Até Voltarmos a nos Encontrar
Coroa de Espinhos, Coroa de Vitória
Para mim, a coroa de espinhos tornou-se um símbolo da consciência que o Salvador tem de nossas dores ocultas — e de Sua capacidade de curá-las.
Agosto na Terra Santa. A nossa volta, as ruínas de Cafarnaum cintilavam no calor da tarde. Era um local fascinante, mas como tanto nosso guia quanto uma cigarra nas proximidades estavam emitindo sons repetitivos e prolongados, minha mente começou a divagar.
Subitamente, fiquei alerta quando o guia apontou para a árvore que nos dava sombra e disse inesperadamente: “Essa planta é conhecida como ‘árvore da coroa de espinhos’”. Olhei para a folhagem. Onde estão os espinhos? Estendi o braço e, com cuidado, puxei um pequeno galho em minha direção.
Então, entre as folhas delicadas, vi os espinhos. Finos e verdes, perversamente agudos e do tamanho de meu polegar, só podiam ser vistos a poucos metros de distância. Mas qualquer pessoa que entrasse em contato com um daqueles ramos frondosos certamente sentiria dor.
Pensei nas muitas imagens que vira do Salvador diante de um arremedo de tribunal, com um manto vermelho e uma coroa de espinhos retorcidos, secos e pontiagudos. De repente me ocorreu que um escravo ou um soldado encarregado de fazer a coroa teria preferido usar ramos verdes flexíveis como os daquela árvore em frente — e não galhos quebradiços e secos. O mais impressionante é que o objetivo da coroa não era só infligir dor, mas humilhar e zombar.
Na antiguidade, uma coroa ou grinalda de ramos verdes — em geral de folhas perfumadas de louro — costumava ser ofertada aos vencedores de competições e batalhas. Coroas de louros adornavam a efígie de reis e imperadores. Talvez a cruel coroa fincada na fronte do Salvador fosse verde e frondosa, em referência jocosa àquela antiga honra. Trata-se de mera suposição, não doutrina. Mas para mim, a cena visualizada dessa forma suscita com maior clareza um aspecto-chave da Expiação: o Salvador está ciente de nossos pesares e tem o poder de nos curar.
O manto colocado sobre Ele era para zombar de um símbolo da realeza. Cobria os ferimentos e cortes deixados pelas chibatadas que Ele sofrera. Da mesma forma, uma coroa frondosa de espinhos remeteria aos lauréis de um vencedor, mas escondia a dor real que infligia.
Muitos de nós levam na alma dores invisíveis. Um hino ensina que “nos recônditos da alma, dores há que não se veem” (“Sim, Eu te Seguirei”, Hinos, nº 134). Mas o Salvador certamente as vê. Ele conhece bem as angústias secretas. Seu ministério inteiro foi vivido em função da Expiação e da Ressurreição que viriam. No entanto, as pessoas que Ele ensinava e abençoava não tinham ciência disso. Até mesmo Seus próprios discípulos desconheciam esse fato.
O Salvador enxerga além dos “mantos” e das “coroas” que ocultam nossos pesares dos outros. Por ter sofrido “dores e aflições e tentações de toda espécie”, Ele é cheio de misericórdia e sabe nos socorrer quando depomos nossos fardos a Seus pés (ver Alma 7:11–12). Ele é o bálsamo capaz de curar até as feridas mais secretas e profundas. E a coroa que Ele ostenta é verdadeiramente a do vencedor.