do mundo”.2
O poder do evangelho consegue verdadeiramente modificar nossa vida, arrancar-nos da tristeza e do desespero, e conduzir-nos à felicidade e alegria.
Mudar por Meio do Arrependimento
A transgressão produz dor e pesar. mas existe uma maneira de abandonar o “fel da amargura e [os] laços da iniqüidade” (Mosias 27:29). Se nos voltarmos para o Senhor e acreditarmos em Seu nome, poderemos mudar. Ele nos dará o poder de mudar nossa vida e o poder de afastar os maus pensamentos e maus sentimentos do coração. Poderemos ser resgatados do “mais escuro abismo” e ver “a maravilhosa luz de Deus” (Mosias 27:29). Poderemos ser perdoados. Poderemos encontrar a paz.
Há alguns anos, o Élder Marion D. Hanks, hoje Autoridade Geral emérita, contou como um incidente levou certo homem a arrepender-se e mudar a vida da noite para o dia:
“Ele tinha levado o filho para a casa de uma família conhecida com quem o menino ficaria enquanto ele participava de um torneio de beisebol. O garoto pareceu relutante com a idéia de seu pai acompanhá-lo à casa dessa família; por sua vez, o pai começou a imaginar se essas pessoas haveriam de alguma forma maltratado o filho. O menino como que se encolheu atrás dele quando bateram à porta. Uma vez no interior da casa, contudo, seu filho foi recebido calorosamente pela família e era evidente que ele também gostava muito de todos.
Mais tarde, ao buscar o filho, o pai, intrigado, pediu ao menino que explicasse o seu estranho comportamento. (…) A resposta do filho [foi]:
‘Fiquei com medo de de o senhor, sem querer, falar algum palavrão na casa deles, papai. Eles nunca falam palavrão e são pessoas muito legais. São educados uns com os outros e estão sempre rindo. Eles oram a cada refeição e também de manhã e de noite e me deixam orar com eles.’
O pai disse: ‘Não que o menino tivesse vergonha de mim: é que ele me amava tanto, que não queria que eu parecesse ser má pessoa’.
Esse pai, depois de resistir obstinadamente a uma geração de pessoas sinceras que tentaram ajudá-lo a ter uma vida melhor, fora tocado pelo doce espírito do próprio filho.”3
O poder transformador tornou-se tão forte que esse pai não só voltou à atividade na Igreja, mas também se tornou líder na estaca.
Mudar ao Recuperar-se da Dependência
Outro tipo de mudança que desejo abordar é o abandono de hábitos que escravizam. Eles incluem os transtornos associados ao uso de álcool, drogas, fumo, aos distúrbios alimentares, os jogos de azar, ao comportamento sexual indigno e à pornografia. Quero citar um livro recentemente lançado sobre vícios debilitantes: “O uso abusivo de substâncias que causam dependência é uma das principais causas de doenças e mortes que poderiam ser evitadas nos Estados Unidos. O abuso das drogas arruína famílias, custa bilhões em produtividade perdida, esgota o sistema de saúde e acaba com a vida”4; é uma maldição para a sociedade.
Existem muitos tipos de vícios e a mudança é difícil para quem sofre dessas graves dependências, pois algumas delas causam alterações no cérebro. Um artigo recente sobre a dependência afirma: “Na mente do dependente, ocorre uma redução da atividade no córtex pré-frontal, onde o pensamento racional poderia se impor ao comportamento impulsivo”5. Alguns vícios podem controlar-nos até o extremo de anular o arbítrio que Deus nos deu. Um dos métodos de ação mais eficazes de Satanás é encontrar meios de nos controlar. Conseqüentemente, devemos abster-nos de tudo o que nos impeça de cumprir os propósitos que Deus traçou para nós e que coloque em risco o recebimento das bênçãos da eternidade. Estamos neste mundo para que nosso espírito aprenda a controlar o nosso corpo, e não o contrário.
Qualquer tipo de dependência tem um preço terrível em termos de dor e sofrimento, e pode até nos afetar espiritualmente. Entretanto, existe esperança, porque a maioria das dependências pode, com o tempo, ser curada. Podemos mudar, embora seja difícil.
Devemos começar tomando a decisão de mudar. É verdade que é preciso ter coragem e humildade para admitir que precisamos de ajuda, mas pouquíssimas pessoas conseguem mudar sozinhas (se é que alguém consegue). A Igreja tem um programa de recuperação para dependentes que foi adaptado dos Doze Passos dos Alcoólatras Anônimos para a estrutura das doutrinas e as crenças da Igreja. Esses doze passos encontram-se no Guia para a Recuperação e Cura da Dependência, já disponível para os líderes do sacerdócio e demais membros.
Pode ser necessária uma mudança completa de vida. Precisamos desejar, de todo o coração, poder, mente e força, superar essas dependências nocivas. Precisamos estar preparados para renunciar total e absolutamente ao consumo bem como à pratica de tudo o que gere a dependência.
Muitos conseguiram deixar o hábito de consumir drogas. Susan, mãe de três filhos, usava drogas somente aos fins de semana, esforçando-se por esconder dos filhos o seu problema. Mas, mesmo assim, eles descobriram e imploraram a ela que parasse. Depois de três anos, com ajuda especializada e o apoio dos filhos, especialmente do filho de sete anos de idade, ela conseguiu. Ao olhar para trás, ela reconhece que o Pai Celestial guiou-a nesse processo e preparou-a para ouvir o evangelho. Ela conta:
“O evangelho modificou meu coração, minha aparência, minha atitude e meus sentimentos. Aprendi a orar. Sempre que tenho um problema, dirijo-me ao Pai Celeste, digo ‘Ajude-me’, e Ele me ampara. (…) Hoje, ando de cabeça erguida, porque sei que o Pai Celestial está ao meu lado, em todos os momentos. (…)
Oh, é bom recomeçar. Perdi muitas coisas por querer manter-me no mundo das drogas: perdi meu apartamento; meu filho quase morreu num incêndio; perdi meu casamento e perdi completamente a felicidade. Mas consegui recuperar-me. O Pai Celestial deu-me uma nova chance de recomeçar. Sinto-me nova: nova em folha, por dentro e por fora.”6
Cada amanhecer pode ser uma nova oportunidade para começar a mudar. Podemos modificar nosso ambiente. Podemos mudar nossa vida substituindo velhos hábitos por novos. Podemos moldar nosso caráter e nosso futuro por meio de pensamentos mais puros e ações mais nobres. Para citar as palavras de outrem: “a possibilidade de mudar está sempre ali, com suas promessas ocultas de paz, felicidade e de uma vida melhor”7.
Os vícios são ofensivos ao Espírito. Embora alguns vícios requeiram ajuda clínica profissional, não podemos menosprezar a ajuda espiritual que temos à disposição por meio das bênçãos do sacerdócio e da oração. O Senhor nos prometeu: “Minha graça basta a todos os que se humilham perante mim; porque caso se humilhem perante mim e tenham fé em mim, então farei com que as coisas fracas se tornem fortes para eles” (Éter 12:27). Lembremo-nos de que o poder de mudar é essencialmente real e é um magnífico dom espiritual concedido por Deus.
Presto meu testemunho de que, por meio do arrependimento e subseqüente retidão e pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, a mais extraordinária mudança pode acontecer ao nosso para que ele venha a “ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas“ (Filipenses 3:21).